TEXTO ÁUREO
"Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para
que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus”(Mt
5.16).
VERDADE PRÁTICA
Uma vez salvos em Cristo, o amor, materializado por meio das
boas obras, torna-se a nossa identidade cristã.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Tiago 2.14-26
Como chegar ao lar de
uma pessoa que se encontra em necessidades materiais e apenas orarmos por ela
dizendo "Deus está no controle de tudo"? Tal atitude é a que Tiago
chama de fé sem obras. A fé vivida apenas no campo da mera especularização
espiritual é uma fé sem vida, encanto e compromisso com o outro. A verdadeira
fé consiste em amar a Deus acima de todas as coisas, com toda a nossa força, de
todo o nosso entendimento, de toda a nossa alma e de todo o nosso coração (Mc
12.30,31). Uma fé simples, entretanto, de uma implicação inimaginável.
A fé do Evangelho está
diametralmente entrelaçada ao amor. Não a toa ela aparece como uma das três
virtudes teologais, juntamente com o amor (1 Co 13.13). Deste, o apóstolo Paulo
diz: "porque quem ama aos outros cumpriu a lei [...] e, se há algum outro
mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor"
(Rm 13.8-10). Contra o amor não há lei. A vontade de Deus é que o ser humano
viva a vida sem que a determine, pois quem ama não pode fazer outra coisa senão
o bem (Jr 31.33).
Quando Tiago fala de
boas obras sabemos que ele se refere às ações concretas de misericórdias.
Então, remetemo-nos logo ao tema da salvação pelas boas obras. Talvez pelo medo
de relacionar boas obras à salvação, muitos em nossas igrejas vêm ignorando o
mandamento de Jesus para fazermos alguma coisa em favor dos pobres. Além disso,
precisamos ponderar com os nossos alunos que não são as obras que salvam, mas,
por outro lado, são elas que revelam se de fato somos salvos ou não (Ef. 2.8-
10). E um dia, todos seremos julgados, pelas obras que realizamos em relação a
outro ser humano cujo Senhor, Jesus, pode ser encontrado em cada estado de
necessidade (Mt 25.31-46).
Use o espaço desta
lição, professor, para ensinar que não se pode fazer dicotomia entre a fé e a
ação. Do contrário, a fé se mostrará morta como um corpo que sem o fôlego de
vida. Dê uma olhada em volta da sua igreja local. Talvez ela se situe em meio a
uma comunidade carente. Uma pergunta pode ser feita à sua classe: o que podemos
fazer de ação social pela nossa comunidade?
INTRODUÇÃO
Essa seção tem
levantado dúvidas na mente dos leitores da Bíblia porque parece contradizer o
ensinamento do apóstolo Paulo referente à questão de fé e obras. Nas suas
epístolas aos Romanos e Gálatas, Paulo ensina que não podemos ser salvos pelas
obras; recebemos a salvação somente pela fé. Nessa passagem, Tiago afirma que
somente a fé não é suficiente para a salvação. Para que ocorra a salvação, a fé
precisa estar acompanhada de obras.
A contradição é apenas
aparente. Os estudantes da Bíblia concordam que os dois autores inspirados
estavam dando significados diferentes às mesmas palavras. Quando Tiago usa a
palavra fé, ele se refere a um consentimento meramente intelectual. Quando
Paulo fala de fé, ele se refere à convicção que traz consigo o consentimento da
vontade. Quando Paulo fala de obras, ele se refere às obras da lei, i.e., as
obras do legalismo judaico que nunca podem salvar a alma. Quando Tiago fala das
obras ele se refere às boas ações que fluem naturalmente de um coração cheio de
amor para com Deus e o próximo.
E evidente que Paulo
concorda substancialmente com os ensinos de Tiago, porque ele também enfatiza
que o conhecimento sem ação é inútil. Ele escreve: “Porque os que ouvem a lei
não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser
justificados” (Rm 2.13). Tem sido argumentado que o ensino de Paulo de que a
salvação é somente pela fé e o de Tiago que inclui também as obras, não estão
face a face, lutando um contra o outro, mas de costas um para o outro,
combatendo inimigos opostos; os dois ensinamentos estão do mesmo lado, embora
possa parecer que sejam contrários.
Nessa seção, Tiago
trata da interação da fé com as obras na vida cristã. Sua tese básica é a
seguinte: se alguém declara ter fé, mas esta fé não vem acompanhada de obras,
ela é inútil. Essa seção, semelhantemente a 2.1-13, é uma apresentação
meticulosamente argumentada. A tese é explicada nos versículos 14-17; nos
versículos 18-20, Tiago responde a uma objeção; nos versículos 21-25, ele
fornece provas bíblicas e, no versículo 26, apresenta um resumo.
O capítulo 2 da Carta
de Tiago é um dos textos mais importantes da Bíblia. Muitos estudiosos não conseguiram
entendê-lo. Lutero pensou que Tiago estivesse contradizendo Paulo (Rm 3.28 - Tg
2.24; Rm 4.2-3 - Tg 2.21). Logo, Lutero chamou Tiago de carta de palha e sentiu
que a carta de Tiago não tinha o peso do Evangelho.
Mas será que Tiago está
contradizendo Paulo? Absolutamente não. Eles se complementam.“*' Paulo falou
que a causa da salvação é a justificação pela fé somente. Tiago diz que a
evidência da salvação são as obras da fé. Paulo olha para a causa da salvação e
fala da fé. Tiago olha para a consequência da salvação e fala das obras. Paulo
deixa isso claro: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não
vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie.
Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais
Deus antes preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10).
Calvino diz que a
salvação é só pela fé, mas a fé salvadora não vem só. Ela se evidencia pelas
obras. A questão levantada por Paulo era: “Como a salvação é recebida?”
A resposta é: “Pela fé
somente”. A pergunta de Tiago era: “Como essa fé verdadeira é reconhecida?” A
resposta é: “Pelas obras!” Assim, Tiago e Paulo não estão se contradizendo, mas
se completando. Somos justificados diante de Deus pela fé, somos justificados
diante dos homens pelas obras. Deus pode ver a nossa fé, mas os homens só podem
ver as nossas obras.
Talvez alguém objetasse
contra o anteriormente exposto: Tiago, será que não criticas exageradamente o
fato de um homem “em posição de destaque” ser alvo de um pouco mais de atenção
que um escravo? Pois isso é algo ínfimo em comparação a, p. ex.,uma profunda
percepção espiritual! – Tiago responde no presente bloco: Não, é justamente no
comportamento prático que as coisas decisivas se revelam: está em jogo se tua
fé realmente é fé.
Tiago de forma alguma
deprecia a fé, mas, como Paulo, a tem em altíssima consideração: a) Ninguém
entre nós produz a justiça própria. Em algum lugar todos temos deficiências. E
não podemos “compensar” nada. Dependemos da misericórdia de Deus. Confiamo-nos
a ela (Tg 2.10-13). b) Tiago convoca para saudarmos até mesmo a tribulação, por
ser meio de aprovação da fé (Tg 1.2). c) Ensina a oração com fé, que certamente
será atendida (Tg 1.5-8). d) Ensina o irmão humilde a crer que a graça de Deus
o torna rico (Tg 1.9; 2.5). e) A nova vida não é criada pelo próprio cristão. É
obra da graça de Deus. Através da palavra da verdade ela foi depositada em nós
(Tg 1.18; etc.). – Tiago não expressa o que declara no presente bloco da carta
por considerar a fé secundária, em contraposição a Paulo. Pelo contrário,
justamente porque a considera de importância decisiva, como Paulo, ele quer que
a fé realmente seja e continue sendo fé.
I
- DIANTE DO NECESSITADO, A NOSSA FÉ SEM OBRAS É MORTA (Tg 2.14-17)
1.
Fé e obras
Caracterizando a
verdadeira fé
Falar sobre fé implica
diversos fatores. Ela precisa ter um conjunto de valores que estejam conjugados
de forma doutrinária, um modelo de culto e uma forma de interação entre as
pessoas que dessa fé participam. Mas a fé também precisa ser prática, ou seja,
precisa ser demonstrada no dia a dia de seus crentes. E a fé cristã não pode
ser resumida em um conjunto de preceitos sem prática, ou será morta aos olhos
daqueles que nos observam.
Tg 2.1 Tiago suaviza
sua exortação ao identificar-se com seus leitores. Ele escreve aos meus irmãos
(v. 14). A fé que Tiago rejeita não é reconhecida por ele como fé verdadeira.
Ela é uma confissão ou declaração, mas não uma realidade. Que aproveita se
alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?
Phillips apresenta o sentido correto da segunda pergunta: “Porventura esse tipo
de fé poderia salvar a alma de alguém?”.
Tg 2.14 Esta pessoa que
afirma que tem fé obviamente pensa que somente a sua fé, sem nenhuma boa obra
(realizada em obediência a Deus), seja satisfatória aos olhos de Deus.
No entanto, a fé que
não é acompanhada pelas obras não tem valor para a salvação. Qualquer pessoa
pode dizer que tem fé, mas, se o seu estilo de vida continua sendo egoísta e
mundano, então de que adianta esta fé? Trata-se meramente de uma fé a respeito
de Jesus, e não de uma fé em Jesus. Este tipo de fé não salva ninguém. Na
verdade, a fé que salva é a fé que fica evidente nos atos que ela produz.
Duas imagens nos ajudam
a recordar a importância da fé genuína:
1. Em um lado, estão
pessoas que aparentam ter a confiança de estar na presença de Deus, mas que não
mostram evidências de que a sua fé afeta qualquer um de seus atos. Elas podem
até mesmo se orgulhar do fato de poderem crer naquilo que quiserem e de que
ninguém tem o direito de desafiar a sua fé. Afinal, elas parecem dizer: “Só Deus
pode realmente saber”.
2. No outro lado, estão
pessoas cujas vidas demonstram uma agitação tão frenética, que elas
literalmente não têm tempo de pensar ou falar sobre a sua fé. Estas pessoas,
cujas vidas, a princípio, exibiam as características de alguém que crê, acabam
tendo dúvidas verdadeiras. Elas duvidam da aceitação de Deus e se sentem
obrigadas a trabalhar arduamente com a esperança de obter aquela aceitação. Mas
o esforço para obter méritos na presença de Deus pode se tornar um substituto
da fé. Tiago nos ajuda a enxergar que a fé genuína sempre combinará uma
profunda confiança em Deus com ações coerentes no mundo.
