14 fevereiro 2013

Lição 7 - "A Vinha de Nabote"



 TEXTO ÁUREO = “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifarã” (GI 67)

 VERDADE PRÁTICA = A trama orquestrada pela rainha Jezabel e o rei Acabe contra Nabote demonstra quão danoso é render-se aos desejos da cobiça e de uma satisfação pessoal.

 LEITURA BIBLICA = I Reis 21: 1-5; 15,16 

INTRODUÇÃO:

A história do rei Acabe é a evolução de uma sequência de erros: Primeiramente ele trocou o Deus verdadeiro por um falso. Isso ele fez quando tentou erradicar o culto ao Senhor e implantar a adoração cananeia no deus Baal.

Em segundo lugar, ele tentou substituir os profetas do Senhor pelos profetas de Baal. Para que seu intento fosse alcançado, promoveu o extermínio dos profetas verdadeiros e pôs em seus lugares os profetas de Baal e de Aserá.

Em terceiro lugar, ele tenta transformar uma vinha em uma horta. O problema residia no fato de que a vinha não era dele, mas de um dos seus súditos que como legítimo proprietário possuía seu direito de posse. Em conluio com sua esposa, a famigerada Jezabel, esse rei fraco e sem personalidade arquiteta uma das mais sórdidas tramas registradas nas páginas Sagradas — a morte do inocente Nabote. E exatamente nesse último episódio que Acabe recebe a visita do profeta Elias, que ao contemplá-lo anuncia um duro julgamento sobre ele (1 Rs 21.1-29).

O episódio envolvendo o rei Acabe e a vinha de Nabote é um dos mais tristes do registro bíblico. Uma grande injustiça é cometida contra um homem inocente. Triste porque vemos até onde pode chegar um coração cobiçoso. Por outro lado, esse fato é um dos que melhor revela a manifestação da justiça divina ante as injustiças dos homens. Acabe matou Nabote e apropriou-se de suas terras, todavia não pôde participar do fruto de seu pecado porque o Senhor, através do profeta Elias, o denunciou e o disciplinou.

Infelizmente a injustiça está presente em todas as culturas e povos,me se manifesta das mais variadas formas, como essa narrada na poesia de Patativa do Assaré:


Seu moço, me escute uma triste verdade,

Que até dá vontade Da gente chorar; Escute quem foi que azarou a minha vida, Nas terras querida Do meu Ceará. Eu era rendeiro do J. Veloso, Um rico invejoso, Malvado sem par, Senhor de dinheiro e de léguas de terras, De baixa e de serra, Disponível para arrendar.

Eu, vendo as terras daquele ricaço, Um certo pedaço Com gosto arrendei, Pois vi que o terreno para tudo convinha, A terra só tinha Madeira de lei.

Joguei-me deveras na serra fechada, De foice Conrad, Machado Collins Jucá revirava, pau d’arco caía, E a cobra fugia Com medo de mim.

Depois de algum tempo, no dito baixio, De carga de milho Quebrei mais de cem. Havia de tudo, melão, macaxeira, E muita fruteira Vingando também De tudo o tributo correto eu pagava, E sempre me achava De bom a melhor. Vivia contente, gostando da vida, Com minha querida Maria Loló.

Então, seu moço, fugiu a penúria, Chegou a fartura Me enchendo de fé; Mas veio depois uma inveja danada, A filha gerada Do monstro Lusbel. O J. Veloso, me vendo arranjado, Ficou afobado, Pegou a invejar, Falando zangado, com raiva e com grito, Dizendo que o sitio Me vinha tomar.

Pedi a justiça com muito respeito, Meu justo direito Naquela questão, Porém ao matuto sem letra e grosseiro, Faltando dinheiro, Ninguém dá razão. Deixei minha terra, a querida Mombaça, Que grande desgraça Seu moço, eu sofri!

Deixei as belezas da terra adorada, E triste e sem nada, Cheguei por aqui. Por causa de inveja, por esse motivo, Doente hoje eu vivo No seu Maranhão. Sofrendo saudade, tormento e canseira, Gemendo na esteira Com febre e sezão.

Me resta somente a feliz sepultura, E a vida futura Que Nosso Senhor Promete a quem sofre e padece inocente; A vida presente Para mim acabou. Eu hoje devia viver sossegado, No sitio arrendado, No caro torrão: Porém ao matuto sem letra e grosseiro, Faltando o dinheiro, Ninguém dá razão!”

