TEXTO ÁUREO
“[...] porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia” (2Tm 1.12).
VERDADE PRÁTICA
O crente, assim como o líder, precisa ter convicção de sua chamada e de sua condição de salvo em Jesus Cristo.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
2 Tim. 1.3-8; 2.1-4
INTRODUÇÃO
Esta segunda epístola Paulo escreveu a Timóteo, de Roma, quando era prisioneiro ali e corria risco de vida. As seguintes palavras deixam isso claro: Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo (cap. 4.6). Parece que sua remoção deste mundo, em sua própria percepção, não estava longe. Especialmente considerando-se o furor e a maldade dos seus perseguidores, e sua ida perante Nero, que chama de sua primeira defesa, quando ninguém o assistiu; antes, todos o desampararam (cap. 4.16). Intérpretes concordam que essa foi a última epístola que o apóstolo escreveu. Não se sabe ao certo onde Timóteo estava. O escopo dessa epístola difere um pouco da anterior, não se referindo tanto ao seu oficio como evangelista, mas ao seu comportamento e conduta pessoais.
ORAÇÕES E AÇÃO DE GRAÇAS
A dedicatória da epístola denomina o próprio Paulo um apóstolo pela vontade de Deus, simplesmente por sua benevolência e por sua graça, da qual se declara digno. Segundo a promessa de vida que está em Cristo Jesus, ou de acordo com o evangelho. O evangelho é a promessa de vida em Cristo Jesus. A vida é o alvo; e Cristo, o caminho ( Jo14.6). A vida é colocada na promessa; e ambas estão seguras em Cristo Jesus, a testemunha fiel. Porque todas quantas promessas há de Deus são nele sim; e por ele o Amém (2 Co 1.20).
Ele chama Timóteo de filho querido. Paulo sentiu a mais cordial afeição por ele, tanto porque foi instrumento de sua conversão quanto pelo fato de, como um filho ao pai, ter servido com ele no evangelho. Observe: Paulo era um apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus. Como ele não recebera o evangelho de homem, nem tinha sido ensinado por ele, mas o recebeu pela revelação de Jesus Cristo (Gl 1.12), assim sua comissão para ser apóstolo não foi pela vontade de homem, mas de Deus. Na epístola anterior, ele diz que foi segundo o mandado de Deus,
Aqui está nosso Salvador e, aqui, pela vontade de Deus. Deus o chamou para ser apóstolo. Temos a promessa da vida. Que Deus seja bendito por ela: Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode menti prometeu antes dos tempos dos séculos (Tt 1.2).
E uma promessa para descobrir a liberdade e certeza dela. Essa, bem como as outras promessas, é em Cristo e por meio dele. Todas elas surgem da misericórdia de Deus, em Cristo, e elas são certas, para que possamos delas depender com segurança. A graça, misericórdia e paz, que o mui amado filho de Paulo, Timóteo, queria, vêm de Deus, o Pai, e Jesus Cristo, nosso Senhor. Consequentemente, tanto um quanto o outro é o doador dessas bênçãos, e devem ser utilizadas para Eles. As melhores pessoas querem essas bênçãos, e estas são as melhores bênçãos que podemos pedir para nossos mui amados amigos, para que possam ter graça para ajudá-los em tempo de necessidade, e misericórdia para perdoar o que está errado, e dessa forma tenham paz com Deus, o Pai, e Cristo Jesus, nosso Senhor.
Ações de graça de Paulo a Deus pela fé e santidade de Timóteo: ele agradece a Deus o fato de fazê-lo lembrar-se de Timóteo em suas orações. Observe: Independentemente do bem que fazemos, e dos bons préstimos que dispensamos aos nossos amigos, Deus deve receber toda a glória, e nós devemos agradecer-lhe. E Deus quem coloca em nosso coração a memória de pessoas específicas para orarmos por elas. Paulo orava muito. Ele orava dia e noite. Em todas as suas orações, ele se lembrava de seus amigos. Ele orava de forma particular por bons ministros; ele orava por Timóteo e fazia memória dele nas suas orações, noite e dia. Ele o fazia sem cessar.
A oração era seu constante afazer. E ele nunca se esquecia de seus amigos, como ocorre conosco com frequência. Paulo serviu ao Deus dos seus antepassados com uma consciência pura. Era um consolo para ele saber que Timóteo nascera na casa de Deus e era a semente daqueles que o serviam, assim como ele o servia com uma consciência pura, da melhor forma possível. Ele guardou a consciência sem ofensa e se esforçava diariamente para fazê-lo (At 24.16). Paulo desejava muito vê-lo, por causa do grande amor que tinha por ele, para que pudesse ter comunhão com ele, lembrando-se de suas lagrimas na sua última partida. Timóteo estava triste com a partida de Paulo, e chorou na sua despedida.
