Estamos vivendo uma época da história da humanidade de profunda mudança em todos os segmentos da sociedade. Paira sobre nossa geração uma nova visão de encarar a realidade e de celebrar a vida. E essas mudanças ocorridas de forma rápida e transacional em nossa sociedade é denominada “Pós-Modernidade”.
O nosso objetivo, neste artigo, é entender este momento histórico-social. Não temos aqui a pretensão de penetrar nas raias da especulação sociológica e filosófica, mas sim mostrar suas implicações de mudanças que permeiam o mundo e conseqüentemente a Igreja de Cristo.
Francis Schaeffer (1997, p. 5), em seu livro “A Morte da Razão”, nos diz que:
Cada geração defronta com este problema de aprender como falar ao seu tempo de maneira comunicativa. É problema que não pode resolver sem uma compreensão da situação existencial, em constante mudança, com que se defronta. Para que consigamos comunicar a fé cristã de modo eficiente, portanto, temos que conhecer e entender as formas de pensamento da nossa geração.
Devemos compreender o que ensina a Pós-Modernidade para poder combater aquilo que é excêntrico às Escrituras e ao mesmo tempo comunicar a Palavra de Deus de forma eficiente para essa geração. Como bem disse Stanley Grenz (1997, p.28), nós não fomos chamados para ministrar a uma época remota, mas para os dias de hoje, cujo contexto acha-se sob a influência da Pós-Modernidade.
Antônio Tadeu Ayres (1998, p. 6), em seu livro “Como Entender a Pós-Modernidade”, nos lembra que o momento que a Igreja de Cristo está inserida é marcado pelo rompimento das fronteiras sociais, desmantelamento dos sistema, quebra de tabus, nova moralidade, novos critérios éticos e a destruição dos sistemas de valorespresentes nas gerações passadas.
Daniel Salinas (1999, p. 26, 33-38) mostra que neste contexto não existe absolutos.Salina também fala do Jardim pluralista. Na religião, o pluralismo mostra que a salvação não tem só um caminho, mas tem diversos caminhos. Nenhuma religião tem o direito de se achar a única dona da verdade e isso inclui o Cristianismo. Para o pensamento Pós-Moderno não existe verdade absoluta, pois a verdade é relativizada.
Ricardo Gondin (1997, p. 41,46) nos diz que a religião se tornou privada, porque isso significa liberdade. A geração Pós-Moderna é uma geração sem conteúdo, sem profundidade, que preza pelo hedonismo, niilismo e o narcisismo. Eles têm prazer no efêmero, nada de sentimento de culpa e nada de valores permanentes.
Ayres (1998, p. 6) nos mostra que esse é um período difícil, mas de grande oportunidade para a Igreja de Cristo. O ser humano contemporâneo está fragmentado, inseguro quanto ao seu futuro, ideologicamente, está órfão de valores da religião e esfomeado diante das várias opções oferecidas.
A Igreja é o principal instrumento que Deus tem neste mundo para unir as coisas. A resposta para a indagação e a inquietude dessa geração Pós-Moderna não está no místico, no pragmatismo, etc., mas sim em Cristo. Como disse John MacArthur (1995, p.12): “Encontramos na pessoa de Jesus Cristo provisões suficientes para as nossas necessidades”.
Agora como levar o Evangelho absoluto de Cristo para uma geração Pós-Moderna que não crê no absoluto, que é pragmática, pluralista e mística? Como evitar essa infiltração no arraial evangélico? Quando olhamos para o Sermão do Monte, percebemos que podemos tirar dali algumas respostas para essa inquietude:
A primeira coisa que a Igreja tem que ter é convicção de sua identidade (Mt.5:13-14), porque essa identidade gera responsabilidade e estabelece a contracultura (Mt.6:8).
As pessoas buscam fama (Mt.5:16), glória (Mt.6:2), poder, dinheiro e status (Mt.6:19-24), etc. Porém, uma Igreja que tem convicção de sua chamada não vai buscar isso, mas o contrário, irá buscar a glória de Deus (Mt.5:16), e o Reino de Deus (Mt.6:33).
