07 agosto 2014

LIÇÃO 06 - 10/08/14 - "A VERDADEIRA FÉ NÃO FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS"


TEXTO ÁUREO 

Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como transgressores” (Tg 2.9).

VERDADE PRÁTICA 

 Na Igreja do Senhor, não deve haver acepção de pessoas, pois todos custaram o mesmo preço do sangue de Jesus e todos somos um nEle.


LEITURA BÍBLICA EM CLASSE : TG 2.1-13

INTRODUÇÃO

Em nossa cultura, é comum encontrarmos exemplos de acepção de pessoas em todas as áreas da sociedade. Que o Senhor nos ajude, de modo que, nas igrejas não haja distinção de pessoas pela condição econômica, social, de raça ou de sexo. Que aceitemos a todos como filhos de Deus, amados e salvos em Cristo Jesus.

1. A CONDENAÇÃO NA BÍBLIA

1. O que é acepção de pessoas. Segundo a Pequena Enciclopédia Bíblica, acepção de pessoas é a preferência de pessoa ou pessoas, em atenção à classe, qualidade, títulos ou privilégios”. Este é o significado do termo, utilizado por Tiago.

2. No Antigo Testamento.
a) Poucas referências. Não há muitas referências sobre o tema no Antigo Testamento. Entretanto, os poucos textos que aludem ao assunto, nos indicam que Deus determinava ao Seu povo que seguisse o Seu exemplo, não fazendo acepção de pessoas.

b) Deus não faz acepção de pessoas. Quando Moisés, o grande líder de Israel, se despediu do povo, dentre as instruções transmitidas, consta a exortação à obediência, na qual o Senhor orientava o povo a temê-Lo, amando e servindo-O (Dt 10.12). Concluindo, disse: “Pois o Senhor vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos Senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, [grifo nosso] nem aceita recompensas” (Dt 10.17).

c) Deus não quer a acepção de pessoas. Com todas essas qualidades divinas, Deus diz ao povo que não faz acepção de pessoas, indicando que assim deveriam proceder. Outros textos podem ser lidos como Jó 32.21 e 34.19.

3. No Novo Testamento.
 Nesta parte da Bíblia há mais referências sobre a condenação à acepção de pessoas.

a) Com relação a raças ou nacionalidades. Deus não faz acepção de pessoas, não levando em conta a raça ou etnia, nação, povo, ou língua. Pedro, ao chegar à casa de Cornélio, iniciou a pregação, dizendo: “Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” (At 10.34,35).

Israel rejeitou a salvação de Deus. O Verbo Divino foi enviado (Jo 1.1,9,10), de modo que “. . .a todos quantos o receberam, deu- lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no seu nome” (Jo 1.12). Não temo mínimo sentido dizer que os negros, os africanos, foram pessoas escolhidas para serem rejeitadas por Deus, como queriam (e querem) alguns adeptos do apartheid, ou da discriminação racial e de cor. João viu “uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro...” (Ap 7.9).

b) Com relação à obediência. Deus “recompensará cada um segundo as suas obras”, dando “vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra e incorrupção” (Rm 2.6,7); dando, porém, “indignação e ira aos que são contenciosos e desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade” (Rm 2.8); e, ainda, dando “glória, porém, e honra e paz a qualquer que faz o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego” (Rm 2.10); “porque, para com Deus, não há acepção de pessoas” (Rm 2.11). A escolha dos judeus foi apenas prioridade e não acepção de pessoas, como lemos em Rm 2.10: “primeiramente ao judeu...”. Na verdade, “Deus amou o mundo...” (Jo 3.16a), e não somente a Israel. O que interessa para Deus é a aceitação de Sua Palavra, com obediência, em qualquer lugar do mundo.

c) Com relação à condição social. Os vv.2,3 alertam para a discriminação entre pobres e ricos na igreja, tomando o exemplo de alguém que, chegando à congregação, com anel no dedo, vestidos preciosos, é chamado “para cima”. cii— quanto o pobre é mandado Ficar “lá embaixo’’. Paulo, exortou aos senhores e patrões de Efeso, quanto ao tratamento que deveriam  dar aos servos, lhes ordenou, com autoridade do Espírito Santo: ‘E Vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há acepção de pessoas” (Ef 6.9). Senhores e servos ou escravos dividiam a sociedade. Mas o evangelho levou a mensagem do respeito à dignidade humana, como nenhuma outra filosofia o fez. Paulo, em sua carta a Filemom, (Fm v.16), roga que o patrão, crente, receba o escravo fugitivo, mas convertido, não como escravo, mas como irmão em Cristo (vv.15,16).

