O facebook deu voz ao
coração. As redes sociais democratizaram a opinião do anonimato. Agora não
somente ouvimos, mas também somos ouvidos. O verbo veio a público. Gente de
todas as religiões (até mesmo pessoas que consideravam, até então, internet
coisa do capeta, agora estão online). Militantes de todos os partidos
políticos; os extremos estão guerreando; direita versus esquerda. Todos estão
lá querendo ser ouvidos. Tudo na santa paz! O respeito reina! Só que não, né?
Minha impressão é que o
mundo vai explodir a qualquer momento. Sério mesmo! Sem sensacionalismo. As
pessoas não querem aprender e nem escutar. Elas anseiam ser ouvidas (talvez
seja por uma demanda reprimida de notoriedade). Raiva, ansiedade, frustração,
decepção, inveja etc. Tudo na mesma panela. Imagine o resultado da receita.
Alguém posta algo com um
intuito. Outra pessoa, num espírito totalmente diferente, comenta ou
compartilha. Chega um terceiro, com outro ânimo, emite a opinião. Ninguém mais
ouve ninguém. Vira diálogo de surdo. Cada qual na sua indignação emite o
desabafo na sua página. Outros, porém, incomodados (que pensaram ser uma
indireta a eles), comentam. Geraram-se mais tretas! E assim é desde o dia que
foi dado voz aos escondidos (como eu).
Nem o futebol tem gerado
tanta confusão como política e religião. E por falar em religião, como crente,
preciso admitir: nós somos os mais chatos. Divergirmos em TODOS os assuntos.
Mas isso não é novo. A “história da teologia” denuncia isso1. É sábio admitir
que não exista teologia perfeita. Somente a Escritura é pura e cristalina.
Teologia nada mais é que o esforço (legítimo) do ser humano para compreender o
divino.
Suas várias vertentes de
interpretações passaram por longas discussões e, muitas vezes, acaloradas.
Pessoas morreram no afã de defender seu ponto de vista teológico. Coisas que
afirmamos ser inerrantes foram formuladas no calor da paixão através de
respostas e refutações. Cada
teologia sistemática defende o seu ponto
de vista, muitas vezes, diferente das Escrituras. Ainda que contenha refutações
(principalmente nas cartas), a Bíblia toda, diferente da teologia, foi
inspirada por Deus de forma livre e perfeita, sem paixão humana, para ensinar,
para repreender, para corrigir e para instruir na justiça o homem de Deus,
preparando-o para toda boa obra (2Timóteo 3.16, 17).
Não me entenda mal, por
favor. Eu amo teologia mais do que qualquer outra coisa na academia. Mas
entendo que ela é um sistema imperfeito para entender o que é perfeito. Isso me
ajuda muito, pois quando sou tentado a ensoberbecer-me na minha refutação –
este pensamento coloca-me no devido lugar.
Discutir teologia ao vivo
já é complicado. Imagine fazer isso pela internet. Poucos são os que sabem usar
a ferramenta do diálogo e do debate para a glória de Deus. É desanimador
acompanhar certos debates (a maioria deles). Há mais calor do que luz. Será que
vale a pena ser afligido pelo o que os outros dizem? Até onde Deus está
envolvido nessa gritaria?
Eu mesmo tenho sido mais
polido e criterioso em assuntos polêmicos. Não me acovardei (até onde sei).
Apenas tornei-me seleto sobre o que debater (se precisar). Digo isso porque já
errei bastante. Perdi amigos de bobeira. Através da minha beligerância,
levantei muros. Lamento muito, de verdade. Sei da importância das “vozes” cristãs
a despeito de todos os assuntos. Só não caia na tentação de querer ser um
messias cibernético. Quem fala muito traz perturbações (Provérbios 13.3).
Portanto, com sabedoria, escolha a sua treta!
O cristão não pode ser
superficial. Nós temos a mente de Cristo. Discernimos o mundo sem por ele
sermos discernidos. As pessoas nos escutarão de fato se falarmos com
propriedade. Aquele que possui fundamento não grita – argumenta.
Evitaremos muito
sofrimento (para nós e para os outros) se tivermos mais cuidado com o que
iremos publicar, compartilhar e comentar (Provérbios 21.23). Foge, igualmente,
das paixões do facebook e do whatsApp. O conselho bíblico é para seguirmos a
justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor
(2timóteo 2.22). Faça isso para o bem da sua alma.
Antes de postar algo –
pare, pense, reflita, ore. Se for necessário, então escreva. Se não, fuja!
Lembre-se que Nosso Senhor, em seu sofrimento, triunfou sobre seus adversários
com a boca calada, como está escrito: “… ele não abriu a boca” (Isaías 53.7).
Isso demonstra que não é a persuasão do homem quem faz as coisas, mas o poder
de Deus.
Fuja, portanto, das
paixões do Facebook e do WhatsApp.
Você vai ser mais feliz e menos depressivo.
É serio mesmo!
Fabio Campos
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