Por essa razão, Paulo desejava vê-lo novamente, porque percebeu a grande afeição de Timóteo por ele. Ele agradece a Deus que Timóteo tenha guardado a fé de seus antepassados (v. 5). Observe: A herança da fé foi transmitida a Timóteo por sua mãe. Ele tinha uma mãe e uma avó devotas:elas creram, embora seu pai não o fizesse (At 16.1). E uma coisa consoladora quando os filhos imitam a fé e santidade de seus piedosos pais, e seguem seus passos (3 Jo 4). Habitou primeiro em tua avó e em tua mãe, e estou certo de que também habita em ti. Paulo tinha uma opinião muito caridosa de seus amigos. Ele estava bem disposto a esperar o melhor deles. Na verdade, ele tinha muitos motivos para pensar o melhor de Timóteo, porque a ninguém tinha de igual sentimento (Fp 2.20). Observe: Devemos, de acordo com o apóstolo Paulo, servir a Deus com uma consciência pura, de acordo com os seus e nossos antepassados.
Devemos fazê-lo com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé tendo o coração purificado da má consciência (Hb 10.22). 2. Em nossas orações devemos fazer memória sem cessar dos nossos amigos, especialmente dos fiéis ministros de Cristo. Paulo se lembrava do seu amado filho Timóteo em suas orações noite e dia.
A fé que habita em crentes verdadeiros é não fingida; ela é sem hipocrisia; essa é uma fé que permanecerá firme diante da provação, e habita neles como um princípio vivo. A fé que havia em Timóteo, fora herdada de sua mãe Eunice e da fé que havia em sua avó, e isso era o motivo da gratidão de Paulo, e deveria ser a nossa sempre que encontramos exemplo semelhante. Deveríamos regozijar-nos toda vez que observamos a graça de Deus. Foi o que Barnabé fez (At 11.23,24). Muito me alegro por odiar que alguns de teus filhos andam na verdade (2 Jo 4).
A CONVICÇÃO EM DEUS
Temos aqui uma exortação e um estímulo a Timóteo em relação ao seu dever (v 6): te lembro. As pessoas mais devotas precisam ser lembradas. Devemos ser lembrados daquilo que sabemos. O apóstolo Pedro diz, em 2 Pedro 3.1: Escrevo-vos, agora, esta segunda corte, em ambas as quais desperto com exortação o vosso ânimo sincero.
Ele o exorta a despertar o dom de Deus que estava nele. Despertar ou avivar como o fogo no meio das brasas. Aqui significa todos os dons e graças que Deus tinha dado a ele, para qualificá-lo para a obra de evangelista. Dons do Espírito Santo, dons extraordinários que foram conferidos pela imposição de mãos do apóstolo. E isso que ele deve despertar. Ele deve exercitá-los e crescer neles: use dons e tenha dons. Porque e qualquer que tiver será dado (Mt 25.29).
Ele deve aproveitar todas as oportunidades para usar esses dons, e, assim, despertá-los, porque essa é a melhor maneira de torná-los mais eficientes. Quer o dom de Deus em Timóteo fosse comum, quer não (embora eu me incline para o sobrenatural), ele deveria despertá-lo, caso contrário esse dom definharia. Além disso, verifica-se que o dom veio sobre ele pela imposição das mãos do apóstolo, o que deduzo ser um ato distinto de sua ordenação, pois esta fora efetuada pelas mãos do presbitério (1 Tm 4.14).
E provável que o Espírito Santo, em seus dons e graça extraordinários, tenha sido conferido a Timóteo pela imposição das mãos do apóstolo (porque entendo que ninguém, a não ser os apóstolos, possuía autoridade para invocar Espírito Santo) e, mais tarde, sendo assim ricamente suprido para a obra do ministério, foi ordenado pelo presbitério. Observe: O grande impedimento de proveito no progresso de nossos dons é a hesitação escrava. Paulo, portanto, adverte Timóteo contra isso: Porque Deus não nos deu o espírito de temor (v. 7).
Foi devido ao medo vergonhoso que o servo mau enterrou seu talento e não negociou com ele (Mt 25.25). Por isso, Deus tem nos fortalecido contra o espírito do medo, dizendo repetidas vezes para não temermos. “Não tema a face de ninguém; não tema os perigos que possa enfrentar no seu dever”. Deus nos libertou do espírito de temor e nos deu um espírito de fortaleza, e de amor; e de moderação. O espírito de fortaleza, ou de coragem e resolução para combater dificuldades e perigos; o espírito de amor a Deus, que nos ajudará durante a oposição que podemos encontrar, como Jacó que não se incomodou com o serviço pesado que precisou suportar por amor a Raquel.