Só um cristão poderia conceber esse comportamento. Hoje, é importante que os patrões crentes tenham seus empregados (domésticos, funcionários, etc.) em respeito e honra, para testemunho do amor de Deus em seus corações.

d) Com relação à distinção por sexo. Ensinando sobre as mulheres no culto, Paulo diz que “nem o varão é sem a mulher, nem a mulher, sem o varão, no Senhor. Porque, como a mulher provém do varão, assim também o varão provém da mulher, mas tudo vem de Deus” (1 Co 11.11,12). Em GI 3.27,28, diz o apóstolo que entre os que foram revestidos de Cristo, “...não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.

No Antigo Testamento, havia discriminação de sexo, não por orientação de Deus, mas pela influência da cultura oriental. Entre os judeus, a mulher era considerada inferior na vida religiosa. Josefo, historiador judeu, diz que naquele tempo entre os judeus, “uma centena de mulheres não vale mais do que dois homens”. Um rabino disse: “Eu te agradeço porque não nasci escravo, nem gentio, nem mulher”. Machismo puro. Quão diferente é no Cristianismo. Jesus valorizou o trabalho feminino (ler Mt 27.55; Mc 15.41; Lc 8.2-3). Nas epístolas paulinas, temos mulheres em destaque (ver 2 Tm 1.5; Rm 16.1-17).



e) Com relação à salvação. Há igrejas que pregam que Deus predestinou pessoas para serem salvas e outras, para serem irremediavelmente perdidas. O teólogo João Calvino ensinava que “é o decreto de Deus.., para alguns é preordenada a vida eterna, e para outros, a condenação eterna”. Isso vai de encontro ao caráter de Deus, revelado na Bíblia, que diz, como vimos acima, que “Deus não faz acepção de pessoas” (cf. Dt 10.17; Jó 34.19; At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9, 25; 1 Pe 1.17).
Não faz sentido nascerem dois bebês, na maternidade, e um ter uma “etiqueta” de salvo e, outro, a “etiqueta” de perdido. Cremos, sim, que Deus, em casos especiais, dentro de Sua soberania, escolhe pessoas com certos propósitos, como João Batista e Jeremias. Deus nos predestinou coletivamente como Igreja, e não individualmente, por acepção de pessoas (cf. Ef 1.11-13).
II. RAZÕES PARA NÃO SE FAZER ACEPÇÃO DE PESSOAS
1. Toda a humanidade foi criada por Deus. Deus criou o ser humano, homem e mulher, à Sua imagem e semelhança (Gn 1.27). Ambos receberam a imagem divina, independente do sexo. Ambos perderam a glória de Deus com a queda, e não pela condição de ser homem ou mulher. Deus fez a Terra e criou nela o homem (Is 45. 12). Ele não faz acepção de pessoas. Nós também não o devemos fazer.

2. Toda humanidade tem a origem comum em Adão e Eva. Paulo, em Atenas, discursando no Areópago, disse que Deus “de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra...” (At 17.26a). Por influência de condições genéticas, climáticas e de outra ordem, foram- se reunindo as raças, e sendo espalhadas pela Terra, mas todos vêm da mesma origem.

3. Em Cristo, todos somos um. O brasileiro, resultante da miscigenação do índio, do europeu e do negro; os asiáticos, de cor amarela; os japoneses, de olhos amendoados; os chineses de olhos apertados; os europeus, louros e de olhos azuis; os africanos de cor negra e dentes bem brancos, enfim, todos de qualquer raça, aparência ou cultura, quando salvos, são um em Cristo Jesus (GI 3.28).

CONCLUSÃO
A acepção de pessoas por condição social, econômica, familiar ou de outra ordem é comportamento incompatível com o caráter inclusivo do evangelho. Jesus veio trazer salvação, amor e paz para todos os que crêem, em qualquer nação, raça ou povo do mundo. Que Deus nos abençoe, não permitindo a discriminação de pessoas em nosso meio. Para combater a acepção de pessoas, precisamos fazer três coisas: amar a todos igualmente (inclusive os não- crentes); tratar a todos com eqüidade e mostrar que os preconceitos são contrários a Deus.