O direito à propriedade no Antigo Israel

De acordo com o livro de Levítico, a terra pertencia ao Senhor (Lv 25.23). Um israelita da Antiga Aliança estava consciente de que o Senhor havia lhe dado o direito de explorar a terra como uma concessão. Assim sendo, ele não poderia vender aquilo que lhe fora dado como uma herança do Senhor. O livro de Números destaca esse fato: “Assim, a herança dos filhos de Israel não passará de tribo em tribo; pois os filhos de Israel se hão de vincular cada um à herança da tribo de seus pais” (Nm 36.7,9). Com isso o Senhor queria proteger seu povo da cobiça, além de garantir-lhe o direito de cultivar a terra para sua subsistência.
A herança de Nabote = Acabe queria a vinha de Nabote de qualquer jeito, mas diante de sua insistência, Nabote contra argumentou (1 Rs 21.3). Nabote era obediente ao Senhor e invocou o poder da lei para se proteger. Diante desse fato o rei cobiçoso ficou triste, pois sabia que até mesmo um monarca hebreu precisava se submeter à lei divina (1 Sm 10.25). Mas Jezabel, sua esposa, que viera de um reino pagão, ficou escandalizada com esse fato.
Entre os reinos pagãos os governantes não eram apenas soberanos, eram também tiranos (1 Rs 21.5-7). Dessa forma ela arquitetou um plano para se apossar da vinha de Nabote (1 Rs 21.8-14).


Os comentaristas Jamieson, Fausset e Brown (1994, pp.288,289) destacam que: “Acabe estava desejoso, devido à proximidade do seu palácio, de possuir esta vinha para fazer uma horta. Propôs a Nabote dar-lhe uma melhor em troca, ou obtê-la por compra; mas o dono se negou a se desfazer dela; e ao persistir em sua negativa, Nabote não foi motivado por sentimentos de deslealdade ou por falta de respeito ao rei, senão por uma consideração consciente da lei divina, a qual por razões importantes havia proibido a venda de uma herança paterna; ou se por extrema pobreza ou dívida, fosse inevitável a cessão dela, a transferência era feita sob a condição de que fosse resgatada a qualquer momento; e em todo caso, que seria devolvida a seu dono no ano do jubileu.

Enfim, não poderia ser desanexada da família, e foi por esse motivo (v.3) que Nabote se negou a cumprir a demanda do rei. Não foi, pois, alguma ignorância ou falta de respeito que irou e desgostou a Acabe, senão seu espírito egoísta que não podia tolerar ser frustrado em seu propósito.

A casa de campo de Acabe e sua horta = Como já ficou demonstrado, o livro de 1 Reis destaca que Acabe possuía uma segunda residência em Jezreel (1 Rs 18.45,46). Era uma casa de verão. Já vimos que a vinha de Nabote estava, pois, localizada próxima a residência de Acabe (1 Rs 21.1). Acabe possuía uma casa real, uma casa de campo, mas não estava satisfeito enquanto não possuísse a pequena vinha do seu súdito Nabote. Há um grande número de pessoas, mesmos sendo ricas, que não se satisfazem com o que tem. Estão sempre querendo mais, todavia não conseguem encontrar satisfação verdadeira nesse processo. Nenhum ser humano conseguirá se satisfazer plenamente se o seu centro de satisfação não estiver em Deus.

Acabe estava dominado pelo desejo de “ter”, de possuir. Somente a casa de verão, que sem dúvida era majestosa, não lhe satisfazia. Queria agora construir ao seu lado uma horta para que seus desejos pudessem ser realizados. Não se importava em quebrar o mandamento divino: “Não cobiçarás” (Êx 20.17). Queria por que queria aquilo que pertencia a outrem (1 Rs 21.1,2). Mais do que qualquer motivação externa, Acabe estava totalmente dominado pelos desejos cobiçosos de seu coração. Acabe, portanto, estava mais preocupado com questões estéticas do que éticas. Ele não estava preocupado como agradar a Deus através de sua administração, mas como desfrutar prazerosamente a vida.

Uma excelente exposição sobre o ato de “desejar”, tanto em seu aspecto positivo como negativo, foi feito pelo reverendo J.A. MacDonald na obra The Pulpit Commentary (2011, pp.520,521).

