Ao permitir que padres concedam a absolvição para o aborto, papa mostra, mais uma vez, que não se intimida diante de temas espinhosos para a Igreja Católica.
"Deus jamais se cansa de nos perdoar. Nós é que nos cansamos de pedir perdão”, disse o papa Francisco, no seu primeiro Ângelus, em 17 de março de 2013, diante de uma multidão embevecida que lotava a Praça São Pedro. Seguindo suas próprias palavras, de início de pontificado, o religioso argentino tem dado exemplo de misericórdia, ao lembrar de grupos, de cristãos ou não, que são colocados de lado pela própria Igreja Católica, por suas escolhas, características ou ações. Na semana passada, o aceno foi para as mulheres que fazem aborto. Em uma carta divulgada na terça-feira 1, o líder religioso autorizou que padres concedam o perdão às católicas e aos profissionais de saúde que realizarem esse tipo de intervenção. Pelas leis do direito canônico, apenas o bispo pode conceder absolvição nesses casos.
POLÊMICA
A mudança definida por Francisco, que valerá somente para o período do Jubileu, não foi unanimidade entre os católicos
A motivação de Francisco foi o Jubileu da Misericórdia, evento que ocorre a cada 25 anos e irá acontecer nas dioceses de todo mundo entre 8 de dezembro e 20 de novembro de 2016. “A mudança vale só para esse período”, afirma pe. Denílson Geraldo, especialista em direito canônico. A decisão do papa não modifica a penalização sobre o aborto, que leva à excomunhão automática desde 1398, mas mesmo assim provocou uma série de reações. Enquanto parte dos fieis exaltava mais um gesto humanista (leia abaixo) de Jorge Mario Bergoglio, católicos conservadores condenavam a medida, enquanto algumas alas mais progressistas diziam que ela, no fundo, era inócua.
O grupo Católicas pelo Direito de Decidir por exemplo, reconhece que Francisco poderia ter abordado qualquer outro assunto neste ano do Jubileu que não o aborto. “A flexibilidade dele para esse tema, difícil dentro da Igreja Católica, mostra que ele está atento para a causa”, diz a socióloga da religião Regina Jurkewicz, integrante da Católicas. A questão, segundo ela, é que sua organização não vê o aborto como um pecado e sim como um direito. “De certa forma, os padres poderem absolver dá uma sensação de abertura, de ampliação de poder, mas a Igreja continua condenando de forma absoluta o aborto.” Sem dúvida, essa foi uma anistia restrita, com prazo de validade. Mas que mostra, mais uma vez, o quanto Francisco está disposto a tocar nas chagas que incomodam a Igreja Católica atualmente.
Foto: Gregorio Borgia/AP Photo
Isto é - N° Edição: 2388 | 04.Set.15
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