Uma Refutação ao artigo “Contingência, Sofrimento e Deus” de Ricardo Gondim
Por Jairo Rivaldo
Não posso ficar calado diante de tamanha
distorção teológica. As declarações do senhor Ricardo Gondim são uma
afronta ao cristianismo bíblico e histórico, uma ofensa ao Deus que se
revelou através das escrituras .
O que segue abaixo é uma breve refutação de declarações infundadas
proferidas por alguém que se autodenomina cristão e pastor.
“Afirmar que uma
tragédia pode ser evitada implica em que ela não foi orquestrada por uma
divindade. Na contingência fatos ocorrem sem alguma razão que os
explique ou justifique, e que escaparam da engrenagem de causa e efeito.
Se o teto de uma igreja cai, um avião despenca, uma boate pega fogo, é
porque o mundo contém espaço para acidentes – causados por negligência,
falha humana ou mecânica- e podem matar sem que se atrelem a fado,
destino, punição ou plano de Deus”. Ricardo Gondim
Refutação:
Dizer que a morte de alguém ocorre à
parte do plano de Deus é no mínimo ofender o Deus das escrituras, pois
está escrito que Ele determina o nosso nascimento “Mas Deus me separou
desde o ventre materno e me chamou por sua graça. Quando lhe agradou”
(Gl 1:15); E morte “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode
acrescentar uma hora que seja à sua vida?” (Mt 6:27).
“Sem atinar, muitos
repetem a crença de que só se morre quando chega a hora. Para que tal
afirmação seja verdadeira, destino precisaria vir escrito com “d”
maiúsculo, pois necessitaria de inteligência e controle para reunir em
uma casa de espetáculo, avião ou ônibus, todas as pessoas destinadas a
morrer naquele dia específico. Acreditar assim concede à fatalidade um
poder apavorante: imaginar que jovens, seduzidos por uma orquestração
oculta, entraram como gado no matadouro.
“Da mesma forma, muitos tentam encadear os eventos acidentais da vida, supondo que Deus “permite” sinistros com algum propósito. Querem dizer que cada pessoa, com histórias, projetos, sonhos, viu-se arrancada da existência “porque Deus assim quis”. O objetivo de Deus seria um mistério que ninguém entende e será revelado a longo prazo?”. Ricardo Gondim
“Da mesma forma, muitos tentam encadear os eventos acidentais da vida, supondo que Deus “permite” sinistros com algum propósito. Querem dizer que cada pessoa, com histórias, projetos, sonhos, viu-se arrancada da existência “porque Deus assim quis”. O objetivo de Deus seria um mistério que ninguém entende e será revelado a longo prazo?”. Ricardo Gondim
Refutação:
Não existe um destino com “D” maiúsculo,
assim também como não existe um deus com “d” minúsculo. O Deus que se
revelou nas escrituras controla cada aspecto da sua criação “O Senhor
estabeleceu o seu trono nos céus, e como rei domina sobre tudo o que
existe” (Sl 103:19). Nada pode acontecer fora do plano de Deus “Nele
fomos também escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano
daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade” (Ef
1:11). Nossa insubmissão rebelde tende a retrucar contra a vontade de
Deus, mas nada pode frustrar os seus planos “Sei que podes fazer todas
as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42:2). Sim,
todas as coisas acontecem porque em última instancia Ele quis.
“Como ter fé em um
Deus que “deixa” rapazes e moças se pisotearem até a morte? Ele utiliza
eventos macabros para ensinar as pessoas a terem medo dele? Esse é o seu
jeito de produzir arrependimento? Tal entendimento faria com que a
biografia de cada indivíduo que se perdeu fosse descartável. Deus
precisaria, inclusive, manter-se frio, desprezando as lágrimas de mães e
pais. Alguns chegam a ensinar que o Divino Oleiro faz o que quer e não
podemos questioná-lo. Deus mata, afoga, asfixia e dá as costas em
“vontade permissiva” porque deve conduzir a macro história para a sua
glória final? Nas grandes tragédias, alguns se contentam em explicar os
eventos através da doutrina do controle absoluto. Afirmam que Deus tem
todo o poder e não seria difícil para ele reunir em um só lugar as
pessoas que deveriam morrer. Um Deus com requintes desse maquiavelismo,
não passaria de um demônio. Deus é bom. Satisfaz pensar que na divina
economia Deus ainda vai compensar a morte absurdamente desnecessária de
tantos jovens? Difícil explicar tal conceito aos pais, avós e parentes
que sonharam em vê-los terminando a faculdade, casando e tendo filhos.