Em primeiro lugar, MacDonald observa que o simples desejo não se configura como cobiça. Ele destaca que a troca é um dos princípios naturais do comércio, visto que se as pessoas não tivessem vontade de irem além do que já possuem, então não haveria motivos para se fazer negócio algum. Todo comércio está fundamentado sobre o desejo de se fazer intercâmbio.

Em segundo lugar, MacDonald destaca que o comércio pode se configurar como uma fonte de bênçãos. Ele põe em relevo os males que se juntam ao comércio como, por exemplo, quando práticas desonestas se agregam a ele. Mas ele observa oportunamente que essas intrusões ilegítimas devem ser vistas como exceções e não como se fossem a regra.
O fato é que o comércio genuíno coloca os países e povos do mundo inteiro em intercâmbio. Dessa forma, o comércio amplia o nosso conhecimento desses países, seus povos e produtos, o que de outra maneira estimula a ciência. Ele também incentiva a filantropia. Socorro é oferecido para angústias que vem através de: fomes, inundações, incêndios, terremotos, e dessa forma missões religiosas são organizadas.

Em terceiro lugar, observa MacDonald que o desejo ilícito se configura em cobiça. Assim sendo não devemos desejar aquilo que Deus já proibiu. Nesse sentido, Acabe estava errado em querer a vinha de Nabote.

Era herança de seus pais, transmitida na família de Nabote, desde os dias de Josué, e que teria sido ilegal se ele se desfizesse dela. (Lv 25.23; Nm 34.7). Acabe estava errado em tentar fazer Nabote transgredir o mandamento do Senhor. Ele nunca deveria ter incentivado o desejo, uma gratificação que teria uma consequência.

MacDonald conclui chamando a atenção para o estudo sistemático da Palavra de Deus como uma forma de proteção contra toda prática errada.  Não podemos alegar ignorância quando temos a Bíblia em nossas mãos. Também não podemos transferir agora a nossa responsabilidade para os outros. Fazemos pouco uso de nossas Bíblias? Será que a lemos em oração? Não devemos vender a herança moral que temos recebido do passado.

Falso testemunho, assassinato e apropriação indevida As atitudes de Acabe foram acontecendo como uma reação em cadeia. Ê evidente que um desejo pecaminoso não pode dar frutos bons. O problema agora não era somente de Acabe, mas também da sua famigerada mulher, Jezabel (1 Rs 21.7). Foi ela que arquitetou um plano sórdido para se apossar da propriedade de Nabote. Diz o texto sagrado que ela envolveu várias pessoas nesse intento, incluindo os nobres do reino (1 Rs 21.8). Nobres sem nenhuma nobreza! Escreveu uma carta e selou com o anel de Acabe, portanto, com o seu consentimento, para que Nabote, o Jezreelita, fosse acusado de ter blasfemado contra Deus e contra o rei (1 Rs 21.10). Um falso testemunho. Um simples desejo que evoluiu para a cobiça e transformou-se em falso testemunho.

A trama precisava ser bem feita para não gerar desconfiança, e por isso um jejum deveria ser proclamado, como sinal de lamento por haver Nabote blasfemado contra Deus (1 Rs 21.9). Uma prática religiosa foi usada para dar uma roupagem espiritual ao caso. Como foi planejado, Nabote foi apedrejado e morto injustamente! (1 Rs 21.13). Quantas vezes a Bíblia é usada para justificar práticas pecaminosas! Resolvido o problema, agora o rei poderia se apoderar da vinha de Nabote (1 Rs 21.16). Um abismo chama outro abismo. O pecado havia evoluído da cobiça para um assassinato!

Julgamento divino = Acabe e sua esposa Jezabel estavam convencidos de que ninguém mais sabia dos seus intentos. De fato ninguém dentre o povo soube dos bastidores desse estratagema diabólico, exceto Elias, o Tesbita. Tão logo Acabe se apossou da vinha de Nabote, a Escritura diz: “Falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o S e n h o r : Mataste e, ainda por cima, tomaste a herança? Dir-lhe-ás mais: Assim diz o S e n h o r : No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, cães lamberão o teu sangue, o teu mesmo” (1 Rs 21.17-20).
Deus, portanto, envia o seu julgamento como punição contra a desobediência (Lv 26.14-16; 2 Co 7.19,20); desprezo às advertências divinas (2 Cr 36.16; Pv 1.24-31; Jr 44.4-6); murmuração contra Deus (Nm 14.29); idolatria (2 Rs 22.17; Jr 16.18); iniquidade (Is 26.21; Ez 24.13-14); pecados dos líderes (1 Cr 21.2,12).

