Plínio, o Jovem
Caio Plínio Cecílio Segundo, também conhecido
simplesmente como “Plínio, o Jovem”, foi um orador insigne, jurídico, político
e administrador imperial na Bitínia(111 d.C). Ainda no primeiro século(93
d.C), foi nomeado pretor e posteriormente cônsul e governador da Bitínia em 111
d.C, quando viria a falecer. Em suas cartas ele relatava que já a muito vinha
matando homens e mulheres, meninos e meninas. Devido ao grande numero de
pessoas que estavam sendo mortas, tinha dúvidas se deveria continuar matando.
Estas pessoas estavam sendo mortas por se
dizerem cristãs. Seu único erro era terem o costume de se
reunirem antes do amanhecer num certo dia determinado, quando então cantavam
responsivamente os versos de um hino a Cristo, tratando-o como Deus, e
prometiam solenemente uns aos outros a não cometerem maldade alguma, não
defraudarem, não roubarem, não adulterarem, nunca mentirem, e a não negar a fé
quando fossem instados a fazê-lo. Plínio explicou que fizera os cristãos se
curvarem perante as estátuas de Trajano. Ele prossegue dizendo:
“Os fez amaldiçoarem a Cristo, o que não se consegue
obrigar um cristão verdadeiro a fazer” (Epístolas X,96)
O seu legado principal
são as suas litterae curiosius scriptae, 247 missivas escritas a
amigos, no estilo da época entre os anos de 97 e 109. Nelas encontramos das
melhores descrições da vida quotidiana e política da Roma Imperial. As cartas
estão agrupadas em dez livros, o décimo volume aborda o tema do cristianismo,
um dos primeiros documentos não neotestamentários sobre a igreja primitiva.
Estas cartas foram escritas durante o seu consulado na Bitínia. As 122 cartas
foram trocadas com o imperador Trajano sobre como lidar com a questão, e
declara:
“É
meu costume, meu senhor, referir a ti tudo aquilo acerca do qual tenho
dúvidas... Nunca presenciei a julgamento contra os cristãos... Eles admitem que
toda sua culpa ou erro consiste nisso: que usam se reunir num dia marcado antes
da alvorada, para cantar hino a Cristo como Deus... Parecia-me um caso sobre o
qual devo te consultar, sobretudo pelo número dos acusados... De fato, muitos
de toda idade, condição e sexo, são chamados em juízo e o serão. O contágio
desta superstição invadiu não somente as cidades, mas também o interior;
parece-me que ainda se possa fazer alguma coisa para parar e corrigir...
" (Plínio, Epístola X, 97)
Vale lembrar que naquela em que Plínio governava
estavam os “eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia,
Capadócia, Ásia e Bitínia” (1 Pedro 1:1), a quem Pedro destinou sua
primeira epístola. Este décimo volume de Plínio, em que o aspecto do
cristianismo é abordado, é transcrita em seu conteúdo integral conforme se
segue abaixo:
“Adotei, senhor, como regra inviolável recorrer às
vossas luzes em todas as minhas dúvidas; pois quem mais apto a remover os meus
escrúpulos ou a guiar-me nas minhas incertezas do que vossa pessoa? Nunca tendo
assistido aos julgamentos de cristãos, ignoro o método e os limites a serem
observados no processo e punição deles: se, por exemplo, alguma diferença deva
ser feita com respeito à idade ou, ao contrário, nenhuma distinção se observe
entre o jovem e o adulto; se o arrependimento admite perdão; se a um indivíduo
que foi cristão aproveita retratar-se; se é punível a mera confissão de
pertencer ao cristianismo, ainda que sem nenhum ato criminoso, ou se só é
punível o crime a ela associado. Em todos esses pontos tenho grandes dúvidas.