SUBSÍDIO PARA O PROFESSOR


O PECADO DA DISCRIMINAÇÃO  Tg 2. 1-13

Apesar do racismo, do regionalismo, do machismo, e a separação por níveis culturais ou econômicos estar continuamente presente na sociedade, a recomendação do Espírito Santo através do ensino de Tiago, é que um seguidor de Cristo não pode fazer acepção de pessoas.

I.      A IGREJA DEVE EVITAR O PRECONCEITO
O termo “preconceito” pode ser definido como conceito (ou opinião) formado antecipadamente, apressadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida; é uma espécie de julgamento ou opinião formada sem levar em conta o fato que o contesta. E um grande mal, esse do preconceituoso, pois comete falta grave ao discriminar as pessoas. Quanto a isto, o ensino de Tiago (2.1-7) é de que:

1. A Igreja sofre a tentação de discriminar as pessoas (vv.1,2). Notemos que Tiago está escrevendo aos crentes, à Igreja, e isso é evidente por causa do tratamento dado aos destinatários. Ele os chama de irmãos. O termo “ajuntamento” é uma referência à sinagoga dos seus dias, e que transposto para os nossos dias, equivale ao templo onde cultuamos a Deus.
Evidentemente não estaremos sendo realistas e muito menos sinceros se não admitirmos que distinguir com honras as pessoas mais importantes tem sido, hoje, como no passado, uma tentação constante para a Igreja de Cristo. Em algumas de nossas igrejas este fato é vergonhosamente constatado, principalmente em períodos de campanhas eleitorais.

2. A Igreja não deve adular os poderosos (v.2). Tiago parece nosso contemporâneo, membro de uma de nossas igrejas, sentado num dos bancos no meio da congregação. De momento ele vê adentrar ao templo um homem rico, com anéis de ouro, bem vestido, Entra também um pobre com roupas velhas e remendadas. O rico é chamado a sentar-se num lugar de destaque, sendo político pode até ter assento no púlpito. Já o pobre não tem problema, fica em pé mesmo. Diante de tal procedimento, indaga o apóstolo: “Porventura não fizestes distinção dentro de vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?” (2.4).

3. Deus escolheu os pobres para fazê-los ricos na fé (v.5). Certamente não há no texto qualquer indício de que Deus tenha rejeitado os ricos, ou seja, contra eles. Tampouco defende o texto a idéia de que a riqueza seja pecado e a pobreza uma virtude. A aparente preferência de Deus pelos pobres se deve ao fato de que estes, via de regra, são mais abertos à graça de Deus, e mais acessíveis ao evangelho do que os ricos. É por isso que desde o principio “não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que. são chamados” (I Co 1.26).

4. Ao distinguir o rico, a Igreja desonra o pobre (vv.6,7). Tiago não concordaria com algumas correntes teológicas contemporâneas (como a chamada Teologia da Libertação, por exemplo) que “sacramentam” o pobre, tornando-o objeto exclusivo do favor de Deus, voltando-se contra os mais aquinhoados economicamente.

O que Tiago mostra é que a bajulação aos ricos é imprópria à Igreja. Não devemos adular os ricos, os poderosos, O triunfo do Evangelho e da Igreja independe deles. Não podemos esposar dois evangelhos: um para dizer aos desafortunados que eles devem se arrepender de seus pecados, senão irão para o inferno; e outro, para dizer aos afortunados que nos sensibilizamos com suas visitas aos nossos templos. Alguém disse que “a Igreja não está no mundo para fazer relações públicas, mas para entregar um ultimato”.