Arrependimento e morte = Duas atitudes podem ser tomadas diante de uma sentença divina de julgamento: arrepender-se ou rejeitar a correção. No caso de Acabe o texto sagrado destaca que logo após receber a profecia sentenciando a sua morte, ele: “rasgou as suas vestes, cobriu de pano de saco o seu corpo e jejuou; dormia em panos de saco e andava cabisbaixo. Então, veio a palavra do S e n h o r  a Elias, o tesbita, dizendo: Não viste que Acabe se humilha perante mim? Portanto, visto que se humilha perante mim, não trarei este mal nos seus dias, mas nos dias de seu filho o trarei sobre a sua casa” (1 Rs 21.27-29). Acabe arrependeu-se, mas mesmo assim não teve como se livrar das consequências de suas ações (1 Rs 22.29-40; 2 Rs 1.1-17). O pecado sempre tem seu alto custo!

Mesmo no caso de Acabe, a graça de Deus superabunda! A graça de Deus é de fato algo surpreendente! A graça faz com que um julgamento iminente seja adiado! É, contudo, no Novo Testamento que encontramos quão maravilhosa é a graça de Deus.

Vejamos alguns fatos sobre essa graça:
1.       A graça é salvadora — “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9). A nossa salvação tem origem na graça de Deus; não foi fruto de méritos pessoais! Todos pecaram (Rm 3.23), mas a graça foi estendida a todo pecador. Onde deveria haver o julgamento, a graça trouxe o perdão! Onde deveria haver morte, a graça trouxe a vida. O texto do capítulo 27 de Atos dos Apóstolos ilustra o poder dessa graça. Esse capítulo revela que o apóstolo Paulo, com muitos outros detentos, era conduzido a Roma para ser julgado. No total estavam no navio 276 pessoas. O texto não diz, mas podemos imaginar que havia no meio dos detentos aqueles que haviam sido presos por roubo, homicídios, etc.

2.       Quando o navio ameaçou afundar, os soldados eram de opinião que os presos, inclusive o apóstolo Paulo, deveriam ser mortos! Todavia Paulo já havia sido revelado que Deus, por sua graça, não permitiria que ninguém daquele navio morresse naquele naufrágio. Deus poupou a vida não somente da tripulação do navio, mas de todos os demais presos (At 27.22-44)!

3.       A graça impede que o passado nos machuque —- ‘Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.10Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1 Co 15.9-10). Paulo disse que não merecia ser um apóstolo e, se dependesse do seu passado jamais teria sido. Mas a graça foi muito além disso, ela não levou em conta o seu passado e não permitiu que ele machucasse o apóstolo. Não havia mais passado!

4.       A graça nos faz operantes — “Trabalhei mais do que todos eles” (1 Co 15.10). Sem dúvida, Paulo foi o mais ativo dos apóstolos. Por quê? A resposta está no poder da graça de Deus na vida dele. A graça nos tira de uma vida sem sentido e inoperante para nos dar um sentido para viver. A graça nos fortalece!

5.       A graça nos ajuda a conviver com as adversidades — “E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.8Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim.9 Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo

Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte (2 Co 12.7-10).

A graça de Deus fez com que o apóstolo encontrasse até mesmo no sofrimento razão para se alegrar! Isso soa muito diferente das mensagens pregadas hoje em dia por aqueles que se intitulam “apóstolos”. Esses apóstolos de hoje pregam uma vida abastada e livre de sofrimento. Todavia é um evangelho desprovido da graça de Deus.

6.       A graça nos faz vitoriosos — “Graça a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15.57). A graça nos faz vitoriosos! O relato da vinha de Nabote revela que o pecado não compensa.

Todas as nossas ações terão consequências, e algumas delas extremamente amargas. Deveríamos medir nossas intenções primeiramente pela Palavra de Deus e somente assim evitaríamos dar vazão aos nossos instintos. Nossas ações glorificariam [a Deus em vez de satisfazer nossos egos. Acabe fracassou porque se esqueceu da Palavra de Deus, preferindo ouvir e seguir a orientação de uma pagã que nada sabia sobre a Lei do Senhor.