O espírito de amor a Deus vai nos colocar acima do medo do homem e toda dor que o homem possa nos causar; e o espírito de moderação, ou quietude na mente, um desfrutar pacifico de nós mesmos, porque somos, às vezes, desencorajados em nosso caminho e trabalho pelas criaturas da nossa própria fantasia e imaginação. Mas uma mente sóbria e sólida preveniria e facilmente contestaria esse temor. O espírito que Deus dá aos seus ministros não é um espírito medroso, mas, sim, corajoso; ele é um espírito de fortaleza, porque falam em nome daquele que tem todo o poder, tanto nos céus como na terra; e é um espírito de amor, porque o amor a Deus e aos homens deve inflamar os ministros em todas as suas tarefas; e é um espírito de moderação, porque anunciam as palavras da verdade e da sobriedade.
Ele o exorta a contar com aflições e se preparar para elas: “Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor nem de mim, que sou prisioneiro seu. Não te envergonhes do evangelho e do testemunho que tu deste dele”. Observe:
1. Nenhum de nós tem motivos para se envergonhar do evangelho de Cristo. Também não devemos nos envergonhar daqueles que estão sofrendo pelo evangelho de Cristo. Timóteo não deve se envergonhar do querido e idoso Paulo, embora estivesse agora em cadeias. Assim como ele não devia ter medo de sofrei ele também não devia temer de reconhecer aqueles que sofriam pela causa de Cristo. (1) O evangelho é o testemunho do nosso Senhor.
Por meio do evangelho Ele dá testemunho de si mesmo a nós. Ao professarmos nossa lealdade a Ele, damos testemunho dele e para Ele. (2) Paulo era o prisioneiro do Senhor (Ef 4.1). Por causa dele estava preso em cadeias. (3) Não temos motivos para nos envergonhar do testemunho de nosso Senhor ou de seus prisioneiros. Se estivermos envergonhados de um ou de outro agora, Cristo se envergonhará de nós na vida futura. “Antes, participa das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus, isto é, conta com as aflições por amor ao evangelho, prepara-te para elas, está pronto a sofrer com os santos sofredores neste mundo”.
“Participa das aflições do evangelho”; ou como podemos ler: Sofra com o evangelho; “não somente compadeça-se com aqueles que sofrem pelo evangelho, mas esteja pronto a sofrer com eles e sofrer como eles”. Se em algum momento o evangelho está passando por dificuldades, aquele que espera a vida e a salvação por meio desse evangelho estará contente em sofrer com ele. Observe: [1] Teremos condições de suportar as aflições bem, quando extrairmos força e poder de Deus para nos capacitar a suportá-las: Participo das aflições do evangelho, segundo o poder de Deus. [2] Todos os cristãos, mas especialmente os ministros, devem esperar aflições e perseguições por amor ao evangelho. [3] Elas serão proporcionais ao poder de Deus (1 Co 10.13) que está sobre nós.
2. Ao mencionar Deus e o evangelho, ele observa as grandes coisas que Deus fez por nós pelo evangelho (vv. 9,10). Para animá-lo a sofrer, ele faz duas considerações: (1) A natureza do evangelho pelo qual foi chamado a sofrei e os desígnios e propósitos gloriosos e graciosos dela. E comum em Paulo, ao mencionar Cristo e seu evangelho, fazer uma digressão de seu tema e prolongar-se sobre o assunto. O coração dele transbordava daquilo que é toda nossa salvação e deveria ser todo nosso desejo. Observe: [1] O evangelho almeja a nossa salvação: Ele nos salvou; e não deveríamos nos incomodar em sofrer por aquilo que esperamos poder nos salvar. Ele começou a nossa salvação e a completará no seu devido tempo; porque Deus chama as coisas que não são (que ainda não estão completas) como se já fossem (Rm 4.17).
Por isso ele diz: aquele que nos salvou. [21 O evangelho foi designado para a nossa santificação. E nos chamou com uma santa vocação; Ele nos chamou para a santidade. O cristianismo é um chamado, uma santa vocação; esta é a vocação com a qual somos chamados, a vocação para a qual somos chamados, para trabalhar nele. Observe: Todos os que forem salvos no futuro são santificados agora. Onde quer que a vocação do evangelho seja uma chamada eficaz, ela é declarada para ser uma vocação santa, tornando santos os que são de fato chamados. [3] A origem dela é a graça livre e o propósito eterno de Deus em Cristo Jesus. Se a tivéssemos merecido, teria sido difícil sofrer por ela; mas nossa salvação é graça livre e não de acordo com nossas obras, e, portanto, não devemos pensar muito em sofrer por ela.