Aquele que é salvo não
é o que afirma ter fé, mas aquele que verdadeiramente tem fé.
Alguém poderia
perguntar: “Mas, se a fé genuína nunca tiver uma oportunidade real de ser
demonstrada em ação?” Um exemplo de fé genuína ao qual se dedicou pouco tempo é
o caso do ladrão na cruz, que creu em Jesus (Lc 23.32-43). Diante da morte,
este homem reconheceu Jesus como sendo o Cristo. Será que a fé deste homem,
genuína e de curta duração, o levou a uma ação verdadeira? Com certeza! O
ladrão moribundo disse algumas palavras de profunda eloquência: “Senhor,
lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino” (Lc 23.42).
O ladrão não tinha
sequer ideia de quantas vezes o seu simples testemunho de confiança, durante a
sua derradeira agonia, daria esperanças a outras pessoas que se sentiriam como
se estivessem além do alcance do auxílio de Deus.
A maioria de nós tem
muito mais tempo do que o ladrão na cruz. A nossa vida tem sido um testemunho
tão positivo quanto foi o daquele homem? Será que nós declaramos a nossa fé e
então demonstramos a sua vitalidade na nossa vida?
Tg 2.14 “De que
adianta, meus irmãos, se alguém diz ter (somente) fé, mas não tem obras?” Tiago
não quer dizer que isso de fato existe: fé sem obras. Fala apenas de alguém que
assevera que tem “fé”, que é “crente”. Contudo, não tem obras. Não existe outra
fé senão aquela que é ativa no amor.
1 – Que significa
“crer”, em grego pisteúein?
A palavra grega
significa: “confiar em alguém”. Tem em vista um relacionamento pessoal com
outro ser humano. O mesmo também acontece com nosso termo “crer”. Está ligado à
ideia de “prometer”, “amar”, e tem o sentido de “confiar” em alguém,
“confiar-se” a ele. No NT “crer” significa: viver com Deus, com Jesus Cristo em
comunhão pessoal no convívio diário e confiante.
Jesus compara a fé com
a ligação intrínseca entre ramo e videira (Jo 15.4s). Paulo escreve: “Sede
radicados nele” (Cl 2.7). Não é diferente o entendimento de Tiago acerca da fé
aprovada na tribulação (Tg 1.2), que não se deixa separar de seu Senhor por
ninguém e por nada.
2 – Que significam aqui
as “obras”, em grego: érga?
a) O sentido não é de
“obras da lei”, das quais Paulo declara que não justificam o ser humano (Rm
3.20,28). “Lei” nessa acepção é o dever imposto ao ser humano, ou melhor, que
ele mesmo se impõe com a finalidade de construir a própria salvação pelo respectivo
cumprimento. Constitui informação inequívoca de todo o NT que o ser humano não
pode nem deve criar assim sua salvação. Tiago, que no v. 13 diz que a
misericórdia triunfa sobre o juízo, de forma alguma representa uma exceção
nesse caso.
“As obras da lei”: é
como se na parábola do filho pródigo (Lc 15.11ss) o Pai tivesse estendido um
bilhete pela fresta da porta ao filho que retorna, com as condições prévias
para tornar a aceitá-lo na casa paterna: primeiro tornar-se novamente uma
pessoa decente, voltar a conquistar um bom nome e reunir um patrimônio! Isso
jamais teria levado à volta do filho!
b) Aqui em Tiago,
porém, se fala das “obras” da fé, do fruto do agraciamento e da volta do ser
humano para casa. A aparência de um contraste entre Tiago e Paulo surgiu não
por último pelo fato de que Tiago chama de “obras” o que em outras partes do NT
é chamado de “fruto”. Novamente nos termos da parábola do filho pródigo: o que
a pessoa agraciada fizer na sequência não será premissa nem condição prévia de
sua volta para casa, mas consequência e o fruto de sua acolhida. O que fizer
será feito por amor e gratidão. Isso se tornou possível porque agora vive com o
Pai e respira o ar da casa do Pai. O filho não teria retornado de fato se não
trabalhasse com o Pai como filho na casa. Com outras palavras: do contrário, a
fé não seria fé. – Tiago não entende por “obras” o mesmo a que Paulo se refere
em Rm 3.28, mas o que ele cita em Rm 12.1ss. Inicia, por assim dizer, sua carta
apenas em Rm 12. O anterior é pressuposto por Tiago, ele se respalda nisso. A
carta de Tiago não é pregação da lei, mas pregação da nova obediência, pregação
de santificação. Precisamente assim é que Tiago se move integralmente nas
balizas do NT: “Persegui a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb
12.14). No dia da revelação do justo juízo Deus dará a cada um conforme suas
obras (Rm 14.10; 2Co 5.10). A fé, que também Paulo prega, atua por intermédio
do amor (Gl 5.6). Rm 12ss não constitui apenas um apêndice da grande descrição
do agir salvador de Deus, mas a comunicação do que esse agir visa alcançar em
nossa vida, das decorrências que precisam acontecer hoje em nós: “Rogo-vos,
pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm
12.1ss).
Principalmente o
próprio Jesus salientou a importância da nova obediência (Mt 7.21; etc.). O que
Tiago diz, ele aprendeu de seu Mestre, mais uma vez, sobretudo das palavras do
Sermão do Monte.
3 – Tiago pergunta:
“Que utilidade tem que alguém diga (apenas) que tem fé, mas não tem obras?”
Nossa fé precisa apresentar um produto (v. 14).
a) Para Deus. No
momento em que Paulo descreve seu ministério, ele afirma: “Recebemos graça e
apostolado por amor do seu nome, para estabelecer a obediência da fé entre
todos os gentios” (Rm 1.5). Esse é o fruto que ele deseja produzir (Rm 1.13; Fp
1.22). Como resultado de seu agir salvador Deus quer ter filhos que lhe
obedecem. À pergunta: “Porventura perseveraremos no pecado?” Paulo responde:
“Jamais!” (Rm 6.1s). E Jesus afirma que o “viticultor” divino retira os ramos
que não dão fruto (Jo 15.2). Não existe obra agradável a Deus sem a fé, não
existe fruto sem raiz. Mas tampouco existe fé sem obras, bem como nenhuma raiz
saudável sem fruto.
A humanidade deturpada
pelo pecado se equipara a um campo de espinhos. A roça do ser humano produz
cardos e abrolhos (Gn 3.18), porque a lavoura de Deus, que é o mundo humano (Mt
13.38), lhe produziu “cardos e abrolhos”. Agora Deus lavrou e continua lavrando
“algo novo”, fazendo com que seja semeada a semeadura de sua palavra (Lc 8.11),
com a finalidade de uma colheita para ele (Mt 13.23,39; Ap 14.16). Em última
análise, Deus deitou uma semente na lavoura do mundo, seu Filho amado (Jo
12.24). Passando pela morte, ela dará “muito fruto”, ou seja, pessoas: filhos
de Deus serão configurados segundo a natureza do Filho unigênito (Rm 8.29). Sua
natureza, porém, é a obediência perfeita. Ela pensa e atua com o Pai: “Eu não
procuro a minha própria glória…” (Jo 8.50). “Agrada-me, Senhor, realizar a tua
vontade” (Sl 40.8). “Minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou” (Jo
4.34). “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). As obras
por fé são um fruto para Deus. As “obras das trevas”, no entanto, são
“infrutíferas” (Ef 5.11), imprestáveis para Deus, atraindo o fogo do juízo (Mt
13.30).
b) Para nós mesmos.
“Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo”, se na verdade não é fé? (Na realidade
deveríamos colocar a palavra “fé” entre aspas). Igualmente faz parte da fé, da
comunhão de vida com Jesus, que permaneçamos em sua comunhão quando ele quer
nos levar consigo para servir. A desobediência fica em débito com Jesus e lhe
nega o discipulado. Essa é atitude do rei Saul, a respeito do qual Deus declarou:
“Ele se voltou contra mim” (1Sm 15.11). Dessa forma a vida de uma pessoa acaba
em catástrofe. Unicamente quem persiste na fé obediente em Jesus será salvo.
2.
O cristão e a caridade.
Somos chamados para a
prática de boas obras, e essas boas obras devem ser manifestas às pessoas
próximas de mim. O exemplo apresentado por Tiago traz um homem ou uma mulher
que estão padecendo necessidades básicas, como falta de roupas e falta de
alimentação. A questão é: podemos dizer a uma pessoa nessas condições: “Vá para
sua casa, se aqueça e coma bastante”, sem que possamos lhes dar o necessário
para o seu corpo, como roupas e comidas? Parece ilógico que um cristão faça
isso com outro irmão, mas ao que parece, era isso que estava acontecendo.
Talvez aqueles crentes
que dissessem isso como se esperassem que Deus interviesse de forma
sobrenatural na vida dos necessitados, enviando maná e codornizes, ou quem
sabe, trazendo água, carne e pão. E Deus age dessa forma? Claro que não.
Pensemos nos contextos bíblicos apresentados. Deus mandou o maná no deserto
para o povo de Israel, e eles não apenas usufruíram daquele presente divino,
mas aprenderam a lidar com ele de acordo com as orientações de Deus. Mas
lembremo-nos de que esse povo estava saindo do Egito, estavam em um deserto e
dependeram unicamente de Deus para sua provisão. Para Elias, Deus mandou carne
por meio de corvos, e a água que o profeta precisava consumir vinha do ribeiro
de Querite. Mas Deus ordenara a Elias que se dirigisse àquele lugar depois de
desafiar o rei Acabe. Elias não foi para lá porque quis. Em ambos os casos,
Deus mesmo proveu o necessário para um grupo imenso de pessoas, e depois para
um único profeta.