Quando alguém quebra a Palavra de Deus, na verdade é ele quem está se quebrando! O texto nos mostra que o nosso Deus é em primeiro lugar onisciente. Acabe fez suas ações sem o conhecimento do povo, mas não de Deus. Ele inspeciona todas as ações dos homens.

Ele é um Deus que perscruta todas as nossas motivações. Isso nos leva à conclusão que nada está oculto aos seus olhos. Por outro lado, o relato nos mostra que o Senhor é grande juiz. Ele faz com que experimentemos o amargor de nossas ações quando elas estão erradas. Essa passagem também demonstra que todo julgamento atende ao propósito de Deus.


                                        Subsídio para o Professor:

Nesta Aula trataremos a respeito da cobiça de Acabe. A cobiça é um desejo forte, constante e insaciável; ela pode levar o homem a pisar no seu próximo para subir na vida, chegando a roubar e matar. O mundo em que vivemos é orientado por um estilo de vida materialista, hedonista e pragmatista, todavia, o Evangelho demanda de cada um de nós um estilo rigorosamente contrário ao mundano.
Existe o desejo legítimo e a cobiça. O primeiro refere-se ao suprimento das necessidades e, em alguns casos, um pouco mais, atingindo o nível do conforto; o segundo vai muito além, alcança o excesso e avança rumo ao proibido. Mas onde está a exata fronteira entre uma e outra coisa?  É difícil dizer onde o desejo correto se transforma em cobiça, assim como não podemos determinar com certeza a exata quantidade de comida que alguém precisa consumir. Cada indivíduo é capaz de reconhecer que a sua necessidade foi suprida e seu apetite saciado. Depois disso, o desejo torna-se cobiça. Disse o sábio Salomão: “Se achaste mel, come somente o que te basta, para que porventura não te fartes dele, e venhas a vomitar” (Pv 25:16). Deus estabeleceu limites: Adão poderia comer do fruto de todas as árvores, exceto uma (Gn 2:16,17). Quando desejamos o que Deus proibiu, está caracterizada a cobiça. O décimo mandamento assevera: “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo” (Ex 20:17).  Portanto, o direito do outro é um dos nossos limites.
I. O OBJETO DA COBIÇA DE ACABE
O objeto da cobiça do rei Acabe: a herança de Nabote. Acabe possuía riqueza e todo tipo de bens materiais, mas dirigiu seus olhos e sua cobiça à propriedade de subsistência de Nabote, seu vizinho. Seu desejo incontido desencadeou uma série de pecados: abuso de autoridade, acusação, falso testemunho, homicídio e roubo (1Rs 21). A proposta que Acabe fez a Nabote parecia justa, generosa e irrecusável, pois oferecia em troca uma outra vinha melhor, ou se desejasse, lhe daria em dinheiro o que ela valia. Acontece que o valor da vinha para Nabote ia para além das questões mercantilistas. Ele considerava aquela propriedade uma herança inegociável, e cuja venda implicaria em transgressão ao mandamento do Senhor (cf Lv 25:13-28 e Nm 36:7,9). Nabote procedeu corretamente; de acordo com o livro de Levitico, a terra pertencia ao Senhor (Lv 23:23). Assim sendo, Nabote não poderia vender aquilo que lhe fora dado como uma herança do Senhor. Diante da resposta e posicionamento de Nabote, a reação de Acabe foi de desgosto e indignação, pois o seu capricho não fora alcançado, o que desencadeou no rei uma crise emocional (1Rs 21:4). Mas, Acabe queria aquela propriedade a qualquer custo; aquele espaço de terra, era o seu objeto de maior desejo. Por ser rei, imaginava que podia atropelar a lei de Deus e emplacar injustiça social. Para concretizar o seu intento, esse rei fraco e sem personalidade arquitetou, em conluio com sua impiedosa esposa Jezabel, uma das mais sórdidas tramas registradas nas páginas Sagradas: a morte do inocente Nabote. Mas, o juízo de Deus foi severo contra a casa de Acabe; veja isso no tópico IV abaixo.
Atualmente, muitos líderes e irmãos caprichosos, que não se contentam com aquilo que possuem, e que acham que seus desejos precisam ser atendidos e satisfeitos por todos, estão dominados pela cobiça. Tenhamos cuidado, pois a cobiça é abominação ao Senhor (Dt 7:25); é a raiz de todos os males ((Tg 4:15,15).
II. AS CAUSAS DA COBIÇA DE ACABE
A principal causa da cobiça de Acabe: o domínio incontrolado do “ter”, de “possuir”, aquilo que é do outro, neste caso a vinha de Nabote. Esta vinha era próxima ao palácio real, isto é, da casa de verão, e, aparentemente, Acabe, levado por um capricho, desejava transformá-la em um jardim.
Entendemos pelo texto sagrado que aquela propriedade fora passada a Nabote por herança: “Porém Nabote disse a Acabe: guarda-me o Senhor de que eu te dê a herança de meus pais” (1Rs 21:3), o que fortalecia a convicção de Nabote de que ele não deveria vendê-la nem trocá-la por outra propriedade. É provável que Nabote tenha sido criado naquele terreno, dedicando-se com seus pais ao cultivo de uvas. Se Nabote tivesse feita essa venda ou trocada por outra vinha, ele teria transgredido não só uma tradição, como também a sua consciência (cf Lv 25:23-28; Num 36:7ss). Acabe reconhecia isso; ele era cônscio de que Nabote estava religiosamente obrigado a conservar a posse de sua terra e que essa obrigação não poderia ser contrariada. Entretanto, ele ainda assim queria essa área; ele estava totalmente dominado pela cobiça, qual um viciado de drogas; somente a casa de verão não lhe satisfazia, queria agora construir uma horta ao lado dela para que seus desejos pudessem ser realizados; não se importava em quebrar o mandamento divino: “não cobiçarás”(Ex 20:17). Desta feita, o que fez Acabe diante da resposta negativa de seu súdito? Ficou entristecido, como uma criança mimada, e não quis se alimentar. O desejo despertado pela cobiça é tão poderoso que acaba por tornar-se ocupação única do cobiçoso. Acabe não desejava mais comer, ou fazer qualquer outra coisa (1Rs 2:4).
Ao observar o estado em que se encontrava Acabe, Jezabel, sua mulher, procurou tomar conhecimento do que havia acontecido, o que lhe foi relatado pelo rei (1Rs 21.5-6). Diante do que ouviu, Jezabel, que já havia em outros episódios demonstrado a sua influência e força no reino, que tomava decisões sem pedir a aprovação do seu manipulável e omisso marido, possuidora de um temperamento difícil e cruel em suas deliberações, toma para si as dores de Acabe e declara: “governas tu, com efeito, sobre Israel? Levanta-te, come, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de Nabote, o jezreelita” (1Rs 21:7). Jezabel se coloca aqui como aquela que satisfará a cobiça de Acabe. Uma esposa sábia não adota tal postura, antes, aconselha o seu marido sobre os princípios do contentamento. Em fim, o desejo exacerbado e maligno de Acabe resultou no assassinato do obediente Nabote, resultando assim na inobediência a outro mandamento da lei moral de Deus: “não matarás” (Ex 20:13).

