28 fevereiro 2011

Autoridade, não tirania!



Há um tempo constatei que, se alguém é chamado pelo seu líder ou pastor, para assumir um cargo ou para fazer determinada coisa, este alguém não está sendo convidado, muito menos solicitado ou questionado se quer ou não, mas sim, ele está sendo convocado! Ai dele se disser não, e ai mesmo! Este ano, pude ver um pastor presidente envergonhar um obreiro [e sua família], em pleno culto de domingo, simplesmente porque o tal não atendeu a uma "ordem" dada pelo pastor. Depois disso, vi obreiros que concordavam com tudo o que o pastor dizia, não pela sua "autoridade", mas por medo de serem envergonhados publicamente, como foi o obreiro "rebelde". Assim, você tem toda a liberdade de ser obrigado a fazer o que te mandarem.
É incontestável que pastores possuem autoridade, afinal, eles ministram sobre um rebanho e é de suma importância que eles exerçam o ministério com temor e autoridade, mas lembre-se que ter autoridade NÃO É, de forma alguma, ser prepotente ou abusar do poder, como também, esta autoridade não é uma forma tirana ou ditatorial de governo. O escritor da epístola aos hebreus alerta aos pastores, que exerçam o ministério com alegria, que segundo John Piper, é um indício do amor:
"Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles" (Hb. 13. 17a). - esta exortação é para a igreja, ou aqueles que estão debaixo de uma liderança, para que obedeçamos nossos líderes e nos submetamos a autoridade que eles obtêm.
"Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas" (vv.17b). - Perceba no verso a frase: "Como quem deve prestar contas". Isso prova que, embora a igreja esteja sob a autoridade de um pastor, a tal não é dele, mas sim, do Senhor, que deve ser a autoridade MAIOR e FINAL na igreja de Cristo.
"Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso" (vv.17c). - perceba que quando nos submetemos a autoridade de nossos líderes, estamos fazendo com que eles se alegrem no exercício deste serviço.
"Pois isso não seria proveitoso para vocês" (vv. 17d - NVI). - quando a autoridade de um líder é depreciada, temos um pastor frustrado e uma igreja doente.
O apóstolo Pedro nos fala ainda mais claramente sobre isso. Pedro, falando aos presbíteros que estavam entre os cristãos dispersos, lhes comunicou: "Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho" (IPe. 5. 2,3 - NVI). Que bela exortação o apóstolo Pedro está dando àqueles presbíteros! Pedro roga aos irmãos que exerçam o ministério com disposição, sem querer recompensas terrenas (pois já uma celestial lhes será dada, vv.4), não como dominadores, mas como exemplo [de serviço, de caráter, de humildade...] para o rebanho. A palavra "dominadores" no original grego é "katakurieuo" e significa: manter em sujeição, dominar sobre, exercer senhorio sobre outro. Pedro repudia o pastor que assim lidera um rebanho. De acordo com John Huss, "a autoridade de um líder religioso vem de seu caráter e não da sua posição".
Contudo, podemos constatar que muitos pastores em nossos dias não estão seguindo o conselho apostólico, mas pastoreando como bem entendem, levados pelo seu bel-prazer, com interesses escusos, como donos da igreja de Cristo e possuidores da autoridade final. Estes tais provam claramente que jamais foram chamados pelo Supremo Pastor (IPe. 5.4). Quantos pastores, ao invés de serem respeitados pela igreja e pelos obreiros, são temidos? quantos pastores desaprovam àqueles que não dançam a música que eles querem que toque? quantos obreiros não foram disciplinados, excluídos e colocados "no banco", porque não atenderam o "pedido" do "homem da cadeira central"? Isso não é exercer o ministério com amor, muito menos com humildade, mansidão, rendição e temor; menos ainda isto é ter autoridade! Contudo, esta é a maneira mais falaciosa de exercer o serviço com prepotência, arrogância e discaramento. Desses, eu quero distância, e o Senhor também o quererá naquele Grande dia (Mateus 7. 21-23).