II.   A DISCRIMINAÇÃO É ATENTATÓRIA A LEI DE DEUS
Tiago enfoca neste ensino duas leis que governam a vida do cristão: as leis do amor e da liberdade. Em ambas reside á cura para o mal da discriminação. Tiago conclui ensinando (2.8-13), entre outras coisas, as seguintes:

1. O amor ao próximo (v.8). Amar ao próximo como a nós mesmos, independentemente da classe social a que ele pertença, se constitui no cumprimento da “lei real”. Neste caso todos devem ser alvo do nosso amor, seja rico, ou seja, pobre.  Jesus ensinou, com seus atos, que Deus amou o mundo com amor imensurável  (Jo 3.16). Ele viveu de acordo com os Seus ensinos e deixou-nos o exemplo que devemos imitar

2. Não devemos discriminar as pessoas (v.10). Nesta seção entra a discriminação ao negro, ao estrangeiro, ao doente e ao necessitado de um modo geral. Tiago acrescenta que as pessoas que praticam qualquer tipo de discriminação serão responsabilizadas e julgadas como transgressoras da lei de Deus.

3. Quem discriminar qualquer pessoa será réu de juízo (v.11). O pecado de discriminação, como qualquer outro, assume proporções graves na medida em que ele não significa transgressão apenas a um ponto isolado da lei, pois fere todo o preceito divino. O apóstolo Paulo divinamente inspirado escreveu: “O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.10).

“Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade” (2.12). Leia também Rm 2.11-16; Cl 3.23-25.

4. Devemos agir movidos pela misericórdia (v.13). Amar os homens como eles são e onde estão, demanda esforço e misericórdia da nossa parte.

Não importa o que isto possa representar para a Igreja; ela deve empenhar-se no sentido de congregar os homens e deve fazê-lo misericordiosamente. A sentença do Espírito Santo através de Tiago é que “o juízo [o juízo de Deus] será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia...” (v.13).

III-CONCLUSÃO
1. A Igreja não deve fazer acepção de pessoas. Uma vez que Deus não faz acepção de pessoas (Dt 10.17,18; Mt 5.45; At 10.34), a Igreja também não deve fazer discriminações, criando castas entre seus membros. Tal modo de agir pode trazer divisão ao corpo de Cristo. Leia I Co 12.25.

2. A Igreja não deve privilegiar o rico em detrimento do pobre. O rico não é mais nem menos digno de honra do que o pobre. A dignidade, a honradez não se mede pela riqueza nem pela pobreza, mas, sim, pelo caráter do individuo. A Igreja não é um clube cuja grandeza é medida pelo nível social de seus freqüentadores. Todas as pessoas são iguais aos olhos de Deus, pelo seu valor intrínseco.

3. A Igreja não se divide em classes, ela nivela as pessoas (I Co 12.13,14, 18,25;
Ef 4. 1-6). Deus espera que a Igreja em tudo seja a agência continuadora da ação amorosa do Seu Filho Jesus Cristo, no mundo.


Para isto Ele derramou, pelo seu Espírito, o amor, “vínculo da paz”, em nossos corações (Rm 5.5; Ef 4.3).

Basta um olhar rápido às pessoas eleitas para cargos na igreja, e um breve exame de quem dirige as comissões e concílios denominacionais, para sabermos de imediato que, não obstante a opinião bastante negativa de Jesus a respeito da riqueza (e.g., Mancos 10), a reprovação de Tiago ainda tem relevância hoje. A igreja não deveria mostrar parcialidade, nenhum interesse com respeito à beleza externa, à riqueza material e ao poder ou à influência da pessoa.

Isto é o que a bíblia exige de nós como crentes em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória. A única base da igreja é a fé num Senhor único. A fé e a fidelidade no compromisso ao Senhor é o que salva tanto ricos como pobres, igualmente, e todos votam lealdade a um Senhor cuja vida e ensino desprezaram, na verdade, quaisquer posições mundanas. E, acima de tudo, este é um Senhor que vive, que foi exaltado em glória, que vai voltar a fim de manifestar seu poder e glória e julgar o mundo. Demonstrar parcialidade é violar o caráter do Senhor, é insultá-lo, e certamente é grave pecado.

2:2-4 Havendo declamado seu tema, Tiago fornece-nos um exemplo baseado em acontecimentos realistas (ainda que hipotéticos) da igreja. Se na vossa reunião entrar algum homem com anel de ouro no dedo, e com trajes de luxo: tais palavras descrevem uma pessoa que entra vestida de trajes luxuosos (lit, “brilhantes”). O anel de ouro no dedo indica sua riqueza. Pode-se até sentir a deferência incômoda com que o trata o grupo presente. A seguir, entra também algum pobre andrajoso. Só possui as roupas do corpo, pelo que estão sujas e esfarrapadas. Acostumado à rejeição, o coitado espreita à porta, sen­tindo que as pessoas reunidas o evitam, o que ele já esperava; ó péssimo estado de seu vestuário declara-o lixo humano; sem valor nenhum sob o prisma mundano.