Deus pode fazer esses
milagres hoje? Sim, pode, mas já deixou claro orientações para que sejamos
misericordiosos com os menos favorecidos e os auxiliemos. Deus é sim Deus do
impossível, mas não é Deus do absurdo. O que eu e você devemos fazer Ele não
vai fazer, pois espera que o obedeçamos e façamos a nossa parte.
A caridade é uma forma
de demonstração da fé cristã. Essa forma de demonstração jamais nos permitirá
ser indiferentes à pessoas que estão necessitadas de recursos.
Tiago não nos ordena a
que falemos de Jesus às pessoas. Ele não nos manda curar enfermos ou profetizar
para demonstrar nossa fé. Ele não nos manda ser ortodoxos em relação à
teologia. Todas essas coisas são importantes, mas não mais que um irmão
necessitado que espera socorro de Deus, socorro este que será feito por um
outro irmão em nome de Deus.
Acredito que muitos
cristãos pensam que fazer boas obras e caridade são atributos de outros grupos
religiosos, e que Deus se preocupa muito mais com a salvação de almas do que
com o restante dos dias dessas almas salvas. Esse é um pensamento errado. Há
pessoas religiosas que praticam boas obras porque acreditam que por elas serão
salvas. Há outras pessoas que utilizam as boas obras para se tornarem pessoas
melhores nesta vida, ou para que purguem pecados supostamente praticados em
“outras vidas” por meio da caridade. Em ambos os casos, o equívoco é claro.
Boas obras não podem salvar uma pessoa por mais devota quer ela seja, nem mesmo
atenuar para um futuro próximo atitudes ruins que teriam sido praticadas em uma
suposta vida anterior.
Aqui está o problema.
Muitos salvos em Cristo veem com indiferença as boas obras, por acharem que
elas são a marca registrada de pessoas que querem ser salvas sem aceitar a
Jesus. Mas só porque esses grupos de pessoas praticam boas obras, essas boas
obras não atingem os mais necessitados, mesmo que não proporcione aos
praticantes, a salvação? Sim, os mais necessitados são contemplados pelas boas
obras que eles fazem e nós não fazemos.
As boas obras desses
grupos não são inválidas, mesmo que não lhes dê a salvação. E nossa fé, como
pode ser considerada se estiver divorciada de boas obras? Será que aos olhos de
Deus ganhamos pontos extras com nossa indiferença para com os mais
necessitados?
Tiago não conclui ainda
seu pensamento. Para ele, mostrar a imagem de uma pessoa necessitada utiliza um
recurso extremo para ilustrar seu pensamento: a fé em Deus apenas sem as
práticas não nos torna melhores pessoas. Os demônios com certeza possuem um
grande conhecimento sobre Deus, sabem de sua existência e estremecem. Mas nem
por isso eles deixam de cumprir as ordens de Satanás. Eles sabem que Deus
existe e o odeiam. Seu conhecimento de Deus os leva a manifestações cada vez
mais rebeldes. Saber da existência de Deus e não praticar obras que coincidam
com a mentalidade bíblica é, ressalvadas as devidas proporções, comparável à
crença que os demônios têm. Saber da existência de Deus é apenas um processo. A
prática de boas obras é a complementação desse processo.
Que Deus nos ajude a
não apresentar ao mundo uma fé cristã morta, indiferente às necessidades de
pessoas de nossas igrejas. Que eu não imagine que minha posição de conforto,
onde estou saciado de necessidades básicas, me foi dada por Deus por ser eu um
filho mais digno que outros filhos. Os mais necessitados da congregação são tão
ou mais dignos, pois a estes, Deus deseja abençoar usando a minha vida como um
canal. O socorro de Deus para essas pessoas está no bolso dos mais abastados. E
que a caridade cristã seja um diferencial na nossa vida e na vida das pessoas
que vamos socorrer, lembrando-nos de que nós mesmos poderíamos estar no lugar
deles, e que se isso ocorresse, gostaríamos de receber a ajuda que daremos.
Tg 15-16 Têm sido
descritos como uma “pequena parábola” com a aplicação dada no versículo 17.
João usa um argumento similar: “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e
vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode
permanecer nele o amor de Deus?” (1 Jo 3.17, ARA). A intolerância de Tiago com
a fé sem prática aparece de forma aguda na seguinte paráfrase: “Se vocês
tiverem um amigo que está necessitado de alimento e vestuário, e lhe disserem:
‘Bem, adeus, e que Deus o abençoe; aqueça-se e coma bem’, e depois não lhe
derem roupas ou alimentos, que bem faz isso?” (A Bíblia Viva). Clarke comenta:
“Ao falar isso para eles, sem lhes dar nada, o proveito deles será igual à sua
fé professada. Sem essas obras, que são os frutos genuínos da verdadeira fé,
qual será o seu proveito no dia em que Deus virá sentar e julgar a sua alma?
Tg 2.15 Tiago dá o
exemplo de uma pessoa hipotética que pode ter sido alguém que fazia parte da
comunhão da igreja — um irmão ou uma irmã — que estava realmente em
necessidade. Não ter comida ou roupas significa estar em uma situação
desesperadora, mas muito comum. Hoje, dificilmente há uma igreja na qual não
haja pessoas que vivam sem alimento ou abrigo adequados.
Tg 2.16 Alguma coisa
podia ser feita por esta pessoa necessitada. Havia abundância de roupas e
alimentos entre aqueles que estavam em comunhão suficientes para cuidar desta
pessoa, porém ela se foi de mãos vazias, com uma oração, mas sem roupas sobre o
seu corpo ou alimentos no seu estômago.
Com excessiva
frequência, nós, que fazemos parte de uma igreja, oferecemos meras palavras -
orações, conselhos, estímulo - quando somos chamados a agir. A necessidade é
óbvia, e há recursos. Mas a ajuda não é dada. “Que proveito virá daí?”,
pergunta Tiago. A fé que não resulta em ações não é mais eficaz do que uma
oração piedosa pelo pobre que precisa ser aquecido e alimentado. As palavras
sem as ações não realizam nada.
Tg 2.15s c) Para nossos
semelhantes.
c.1) “Que utilidade
teria?”: Nossa vida cristã precisa render algo para Deus, para nós mesmos e não
por último para nosso ambiente. Temos de significar algo para ele. Nos dias em
que viveu na terra nosso Senhor tinha, pela ação do Espírito Santo, um corpo
humano para seu serviço ao mundo. Com ele cumpriu a tarefa que o Pai lhe
atribuiu: como “missionário e médico” (David Livingstone). Agora tem para esse
serviço, pela ação do Espírito Santo, novamente um corpo humano, um corpo feito
de seres humanos, sua igreja. E também ela precisa ser simultaneamente ambas as
coisas, missionária e médica. Nem somente missionária, nem tampouco – o que
hoje requer ser salientado – apenas médica. Unicamente assim nossa existência
cristã traz o “proveito” necessário aos nossos semelhantes.
c.2) Na seqüência Tiago
fornece um exemplo das interações humanas (que não precisa ter sido real), para
que a idéia se torne concreta e palpável e não encalhe na teoria: “Qual é o
proveito se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos” (v. 15 – Também hoje existem
por toda parte carências, mais numerosas e diversificadas do que imaginamos).
“…e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz… sem, contudo, lhes dar o
necessário para o corpo?” Em vista de várias necessidades ficamos tão perplexos
e impotentes que de fato não conseguimos fazer mais do que orar pelas pessoas e
abençoá-las. Isso não é vão, mas um grande serviço. Só que nossa fé não pode
ser indiferente (cf. Is 53.6a) nem mera amabilidade inativa para com nossos
semelhantes. Somos “cooperadores de Deus” (1Co 3.9), membros do corpo de Jesus,
suas ferramentas. Quando
suplicamos a Deus é
preciso que também nos deixemos transformar em instrumentos da ajuda de Deus e
façamos o que está ao nosso alcance. Não apenas colocamos em risco a nossa
própria redenção quando nos separamos da obediência e por isso da comunhão de
nosso Senhor, mas também permanecemos devedores de nossos semelhantes em
questões decisivas para o corpo e para a alma.
3.
A “morte” da fé.
Tg 2.17 Interiormente
morta, bem como exteriormente inoperante. Ela não é apenas infrutífera, mas não
tem uma vitalidade própria capaz de produzir frutos de justiça. Essa fé é morta
em si mesma, ou seja, não há obras que a acompanham.
A menção específica de
irmã (v. 15) é entendida por Ross como uma evidência contra a teoria defendida
por alguns, de que temos em Tiago um documento pré-cristão de origem judaica.
Ele escreve: “Trmãs’ devem receber um tratamento igualitário em relação aos
irmãos na Igreja dEle, onde não há homem nem mulher (G1 3.28)”.
A fé é uma doutrina
chave no cristianismo. O pecador é salvo pela fé (Ef 2.8,9), o justo vive pela
fé (Rm 1.17).
Sem fé é impossível
agradar a Deus (Hb 11.6). Tudo o que é feito sem fé é pecado (Rm 14.23).
Em Hebreus 11
encontramos a galeria da fé, em que homens e mulheres creram em Deus, viveram e
morreram pela fé. Fé é a confiança de que a Palavra de Deus é verdadeira, não
importam as circunstâncias.
Qual é o tipo de fé que
salva uma pessoa? Nem todas as pessoas que dizem crer em Jesus estão salvas (Mt
7.21).
Quais
são as características de uma fé morta?
Em primeiro lugar, é
uma fé que não dessem boca em vida santa. A fé morta está divorciada da prática
da piedade. Há um hiato, um abismo entre o que a pessoa professa e o que a
pessoa vive. Ela crê na verdade, mas não é transformada por essa verdade. A
verdade chegou a sua mente, mas não desceu a seu coração. E um erro pensar que
apenas recitar ou defender um credo ortodoxo faz de uma pessoa um cristão.
Assentimento intelectual, apenas, não é fé salvadora. A fé que não produz vida,
que não gera transformação, é uma fé espúria (Mt 7.21).
Certo pastor, ao ser confrontado
em razão de seu adultério, respondeu: “E daí se eu estou cometendo adultério?
Eu prego melhores sermões do que antes”. Esse homem estava dizendo que enquanto
ele acreditasse e pregasse doutrinas ortodoxas, não importava a vida que ele
levava.'‘‘’ Mas Tiago ataca esse tipo de pensamento.
