II- ONDE COMEÇOU A IGREJA.
Bem, partindo do pressuposto, depois do estudo desta primeira parte, que você já sabe o que significa a palavra igreja, resta saber onde a Igreja começou. Vamos a isso?
a- A Igreja surgiu no Antigo Testamento? Quem lê livros de Teologia Sistemática de autores pedobatistas, aliancistas, vai notar que quase todos vão dizer que a Igreja surgiu no Antigo Testamento.[1]Louis BERKHOF, em sua tentativa de achar a Igreja no Antigo Testamento abre uma seção em sua Teologia Sistemática com o título: A Igreja e as Diferentes Dispensações (Dispensacionalista?).[2] Ali, ele divide não sei porque a história da salvação ou as dispensações em três: período patriarcal, período mosáico, e Novo Testamento. No peíodo patriarcal, segundo ele a Igreja estava nas familias piedosas, e no período mosaico na nação de Israel. Para provar isso, pasmem, ele não cita um só versículo bíblico. Também pudera, não existe nenhum. Ele cita confissões de fé como é muito próprio de quem defende tal ensino. Esse tipo de visão é claro faz parte de seu arcabouço teológico onde a aliança abraâmica da circuncisão tem papel central para fundamentar o pedobatismo.
Mas, no NT o que notamos é que a Igreja é algo de natureza espiritual. Não é uma nação, uma instituição, mas uma nova realidade (Jo. 3.1-7; Fp. 3.20). Os apóstolos são colocados como os fundadores[3]. Entrar nesse povo não é mais uma questão de descendência física (Mt. 3.9; Lc. 3.8), mas só a fé (Jo. 1.11-12; Gl. 3.26), pois a base dessa nova comunidade não mais a descedência nacional[4].
O fato de que Paulo pode se referir aos cristãos como filhos de Abraão, quando escreve aos gentios (Rm 4.16; Gl 3.29), mostra a nova maneira na qual ele entende a
descendência de Abraão. Não se trata mais de uma questão de raça ou de circuncisão, mas de fé comum- Todo conceito de povo de Deus, portanto, mudou de uma nação teocrática para uma comunidade de fé e se tornou mais amplo em seu alcance (universal) quanto mais definido em sua membrezia (fé em Cristo).[5]
Esta realidade pode ser vista em 1Coríntios 10.32, onde a Igreja parece ser tomada no entendimento de Paulo como se fosse uma “terceira raça”[6], diferente de judeus e gentios.[7] É um povo diferente, tirado, comprado de todos os povos (Ap. 5.9-10). A exigência para fazer parte deste povo está fora do indiíduo, ele precisa ser purificado por Deus, nascer de novo para que isso aconteça (Tt. 2.13-14; Jo.3.1-6). Assim, a Igreja é uma nova realidade e da Nova Aliança. Observe com atenção esses detalhes:
1- Cristo ao falar sobre a Igreja em Mateus 16.18 mostra que ela era uma realidade futura, e não presente, Ele é bastante claro ao dizer que iria edificar a Igreja justamente na confissão de Pedro de que Ele era o Cristo/ Messias. Então, esta comunidade que Ele iria edificar é a Sua Igreja, mostrando a ligação da mesma com o tempo de Cristo/Messias, e não antes dEle.
2- A Igreja é o povo com quem Cristo faz a Nova Aliança no seu sangue (Lc. 22.20), assim só poderia ser esse povo após a instituição da Nova Aliança.
3- A Igreja é o povo remido pelo sangue de Jesus Cristo, logo só poderia existir após esse sangue ser derramado (Tt. 2.14; 1Pd. 1. 17-21; Ap. 5. 9-10).
4- Antes de a Igreja existir os gentios não eram considerados povo de Deus, passaram a ser pela Igreja (Ef. 2.11-14; 1Pd. 2.9).
5- A Igreja tem como alicerce Jesus Cristo encarnado e sua obra (1Co. 3.11; Ef. 2.20), logo ela só poderia existir após o aparecimento de Cristo e a realização de Sua obra.
6- A Igreja tem como alicerce os apóstolos e profetas do Novo Testamento (Ef. 2.20-21; 3. 1-7), assim ela deve estar depois de seu alicerce.
7- Se os santos judeus já fossem a Igreja, eles não seriam acrescentados a ela quando acreditavam em Cristo (At. 2. 47).
8- A Igreja não é Israel, nem os gentios; a Igreja é uma nova realidade a parte de judeus e gentios e que engloba judeus e gentios (1Co.10.32).
Continuaremos amanhã...
NOTAS
[1] Uma aparente excessão é a Bíblia de Estudo de Genebra que em sua nota sobre a Igreja começa assim: “A Igreja existe em Cristo e através de Cristo, e por isso, ela é uma realidade distintiva do Novo Testamento”, para depois contraditoriamente dizer que a Igreja é uma continuação de Israel. O que a defesa de um sistema teológico não faz as pessoas dizerem sem pensar. Veja: A Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo: Cultura Cristã, 1999- tópico A Igreja, p. 1403).
[2] Veja: Teologia Sistemática. Campinas: Luz para o Caminho Publicações, 1990), p. 514.
[3] Para isso veja: A Biblia de Estudo de Genebra, nota sobre Jo. 20.23.
[4] GUTHRIE, Donald. Teologia do Novo Testamento (São Paulo: Cultura Cristã, 2007), p. 711.
[5] Ibid, p. 754
[6] Tomei a expressão “terceira raça” de David PRIOR, A Mensagem de 1 Coríntios, 2ª ed. (São Paulo: ABU, 2001), p. 189.
[7] Veja WILLIAMS, Rodman. Teologia Sistemática (São Paulo: Vida, 2011), p. 786, nota 10
Nenhum comentário:
Postar um comentário