Por enquanto, o método por mim observado para com aqueles que me foram
denunciados como cristãos tem sido o seguinte: pergunto-lhes se são cristãos;
se confessam, repito duas vezes a pergunta, acrescentando uma ameaça de punição
capital; se perseveram, mando executá-los; pois estou convencido de que,
qualquer que seja a natureza do seu credo, uma obstinação contumaz e inflexível
certamente merece castigo. Outros fanáticos dessa espécie me têm sido trazidos
que, por serem cidadãos romanos, remeto para Roma. Essas acusações, pelo
simples fato de estar sendo o assunto investigado, começaram a estender-se, e
várias formas do mal vieram à luz. Afixaram um cartaz sem assinatura,
denunciando pelo nome grande número de pessoas. Aqueles que negaram ser ou ter
sido cristãos, que repetiram comigo uma invocação aos deuses e praticaram os
ritos religiosos com vinho e incenso perante a vossa estátua (a qual para este
propósito mandei buscar juntamente com as dos deuses), e finalmente
amaldiçoaram o nome de Cristo (o que não se pode arrancar de nenhum verdadeiro
cristão), julguei acertado absorver. Outros que foram denunciados pelo
informante confessaram-se a princípio cristãos, depois o negaram; de fato,
haviam sido cristãos, mas abandonaram a crença (uns faz três anos, outros há
muito mais tempo, sendo que alguns há cerca de vinte e cinco anos). Todos
prestaram culto à vossa estátua e às imagens dos deuses, e amaldiçoaram o nome
de Cristo. Afirmaram, contudo, que todo o seu crime ou erro se reduzia a terem
se encontrado em determinado dia antes do nascer do sol, cantando então uma
antífona (pequeno versículo cantado, antes ou depois de um salmo) como a um
Deus, ligando-se também por solene juramento de não cometer más ações, e de
nunca mentir e de nunca trair a confiança neles depositada; depois do que, era
costume se separarem, e então se reunirem novamente para tomarem em comum algum
alimento – alimento de natureza inocente (inofensiva). Todavia, até esta última
prática haviam abandonado após a publicação do meu edito, pelo qual, de acordo
com as vossas ordens, proibira eu as reuniões políticas. Julguei necessário
empregar a tortura para ver se arrancava toda a verdade de duas escravas
chamadas diaconisas. Nada, porém, descobri, senão excessiva superstição.
Julguei por isso de bom aviso adiar qualquer resolução nesta matéria, a fim de
pedir o vosso conselho. Porque o assunto merece a vossa atenção, especialmente se
se levar em conta o número de pessoas em risco: indivíduos de todas as
condições e idades, e dos dois sexos, estão e serão envolvidos no processo.
Pois esta contagiosa superstição não se confina nas cidades somente, mas
espalha-se pelas aldeias e pelos campos. Todavia parece-me ainda possível
detê-la e curá-la. Os templos, pelo menos, que andavam quase desertos,
recomeçaram agora a ser frequentados, e as solenidades sagradas, após uma longa
interrupção, são de novo revividas; e há geral procura de animais para os
sacrifícios, para os quais até bem pouco tempo poucos compradores apareciam.
Por aí é fácil imaginar a quantidade de pessoas que se poderão salvar do erro,
se deixarmos a porta aberta ao arrependimento”
A importância desta carta como documento sobre as origens do cristianismo é
reconhecida por todos os historiadores e vem sendo citada pelos escritores
cristãos, desde o tempo de Tertuliano e Eusébio de Cesaréia. Sem ter sido esta
a sua intenção, através desta carta, o governador Plínio nos forneceu um
grandioso testemunho da propagação do cristianismo já nos primeiros séculos. É
um precioso documentário sobre a fé e a maneira como se reuniam em culto, e
como eram perseguidas as primitivas comunidades cristãs.
As dificuldades que nossos irmãos da Igreja Primitiva
enfrentavam em todas as regiões dominadas pelo Império Romano eram tremendas.
Além de serem acusados de ateus(!) por não cultuarem os deuses romanos, três
outras grandes acusações pesavam sobre os cristãos: a de praticarem
infanticídio (assassinato de crianças), canibalismo (comer carne humana), e
incesto (relação sexual entre parentes). Um apologista cristão daquela época,
chamado Atenágoras, escreveu no seu livro Legação em Favor dos Cristãos:
“Somos acusados de três coisas: ateísmo, comermos
nossos próprios filhos e haver entre nós relações sexuais entre filhos e mães”.
Continuaremos na próxima segunda feira...
Até lá.
Viva vencendo com a fé só em nosso Senhor Jesus Cristo!!!
Abraços.
Seu irmão menor.
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