30 agosto 2017

A IGREJA NA REFORMA PROTESTANTE

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A Reforma Protestante não se resume a Lutero. De fato, para mim, Lutero foi o pivô, o elemento histórico e fenomenológico de uma força Inconsciente Coletiva que estava pronta para derramar-se sobre a Europa já fazia alguns séculos; embora nos últimos duzentos anos antes de Lutero a tal força tivesse ganhado muito mais intensidade com os pré-reformadores, como John Wycliffe na Inglaterra (1328 - 1384), John Huss (1373-1415), na Boêmia (parte da Tchecoslováquia), Jerônimo Savonarola (1452-1498) na Itália. 
 
Antes desses pré-reformadores, outro que também pode ser assim descrito é Pedro Valdo (1142-1217), que deu origem ao grupo conhecido como os Valdenses.

Assim, Lutero não é um Paulo; ele está mais para um Gideão; para um homem apanhado pelas circunstancias e que teve seu papel beneficamente superlativizado pelas perseguições que sofreu; de modo que um Lutero “deixado”, não perseguido, teria sido um Lutero sem significado histórico.

Quando sua angustia de alma foi aplacada um pouco pelo entendimento do texto de Paulo aos Romanos (e depois aos Gálatas), sua insurgência contra Roma veio misturada com muitos elementos convergentes — a saber: o clamor das ruas, a insatisfação de muitos clérigos, a necessidade que alguns principados europeus tinham de ter um motivo religioso que os permitisse romper com o papado por uma causa nobre (e a “Reforma” lhes pareceu ideal); e, sobretudo, pela perseguição romana, a qual deu a ele [Lutero] o imediato status de inimigo qualificado do maior poder da terra: a Igreja de Roma.

Há quem diga que foi Roma quem promoveu a Reforma, e não Lutero.  Eu disse que a consciência dele foi aplacada pela informação do texto, e ele creu no que estava dito; e, pelo texto ele foi adiante sem retroceder. No entanto, não foram a paz, a experiência do sossego de alma, o derramar de amor e Graça, e a alegria da boa liberdade — os elementos motivacionais de Lutero.

Quanto mais leio sobre Lutero (ou, sobretudo, leio Lutero mesmo: suas cartas, sua correspondência com amigos, príncipes e reis), mas me convenço do seguinte:

1. Ele revoltava-se com a opressão da Igreja sobre o povo;  
2. Ele foi impactado intelectualmente pela certeza de que se Paulo estava certo, a Igreja de Roma estava errada;  
3. Ele não hesitou (tanto por convicção como também por revolta) em enfrentar Roma com a verdade do Evangelho;   
4.Uma vez que isso foi feito o próprio Lutero se tornou símbolo de algo maior do que ele;  
5.O amparo que teve para traduzir a Escritura para o alemão popular deu ao que iniciara o poder revolucionário que o movimento ganhou;  
6.  A alquimia do movimento misturava piedade pessoal do povo, muita revolta popular, uma grande dose de interesse político numa eventual ruptura com Roma, e o grito libertário de Lutero, o qual se fundamentava na Escritura, e, nela, sobretudo, em Paulo. Entretanto, tudo o que aconteceu [com a perseguição sofrida em razão da opressão de Roma], incitou os ânimos de Lutero também de modo errado, pessoal, briguento, provocativo, e, por vezes, para além de toda medida de sabedoria e bom senso.   

Conheço dois filmes sobre a vida de Lutero, um em preto e branco datado de 1953 e que se chama "Martinho Lutero". O outro mais recente feito em 2003, que se chama "Lutero". Gosto dos dois acho que se completam. Acabo de assistir novamente o último. Não tem como não ficar emocionado.

O filme é de muito bom gosto. Retrata Lutero de modo suficientemente humano para que aquele que nada sabe de sua vida tenha uma boa idéia de quem ele foi. Além disso, esteticamente, a produção é refinada, com uma bela fotografia, com cenários ótimos, e com reconstituição bem realista dos fatos com devem ter sido no Século XVI. 