Em segundo lugar o mundo Pós-Moderno só vai ouvir pessoas que têm convicção daquilo que está proclamando (Mt.6:9-10) e isso tem dimensões profundas, porque sai da esfera teórica (Mt.7:26-27) e desemboca na prática (Mt.7:24-25) e na transparência (Mt.5:9; 5:21-24; 5:37), na celebração da verdade (Mt.5:3-12), na prioridade e no despojamento de tudo o que não é de Deus (Mt.6:10; 6:31-33).
Daniel Salinas (1999, p.45-46) nos mostra quatro pedras fundamentais para alcançar essa geração: A autenticidade, o cuidado mútuo, a confiança e a transparência. Todas essas pedras fundamentais estão inseridas no Sermão do Monte. Segundo Salinas (1999, p.49-54), para evitarmos a infiltração Pós-Moderna na Igreja temos que romper com a Hermenêutica dos Sentidos, da Antropocentricidade e da Escatolicidade da Ficção.
Em terceiro lugar, a Igreja não pode relativizar a Palavra de Deus por causa do sucesso do pragmatismo excêntrico e nem pelas afrontas desse mundo. Para John Stott (1997, p.184), no seu livro “Ouça o Espírito, Ouça o Mundo”, nós não podemos ser como varas sopradas ao vento, não podemos de maneira alguma nos curvar diante dessa sociedade com sua avareza, seu relativismo, sua rejeição ao absoluto.Pelo contrário, temos que ficar fiel à Palavra de Deus. A Palavra de Deus é absoluta verdade: “Santifica-os na verdade; a tua Palavra é a verdade” (Jo.17:17, NVI), e essa verdade de Cristo no Sermão do Monte tem que ser guardada e praticada (Mt.7:24-27). Ela não pode de maneira alguma ser sacrificada pela Igreja no altar da Pós-Modernidade.
Em quarto lugar o mundo Pós-Moderno cuja consciência ética é relativizada e liberalizante, tem que ver que na Igreja de Cristo existe uma ética, um padrão moral antagônico e contracultural: “Não sejam iguais a ele…” (Mt.6:8, NVI).
O mundo precisa visualizar que a Igreja de Cristo tem sua plena fundamentação não nas riquezas desse mundo (Mt. 6:19), mas em Deus (Mt.6:20). O mundo tem que notar que a Igreja de Cristo não é opulenta, mas ela encarna um estilo de vida simples (Mt.6:25-26), O Supremo Bem, que a Igreja percorre em alcançar como valor, não é temporal, mas eterno (Mt.6:33).
Essa geração tem que saber que a Igreja de Cristo chamada para ser Sal e Luz deste mundo, não precisa de amuleto ou fetichismo (Mt.6:5-7), mas ela desenvolve uma piedade cristã relacional e não utilitária com Deus Pai, revelado por Cristo no Sermão do Monte (Mt.6:9-18).
Em quinto e último lugar a Igreja de Cristo que vive o Sermão do Monte deve ser conhecida como a Comunidade do perdão, da oração, do amor, do afeto, da verdade, da alegria, da contraculturação, da unidade, etc., só assim o mundo irá nos ouvir.
John Stott (1997, p. 246-264)nos lembra que o mundo secularizado está em busca da transcendência, de significados e de comunhão. Todas essas coisas estão no domínio da igreja de Cristo e isso está plasmado no Sermão do Monte.
Nós como cristãos vivemos num mundo pluralista, todavia temos que deixar claro para essa geração a Unicidade de Jesus Cristo, porque só Ele é Senhor e Salvador. Como bem disse John Stott (1997, p.358), negar a Unicidade de Jesus Cristo para essa geração é extirpar o nervo de sua missão, tornando supérflua.
Philip Kenneson (apud Salinas, 1999, p.45)diz que a tarefa urgente da Igreja é viver neste mundo de tal modo que eles sejam levados a nos indagar a respeito da salvação. Ele também afirma que:
Nesta era Pós-Moderna não podemos esconder a nossa vida por trás de grandes argumentos racionais, porque agora os mesmos não impressionam mais. Nesta era, mais do que com palavras, evangelizemos com ações, com uma postura de amor pelos outros, com uma axiologia saturada pela ética e pelos valores do reino, e com uma mensagem encarnada, que saia dos templos e que se misture com a geração desencantada.