A igreja reage à situação econômica do rico: Assenta-te aqui em lugar de honra. O rico acomodasse na cadeira mais confortável, sob os sorrisos complacentes de todos os presentes. O pobre, por Sua Vez, é recebido com frieza: Fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do estrado dos meus pés. A sala está repleta; que esse pobretão reverencie aos que lhe são superiores, permanecendo de pé, ou mesmo sentando-se a seus pés. A maior parte dos presentes, naturalmente, finge que não notou sua presença.

O que torna tal tratamento ainda pior é que as duas partes assim retratadas estão numa reunião judicial; a igreja reuniu-se em tribunal para julgar certa pendência legal entre os dois homens. As minúcias dás roupas diferentes, das posições sociais diferentes è dos locais diferentes em que se acomodam encontram paralelos na prática jurídica judaica. Em 1 Coríntios 6:1-11 mencionam-se tais assembléias, que teriam autoridade legal, visto que por essa altura a igreja era vista como uma seita judaica, e as sinagogas tinham autoridade em seus tribunais (beth-din) para impor multas ou punições físicas. É certo que em outras situações (e.g., no culto publico) á postura física das pessoas nas reuniões dá igreja era uniforme (todos sentados ou de pé), sendo prescritas com maior cuidado as funções de cada pessoa. Todavia, esses dois crentes enfrentam uma disputa judicial, é fica bem claro perante a igreja desde o começo: não sé pode ofender o rico.
  
Tiago condena esse comportamento por duas razões: primeira, fazeis distinção entre vós mesmos. Em Cristo haviam sido todos unificados — eram um em Cristo. Nele não há grego nem judeu, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, mas todos são um, uma única pessoa em Cristo (Gálatas 3:28). Entretanto; aquela igreja estava desprezando esse fato, por conveniência carnal, fazendo distinção com base nas riquezas e nas posições sociais mundanas, renegando o efeito prático da obra de Cristo.

Em segundo lugar, os homens daquela congregação tornaram-se juizes movidos de maus pensamentos. Há uma infinidade de pas­sagens do Antigo Testamento que nos advertem contra o preconceito no tribunal, como, por exemplo: "Não farás injustiça no juízo; não favorecerás ao pobre, nem serás complacente com o poderoso, más com justiça julgarás o teu próximo" (Levítico 19:15). Se, como afirma o Antigo Testamento, Deus é juiz imparcial, e se os judeus afirmavam julgar de acordo com os padrões de Deus, como se atrevem a agir de modo injusto, favorecendo preconceituosamente o rico porque lhe cobiçam a riqueza e o poder?

Ao examinarmos o exemplo específico que Tiago nos apresenta, entretanto, não devemos desprezar a aplicação mais abrangente. Tiago ficaria mais feliz se o pobre fosse tratado com desprezo num culto público? Ficaria o pobre menos prejudicado se o tratamento preferencial dado ao rico significasse que este fora guindado a posição de liderança na igreja?

Ou será que a discriminação se tornaria menos ostensiva se o conselho da igreja ouvisse com a máxima atenção "a prima dona", mas em­purrasse para o lado as reivindicações do pobre? Conquanto estejamos diante de um exemplo específico, ele funciona como condenação geral do comportamento discriminatório.

2:5 Tiago inicia seu ataque lógico contra essa prática (2:5-7) com um apelo: Ouvi, meus amados irmãos, e chama-lhes a atenção para o fato de estar referindo-se a algo de que já têm conhecimento: Não escolheu Deus aos que são pobres? Tiago emprega a terminologia familiar da eleição, com que Israel estava acostumado (Deuteronômio 4:37; 7:7), como também a igreja (Efésios 1:4; 1 Pedro 2:9), mas aplica-a de modo específico aos pobres. A maior parte dos membros da igreja primitiva era constituída de pobres ("não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados" [1 Coríntios 1:26]); a igreja de Jerusalém era bastante pobre (2 Coríntios 8:9).