As igrejas estão cheias
de pessoas que dizem que creem, mas não vivem o que creem. Isso é fé morta.
Em segundo lugar, é uma
fé meramente intelectual. A pessoa consente com certas verdades, mas não é
transformada por elas."^^ No versículo 14, Tiago pergunta: “Pode, acaso,
semelhante fé salvá-lo?” Quando Tiago usa a palavra semelhante, ele está
falando de um certo tipo de fé, ou seja, a fé apenas verbal em oposição à fé
verdadeira. Ainda no versículo 14, ele pergunta: “Que proveito há, meus irmãos,
se alguém disser que tem fé e não tiver obras?”
A fé aqui descrita
existe apenas na base da pretensão. A pessoa diz que tem fé, mas na verdade não
tem. As pessoas com uma fé morta substituem obras por palavras.^^ Elas conhecem
as doutrinas, mas elas não praticam a doutrina. Elas têm discurso, mas não têm
vida. A fé está apenas na mente, mas não na ponta dos dedos.
Em terceiro lugar, é
uma fé que não produz frutos dignos de arrependimento. Essa fé é ineficiente,
inoperante e não produz nenhum resultado. Ela tem sentimento, mas não ação.
Tiago dá dois exemplos para ilustrar a fé morta (2.15,16). Um crente vem para a
igreja sem roupas próprias e sem comida. Uma pessoa com uma fé morta vê essa
situação e não faz nada para resolver o problema do irmão necessitado. Tudo o
que ele faz é falar algumas palavras piedosas (2.16).
Comida e roupa são
necessidades básicas (iTm 6.8; Gn 28.20). Como crentes, devemos ajudar a todos
e, principalmente, aos que professam a mesma fé (G1 6.10).
Seremos julgados por
esse critério (Mt 25.40). Deixar de ajudar o necessitado é fechar o coração ao
amor de Deus (IJo 3.17,18). O sacerdote e o levita podiam pregar sobre sua fé,
mas não demonstraram a sua fé (Lc 10.31,32). João Calvino diz: “Só a fé justifica,
mas a fé que justifica jamais vem só”.
Em quarto lugar, é uma
f é sem nenhum valor. Ela é inútil.
A fé sem obras é
inoperante (2.20). Se, de forma geral a fé é inútil, ela também o é no caso da
salvação!
Em quinto lugar, é uma
fé incompleta. Tiago diz que a fé sem as obras está incompleta (2.22), visto
que são as obras que consumam a fé. As obras são a evidência da fé.
Somos salvos pela fé
para as obras (Ef 2.8-10). Se não tem obras, não tem fé!
Em último lugar, é uma
fé morta. Tiago é claro em afirmar que a fé sem as obras está morta (2.17;
2.26),e uma fé morta não
salva ninguém. Essa fé intelectual, inútil, incompleta e morta não salva
ninguém. Ortodoxia sem piedade produz morte. James Boyce diz que não podemos
ser cristãos e, ao mesmo tempo, ignorar as necessidades dos outros. Devemos
reconhecer que, se há alguém com fome e nós temos os meios para socorrê-lo, não
somos cristãos de verdade se não ajudarmos essa pessoa. Não podemos ser
indiferentes às necessidades do próximo e ainda professar que somos cristãos.
Tg 2.17 Uma convicção
ou crença intelectual que se recusa a obedecer aos mandamentos de Cristo não é
proveitosa - é morta. As boas obras são o fruto da fé viva. Se não há ações
positivas, então a fé professada, na realidade, não é fé — é morta e inútil. As
ações corretas provam que a nossa fé é uma fé verdadeira. Crer envolve a fé
acompanhada das ações. Se aqueles que estão ao nosso redor observarem as nossas
ações, eles deverão ser levados a conhecer a fé que motiva tais ações. Se
outros nos ouvirem falar de fé, eles também deverão nos ver agir de acordo com
esta fé.
Tg 2.17 “Assim, também
a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma”: obras são sinal de vida da fé.
Se no verão um galho não tiver folhas, é necessário supor que está seco e
morto. Se um ser humano não se mexe mais, não respira nem denota mais pulsação,
faltam os sinais vitais. Está morto. Será que hoje não deveria ser dito também,
em vista de muitos pretensos crentes: “Tens o nome de que vives, mas estás
morto” (Ap 3.1)? É infinitamente importante darmos espaço ao convívio pessoal
com nosso Senhor na atenção à sua palavra e no diálogo com ele. Assim também
perceberemos seu sinal para agir e para esperar e, se sempre lhe obedecermos
imediatamente, o perceberemos cada vez melhor. Essa posição debaixo da condução
do Espírito e na obediência prática são os “sinais vitais” da fé. Por isso
Paulo escreve: “Os que são impelidos (guiados) pelo Espírito de Deus são filhos
de Deus” (Rm 8.14), ou seja, são crentes.
II
- EXEMPLOS VETEROTES TAMENTÁRIOS DE FÉ COM OBRAS (Tg 2.18-25)
1*
Não basta “crer”.
Tg 2.19 Algumas versões
colocam a primeira parte do versículo 19 em forma de pergunta (como ocorre na
ARC): Tu crês que há um só Deus?. Tiago responde: Fazes bem (v. 19). Até aqui,
tudo bem — mas isso não é suficiente: também os demônios (daimonia) crêem e
estremecem. Apenas fé — no sentido de reconhecer Deus sem responder a Ele em
ação obediente — é uma religião que mesmo os demônios professam (cf. Mt 8.29;
Mc 1.24). Mas essa fé não é uma fé salvadora; eles apenas estremecem (“tremem”,
NVI). “A fé que eles têm é mostrada pelo seu terror, uma emoção de interesse
próprio, mas isso não os salva”.3 João Wesley comenta acerca daqueles que têm
uma fé tão limitada: “Isso prova somente que vocês têm a mesma fé dos demônios
[...] eles [...] tremem com a expectativa terrível do tormento eterno. Essa fé
certamente não pode justificá-los nem salvá-los”.
Tg 2.20 A expressão:
queres tu saber? (v. 20, lit., você gostaria de saber?), introduz esse novo
rumo na argumentação. A pergunta parece inferir uma relutância que beira a
perversidade no homem questionado. O sentido correto seria: “Você realmente
quer uma prova irrefutável?”. O homem vão significa “insensato” (NVI) ou “de
cabeça vazia”. Trench diz que esse tipo de homem “é alguém em quem a sabedoria
superior não encontrou espaço, mas que está inchado com uma vaidade vã do seu
próprio discernimento”.5 Tiago repete aqui sua premissa básica de que a fé sem
as obras é morta (“inútil”, NVI; lit., sem obras, inativa). Essa fé sem vida
não produz nada de importante.
A
fé dos demônios (Tg 2.19)
A fé morta é uma fé que
atinge apenas o intelecto. A fé dos demônios atinge o intelecto e também as
emoções. Os demônios têm um estágio mais avançado de fé que muitos crentes. A
fé dos demônios não é apenas intelectual, mas também emocional. Eles creem e
tremem! Crer é tremer não é uma experiência salvadora. Você não conhece uma
pessoa salva pelo conhecimento que adquire nem pelas emoções que demonstra, mas
pela vida que vive (Tg 2.18).
No que os demônios
creem? Warren Wiersbe responde a essa pergunta, dizendo: em primeiro lugar, os
demônios creem que Deus é um só. Os demônios creem na existência de Deus. Eles
não são nem ateístas nem agnósticos. Eles creem na “shemma” judaica: “Ouve ó
Israel, o Senhor nosso Como saber se minha fé é verdadeira ou falsa Deus é o
único Senhor”. Mas essa crença dos demônios não pode salvá-los.
Em segundo lugar, os
demônios creem na divindade de Cristo. Os demônios corriam para ajoelhar-se
diante de Cristo para adorá-lo (Mc 3.11,12). Eles sabiam quem era Jesus. Eles
se prostravam aos pés do Senhor Jesus.
Em terceiro lugar, os
demônios creem na existência de um lugar de penalidades eternas. Eles sabem que
o inferno foi criado para o diabo e seus anjos. Eles sabem que o inferno é
destinado para todos aqueles cujos nomes não forem encontrados no Livro da
Vida. Eles não negam a existência do inferno (Lc 8.31). Eles creem nas penalidades
eternas.
Em quarto lugar, os
demônios creem que Cristo é o suprem o Juiz que os julgará. Os demônios sabem
que terão de comparecer diante de Cristo, o supremo juiz. Eles creem no
julgamento final. Eles creem que todo joelho se dobrará diante de Cristo.
Entretanto, os demônios estão perdidos, eternamente perdidos. Uma fé meramente
intelectual e emocional coloca-nos apenas no patamar dos demônios.
A
fé salvadora (Tg 2.20-26)
A fé salvadora pode ser
sintetizada em três palavras: notitia (conteúdo), assensus (concordância),
fiducia (confiança): conteúdo, concordância e confiança. A fé verdadeira inclui
o intelecto, as emoções e a vontade. O conteúdo da fé é a verdade de Deus. Eu
recebo essa verdade e confio nela e por ela sou transformado.
Como Tiago descreve a
fé verdadeira? Warren Wiersbe responde a esta questão oferecendo vários pontos.
Em primeiro lugar, a fé
salvadora está baseada na Palavra de Deus. James Boyce diz que o primeiro
elemento da fé salvadora é o conteúdo intelectual expresso como doutrinas
básicas do cristianismo. Tiago cita dois exemplos; Abraão e Raabe. Duas pessoas
totalmente diferentes;Abraão, o amigo de
Deus; Raabe, membro dos inimigos de Deus. Abraão, piedoso; Raabe, prostituta.
Abraão, judeu; Raabe, gentia. O que tinham em comum? Ambos confiaram na Palavra
de Deus. A questão não é a fé, mas o objeto da fé. Não é fé na fé. Não é fé nos
ídolos. Não é fé nos ancestrais. Não é fé na confissão positiva. Não é fé nos
méritos. E fé em Deus e em Sua Palavra. A fé está baseada em um conjunto de
verdades. A fé está estribada em Deus e em Sua Palavra. Não é fé em
subjetividades, mas fé na Palavra.