Bastaria falar da vida depois da morte para consolar mais de duzentas
mães acorrentadas à trágica realidade de que Alguém lhes roubou a razão
de viver?”. Ricardo Gondim
Refutação:
Respondendo à sua pergunta, “Como ter fé
em um Deus que “deixa” rapazes e moças se pisotearem até a morte? Ele
utiliza eventos macabros para ensinar as pessoas a terem medo dele? Esse
é o seu jeito de produzir arrependimento?
As pessoas (não regeneradas) tendem a
fabricar um “deus” segundo a sua própria imaginação e vontade. O Deus
revelado nas escrituras não precisa dar satisfações ao homem “Todos os
povos da terra são como nada diante dele. Ele age como lhe agrada com os
exércitos dos céus e com os habitantes da terra. Ninguém é capaz de
resistir à sua mão nem de dizer-lhe: “O que fizeste? ” (Dnl 4:35). O
próprio ato de fé do homem não acontece porque o homem só viu atos que
ele interpretou como “amorosos” vindos desse Deus; muito pelo contrário,
os homens que compõem a galeria dos “heróis da fé” em Heb 11 foram
testemunhas dos atos nada “amorosos” desse Deus ao longo da história da
redenção. Por exemplo, Noé viu o mundo antigo ser destruído pelo dilúvio
(lembrando que ali existiam mulheres, velhos, jovens e crianças),
Abraão viu as cidades de Sodoma e Gomorra serem subvertidas pelo fogo de
Deus, Moises viu milhares de israelitas serem mortos pela mão de Deus
no deserto, e poderíamos citar mais dezenas de exemplos do modo desse
Deus agir. A fé e o arrependimento não são gerados no coração do pecador
quando Deus age conforme os nossos gostos e preferências, mas sim,
quando ouvimos a sua Palavra (Rm 10:17), a fé e o arrependimento são
dons de Deus (Ef 2:8; At 11:18).
“A ideia de que Deus
tem um plano para cada morte se esvazia diante dos números. Aviões
caem, ônibus tombam, boates incendeiam. Todos os dias incontáveis
acidentes acontecem. Como explicar as balas perdidas, os erros médicos e
os atropelamentos provocados por bêbados? Todos cumprem alguma ordem ou
são inevitáveis? Uma senhora de nossa comunidade caiu da laje de sua
casa em construção, quebrou a coluna e ficou paraplégica. Ela
fotografava a obra para que a filha lhe ajudasse nas despesas do
acabamento. A mais tosca explicação que a teologia poderia dar ao seu
infortúnio é que Deus tem um plano para deixá-la paralítica ou a puniu
por algum pecado”. Ricardo Gondim
Refutação:
Definitivamente, não cremos no mesmo Deus. O seu é totalmente limitado “pelos números”, o meu controla:
O universo em geral (Sl 103.19; Dn 5.35; Ef 1.11).
O mundo físico (Jó 37.5; Sl 104.14; 135.6; Mt 5.45).
A criação inferior (Sl 104.21, 28; Mt 6.26; 10.29).
Os negócios das nações (Jó 12.23; Sl 22.28; 66.7; At 17.26).
O nascimento do homem e sua sorte na vida (1 Sm 16.1; Sl 139. 16; Is 45.5; Gl 1.15, 16).
As vitórias e fracassos que sobrevêm às vidas dos homens (Sl 75.6, 7; Lc 1.52).
As coisas aparentemente acidentais ou insignificantes (Pv 16.33; Mt 10.30).
Na proteção dos justos (Sl 4.8; 5.12; 63.8; 121.3; Rm 8.23).
No suprimento das necessidades do povo de Deus (Gn 22.8, 14; Dt 8.3; Fp 4.19).
Nas respostas à oração (1 Sm 1.19; Is 20.5, 6; 2 Cr 33.13; Sl 65.2; Mt 7.7; Lc 18.7, 8).
No desmascaramento e castigo dos ímpios (Sl 7.12, 13; 11.6).