III. O FRUTO DA COBIÇA
O fruto da cobiça de Acabe: assassinato do obediente Nabote. O pecado de Acabe envolveu várias pessoas, inclusive os anciãos e os nobres de Israel (1Rs 21:8), os quais sem temor e piedade co-participaram do plano maligno da esposa de Acabe. Como Acabe não se apossou imediatamente da vinha de Nabote, Jezabel continuou com seu plano diabólico. Sem escrúpulos, sem temor a Deus, sem piedade e sem misericórdia, Jezabel articula um plano onde Nabote seria vitimado por uma terrível calúnia. Usando o nome e o sinete de seu marido, ela escreveu cartas aos anciãos e aos nobres da cidade e que habitavam com Nabote, onde dizia o seguinte: “Apregoai um jejum e trazei Nabote para a frente do povo. Fazei sentar defronte dele dois homens malignos, que testemunhem contra ele, dizendo: Blasfemaste contra Deus e contra o rei. Depois, levai-o para fora e apedrejai-o, para que morra. Os homens da sua cidade, os anciãos e os nobres que nela habitavam fizeram como Jezabel lhes ordenara, segundo estava escrito nas cartas que lhes havia mandado. Apregoaram um jejum e trouxeram Nabote para a frente do povo. Então, vieram dois homens malignos, sentaram-se defronte dele e testemunharam contra ele, contra Nabote, perante o povo, dizendo: Nabote blasfemou contra Deus e contra o rei. E o levaram para fora da cidade e o apedrejaram, e morreu“.
“É interessante observar que o maligno plano de Jezabel se reveste de um caráter espiritual, com direito a proclamação de um jejum e com o argumento de que Nabote teria blasfemado contra Deus (e contra o rei). É possível “espiritualizar” até a cobiça. Em nome de Deus, e com a máscara da falsa espiritualidade, muitas barbáries e injustiças são realizadas sob a influência do “espírito de Jezabel”, muitas cobiças são alimentadas à custa da destruição de vidas, casamento e famílias”(pr. Altair Germano).
Nunca foi exposta a falsa acusação de blasfêmia levantada contra Nabote perante a assembleia dos anciãos e dos nobres. Este sincero israelita foi apedrejado de acordo com a lei (cf Lv 24:13-16), sob o testemunho de duas pessoas (falsas testemunhas, claro) que teriam presenciado a suposta ofensa (cf Dt 17:6,7). Com o assassinato de Nabote, Acabe se apropriou indevidamente da sua vinha.
É curioso ver que pessoas malignas não adoram ao Senhor nem o temem, mas não se furtam de usar o nome do Senhor para perverter o juízo e cometer atrocidades. Mas lembremo-nos de que Deus não se deixa escarnecer nem deixa seu nome ser usado em vão.
IV. AS CONSEQUÊNCIAS DA COBIÇA
A combinação de pecados relacionados à cobiça produz um veneno tão poderoso que ameaça de morte tanto as pessoas à sua volta como o próprio cobiçoso. O mundo “jaz no Maligno”, e tem se tornado em “ninho” aconchegante para que o pecado cresça, venha à luz, e cause os males da destruição e da morte. Precisamos estar alertas para este fato. As consequências do pecado é a morte (Rm 6:23).