Em segundo lugar, a fé
salvadora envolve todo o ser humano. A fé morta toca apenas o intelecto. A fé
dos demônios toca o intelecto e também as emoções. Mas a fé salvadora atinge o
intelecto, as emoções e também a vontade. A mente entende a verdade, o coração
deseja a verdade, e a vontade age com base na verdade.
Tg 2.19 A aceitação de
um credo (mesmo que seja verdadeiro) não é suficiente para salvar ninguém. Os
demônios têm uma convicção completa e absoluta de que há só um Deus, mas eles
se aterrorizam diante desta verdade. Eles crêem em Deus somente para odiá-io e
resistir a Ele de todas as maneiras possíveis.
A sua “fé” os leva a
ações negativas, ao passo que a fé de alguns dos leitores de Tiago não é
suficientemente verdadeira para fazê-los tremer. Os demônios estremecem de
terror e demonstram que a sua “fé” é verdadeira, ainda que mal direcionada.
Tg 2.20 Tiago dirige-se
à sua pessoa hipotética que tinha as opiniões acima e a chama de homem vão,
literalmente um “homem vazio”. Se a fé ao redor da qual construímos a nossa
vida resultar vazia, nós verdadeiramente somos pessoas vazias. “Queres tu saber
que a fé sem as obras é morta?” Há ocasiões em que nós precisamos de mais
ensino ou compreensão para responder às orientações de Deus. Mas frequentemente
sabemos o que deve ser feito, contudo não estamos dispostos a agir. Quando se
trata de colocar em prática o que sabemos, você tem o hábito de obedecer a
Deus?
Tg 2.19 “Crês, tu, que
há um (único) Deus? Fazes bem. Mas também os demônios creem isso e tremem”: O
monoteísmo bíblico, a fé no Deus único era a riqueza de Israel diante de seu
entorno gentílico. Constituía a confissão diária do judeu devoto: “Ouve,
Israel: O Senhor, nosso Deus, é o único Deus” (Dt 6.4). Contudo não basta tê-lo
por verdadeiro.
“Crer que…” ainda não é
uma fé viva. Podemos ser muito “ortodoxos” e apesar disso não crer
corretamente. Podemos ter uma teologia impecável na prancheta, mas apesar disso
não ser salvos. Tiago afirma: “Também os demônios „creem‟ isso” – reconheceram
a verdade, como evidenciam também diversos relatos nos evangelhos (Mt 8.29;
etc.). Mas lhe negam a obediência. “Reconhecer a verdade e não lhe obedecer é
diabólico” (Walter Warth). – “E tremem”: isso vale também para o ser humano.
Enquanto se limitar a ter conhecimento sobre Deus, mas buscar se afirmar contra
ele, a mensagem de Deus não constitui para ele alegria, mas pavor (não
surpreende que a muitas pessoas se possa apresentar de tudo, menos a palavra de
Deus!). Somente depois que a pessoa abrir mão de toda a resistência, capitular
perante Deus, entregar a vida na mão de Deus “para o que der e vier” e se
deixar engajar por ele, a fé se torna alegria e beatitude. Em contraposição, o
inferno é “crer e apavorar-se”. – É assim que Tiago responde aos que pensam que
tudo em sua vida está em ordem, que creem corretamente e têm uma teologia
correta, e que no entanto não vivem com Jesus e em seu discipulado.
Tg 2.20 “Queres, pois,
(finalmente) compreender, ó homem insensato, que a fé sem as obras é ineficaz?”:
o ser humano natural não consegue reconhecer o que a palavra de Deus ordena,
porque não quer admitir a Deus, não capitular diante dele nem lhe ser
obediente.
O ser humano sempre
busca viver sua própria vida contrariando a Deus. Esse é seu pecado original. É
tolice persistir nesses pensamentos autocráticos contra Deus. “Os insensatos
dizem no coração: Não há Deus” (Sl 14.1). “Falta de senso” é o adjetivo que
Tiago dá a tal pessoa: de forma inconsciente ou pouco consciente ela persiste
em sua conduta. A atitude básica do ser humano carnal, de oposição a Deus (Rm
7.14; 8.7), constantemente se exterioriza em sua conduta prática.
O ser humano natural
sempre tenta preservar sua vida autônoma de Deus, não apenas quando está
afastado de Deus, mas também quando lhe parece próximo: a) Ele pode ser como
“estranho na casa”, calculando perante Deus seus feitos, o cumprimento de seu
de dever e dos extras: “Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo o
que ganho” (Lc 18.12). Nesse caso ele é como um filho que por um lado trabalha
junto do Pai, mas que apresenta suas reivindicações como um estranho e computa
suas horas extras, enquanto na realidade o Pai declara: “O que é meu, é teu”
(Lc 15.31). Foi contra esse descaminho que se voltou principalmente Paulo. Ainda
que por esse caminho o ser humano fosse capaz de cumprir sua obrigação, isso
certamente não seria condizente com um filho e com o amor. b) O ser humano
retornado para Deus também pode ser como um estrangeiro e um corpo estranho na
casa por ser apático, não-interessado e inativo na obra que o Pai está
realizando. É primordialmente contra isso que Tiago se volta. Paulo e Tiago
prestam um ao outro um serviço de complementação mútua. No contexto da mensagem
do NT não podemos abrir mão de nenhuma dessas duas testemunhas.
2.
Abraão.
Abraão é considerado o
pai da fé. Isso não significa que ele foi o primeiro homem a ter a fé em Deus,
pois outros homens são destacados na Bíblia como sendo pessoas que criam e
obedeciam a Deus antes de Abraão. Entretanto, a Palavra de Deus dá um destaque ao
patriarca, pois Abraão creu em Deus e foi considerado um homem justo. E que
momento da vida de Abraão é destacado por Tiago? Justamente o momento em que o
patriarca vai oferecer seu único filho em holocausto ao Senhor. Aqui destacamos
duas coisas: Abraão ouviu a voz de Deus quando Ele ordenou que o patriarca
oferecesse seu filho em holocausto, mas tambem obedeceu a Deus quando Ele
enviou seu anjo e ordenou a Abraão que não estendesse sua mão contra o moço,
para o sacrificar. Foi sem dúvida uma prova difícil, mas Abraão confiou que
Deus iria fazer o melhor, pois Ele mesmo havia prometido que faria de Abraão
uma grande nação.
Ainda apresentando
Abraão, Tiago diz que “...o homem é justificado pelas obras, e não somente pela
fé” (Tg 2.24). Como lidar então com essa declaração de Tiago? As obras seriam
um complemento para a fé salvífica?
Tiago busca a
praticidade da fé na vida cristã. Ele não declara em momento algum que as obras
salvam, se não a fé em Jesus seria incompleta. Nem está colocando em cheque os
ensinos de Paulo sobre a salvação pela fé. O que ele está argumentando é que a
fé precisa ser demonstrada em atitudes. Matthew Henry coloca esse assunto
assim:
Quando Paulo diz que “o
homem é justificado pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3.28), ele claramente
fala de um outro tipo de obras do que Tiago tem em mente. Paulo fala em obras
realizadas em obediência à lei de Moisés, e antes de os homens abraçarem a fé
evangélica. E ele estava lidando com aqueles que se valorizavam tanto por conta
das obras que rejeitavam o evangelho (como Romanos 10 declara expressamente no
início); mas Tiago fala de obras realizadas em obediência ao evangelho, e como
efeito e frutos apropriados e necessários da sólida fé em Jesus Cristo.
Ambos estão
interessados em exaltar a fé do evangelho, como aquele que somente pode nos
salvar e justificar; mas Paulo o exalta ao mostrar a insuficiência de quaisquer
obras da lei antes da fé, ou em oposição à doutrina da justificação por Jesus.
Tiago exalta a mesma fé, ao mostrar que são as realizações e os produtos
genuínos e necessários dela.
Paulo não somente fala
de obras diferentes daquelas em que Tiago insiste, mas ele fala em um uso
completamente diferente que era feito das boas obras daquele que aqui é instado
e intencionado. Paulo estava lidando com aqueles que dependiam de suas obras
aos olhos de Deus, e Ele poderia muito bem torná-los sem valor. Tiago estava
tratando com aqueles que exaltavam a fé, mas não permitiam que as obras fossem usadas
nem como evidência; eles dependiam de uma mera profissão de fé, como suficiente
para justificá-los; e com esses ele bem teria de reforçar a necessidade e a
grande importância das boas obras.
Tg
2.21-24 O Argumento de Abraão
O versículo 21 fala de
Abraão como sendo justificado pelas obras. Isso parece estar em contradição
direta com Paulo, que escreveu: “Creu Abraão [tinha fé] em Deus, e isso lhe foi
imputado como justiça” (Rm 4.3; cf. G1 3.6). Tanto Tiago quanto Paulo recorrem
à verdade em Gênesis 15.6 para suportar seus argumentos. A reconciliação pode
ser encontrada nos eventos específicos na vida de Abraão à qual Paulo e Tiago
se referem; também no sentido em que usaram o termo justificado (v. 21).
Paulo refere-se à fé do
patriarca Abraão no tempo em que Deus prometeu dar-lhe um filho (Gn 15.1-6). A
sua fé era uma fé que aceitava a promessa de Deus sem ter provas concretas.
Tiago, por outro lado, referiu-se à fé do patriarca quando ofereceu sobre o
altar o seu filho (Gn 22.1-19). “Tiago não está falando da imputação original
de justiça a Abraão em virtude da sua fé, mas da prova infalível [...] de que a
fé que resultou nessa imputação era uma fé real. Ela se expressava em uma
obediência tão completa a Deus que 30 anos mais tarde Abraão estava pronto, em
submissão à vontade divina, para oferecer o seu filho Isaque. O termo
justificado nesse versículo significa na verdade ‘revelado para ser
justificado’”.
A interação inseparável
entre a fé cristã e a ação é deixada clara em uma tradução mais recente do
versículo 22: “Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam atuando
juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras” (NVI). Se aceitarmos a evidência
de Tiago, devemos aceitar sua conclusão: “Vocês vêem, portanto, que um homem é
salvo pelo que ele faz, tanto como pelo que ele crê” (v. 24, A Bíblia Viva).