Essa graça nos foi dada antes dos tempos dos séculos, isto é, no propósito e nos desígnios de Deus desde toda a eternidade; em Cristo Jesus, porque todos os dons que vêm de Deus para o pecador vêm em Crista Jesus e por meio dele. [4] O evangelho é a manifestação desse propósito e graça: pelo aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, que estava no seio do Pai desde a eternidade, e estava perfeitamente ciente de todos os seus propósitos graciosos. Pela sua aparição, esse propósito gracioso foi manifesto a nós.
Se Jesus Cristo sofreu por ele, será que não deveríamos estar prontos a sofrer por ele? [5[ A morte é abolida pelo evangelho de Cristo: Ele aboliu a morte, não somente a enfraqueceu, mas a tirou do caminho, quebrou o seu poder sobre nós. Ao tirar o pecado, Ele aboliu a morte (porque o aguilhão da morte é o pecado, 1 Co 15.56), ao alterar a natureza dela e quebrar o poder dela. De inimiga, a morte tornou-se amiga. Ela é a porta por onde saímos de um mundo difícil, opressivo e pecaminoso, para um mundo de paz e pureza perfeita. E o poder dela foi quebrado, porque a morte não triunfa naqueles que crêem no evangelho, mas eles triunfam sobre ela. Onde está, ó marte, ateu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? (1 Co 15.55). [6] Ele trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho.
Ele nos mostrou um outro mundo mais claramente do que era antes de ser descoberto debaixo de qualquer dispensação anterior, e a felicidade daquele mundo, a recompensa certa de nossa obediência pela fé: todos nós, com cara descoberta, refletimos, como um espelho, a glória do Senhor (veja 2 Co 3.18). Ele a trouxe à luz, não somente a colocou diante de nós, mas a ofereceu, pelo evangelho. Vamos valorizar o evangelho mais do que nunca, porque é por meio dele que a vida e a imortalidade são trazidas à luz, porque dessa forma ele tem a preeminência acima de todas as descobertas anteriores. Ele é o evangelho de vida e imortalidade, à medida que as descobre para nós e nos orienta no caminho preparado que nos leva para lá, bem como propõe os motivos mais convincentes para estimular nossos esforços em buscar a glória, a honra e a imortalidade.
Considere o exemplo do bendito Paulo (vv. 11,12). Ele foi designado para ensinar aos gentios. Ele achava que essa era uma causa digna de sofrimento. Por que Timóteo não deveria achara mesmo? Ninguém precisa ter medo, nem estar envergonhado de sofrer pela causa do evangelho: Não me envergonho, diz Paulo, porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia. Observe: [11 Homens bons muitas vezes sofrem muitas coisas pela melhor causa no mundo: por cuja causa sofro essas coisas; isto é: “por causa da minha pregação e lealdade ao evangelho”. [2] Eles não precisam se envergonhai a causa os confirmará; mas aqueles que se opõem ao evangelho serão vestidos de vergonha. [3] Aqueles que confiam em Crista sabem em quem têm crido.
O apóstolo fala com um triunfo e exultação santos: “Estou numa base firme. Sei que depositei o grande depósito nas mãos do melhor curador”. E estou certo etc. O que devemos entregar a Crista? Qual é esse depósito? A salvação da nossa alma, e a sua preservação para o Reino celestial. E o que entregarmos dessa forma a Ele, o Senhor certamente guardará. Está chegando o dia em que a nossa alma será inquirida: “Homem! Mulher! Você tinha uma alma que lhe foi confiada. O que fez com ela?
A quem foi oferecida, a Deus ou a Satanás? De que maneira ela foi usada, a serviço do pecado ou a serviço de Cristo?” Está chegando um dia, e será um dia muito solene e terrível, quando prestaremos contas da nossa mordomia (Lc 16.2) da nossa alma. Se por meio de uma fé obediente e ativa a confiamos a Jesus Cristo, podemos estar certos de que Ele é capaz de guardá-la, e ela surgirá para o nosso conforto naquele dia.
Ele o exorta a conservar o modelo das sãs palavras (v. 13). 1. “Tenha um modelo das sãs palavras” (assim pode ser lido), “um modelo breve, um catecismo, dos primeiros princípios da religião, de acordo com as Escrituras, um esquema de palavras sãs, um breve resumo da fé cristã, com um método apropriado, tirado das Sagradas Escrituras para o seu uso próprio”.