1. Julgamento divino. A cobiça do rei Acabe teve uma consequência ainda mais funesta do que toda a sua idolatria. Acabe e sua mulher Jezabel muito haviam irado o Senhor por causa da intensa idolatria e da quase substituição do Senhor por Baal como deus nacional do reino do norte. Entretanto, a morte de Nabote, planejada covardemente por Jezabel, motivada pela cobiça do rei Acabe, foi a “gota d’água” da ira de Deus. Por causa disto, Deus sentenciou toda a casa de Acabe à morte(1Rs 21; 2Rs 10:1-14). A sentença do julgamento de Acabe e Jezabel foi transmitida por Elias, o profeta: “Então, veio a palavra do SENHOR a Elias, o tisbita, dizendo: Levanta-te, desce para encontrar-te com Acabe, rei de Israel, que está em Samaria; eis que está na vinha de Nabote, aonde tem descido para a possuir. E falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o SENHOR: Porventura, não mataste e tomaste a herança? Falar-lhe-ás mais, dizendo: Assim diz o SENHOR: No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, os cães lamberão o teu sangue, o teu mesmo. E também acerca de Jezabel falou o SENHOR, dizendo: Os cães comerão Jezabel junto ao antemuro de Jezreel” (1Rs 21:18,19,23). Acabe ainda se recusou a admitir seu pecado contra Deus; em vez de fazê-lo, acusou Elias de ser seu inimigo (cf 1Rs 21:20). É quase impossível que os que se tornam cegos pela cobiça e pelo ódio, enxerguem seus próprios erros.