A expressão Abraão, o
nosso pai (v. 21) é, às vezes, usada para apoiar o argumento de que os
receptores dessa epístola eram judeus ou pelo menos de origem judaica. Mas o
conceito de Abraão como o “pai dos fiéis” — gentios e judeus — era um conceito
cristão do primeiro século (cf. Rm 4.16; G1 3.7-9).
Em apoio à realidade da
justiça de Abraão, Tiago ressalta que ele foi chamado o amigo de Deus (v. 23).
Em 2 Crônicas 20.7, Abraão é chamado de “amigo [de Deus], para sempre”; e em
Isaías 41.8, Deus chama Israel de “semente de Abraão, meu amigo”. Essa
expressão “amigo de Deus” parece significar “que Deus não escondeu de Abraão o
que propôs fazer (veja Gn 17.17). Abraão foi privilegiado em ver alguma coisa
do grande plano que Deus estava realizando na história. Ele exultou em ver o
dia do Messias (veja Jo 8.56)”.
A fé salvadora conduz à
ação. Tiago cita dois exemplos de fé que produziram ação; primeiro, o exemplo
de Abraão. Gênesis 15.6 diz que Abraão creu e isso lhe foi imputado para
justiça. Gênesis 22.1-19 mostra a obediência de Abraão ao oferecer o seu filho
para Deus, crendo que Deus poderia ressuscitá-lo (Hb 11.19). Abraão não foi
salvo por obedecer a esse difícil mandamento. Sua obediência provou que ele já
era salvo. Abraão não foi salvo pela fé mais as obras, mas pela fé que produz
obras.
Como, então, Abraão foi
justificado pelas obras, uma vez que já tinha sido justificado pela fé (Gn
15.6; Rm 4.2,3)? Pela fé, ele foi justificado diante de Deus, e sua justiça foi
declarada. Pelas obras, ele foi justificado diante dos homens, e sua justiça
foi demonstrada. A fé do patriarca Abraão foi demonstrada por suas obras.
Tg 2.21 Tiago passa
agora deste caso de estudo para os personagens históricos do Antigo Testamento,
os quais ele espera que confirmem o que ele esteve ensinando a respeito da
importância da fé ativa. Abraão era um dos personagens do Antigo Testamento
mais reverenciado pelos judeus (veja Gn 11.27-25.11, para a biografia de
Abraão). A obediência admirável de Abraão, a ponto de estar disposto a
sacrificar o seu filho mediante uma ordem de Deus, era a evidência das obras
pelas quais Abraão foi justificado.
O que Abraão estava
fazendo quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Ele estava confiando
em Deus. A lição que podemos tirar da vida de Abraão não é uma comparação entre
os seus sacrifícios e os nossos. Nós podemos esperar que, de uma forma ou de
outra, a nossa fé tenha que crescer de uma confiança interior às obras
exteriores. No final, como Abraão, nós também teremos que responder a esta
pergunta: “Será que eu confio verdadeiramente em Deus?”
Tg 2.22 Abraão tinha
uma grande fé em Deus (Gn 15.6), mas Tiago destaca que a fé de Abraão era muito
mais do que a simples fé no único Deus - o fruto da grande fé de Abraão estava
nas suas obras: pelas obras, a fé foi aperfeiçoada.
A sua fé produziu as
suas obras, e as suas obras aperfeiçoaram a sua fé, o que significa que elas a
“melhoraram” ou a “amadureceram”. Crentes amadurecidos e completos são
produzidos por meio da perseverança em meio às dificuldades; a fé amadurecida e
completa é produzida por meio de obras de obediência a Deus. A fé e as obras
não devem ser confundidas entre si, tampouco devem ser separadas.
Tg 2.23 Abraão tinha fé
em Deus, de modo que Deus deu a Abraão o status de um relacionamento correto
com Ele - e isto aconteceu antes das obras admiráveis de Abraão (tais como a
sua disposição de sacrificar Isaque), antes mesmo que Abraão fosse circuncidado
(veja as palavras de Paulo em Romanos 4.1-17). As Escrituras às quais Tiago se
refere aqui constam em Gênesis 15.6; “E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso
imputado como justiça”.
Tiago mostrou que a
justiça de Abraão era a base e a razão de todas aquelas obras. Devido à grande
fé e obediência de Abraão, ele teve o status privilegiado de ser chamado “o
amigo de Deus” (veja também 1 Cr 20.7; Is 41.8). Demonstrar a nossa confiança
em Deus nos levará à comunhão com Ele, como aconteceu no caso de Abraão.
Tg 2.24 O homem é
justificado pelas obras e não somente pela fé. Muitos disseram que esta
declaração contradiz a opinião de Paulo, que escreveu: “O homem é justificado
pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3.28). Na verdade, se tanto Tiago como Paulo
tivessem usado a palavra “justificado” da mesma maneira, este versículo
contradiria o ensino de Paulo sobre a justificação somente pela fé. Mas, para
Tiago, ser “justificado” refere-se ao veredicto final de Deus sobre toda a
nossa vida cristã, segundo o qual somos declarados justos por termos vivido uma
vida que foi fiel até o final. Para Paulo, ser “justificado” refere-se à
concessão inicial da justiça depois que uma pessoa aceita Cristo. Para Tiago,
“obras” (aquilo que fazemos) são os produtos naturais da fé verdadeira; para
Paulo, “obra” (“obedecer à lei”) é aquilo que as pessoas estão tentando fazer
para ser salvas. Para Tiago, a fé sozinha é uma crença superficial em um
conceito; não há nenhum comprometimento ou transformação de vida.
Para Paulo, a fé é a fé
salvadora - a fé que propicia uma união íntima com Cristo e que resulta na
salvação e na obediência. Paulo deixou claro que uma pessoa só entra no reino
de Deus pela fé; Tiago deixou claro que Deus exige boas obras daqueles que
estão no reino.
Uma pessoa só recebe a
salvação pela fé, e não realizando obras de obediência. Mas uma pessoa salva
realiza obras de obediência por causa daquela fé. Para as pessoas que confiam
na sua “ocupaçáo” religiosa para a sua salvação ou para o seu mérito diante de
Deus, as palavras de Paulo são cruciais – estas obras sozinhas náo podem fazer
nada para salvá-las. Para as pessoas que confiam na sua concordância
intelectual com uma crença, apenas com um comprometimento verbal, as palavras
de Tiago são cruciais - a sua fé sozinha não pode fazer nada para salvá-las.
Duas perguntas breves
que nos ajudam a monitorar a nossa saúde espiritual são: Em quem estou
confiando? E: Por que estou trabalhando? Se nós confiamos em alguém (inclusive
em nós mesmos) além de Cristo como a fonte e o provedor da nossa justificação,
estamos perdidos. Se nós estamos agindo por qualquer razão que não seja a
obediência e a ação de graças a Cristo por tudo o que Ele fez por nós, estamos
perdidos. E somente em Cristo que podemos encontrar verdadeiramente a nossa
salvação. Da nossa confiança nele é que surgirão as obras.
Tg 2.21 a) “Não foi
nosso Pai, Abraão, justificado por obras, quando ofertou Isaque, seu filho,
sobre o altar?”: Js 24.2 afirma que também Abraão teria servido “a outros
deuses além do rio Eufrates”. Deus o chamou por liberdade e graça, e não porque
Abraão tivesse sido uma “categoria especial” em termos morais ou religiosos.
Abraão creu nessa escolha misericordiosa de Deus para um serviço especial,
também por meio do povo que descenderia dele (a despeito de todas as
evidências). Em virtude dessa fé Deus justificou Abraão (Gn 15.6; Rm 4.3; Gl
3.6).
Contudo, ao mesmo tempo
a fé de Abraão também foi ação. Isso se evidencia particularmente no começo e no
final de sua trajetória de fé: na partida (Gn 12.4) e ao se dirigir ao monte
Moriá, onde deveria sacrificar o filho (Gn 22). Do contrário Deus não o teria
usado para seus objetivos, e sua fé não teria sido aprovada. A fé de Abraão,
portanto, foi também um renovado ato de fé. Não teria bastado se Abraão tivesse
permanecido em sua tenda, imerso em reflexões devotas. Constantemente tinha de
pôr-se a caminho. Também hoje a fé, para ser genuína, precisa pôr-se a caminho
regularmente, rumo à terra desconhecida, a tarefas complexas e a sacrifícios.
Tg 2.22 “Aí vês como a
fé operava juntamente com as suas obras”: fé e obras não podem ser separadas,
assim como acontece com raiz e fruto. Juntas constituem o todo.
“A fé foi aperfeiçoada
por meio das obras”: uma macieira fértil é macieira durante o ano todo, no
sentido pleno, porém, ela ainda não é macieira no inverno, mas apenas no
outono, quando de fato está coberta de frutos maduros. Nesse sentido é somente
o fruto que plenifica a fé. – Outro aspecto é que o fruto também tem
repercussões para a própria fé. Abraão não retornou do Monte Moriá da forma
como foi para lá: experimentara um grande fortalecimento e incremento em sua
fé. Não os teria obtido se tivesse permanecido em casa e se negado a obedecer.
Atualmente é frequente a busca por fórmulas para estimular as pessoas na fé, e
chega-se às mais exóticas respostas. Aqui nos é dito singelamente: viva a
obediência da fé, dê passos de fé, sirva com fé, sofra pela fé, e ela se
fortalecerá e será aperfeiçoada! Obediência e conhecimento estão interligados.
Jesus afirma: “Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da
doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo” (Jo 7.17). Em
contraposição, o conhecimento já obtido se dissipa e desaparece em decorrência
da obediência negada. Também nesse caso vale: “Ao que não tem, até o que tem
lhe será tirado” (Mt 25.29).