O nojento paradoxo assembleiano


O que  está faltando na mentalidade de alguns irmãos e obreiros nos círculos pentecostais, é  saber a diferença entre tirania e autoridade e os limites que esta segunda tem. Na igreja, não há ninguém que seja ou responda como Soberano, a não ser nosso Senhor, que é o Cabeça da igreja (Cl 2,18-19; Ef. 4,15-16). Outrossim, é insuportável a ideia de ter que "ajudar" a quem não precisa ou àquilo que não é importante. Enquanto antes, a prioridade da igreja estava em cumprir o que escreveu o apóstolo Tiago: ”a religião pura e imaculada para com nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos, e as viúvas nas suas aflições, e guardar-se incontaminado do mundo” (Tg 1, 27), existem pastores em nosso meio que asseveram que devemos ajudar de outra forma.

O ap. Pedro, escrevendo aos presbíteros, disse:
"não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho" (I Pe. 5, 3), mas não é isso que temos visto. Sei de congregações que não possuem uma renda decente para bancar seus próprios custos, mas que são obrigadas a ajudar a mega-obra do templo central. Em muitos campos (é assim que chamamos os ministérios da Assembleia de Deus), a porção maior do rendimento bruto da pequena congregação vai para a Sede, ficando a congregação com 40% ou menos, e o templo central com a porção maior. Ora, a conclusão que tiramos disso é que as congregações (e sub-congregações) fundadas, ao invés de servirem como frentes de trabalho evangelístico, servem como filiais de uma empresa, em que o lucro dos dízimos e ofertas vai para o grande templo. Que paradoxo! a congregação que nada tem (muitas estão em condições precárias, subsistindo em templos mal construídos, de telha ou sapê), tem que ajudar o templo Sede a reformar sua fachada, a colocar ar-condicionado central ou elevador para dar acesso ao 4º andar da igreja. Um grande ministério da Assembléia de Deus em São Paulo, expoente do assembleianismo no Brasil, está construindo seu mega-templo com capacidade para milhares de pessoas, as custas de congregações que mal pagam suas contas de luz. Isso é honesto?
Mas se você ficou indignado com a construção de mega templos, fique mesmo quando chegar o aniversário do pastor presidente, pois mega-templos se constroem algumas vezes, mas o aniversário do dito cujo acontece todo ano. O engraçado é que ele não se contenta em ganhar uma caneta ou um pacote de lenços, mas tem que ser o mais fino terno ou o mais moderno notebook. Os obreiros que usam ternos surrados comprados em brechós, sapatos gastos e gravatas repetidas, tem que dar uma "ajuda de custo" alta, para comprar o 'humilde presente' do  pastor presidente, que só se contenta em vestir ternos de grife italiana e sapatos Louis Vuitton. E as 'irmãs das congregações' coitadas? gastam o que não tem para comprar o uniforme do congresso folheado a ouro (só pode ser, pelo preço), pois se não comprarem, não poderão participar do congresso e cantar junto com o coral feminino. Enquanto em suas congregações, o pastor chama a atenção por causa da roupa extravagante ou muita vaidade, ao chegar no templo central, encontram a esposa do pastor presidente (quando conseguem vê-la) na mais alta classe, isso porque na Sede a música é outra. Isso é certo? 

Neste ano, a Assembleia de Deus completa 100 anos que chegou ao Brasil, mas é muito ruim saber que muitos ministérios estão infestados disso que foi escrito acima. O meu desejo é que haja uma renovação, que nossos obreiros tenham voz ativa e que se levantem e falem sem ter medo das disciplinas e exclusões e parem de dar moleza para estes lobos devoradores, que nada mais são, do que o joio em meio ao trigo. Você pensa que o joio ou os falsos profetas são aqueles que só vão na igreja aos domingos? não se surpreenda se eu te disser que a maioria deles falam em nossos púlpitos toda semana. Não é hora para comemorações, ainda que tenhamos chegado aos 100 anos desta grande igreja, mas é hora de muita oração e renovação, pois de nada adianta semanas e mais semanas de oração, se não estamos dispostos a mudarmos nossas atitudes e partirmos para uma vida mais santa e uma igreja mais pura. Nossa igreja, logo que começou a se expandir pelo Brasil, ficou conhecida como a igreja da camada popular, dando valor e crédito ao pobre, consagrando obreiros humildes e levantando pastores presidentes que mal sabiam escrever; com tudo isto, era uma igreja ativa, atuante, cheia do Espírito de Deus e amante das almas perdidas. Que possamos voltar e dar ouvidos a composição de Paulo Leivas Macalão:
"Assembleia de Deus, tu estejas humilde aos pés do Senhor; santidade convém a igreja, pra gozarmos celeste amor" (H. C. 144 - 3ª estrofe).

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