2. Arrependimento e morte. A sentença divina trouxe medo e condenação a Acabe: “Sucedeu, pois, que Acabe, ouvindo estas palavras, rasgou as suas vestes, e cobriu a sua carne de pano de saco, e jejuou; e dormia em cima de sacos e andava mansamente” (1Rs 21:27). Acabe foi mais perverso do que qualquer outro rei de Israel (1Rs 16:30; 21:25), mas quando se arrependeu com profunda humildade, Deus atentou para ele e prometeu que o castigo sobre a sua casa seria suspenso até uma outra ocasião - “Não viste que Acabe se humilha perante mim? Porquanto, pois, se humilha perante mim, não trarei este mal nos seus dias, mas nos dias de seu filho trarei este mal sobre a sua casa” (1Rs 21:29). O mesmo Senhor que foi misericordioso com ele deseja ser benigno conosco. Não importa quão perverso alguém seja; nunca é tarde demais para se humilhar, voltar-se a Deus e pedir-lhe perdão.
É bom ressaltar, porém, que, embora Acabe tenha se arrependido de seus atos pecaminosos, as consequências foram inevitáveis. Acabe, Jezabel e toda a sua família foram eliminados, da mesma maneira como as dinastias anteriores foram rejeitadas por causa de seus pecados. Jezabel teve uma morte horrível na mesma cidade onde havia perpetrado seus crimes. O cobiçoso Acabe e a cruel Jezabel receberam o prêmio da injustiça. Para ler sobre o cumprimento da sentença divina, veja 1Reis 22:38, onde os cães lamberam o sangue de Acabe, e 2Reis 9:30 a 10:28, onde Jezabel e o restante de sua família foram destruídos. “O pecado sempre tem seu alto custo!”.
CONCLUSÃO
Todo ato de cobiça além de reprovado por Deus, será também duramente punido por Ele. Assim como Nabote, os que são vitimados por causa de sua obediência a Deus, e diante da cobiça alheia, são por Ele devidamente justificados e vingados. Portanto, todos aqueles que de alguma maneira detém o poder e dele abusam para realizar propósitos pessoais e até malignos, sofrerão consequências desastrosas. De Deus ninguém zomba! A quem muito for dado muito será cobrado. 


 BIBLIOGRAFIA
 1 -A obra The Pulpit Commentary, relaciona os sete pecados de Acabe: 1 O pecado da divisão — mantendo a adoração falsa em Dã e Betei; 2. O pecado de seu casamento — uma clara violação da lei (Dt 7.1-3); 3. O pecado da idolatria — ele cometeu abominação seguindo os ídolos; 4. O pecado da impureza — ele seguiu a impureza da adoração Cananeia; 5. O pecado de perseguir os profetas — ele também concordou com as ações de sua esposa; 6. O pecado de se relacionar com o perseguidor do povo de Deus — quando poupou Bem-Hadade, rei da Síria; 7. O pecado de assassinar Nabote e seus filhos (vol. 5, Kings, pp.517,518). 2 - Todas as poesias de Patativa do Assará foram compiladas na íntegra no livro: Cante Lá que eu Canto Cá—filosofia de um trovador nordestino. Nessa excepcional obra a editora Vozes optou por manter a fonética do trovador. 3 - JAMIESON, Roberto, FAUSSET, A.R, BROWN, David. Comentário Exegetico Y Explicativo de La Biblia - tomo I: El Antiguo Testamento. Casa Bautista de Publicaciones. El Paso, Texas, USA. 4 - “Kimchi informa-nos que era costumeiro às pessoas mais ricas ocupar-se de pequenos projetos agrícolas, próximo de suas casa, a fim de embelezá-las, além de dar-lhes um suprimento de verduras frescas. Acabe ofereceu uma vinha melhor, ou dinheiro, se Nabote assim preferisse: mas esse homem não queria fazer nenhum tipo de negócio. Isso lhe custaria a própria vida. A oferta de Acabe, pois, foi “cortês e liberal (ellicott, in loc). Mas era contrária à herança dos hebreus.” (CHAMPLIN, Russel N. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, CPAD). 5 - MACDONALD, J.A. in The Pulpit Commentary, vol V, Kings. Hendrickson, USA. Tradução e adaptação do autor. 6 - (berakta) é literalmente “tem abençoado.” Porque era considerado blasfêmia mencionar uma maldição contra Deus (cf. Jó 1.5; 2.5, 9; SI 10.3), os judeus empregavam um eufemismo para mencionar essa prática. A NVI coloca a mensagem no discurso indireto e dá o sentido pretendido: “amaldiçoado” (The Expositors Bible Commentary - 1 & 2 Kings, 1 & 2 Chronicles, Ezra, Nehemiah, Esther,Job. Vol. 4. Zondervan, 1988. 7-  Enciclopédia Temática da Bíblia. São Paulo: Shedd Publicações. 8 - Livro Porção Dobrada - Casa Publicadora das Assembleias de Deus - José Gonçalves – 2012

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