É verdade que seria impossível se produzir um filme mais profundo sobre a pessoa do Reformador, e que incluísse mais de seus conflitos, angustias, rupturas e decisões de santa profanidade, todas elas necessárias quando se trata de quebrar paradigmas da morte instalados diabolicamente “em nome de Deus”. 

Entretanto, o que foi descrito é mais que suficiente para que se veja como foi a Reforma, do que ela pretendia libertar os seres humanos, e, também, no que nós, Reformados e Evangélicos, nos tornamos no curso dos séculos, negando a Graça de Deus e a Palavra da Vida, e voltando às práticas fetichistas, canônicas, e legalistas das quais aquele evento histórico pretendia nos libertar. 

A ironia de toda a história é que a Reforma Protestante acabou por, de certa forma, salvar a Igreja Católica da força obscurantista que haveria de destruí-la, caso a Reforma não lhe tivesse servido de advertência histórica quanto ao fato de que há limites para o abuso humano feito em nome de Deus. 

Digo aqui com tristeza  o que para mim é um fato: a Igreja Católica é bem menos obscurantista que a algumas igrejas evangélicas. Aliás, há poucas exceções ainda remanescentes do que a Reforma propôs, todos os demais, tanto Protestantes Históricos quanto os Evangélicos Tradicionais ou Pentecostais, entregaram-se ao espírito Católico Medieval, e que Hoje se faz representar em sua forma mais desgraçadamente pelas igrejas neopentecostais.

Quem quer que vá ver Lutero não deve pensar na Igreja Católica, que, em si mesma, sofre o seqüestro histórico que as suas próprias leis e cânones paralizantes e moralistas criaram para ela própria. Não, ao se ver Lutero, a fim de entender a sua mensagem contemporânea no nosso país e no mundo, tem-se que pensar no espírito pagão, sincretista, fetichista, e anti-graça ensinado de modo massivo pela IURD e assimilado por boa parte dos Evangélicos. Ora, quanto a isto, quero deixar claro que não digo nada pessoal contra ninguém—Deus o sabe! Todavia, seja qual for o preço a pagar pela declaração da verdade do Evangelho, digo a quem interessar que para mim já há muito não me é possível deixar de falar essas coisas, e, tanto mais quanto os dias se passam, mais claro fica para mim que esta é uma hora de grande decisão. Pelo amor de Deus! Quem tiver olhos, veja. Quem tiver ouvidos, ouça. E quem tiver coração e fé, seja bravo e corajoso, e rompa em sua própria vida todos esses grilhões do medo e da catividade que sobre nossos ombros foram postos por aqueles que da Reforma quiseram manter apenas a cisão com a Igreja Católica, vindo eles próprios a tornar-se algo muito pior e mais feio do que o que havia na Idade Média.

As nossas indulgências já não têm a ver com a salvação, mas com a prosperidade terrena. Assim, não busque por relíquias sagradas entre nós, e nem busque por bulas papais, mas sim enxergue o sal grosso, as campanhas de prosperidade, as barganhas com Deus—e, sobretudo, veja como tudo era e continua a ser movido pela dinheiro e pelo poder. 

Não creio que precise dizer mais do que já disse; afinal este site é em si mesmo uma declaração diária acerca da insuportabilidade dos estado de coisas diabólicas que dominaram a consciência da “igreja”. Sim, o que digo acerca da “igreja” é minha declaração contra a bruxaria que se faz em nome de Jesus, oprimindo o povo, criando dificuldades a fim de vender salvações. Sei que os tempos são os mesmos. Todavia, sei que mais do que nunca se precisa de uma Revolução Espiritual entre nós, sob pena de que vejamos a Nova Era e todas as filosofias orientais dominarem a Terra, e isto apenas porque o Cristianismo insiste em não se converter à Graça de Deus, pois, prefere o poder que alcançou na Terra do que os tesouros do Reino de Deus. 

Quem ainda não viu o filme Lutero, veja e tente se enxergar. Tente discernir o nosso tempo. Veja Lutero com olhos atuais, e você saberá do que estou falando. 

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