Mas Tiago está dizendo mais do que isso. Deus elegeu de modo especial aos que são pobres aos olhos do mundo (pois só são pobres segundo os padrões de valor do mundo) para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam. Por um lado, isso torna o pobre quase igual àquele que suporta a provação, em 1;2, visto que ambos recebem aquilo que Deus prometeu aos que o amam. Por outro lado, Tiago está aplicando o ensinamento de Jesus, visto que foi o Senhor quem disse que havia vindo de modo particular "para evangelizar os pobres" (Lucas 4:18) e depois: "Bem-aventurados vós, os pobres, pois vosso é o reino de Deus" (Lucas 6:20).

Jesus selecionara os pobres como os especialmente contemplados com o seu reino; Tiago apanha essa idéia e acrescenta: aos que o amam, a fim de limitar a promessa aos pobres que reagem em amor diante da mensagem do evangelho; Se há favoritos aos olhos de Deus, esses são os pobres, visto que Deus os vê de modo bem diferente do mundo. O mundo os enxerga como pobretões desprezíveis, sem importância, mas para Deus eles são ricos na fé e herdeiros do reino — o contrário da perspectiva mundana.

2:6-7 A igreja não tem a perspectiva de Deus: vós desonrastes o pobre. Deus condena o mesmo crime no Antigo Testamento (e.g„ Provérbios 14:21; çf. Siraque 10:22). A igreja que envergonha o pobre de certo modo (e.g., 1 Coríntios 11:22) abandonou a vontade de Deus e deixou de agir em prol de Deus.

Entretanto, a igreja decidiu mostrar preferência pela classe rica, que a oprime. Primeiro, são os ricos que vos oprimem. A idéia de que os ricos e poderosos exploram os pobres tem raízes profundas no Antigo Testamento (Jeremias 7:6; 22:3; Ezequiel 18:7; Amos 4:1; 8:4; Malaquias 3:5). Quando o pobre precisava de um empréstimo, o rico lho concedia -com juros elevador (a despeito de a extorsão de juros, i.e., obter lucros mediante a desgraça do necessitado, ser prática condenada, e.g., Êxodo 22:25-26). Em surgindo uma disputa, o rico contratava o melhor advogado; ambos se associavam, de modo que o pobre se tornava mais pobre, e o rico, mais rico.

Em segundo lugar, os ricos vos arrastam aos tribunais. Quando o pobre não podia restituir um empréstimo ao rico, este o arrastava ao tribunal para que fosse decretada a falência do pobre. O rico podia levar acusações caluniosas contra os que reclamassem, e talvez acua­ssem os cristãos de perturbarem a tranqüilidade e a ordem da comunidade.  Estas seriam as maneiras pelas quais os cristãos sofriam perseguições, que se resumiam na opressão de todos os pobres pelos ricos; às vezes, contudo, os cristãos eram discriminados porque sua religião os tornava muito vulneráveis — que juiz se sentiria mal em tratar com maior dureza os seguidores de um galileu desprezível?

Em terceiro lugar, os ricos são os que blasfemam o bom nome daquele a quem pertenceis. Agora Tiago acrescenta uma acusação de natureza religiosa. O nome de Jesus havia sido outorgado aos cristãos, ou (de modo mais literal) em seu nome haviam sido batizadas. Agora os cristãos "pertencem" a Cristo. Seu Senhor é Cristo. Todavia, os ricos falam mal desse nome, quando escarnecem de Jesus ou quando insultam seus seguidores. Não está esclarecido se faziam isso no tribunal, como parte do processo opressivo, ou se estavam insultando a Cristo nas sinagogas e nas praças. Nem uma nem outra ação era justa.

Entretanto, a igreja também tomara a decisão de insultar os pobres (a quem Deus honra), é desse modo, decidiu favorecer os ricos, identificando-se com a classe opressora. Com freqüência acontece que o grupo oprimido assume as características de seus opressores; quando isso acontece à igreja, o fato não é apenas patético è irônico, mas constitui uma inversão moral, visto que as pessoas que tomaram sobre si o nome de Cristo agem, agora, à semelhança das que blasfemam do nome de Cristo.

Boa aula!

Meu abraço

Viva vencendo a hipocrisia!!!

Seu irmão menor.

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