Observe:Por modelo das sãs palavras eu entendo as próprias Sagradas Escrituras. “Tendo-o, conserve-o, lembre-o, preserve-o, dedique-se a ele. Dedique-se a ele em oposição a todas as heresias e doutrinas falsas, que corrompem a fé cristã. Dedique-se aquilo que de mim tem ouvido”. Paulo estava divinamente inspirado. E bom dedicar-se a esses modelos das sãs palavras que temos nas Escrituras. Porque elas, certamente, eram divinamente inspiradas. Essa é uma linguagem sã e irrepreensível (Tt 2.8).
Mas como ela pode ser conservada? Na fé e na caridade; isto é, devemos reconhecê-la como uma palavra fiel, e declará-la bem-vinda e digna de toda aceitação. Conserve-a em um coração honesto, que é a arca do concerto, na qual as tábuas da lei e do evangelho estão mais seguramente depositadas (Sl 119.11). A fé e o amor (caridade) devem andar juntos. Não é suficiente crer nas sãs palavras e concordar com elas, mas devemos amá-las, crer na verdade delas e amar a sua benevolência, e devemos propagar o modelo das sãs palavras em amor; falando a verdade em amor (Ef 4.15). Nafé e na caridade que há em Crista Jesus.
Deve ser fé e amor cristão, fé e amor fixados em Jesus Crista, por meio de quem Deus fala conosco e nós a Ele. Timóteo, como ministro, deve conservar o modelo das sãs palavras, para o beneficio dos outros. Podemos ler também: palavras que curam. Há uma virtude que cura na Palavra de Deus. Enviou a sua palavra e os sarou (veja Si 107.20).
Em relação ao mesmo sentido ele diz (v. 14): Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós. Esse bom depósito era o modelo de sãs palavras, a doutrina cristã, que foi confiado a Timóteo no batismo e ensino, quando se tornou cristão, e em sua ordenação, quando se tornou ministro. Observe:
(1) A doutrina cristã é um depósito confiado a nós. Ela é confiada aos cristãos em geral, mas aos ministros em particular. Ela é um bom depósito, de um valor inestimável, e que terá um beneficio indescritível. Ela é realmente um bom depósito, uma jóia inestimável. Ela descobre para nós as riquezas incompreensíveis de Cristo (Ef 3.8).
Ela é confiada a nós para ser preservada pura e íntegra, e a ser transmitida àqueles que virão depois de nós, e devemos guardá-la e não contribuir em nada para a corrupção da sua pureza, o enfraquecimento do seu poder ou a diminuição da sua perfeição: Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós.
Observe: Mesmo esses que são tão bem ensinados não podem guardar o que aprenderam, assim como não puderam aprender isso no início, sem a assistência do Espírito Santo. Não devemos pensar que podemos guardá-lo com nossas próprias forças, mas devemos guardá-lo pelo Espírito Santo. (2) O Espírito Santo habita em todos os ministros e cristãos genuínos. Cada um deles é o templo dele, e Ele os capacita a guardar o evangelho puro e incorrupto. Mas, mesmo assim, eles devem usar todo seu esforço para guardar esse bom depósito, porque o auxilio e o habitar do Espírito Santo não excluem os esforços das pessoas, mas estão em harmonia.
UM CONVITE AO SOFRIMENTO POR CRISTO
Neste capítulo, nosso apóstolo dá a Timóteo muitas exortações e orientações, que podem ser de grande utilidade para outros, ministros e cristãos, para quem foram designadas, bem como para ele. Ele o anima em seu trabalho, mostrando onde deve buscar ajuda (v. 1). Ele deve cuidar da sucessão do ministério, para que o oficio não morra com ele (v. 2). Ele o exorta à constância e perseverança nesse trabalho, como soldado e marido, considerando qual seria o fim de todo o seu sofrimento etc. (vv. 3-15). Ele deve evitar falatórios profanos e vãos (vv. 16-18), porque serão perniciosos. Ele fala do fundamento de Deus, que fica firme (vv. 19-21). O que ele deve evitar: desejos da mocidade e perguntas loucas e sem instrução; e o que deve fazer (vv. 22-26).