“Jesus considerou em
seus ensinos um mundo contingente. Contradizendo a religiosidade
popular judaica, ele desconectou a queda de uma torre de qualquer
desígnio divino. Não concordou com a insinuação dos discípulos de que a
cegueira de um mendigo era consequência do pecado dele ou de seus
antepassados. No Sermão do Monte, Cristo advertiu os seus seguidores de
que mesmo alicerçando a casa sobre a rocha, eles não seriam poupados dos
ventos contrários e da tempestade”. Ricardo Gondim
Refutação:
Na verdade não vejo como Jesus (segundo
você) tenha desconectado o evento da queda da torre (Lc 13:1-5) do
desígnio divino, o que claramente Ele desconecta, é a ideia errônea dos
judeus de se acharem melhores do que os galileus. Por essa razão ele os
chama ao arrependimento. Nós não somos melhores do que os que morreram
naquela boate, deveríamos ficar surpresos pelo fato de que algo assim
também não tenha ocorrido conosco. Por isso, devemos viver para a glória
de Deus uma vida de constante arrependimento. Contudo, devemos estar
conscientes que o modo ou o tempo da nossa morte não nos pertencem.
“O mundo das
relações, devido ao amor, precisa de liberdade, e essa liberdade produz
contingência. Portanto, acidentes, percalços, incidentes, fazem parte da
condição humana. O contrário seria absoluta segurança. Sem a ameaça do
sofrimento, sem a possibilidade da morte prematura, não enfrentaríamos
ameaça de espécie alguma. Acontece que a ausência da contingência nos
desumanizaria. A consciência do risco de adoecer e a imprevisibilidade
da morte súbita, embora angustiantes, são o preço que pagamos por nossa
humanidade. Jesus encarnou a compaixão de Deus, (compadecer significa
sofrer junto), para nos mostrar que Deus sabe do risco de viver. Ele
reconhece que mal e bem acontecerão no espaço da liberdade, por isso,
oferece o ombro e as lágrimas. Deus não deseja que nossa vida se perca
no inferno da dor.
Qualquer desastre revela a inutilidade de pensar que o exercício correto da religião ou a capacidade tecnológica bastam para anular a contingência. A vida será sempre imprecisa e efêmera. Diante da possibilidade do sofrimento, aprendamos a chorar com os que choram”. Ricardo Gondim
Qualquer desastre revela a inutilidade de pensar que o exercício correto da religião ou a capacidade tecnológica bastam para anular a contingência. A vida será sempre imprecisa e efêmera. Diante da possibilidade do sofrimento, aprendamos a chorar com os que choram”. Ricardo Gondim
Refutação:
A alegação de que amor pressupõe
liberdade, e que essa liberdade produz acidentes incontroláveis não
condiz com o ensino bíblico de que Cristo (Deus) “sustenta todas as
coisas pela Palavra do seu poder” (Hb 1:3). Nada que fazemos está livre
do controle de Deus. Ao contrário do que você afirma, não somos
desumanizados diante do controle absoluto de Deus, somos colocados no
nosso devido lugar!
Em fim, ao ressaltar o aspecto da
compaixão de Deus de forma exacerbada, e fazer dele uma caricatura, você
claramente desvirtua a missão de Cristo, fazendo dele uma espécie de
“sofredor com os sofredores”, e não aquele que veio morrer por pecadores
indignos de viver e perfeitamente merecedores da condenação.
A ordem: “chorai com os que choram” foi
dada à igreja de Roma (Rm 12:15), onde Paulo mostrou através de uma
exposição singular, o caráter absoluto da soberania de Deus (Rm 9-11).
Devemos chorar com os que choram pela morte dos seus, não por que foi
mera contingência, mas porque devemos obedecer a Palavra daquele que faz
todas as coisas segundo a sua sábia e perfeita vontade.
Agora sim, SOLI DEO GLÓRIA!!!
***
- Sobre o autor: Jairo Rivaldo da Silva é blogueiro, Casado com Raabe, Toritamense, Pernambucano, Seminarista, Presbiteriano, Reformado, Calvinista.
Fonte: PúlpitoCristão
- Sobre o autor: Jairo Rivaldo da Silva é blogueiro, Casado com Raabe, Toritamense, Pernambucano, Seminarista, Presbiteriano, Reformado, Calvinista.
Fonte: PúlpitoCristão
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