Tg 2.23 “É assim que se
cumpre a palavra da Escritura (Gn 15.6)”: Pelo fato de que Deus escolheu a
Abraão sem mérito e dignidade e de ele o aceitar e se deixar engajar por isso,
ele é correto para Deus, ou melhor, Deus o declara justo. Passou a ser chamado
“amigo de Deus”, amado e íntimo (cf. Is 41.8; também Êx 33.11). Quem vive na
comunhão com nosso Senhor Jesus Cristo, quem aceita sua graça e se encontra no
discipulado e na obediência dele torna-se amigo dele (Jo 15.15). E Jesus
declara: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14.9).
Tg 2.24 “Vedes que uma
pessoa é justificada por causa de suas obras e não simplesmente da fé”: Tiago
chega a essa conclusão geral. Paulo, porém, escreve: “Concluímos, pois, que o
homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3.28). Não
sabemos qual carta foi escrita antes, a carta aos Romanos ou a carta de Tiago.
Tampouco sabemos – na hipótese de que a carta aos Romanos seja a mais antiga –
se Tiago viu uma das cópias da carta de Paulo, que certamente eram raras. Com
suas palavras poderia ter-se dirigido apenas contra um Paulo mal-interpretado,
contra a opinião de que a graça seria como uma poltrona confortável. No mais os
dois “trens” não colidem, porque não andam sobre os mesmos trilhos. Em Rm 3.28
está em jogo a questão de como, afinal, acontece a aceitação do pecador por
Deus (na parábola de Lc 15.11ss: o filho pródigo aceito pelo pai). Paulo diz:
não por “obras da lei”, ou seja, não quando o filho cumpre quaisquer condições
prévias, mas unicamente pela aceitação confiante da bondade do Pai. Tiago,
porém, tem em vista outra questão: como o filho aceito misericordiosamente
passa a se conduzir na casa do pai; a aceitação da bondade do pai tem de ser
sucedida pela disposição de se deixar engajar por essa bondade. Deus nos acolhe
assim como somos, mas ele não nos deixa permanecer como somos.
3.
Raabe.
Raabe é trazida como um
exemplo de fé na Carta de Tiago. Primeiro o apóstolo fala de Abraão, o pai da
nação israelita, mas depois apresenta uma mulher igualmente de fé. A origem de
ambos é diferente, mas a Bíblia apresenta no texto os atos de cada um
relacionados com suas crenças.
Raabe era uma
prostituta de Jericó. Ela ganhava a vida oferecendo seu corpo para saciar a
lascívia dos homens. Ela não conhecia ao Senhor, mas depois que soube o que
Deus fez com Israel, abrindo o rio Jordão na época da cheia, seu coração se
encheu de temor e fé no Deus dos hebreus. Sua fé foi de tal forma
impressionante que ela escondeu em sua casa os espiões que Josué mandou para
verem a cidade, e além de os esconder, orientou que fossem por um caminho diferente
do caminho de seus perseguidores.
Esse foi sem dúvida um
ato de fé. Ela colocou sua própria vida em risco para proteger os espiões de
Israel, mas por sua fé, por crer que Deus realmente iria destruir aquela
cidade, ela não apenas protegeu os emissários de Josué, como também pediu por
sua própria vida e pela vida de seus parentes.
Aqui cabe uma
observação.
Dentro dessa mesma
narrativa associada à queda de Jericó, em que uma mulher ímpia aprendeu a ter
fé em Deus, vemos o caso de Acã, um homem do povo de Deus que não pensou duas
vezes para roubar aquilo que Deus disse que não deveria servir de despojo de
guerra.
E uma conclusão triste,
mas real. E possível encontrar em nossos templos pessoas que congregam conosco
mas que perderam o temor ao que Deus ordena, mas também podemos encontrar fora
da igreja pessoas que terão mais fé naquilo que Deus falou.
Tiago usa as figuras de
Abraão e de Raabe como exemplo de que não basta apenas ter uma fé, e sim que é
preciso colocá-la em prática. Fé não pode ser um conceito doutrinário pronto
apenas para ser apresentado e ensinado, mas acima de tudo, vivido. E essa fé
pode ser manifesta de diversas formas. Abraão tinha uma promessa de Deus para
sua vida, a de que seria pai de uma grande multidão de pessoas. Raabe não tinha
nenhuma promessa, mas confiou em Deus mesmo assim, com base no que ela ouviu
sobre o que o Eterno tinha feito, e foi salva junto com sua família.
Tg 2.25 Tiago escolheu
Raabe, a meretriz (v. 25) para seguir o exemplo de Abraão, o fiel, em sua
exposição de provas do Antigo Testamento, de que a fé não funciona sem obras.
Nesse caso, recebe o apoio do autor aos Hebreus (cf. Hb 11.17-19, 31). Tiago
parece enfatizar que o princípio que ele tem defendido é universal e que não há
espaço para exceções. Ele cita Raabe, que era “gentia, mulher e prostituta”.
Em Hebreus, o autor
ressalta que a ação de Raabe era “por fé”. Tiago não nega isso, mas insiste que
ela foi justificada pelas obras, no sentido de que suas ações eram uma prova da
sua fé. “Ela cria em Deus e evidenciou a sua fé pelo transtorno que enfrentou
ao receber os espiões e auxiliá-los a escapar, arriscando a sua própria vida.
Certamente, essa não era uma fé comum!”
Segundo, o exemplo de
Raabe. Ela creu e agiu. Ela ouviu a Palavra de Deus e reconheceu que estava em
uma cidade condenada. Ela não somente entendeu â mensagem, mas seu coração foi
tocado (Js 2.11), e assim fez alguma coisa: protegeu os espias (Hb 11.31). Ela
arriscou sua própria vida para proteger os espias. Mais tarde ela fez parte do
povo de Deus (Mt 1.5) e tornou-se membro da genealogia de Cristo. Isso é graça
que opera a fé salvadora.
O apóstolo Paulo diz
que do mesmo jeito que somos destinados para a salvação, somos também
destinados para as boas obras. Se a ordenação é determinativa no caso da
salvação, também o é no caso das boas obras. A salvação é só pela fé, mas por
uma fé que não está só. Uma fé viva se expressa por obras, ou seja, uma vida
que traz glória a Jesus.
Paulo ainda nos exorta
a um auto-exame; “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a
vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se
não é que já estais reprovados” (2Co 13.5). A fé salvadora precisa ser
examinada; houve um tempo em que, sinceramente, reconheci meu pecado diante de
Deus? Houve um tempo em que meu coração desejou fortemente fugir da ira
vindoura? Houve um tempo em que compreendi que Cristo morreu pelos meus pecados
e já confessei que não posso salvar-me a mim mesmo? Houve um tempo em que
sinceramente eu me arrependi de meus pecados? Houve um tempo em que realmente
depositei minha confiança no Senhor Jesus? Houve um tempo em que de fato houve
mudança em minha vida? Desejo viver para a glória de Deus, pregar a salvação
para os outros e ajudar os necessitados? Tenho prazer na intimidade com Deus?
Se você pode responder a essas perguntas positivamente, então os sinais da fé
verdadeira estão presentes na sua vida.
Tg 2.25 Da mesma
maneira, até mesmo Raabe, a meretriz, foi também justificada pelas obras. O
julgamento final sobre a vida de uma pessoa leva em consideração a justiça que
esta pessoa mostra por meio de suas obras. Mas, por que Tiago menciona Raabe?
Depois de falar da grande fé de Abraão, o patriarca de Israel, Tiago citou o exemplo
de Raabe, uma mulher pagã que tinha uma má reputação (veja Js 2.1-24; 6.22-25).
Porém, estas duas
pessoas, por mais opostas que fossem, consolidaram o argumento de Tiago – as
duas tinham sido justificadas com base nas obras que resultaram da sua fé. O
contaste não é entre a fé e as obras, mas entre a fé genuína e a falsa.
Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 2. pag. 677.
III
- A METÁFORA DO CORPO SEM O ESPÍRITO PARA EXEMPLIFICAR A FÉ SEM OBRAS (Tg 2.26)
1.
Uma analogia do corpo sem espírito.
Um dos pressupostos do
cristianismo é que a vida é um dom de Deus, e esse presente é fruto da junção
da parte material do ser humano (o corpo) e a parte imaterial (alma e
espírito). Isso significa que se alguma dessas duas partes se separar, a vida
se extingue. A morte separa essas partes. Nesses casos, não resta nada ao corpo
a não ser sepultado, para que se decomponha.
Tiago apresenta esse
recurso comparativo para mostrar o quanto uma fé sem prática é ineficaz. Um corpo
sem espírito pode ser completo, mas está morto. Ele possui coração, pulmões,
cérebro, membros, sistemas digestivo, nervoso, respiratório e circulatório, mas
nada disso funciona porque nele não há vida. Uma vez morto, o corpo se
degenera, exala mau cheiro e se torna repugnante para as pessoas. Para esse ser
que antes estava vivo, nada mais resta senão ser sepultado, ou contaminará o
ambiente dos que estão vivos.
Tg 2.26ª Este versículo
se parece com o décimo sétimo versículo, onde a ideia é amplamente comentada,
exceto que ali há a pequena ilustração do corpo, que é morto se não tiver
espírito. O autor sagrado exibe, incidentalmente, sua crença na
inseparabilidade entre o corpo e a alma, dando a entender a imortalidade desta
última.
Este versículo, que
declara que a fé pode estar morta como um cadáver, se não for acompanhada por
suas obras, é uma conclusão apropriada para a secção inteira; e esse pensamento
já foi expresso, nos versículos dezessete e vinte, de maneira levemente
diversa. Apesar de que poderíamos esperar que a fé fosse representada pelo
espírito, e que as obras representassem o corpo, o autor sagrado reverte isso.
O fato que as obras são equiparadas ao espírito, que dá vida ao corpo, mostra
que o autor sagrado sob hipótese alguma elevava a fé acima das obras. Antes,
ele deixa claro que formam uma união perfeita, igualmente necessárias para a
justificação do crente.
No dizer de Ropes (m
loc.): «...para Tiago, a fé c as obras cooperam para garantir a justificação; e
pelas obras a fé é mantida viva. Assim, pois, o corpo e o espírito cooperam
para garantir a continuação da vida. e, pelo espirito, o corpo é conservado em
vida. Quando se dá ao vigésimo segundo versículo o seu sentido verdadeiro,
pode-se perceber que o paralelo é melhor do que geralmente se pensa».