Aqui Paulo encoraja Timóteo à constância e perseverança em seu trabalho: fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus (v. 1). Observe: Aqueles que têm trabalho para fazer para Deus devem despertar-se a fazê-lo e fortalecer-se para isso. Ser forte na graça que está em Cristo Jesus pode ser entendido em oposição à fragilidade da graça. Onde há a verdade da graça deve haver um trabalhar para alcançar a força da graça. A medida que nossas provações aumentam, precisamos nos tornar mais fortes no que é bom: nossa fé mais forte, nossa resolução mais forte, nosso amor a Deus, e a Cristo, mais forte. Ou, pode ser entendido em oposição a sermos fortes em nossas próprias forças: “Sejam fortes, não confiando em sua própria suficiência, mas na graça que está em Jesus Cristo”.
Compare com Efésios 6.10: Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Quando Pedro prometeu antes morrer por Cristo a negá-lo, estava confiando em sua própria força. Se estivesse forte na graça que está em Cristo Jesus, lograria mais êxito. Observe:
Existe graça em Cristo Jesus; porque a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo (Jo 1.17). Existe graça suficiente nele para todos nós. Devemos ser fortes nessa graça; não em nós mesmos, em nossa própria força, ou na graça que já recebemos, mas na graça que está nele e que é o caminho para ser forte na graça. Como um pai exorta seu filho, assim Paulo exorta Timóteo com grande ternura e afeição: Tu, pois, meu filho, fortifica-te etc.
Observe:Timóteo deve contar com sofrimentos, mesmo até o sangue, e, portanto, deve treinar outros a sucedê-lo no ministério do evangelho (v. 2). Ele deve instruir outros e treiná-los para o ministério, e, dessa forma, confiar-lhes as coisas que havia ouvido. Ele deve também ordená-los para o ministério, colocar o evangelho como um depósito nas mãos deles, e, assim, confiar-lhes as coisas que havia ouvido.
Timóteo deve prestar atenção em duas coisas ao ordenar ministros: a fidelidade e integridade deles (“Confia-o a homens fiéis, que sinceramente buscam a glória de Deus, a honra de Cristo, o bem-estar das almas e o progresso do reino do Redentor entre os homens”), e também a habilidade ministerial deles. Eles não devem ter conhecimento somente, mas ser capazes de também ensinar outros, e ser aptos a ensinar. Temos aqui: O que Timóteo deveria confiar a outros — o que tinha ouvido do apóstolo entre muitas testemunhas. Ele deve entregar a outros apenas aquilo que Paulo entregara a ele e a outros, de acordo com o que havia recebido do Senhor Jesus Cristo. Ele deveria confiar a eles esse evangelho como um depósito sagrado, que deveriam guardar e transmitir de maneira pura e incorrupta a outros.
Esses a quem ele deve confiar essas coisas devem ser fiéis, isto é, homens confiáveis, e idôneos para ensinar a outros. 4. Embora os homens fossem fiéis e idôneos, ainda assim, essas coisas deviam ser confiadas a eles por Timóteo, um ministro, um homem com um cargo; porque ninguém deve introduzir-se no ministério, mas deve ter essas coisas confiadas a eles por aqueles que já estão exercendo esse ministério.
Ele deve sofrer aflições (v. 3): Sofre, pois etc. Todos os cristãos, especialmente os ministros, são soldados de Jesus Cri sto. Eles lutam debaixo da sua bandeira, em sua causa, e contra seus inimigos, porque Ele é o capitão da nossa salvação (Hb 2.10). Os soldados de Jesus Cristo devem ser aprovados como bons soldados, fiéis ao capitão, resolutos em sua causa, e não devem desistir de lutar até que se tornem mais do que vencedores, por aquele que os amou (Rm 8.37).
Esses que provam ser bons soldados de Jesus Cristo devem suportar dificuldades; isto é, devemos esperar por elas e contar com elas neste mundo; devemos suportar e nos acostumar com elas e carregá-las pacientemente quando surgirem, e não permitir ser afastados da nossa integridade por causa delas.
Ele não deve se embaraçar com os negócios deste mundo (v. 4). Um soldado, quando é alistado, abandona sua opinião, e todos os interesses a ela relacionados, para que possa atender às ordens do seu capitão. Se nos entregamos a Cristo para sermos seus soldados, devemos nos desligar deste mundo. E, embora não tenhamos como escapar completamente dos afazeres desta vida, não devemos nos embaraçar com eles a ponto de nos distrairmos e nos afastarmos de nossas obrigações para com Deus e dos grandes interesses do cristianismo. Esses que combaterão o bom combate devem desligar-se deste mundo. Afim de agradar àquele que nos alistou paira a guerra. Observe: Um soldado deveria ter um grande cuidado em agradar seu general. A grande preocupação de um cristão deve ser buscar agradar a Cristo e ser aprovado por Ele. A forma de agradar àquele que nos chamou para ser soldados é não nos embaraçarmos com os negócios desta vida, mas estar livres dos embaraços que nos impedem em nossa guerra santa.