Essa declaração de Kenneson sintetiza para a Igreja de hoje como ela vai comunicar de maneira objetiva a essa geração Pós-Moderna. Ela destaca, ainda, cinco pontos importantes que estão no Sermão do Monte:
Primeiro ele diz que nós não podemos esconder nossa vida em argumentos racionais, mas encarnar a nossa identidade (Mt. 5:13-16).
Segundo nosso viver não pode ser só de palavras, mas ação (Mt.7:24-27).
Terceiro temos que ter um amor pelos outros independentes de ser nosso irmão ou inimigos (Mt. 5.38-47).
Quarto temos que ter uma epistemologia mediada por compaixão (Mt. 5.7).
E quinto e último temos que ter uma axiologia saturada pela ética e pelos valores do reino (Mt.5.3-12; 5.33). Quando olhamos para o ministério de Jesus percebemos muito forte essas coisas na sua vida.
Catalão Angel Castañeira (apud Salinas, 1999, p.46) nos diz que:
Temos que revisar, então o modelo de Jesus cujo ministério público foi essencialmente relacional. Ele andava no meio das multidões, ou então tinha encontros privados com determinadas pessoas, até mesmo de noite. Ele sabia o que era sentir o calor do meio-dia no deserto de Samaria, ou o frio da morte no quarto de um adolescente. Ele deixou-se tocar por uma mulher cerimonialmente impura, e tocou intencionalmente num leproso, isolado pela sociedade. Ele falou de situações cotidianas, de sal e lâmpada, de sementes e pastores de pais e filhos. Hoje, mais do que nunca, devemos seguir este modelo, se queremos alcançar a geração pós-moderna.
Essa declaração de Catalão Angel nos mostra como Cristo soube comunicar o Reino de Deus na sua época. O amor que ele devotava pela a humanidade e a lucidez que ele tinha do seu ministério e do relacionamento com Deus, ele revelou ao mundo como Pai, fez ele romper barreiras e fronteiras.
Ele tanto sabia conversar com a pessoa mais culta como sabia conversar com uma mulher desprezada a beira de um poço. Ele tanto sabia participar dos grandes banquetes, como sabia ficar três dias no povoado de Samaria comendo pão simples.
Ele tanto sabia pregar para uma multidão, como sabia atravessar o mar da Galiléia e se encontrar no sepulcro com um endemoninhado gadareno. Ele tanto sabia falar para um publicano Zaqueu descer da árvore, como sabia dizer para um príncipe do povo chamado Nicodemos que é necessário nascer de novo.
Cristo rompeu barreiras e se encontrou com o descamisado da sua época, com a prostituta, com o fariseu, com os necessitados e com os aflitos ele amava essas pessoas e por causa do seu intenso amor para com o Pai e para com os homens ele morreu na cruz.
Cristo no Sermão do Monte, nos mostra um caminho seguro, para comunicar sua Palavra, a essa geração pós-moderna que morre de inanição, por Deus. A igreja de Cristo deve romper as barreiras e as fronteiras e se apresentar para essa geração como Sal e Luz, como guardadora da Verdade e praticadora da Verdade.
Ela deve ir aonde Cristo foi, deve romper as barreiras e anunciar Deus. Cristo tinha um alvo no seu ministério o seu escopo era a glória de Deus. O que vemos muitas vezes é a exaltação do homem em detrimento à exaltação de Deus.
A Igreja não pode se embriagar com a proposta do evangelho humanista de ser rica, famosa de angariar status da sociedade, mas deve se preocupar exclusivamente com a glória de Deus. Pensando assim ela irá romper as barreiras porque ela não está interessada naquilo que o homem pode dar como: dinheiro, intelectualidade etc., mas ela está interessada em levar pessoas a conhecer Cristo e seu Reino.
Pr. Carlos Augusto Lopes
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