«...espirito...» O
espírito imortal está cm foco, c não a «respiração. O judaísmo helenista chegou
a rejeitar o pensamento do judaísmo mais antigo sobre a natureza metafísica do
homem. No Pentateuco, o homem é visto meramente como um ser físico animado,
devido à ação do ·sopro» de Deus sobre ele. Porém, ali não há qualquer doutrina
declarada de um espírito imortal; pois. ao morrer o homem, não se espera que o
ser essencial sobreviva. A imortalidade da alma foi uma doutrina desenvolvida
fora da cultura judaica, em vários lugares do Oriente; e sua primeira
declaração formal foi feita por Platão, embora haja declarações na filosofia
grega anteriores a ele quanto a isso. Porém, o judaísmo helenista veio a
aceitar essa doutrina, c normalmente cria que a alma é preexistente cm relação
ao corpo, não sendo criada por ocasião do nascimento (criacionismo), c nem
surgindo como parte da reprodução (traducionismo). Era natural, pois que muitos
rabinos, especialmente fariseus, tivessem aceitado a reencarnação como uma
verdade da experiência humana comum. Julgar que Tiago usa a palavra «espírito»,
neste caso. apenas como «respiração», «hálito», e não como o homem essencial, é
supor que ele rejeitava a teologia comum a seus dias tendo voltado à teologia
mais primitiva, o que é altamente improvável.
Seria coisa desnatural
e impossível um corpo humano existir vivo sem o espirito. Assim também a fé é
desnatural, e está morta, quando não é acompanhada por suas obras. E isso
envolve qualquer tipo de fé, mesmo tão genuína como a de Abraão, contanto que
não seja fingida. Nossa fé pode aceitar todos os conceitos ortodoxos, e podemos
confiar verdadeiramente em Deus; mas, se ela não for acompanhada por obras de
fé, isto é, a obediência à sua lei, então tal fé será morta, não servindo mais
para a justificação ou para a obtenção da aprovação divina. Porém, a fé e suas
obras, se permanecerem juntas, serã
o vivas, conseguindo a aprovação de Deus; e
é disso que consiste a salvação.
Tg 2.26ª E agora, o apóstolo chega à conclusão de toda
a questão: “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também
a fé sem obras é morta” (v. 26). Essas palavras são lidas de diferentes formas;
alguns as leem assim: Assim como o corpo sem respiração está morto, assim é a
fé sem obras. E então eles mostram que as obras acompanham a fé, assim como a
respiração acompanha a vida. Outros as leem assim: Assim como o corpo sem a
alma está morto, assim a fé sem obras está morta também. E então eles mostram
que assim como o corpo não tem ação, nem beleza, mas se torna uma carcaça
repugnante, depois que a alma se foi, assim uma mera profissão sem obras é
inútil, aliás, repugnante e ofensiva.
Finalmente, Tiago usa a
ilustração do corpo (v. 26) que sem espírito está morto, para mostrar a
conclusão que deseja confirmar. Um corpo sem espírito não passa de um cadáver,
inerte, sem possibilidade de se movimentar, pensar agir ou mostrar qualquer
sinal de vida. Boas obras não podem ser realizadas por pedras; nem um corpo
morto pode produzir ações. Igualmente impossível seria que a fé transformadora
deixasse de produzir manifestações dessa fé. A fé como a própria vida mostra
que existe por suas ações.
O autor de Hebreus
também concorda com esse ensinamento de Tiago. “A terra, que absorve a chuva
que cai frequentemente, e dá colheita proveitosa àqueles que a cultivam, recebe
a bênção do Senhor. Mas a terra que produz espinhos e ervas daninhas, é inútil
e logo será amaldiçoada. Seu fim é ser queimada” (Hb 6.7,8). Fé morta, como
terra cheia de espinhos e ervas daninhas, produz apenas “obras mortas” (Hb
9.16), isto é, atos que não revelam um relacionamento vivo com Deus por meio do
Espírito Santo. Se um cristão professo não nasceu de novo (Jo 3.3,5), suas
obras devem ser enterradas como o são os cadáveres!
2.
Da mesma maneira: fé sem obras é morta.
A fé sem obras é
igualmente passível de ser extinta, de ser apenas um movimento intelectual.
Pode haver teologia, mas sem prática da fé cristã demonstrada nas obras, a
teologia será apenas um pensamento distante, mesmo que ortodoxo.
Já vimos que Tiago e
Paulo não se chocam quando tratam de fé e obras. Eles escrevem sobre o mesmo
assunto de forma diferente para públicos e situações diferentes. “A
justificação de que Paulo fala é diferente da tratada por Tiago; uma fala de
nossa pessoa ser justificada diante de Deus, a outra fala da nossa fé ser
justificada diante dos homens.”
O apelo de Tiago é para
que os cristãos demonstrem suas obras como uma representação de sua fé.
Trata-se de um desafio diário, não um momento estanque e único na vida de uma
pessoa.
Timothy B. Cargal
informa que há um jogo de palavras na sentença de Tiago: “A fé sem as obras
(ergon) é morta {arge, isto é, a + ergon, sem efeito). Sabemos que uma pessoa
recebe a salvação pela fé, mas deve demonstrar sua fé por meio das obras. A fé
correta faz o crente agir de forma correta.
Assim completamos este
estudo. A fé deve nos mover em prol de boas ações, não para ser salvos, mas
para demonstrar que somos salvos, que nossa fé não é estática, e que Deus pode
usar nossas ações para fazer apresentar a fé pura e imaculada.
Alexandre Coelho e
Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica.
Editora CPAD. pag. 92-93.
Tg 2.26 A fé e as boas
obras são muito importantes uma para a outra, assim como o corpo é importante
para o espírito. As boas obras não são acrescentadas à fé; na verdade, o tipo
certo de fé é a fé que realiza “obras”, que resulta em boas obras. Se não fosse
assim, o cristianismo não seria nada mais do que um conceito.
Ninguém é levado a agir
se não tiver fé; a fé de uma pessoa não será real a menos que a leve à ação. A
ação é a obediência a Deus. Isto nos leva de volta às palavras de Tiago na
primeira parte deste capítulo, a respeito do cuidado pelos outros. O crente
deve fazer o que Deus o chama para fazer - servir a seus irmãos e irmãs em
Cristo, recusar-se a discriminá-los, e ajudá-los com boas obras.
Entender como a fé e as
obras trabalham juntas ainda não quer dizer que a nossa vida será diferente.
Tiago está a ponto de continuar com uma série de situações de vida que todos nós
iremos encontrar. É nestes eventos cotidianos que nós demonstramos se a nossa
fé está viva ou morta. De tempos em tempos, precisamos checar a nossa pulsação
espiritual, verificando se a nossa vida está de acordo com a Palavra de Deus.
Mas nós também precisamos ter pessoas ao nosso redor, o corpo de Cristo, a quem
possamos perguntar: “Como você me vê colocando em ação a minha fé em Cristo?”
Tg 2.26b O erro
combatido por Tiago: «Algumas pessoas imaginam que podem agradar a Deus se o
acolherem no coração e na mente, mas pouco fizerem por ele com suas ações; e
que, por isso mesmo, podem cometer pecados sem fazer violência à fé e sem
temor; ou, em outras palavras, que podem ser adúlteros, mas. ao mesmo tempo,
ser castos, que podem envenenar seus pais, e, contudo, ser piedosos! A julgar
por tal raciocínio, aqueles que pecam, mas são piedosos, podem ser lançados no
inferno, e, contudo, serem perdoados! Mas ideias como essas são produzidas pela
hipocrisia de amigos declarados do Maligno.
Uma oração: Então a
controvérsia ruge entre os legalistas e paulinistas. Mas Senhor enalteça minha
espiritualidade acima das contradições onde uma teologia ataca outra, onde um
homem, com expressão de sábio em sua face, odeia outro por suas opiniões serem
diferentes. Que possa minha alma ao invés disto clamar. Quanto de Cristo tem-se
formado cm mim?·Se sou obrigado a responder, ·pouco, de que vale minha
teologia? Que valor pode possuir opinião certa para mim se o Espírito não tiver
controle sobre meu e espírito, se outros à minha volta, cheios de necessidades,
ouvem minhas trivialidades, mas por minha vida deparam-se com o nada.
Oh espírito meu! Compre
o campo onde o tesouro precioso enterrado está. Oh alma minha! Dê toda a vida
para encontrar aquela única Pérola de Grande Valor!
E afasta de ti aquela
praia onde as ondas violentas da controvérsia teológica batem e tornam a bater
incessantemente, onde homens sussurram e mutilam-se por línguas afiadas pelo
sectarismo.
Tg 2.26. Tiago conclui
esta passagem, reafirmando seu tema central: a sem obras é morta. Do mesmo modo
que o corpo sem seu espírito vivificante, ou “fôlego de vida” (Gn 2.7), não
passa de um cadáver, assim também a fé, sem as obras que lhe dão vitalidade, é
morta. Novamente percebemos que Tiago está preocupado não com que as obras
sejam “acrescentadas” à fé, mas, sim, com que se possua o tipo certo de fé, uma
fé operante. Sem este tipo de fé, o cristianismo torna-se uma ortodoxia estéril
e perde todo o direito de ser chamado de fé.
Um tanto quanto
ironicamente, ninguém mais do que Lutero captou com tanta força a mensagem
básica de Tiago 2.14-26 (em seu prefácio a Romanos):
“Oh! esta fé é uma
coisa poderosa, sempre ativa e viva. Para ela, é impossível não praticar coisas
boas sem cessar. Ela não pergunta se as boas obras devem ser praticadas, mas,
antes que a pergunta seja feita, ela já as praticou e está constantemente a
realizá-las. Portanto, qualquer pessoa que não pratica tais obras é uma
descrente. Ela tateia e olha ao redor em busca de fé e boas obras, mas não sabe
o que é a fé nem o que são as boas obras. Mas, mesmo assim, ela vive falando,
usando muitas palavras, acerca de fé e boas obras”.
Tenham todos uma boa e prática aula.
Abraços.
Vivam vencendo!!!
Seu irmão menor.
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