Ele deve cuidar para que, ao combater na guerra espiritual, siga as normas adequadas (v. 5):"Se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente". Estamos empenhando-nos pelo domínio, para obter o domínio de nossas concupiscências e depravações, para sobressair naquilo que é bom. Porém, não podemos esperar o prêmio sem que observemos as leis. Ao fazer o que é bom, devemos cuidar para fazê-lo da forma correta, para que o nosso bem não seja mal-interpretado. Observe o seguinte: Um cristão deve lutar para obter o domínio. Ele deve buscar dominar seus próprios desejos e corrupções. Ele deve militar de acordo com as leis dadas a ele. Ele deve lutar legitimamente. Aqueles que o fizerem serão coroados no final, depois que uma vitória completa for alcançada.
Ele deve estar disposto a esperar por uma recompensa (v 6): "O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos". Ou, como deveria ser traduzido: O lavrador trabalhando primeiro, deve gozar dos frutos, como pode ser comparado com Tiago 5.7, Se queremos gozar dos frutos, precisamos trabalhar primeiro. Se queremos ganhar o prêmio, devemos correr a corrida. E, além disso, devemos primeiro trabalhar como o lavrador, com diligência e paciência, antes de gozarmos dos frutos. Devemos fazer a vontade de Deus, antes de alcançarmos as promessas, motivo pelo qual necessitamos de paciência (Hb 10.36).
O apóstolo destaca ainda mais as coisas que tinha dito a Timóteo e expressa seu desejo e esperança em relação a ele: Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo (v. 7).
Paulo exorta Timóteo a considerar aquelas coisas que mereceram sua admoestação. Timóteo deve ser lembrado a usar suas faculdades reflexivas acerca das coisas de Deus. A consideração ou ponderação é tão necessária para uma boa conduta como para uma conversa saudável.
O apóstolo ora por ele: Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo. Observe: E Deus quem dá o entendimento. O homem mais inteligente precisa cada vez mais desse dom. Se aquele que deu a revelação na Palavra não der o entendimento no coração, não somos ninguém. Junto com nossas orações pelos outros, que o Senhor possa dar entendimento em tudo a eles, devemos exortar e despertá-los a considerar o que dizemos, porque a consideração é o caminho para entender, lembrar e praticar o que ouvimos e lemos.
Encorajamentos Ministeriais = vv. 8-13
Para encorajar Timóteo no sofrimento, o apóstolo o lembra da ressurreição de Crista (v. 8): "Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de Davi, ressuscitou dos mortos, segundo o ‘meu evangelho". Essa é a grande prova da sua missão divina, e, portanto, uma grande confirmação da verdade da religião cristã.
E a consideração disso deveria nos tornar fiéis à nossa profissão de fé cristã e deveria particularmente nos encorajar a sofrer por ela. Que os santos sofredores lembrem-se disso. Observe: 1. Devemos "...olhar para Jesus, o autor e consumador da nossa fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus" (Hb 12.2). 2. A fé fervorosa na encarnação e na ressurreição de Jesus Cristo, e a ponderação correta a respeito delas. servirão de suporte ao cristão debaixo de todos os sofrimentos na vida presente.
Mais uma coisa para animá-lo no sofrimento era que ele tinha Paulo como exemplo. Observe:
Como o apóstolo sofreu (v. 9): Pelo que sofro [...] como um malfeitor Que Timóteo, o filho, não espere um tratamento melhor do que Paulo, o pai. Paulo era um homem que fazia o bem, e mesmo assim sofreu como um malfeitor. Não devemos estranhar se esses que fazem o bem passem mal neste mundo e se os melhores homens recebam o pior tipo de tratamento. Mas o seu conforto era que a palavra de Deus não estava presa. Poderes perseguidores podem silenciar ministros e contê-los, mas não podem impedir a operação da Palavra de Deus no coração e consciência das pessoas.
Ela não pode ser amarrada por nenhuma força humana. Isso deveria encorajar Timóteo a não ter medo das cadeias por causa do testemunho de Jesus. Porque a palavra de Cristo, que deveria ser mais preciosa para ele do que a liberdade, ou a própria vida, no final não deveria sofrer nada por causa das cadeias do apóstolo.
Veja o seguinte: (1) O bom tratamento do apóstolo no mundo: "sofro trabalhos"; para isso ele foi chamado e designado. (2) O pretexto debaixo do qual sofria: "sofro como um malfeitor". Assim os judeus disseram a Pilatos concernente a Crista: Se este não fosse malfeito não to entregaríamos (Jo 18.30). (3) A real e verdadeira causa de sofrer como um malfeitor:
Pelo que; isto é, pela causa do evangelho.
