28 fevereiro 2011

Pense, por favor, pense!


As pessoas mais idosas ganham alguns direitos com a idade. Não precisam esperar em filas, têm desconto nas bilheterias dos teatros e, no Brasil, não pagam passagem de ônibus
Envelhecer tem também algumas vantagens menos percebidas. Os mais experientes ganham o direito, por exemplo, de se zangarem. Permitimos que eles reclamem de barulhos inconvenientes, de casa mal arrumada e de outras coisas que lhes chateiam na vida.

Estou longe de tornar-me um velho, mas já quero reivindicar pelo menos um privilégio.

Quero o direito de zangar-me com pessoas que têm preguiça de pensar. Acabo de descobrir uma coisa horrorosa: o número dos indolentes mentais é muito maior do que jamais imaginei.

Recentemente um aluno de uma escola de teologia visitou meu site e me mandou a seguinte mensagem:

“Ricardo, meu professor advertiu-me que você vem escrevendo muitas heresias e que eu devo afastar-me de sua perniciosa influência. O que você tem a me dizer? É verdade”?

Confesso que minha índole cearense “cabra da peste” fez meu sangue ferver. Tive vontade de jogar os escrúpulos às favas e responder ao noviço: “Senhor bobão, você acabou de acessar um site com centenas de textos que escrevi nos últimos quatro ou cinco anos. Por que você não se dá ao trabalho de ler e tirar por você mesmo algumas conclusões sobre mim?”.

Imaginei que ele ficaria magoado demais e apaguei sua mensagem. Não respondi nada, mas pensei: “Realmente não parece ser justo que haja tanto empecilho para a genialidade e que seja tão fácil a imbecilidade”.

Pensar não é difícil. Pode ser perigoso, mas não é complicado; pode ser trabalhoso, mas não é proibido.

É preferível correr o risco de se expor à ameaças de um herege peçonhento como eu do que ser encabrestado por um professor obtuso e preconceituoso. É muito mais digno ter opinião própria do que repetir preconceitos alheios.

A religião tenta preservar-se criando “Guantánamos” onde joga aqueles que ela considera terroristas. Lá mofam os “Galileus” que ousaram afirmar suas constatações científicas; lá apodrecem os “Huss” que não se conformaram com as viseiras farisaicas que lhes foram dadas; lá morrem os “Martin Luther Kings” que não se curvaram ao status quo.

A religião de certezas não tolera que a espiritualidade conviva com incertezas. O fariseu precisa criar sistemas lógicos para que suas opiniões perdurem inabaláveis. Ele apedreja todos os que se expuserem a outras verdades. E quem tiver a petulância de pedir explicações será exilado.

A postura da elite eclesiástica é: rotule-se como apóstata todo o que olhar por cima das nossas cercas para ver se há alguma vida fora do nosso estreito corredor dogmático.

O religioso não defende o livre pensar, pelo contrário, busca criar ojeriza aos “rebeldes” para que ninguém nunca reflita no que eles afirmam.

Contudo, nem todos valorizam a liberdade, alguns preferem marchar como bois para o matadouro; outros, cabisbaixos, adoram obedecer sem questionar.

Há momentos que tenho uma vontade louca de gritar: “Pense, amigo. Por favor, pense!”. Tenho o ímpeto de ajoelhar-me diante de algumas pessoas e implorar: “Meu irmão, leia mais. Tente adquirir a maior riqueza que alguém pode possuir: bom senso”.

Acho que já cheguei à idade de confessar que fico nervoso quando estou perto de gente que se deixou massificar pelo ambiente religioso. Não suporto mais conversar com pessoas que se contentam em repetir jargões e não têm ânimo de raciocinar no que acabaram de dizer.

Torna-se cada dia mais impossível ler mensagens iguais à que recebi do jovem seminarista; ainda precisarei de muita paciência.

Que Deus me ajude!

Soli Deo Gloria.

          Ricardo Gondim
 

          

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