O apóstolo sofreu trabalhos nas prisões, e, mais tarde, resistiu até ao sangue, combatendo contra o pecado (Hb 12.4). Embora os pregadores da Palavra estejam muitas vezes presos, a Palavra nunca está.
Por que ele sofreu alegremente: todo sofro por amor dos escolhidos (a 10). Observe: (1) Bons ministros podem e devem animar-se diante dos serviços mais duros e dos sofrimentos mais duros, sabendo que Deus certamente trará coisas boas à sua igreja, e beneficio aos seus eleitos. Para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus. Além da salvação da nossa própria alma deveríamos estar dispostos a fazer e a sofrer qualquer coisa para promover a salvação da alma dos outros. (2) Os eleitos são destinados a obter salvação:
"Porque Deus não nos destinou para a ira, ousa para a aquisição da salvação" (1 Ts 5.9). (3).
Essa salvação está em Cristo Jesus, nele como a fonte, o comprador e doador dela; e ela vem acompanhada com glória eterna: não há salvação em Cristo Jesus sem ela. (4) Os sofrimentos do nosso apóstolo eram por causa dos salvos, para a confirmação e encorajamento.
Ele também anima Timóteo quanto à perspectiva de um estado futuro.
1. Aqueles que seguem fielmente a Cristo, suas verdades, e caminhos, não importa o custo, certamente terão os benefícios disso no outro mundo: "se morrermos com ele, também com ele viveremos"(v. 11). Se, em conformidade com Cristo, estivermos mortos para este mundo, para os seus prazeres, ganhos e honras, iremos morar com Ele em um mundo melhor e estar para sempre com Ele. Ainda mais, embora sejamos chamados para sofrer por Ele, não perderemos com isso.
Esses que sofrem por Cristo na terra reinarão com Cristo nos céus (v. 12). Aqueles que sofreram com Davi em sua humilhação foram elevados com ele na sua exaltação: assim será com aqueles que sofrem com o Filho de Davi.
2. Estaremos nos expondo a um grande risco se formos infiéis a Ele: "se o negarmos, também ele nos negará". "Se o negarmos diante dos homens, Ele nos negará diante do seu Pai" (Mt 10.33). E a pessoa que Cristo repudiar no final será para sempre miserável. Esse certamente será ocaso, quer acreditemos nisso ou não (v. 13): "se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo". Ele é fiel às suas admoestações, fiel às suas promessas.
Nenhuma delas deixará de se cumprir, nem o menor sinal ou til. Se formos fiéis a Cristo, Ele certamente será fiel a nós. Se formos falsos com Ele, Ele será fiel às suas admoestações: "Ele não pode negar-se a si mesmo"; Ele não pode retroceder relação a uma única palavra falada, porque Ele é Amém e Amém, a fiel testemunha. Observe: (1) Estar morto com Ele precede nosso viver com Ele, e as duas coisas estão conectadas: para que um ocorra o outro precisa ocorrer.
Assim, o nosso sofrimento por Ele é o caminho para reinar com Ele. "Vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel" (Mt 19.28). (2) "Esta é uma palavra fiel e digna de aceitação e deve ser crida". (3) "Mas, se o negarmos, por medo ou vergonha, ou por causa de um beneficio temporário, Ele nos negará" e repudiará, e não negará a si mesmo, mas continuará fiel à sua Palavra quando admoestar e quando prometer.
CONCLUSÃO
O bom soldado de Cristo é assim chamado por ser um homem dedicado, que permanece em guarda e está disposto a sofrer pela causa de Cristo. Os soldados em serviço não contam com segurança e facilidade. Pelo contrário, dureza, riscos e sofrimento são aceitos sem contestação.
O soldado luta em meio ao sofrimento; o atleta compete com honestidade; o lavrador é destacado pelo seu trabalho árduo, O termo labutar (kopiao) significa “cansar-se, fatigar-se”. O sucesso na lavoura só é conseguido com muito trabalho. O agricultor precisa ser conhecedor do solo, das técnicas de plantio, dos tipos de sementes, das estações climáticas; mas todo esse conhecimento sem um trabalho exaustivo não lhe dará o resultado desejado.
Aproveite esse aprendizado de hoje e coloque-o, em prática. Isso, certamente irá fazer com que seu progresso espiritual chegue a um importante nível.
Abraços.
Viva vencendo com sua fé viva num Senhor vivo que tudo pode fazer!!!
Seu irmão menor.
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