23 julho 2014

LIÇÃO 04 - 27/07/14 - "GERADOS PELA PALAVRA DA VERDADE"



TEXTO ÁUREO

                “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1Pe 1.23).

                
VERDADE PRÁTICA
                
Somente aqueles que foram gerados pela Palavra da Verdade são guiados pelo Espírito Santo.



LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Tiago 1.9-11,16-18


Introdução



Nesta Aula, trataremos de três assuntos importantes. Primeiro - com base Tiago 1:9 - 11 -, trataremos sobre a forma como os cristãos devem encarar a pobreza e a riqueza. Estas condições sociais são enfatizadas por Tiago como circunstâncias transitórias da vida, como situações efêmeras, e também como conjunturas em meio às quais o cristão deve aprender a estar sempre satisfeito. Os cristãos verdadeiros, gerados pela Palavra da verdade e por estarem ligados pelo Evangelho, devem saber se relacionar com o outro independente da sua condição econômica e social. Segundo - com base em Tg 1:16,17 -, trataremos acerca de Deus como a fonte de todo bem verdadeiro. Terceiro - com base em Tg 1:18 -, trataremos acerca do maior de todos os dons que o Senhor nos concede: o de sermos gerados de novo pelo poder da Palavra de Deus. 

I. A RELAÇÃO ENTRE OS POBRES E OS RICOS DA IGREJA (Tg 1:9-11)

A Bíblia jamais ensina que a riqueza em si é um mal. O próprio Deus deu a Salomão tanto a riqueza como a sabedoria (1Rs 3:12,13). Tudo depende de como a riqueza é adquirida, como é usada e qual o lugar que ela ocupa no coração de quem a possui. À luz das Escrituras Sagradas, o pobre é convidado a gloriar-se em Cristo pela sua nova posição de filho de Deus e pelo que tem permanente no Céu; enquanto o rico, no encontro com o Evangelho de Cristo, é convidado por Cristo a se humilhar para compreender a natureza passageira da sua riqueza.

1. Os pobres na igreja do primeiro século. A história da igreja e os estudos mostram que a igreja do primeiro século era composta de irmãos de condição muito pobre financeiramente. A maioria vinha das classes mais humildes da sociedade; havia ricos, mas poucos. Se Tiago está escrevendo para cristãos judeus na Palestina e Síria, muitos deles, ou quem sabe todos, deviam ser pobres. Temos noticias de uma grande fome que aconteceu por volta daquela época, e é possível que os cristãos, que padeciam no ostracismo, tenham sofrido de modo particularmente severo (veja Atos 11:28,29).

A pobreza, a carência, é uma das situações na vida em que o cristão é muito tentado. Ele é tentado pela falta daquilo que lhe é essencial para sua subsistência; ele também é tentado pela cobiça, pela inveja, pelo ressentimento ao ver outras pessoas receberem aquilo que ele não tem e não pode ter. Então, o irmão carente - materialmente falando - é muito provado por causa de sua situação.

A orientação de Tiago em 1:9 é que o cristão, cuja posição social e econômica é realmente baixa, deve gloriar-se na sua dignidade - “glorie-se na sua dignidade” (Tg 1:9) -, ou seja, não é pecado ser pobre, embora as igrejas neopentecostais ensinam que a vontade de Deus é que nós sejamos ricos e prósperos financeiramente. Este ensino é falso; não há em lugar nenhum do Novo Testamento esse tipo de ensino. Uma pessoa pode ser pobre e digna, especialmente se ela é cristã, se ela ama a Deus; se ela é discípula de Jesus Cristo, existe uma certa dignidade nisso. É claro que o “gloriar-se“, neste contexto, não significa a vanglória arrogante de alguém considerada poderosa, mas o alegre orgulho possuído pela pessoa que valoriza aquilo que Deus valoriza.

A palavra “dignidade” (”exaltação”, ARC) é usada em outros lugares do Novo Testamento como descrição do reino celestial ao qual Cristo foi elevado (Ef 4:8) e de onde desce o Espírito Santo (Lc 24:49). Pela fé, agora os crentes pertencem ao reino celestial como cidadãos (Fp 3:20) e também aguardam do Céu o Senhor Jesus, que transformará o “nosso corpo de humilhação” em “corpo da sua glória” (Fp 3:21). Podemos afirmar, então, que “dignidade” inclui o gozo atual que o crente tem em seu “status” espiritual exaltado e também a esperança de participar do glorioso e eterno reino de Cristo.

É justamente esta combinação do “status” atual e da herança futura que Tiago destaca em Tiago 2.5: “Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?“. É claro que Tiago não é da Teologia da Libertação, que diz que Deus fez uma opção preferencial pelos pobres; aqui, ele está constatando uma realidade de que através da história o número de cristãos que vem das camadas mais humildes da sociedade é muito maior do que aqueles que vieram de entre os ricos, nobres, poderosos, influentes, intelectuais e os fazedores de opiniões deste mundo. É só ler a história da igreja que veremos que isso é uma verdade. Então há uma dignidade que os irmãos humildes se lembrem disso, e que Deus os recebe em seu reino.

2. Os ricos na igreja Antiga. ”E o rico, na sua insignificância, porque ele passará como a flor da erva“(Tg 1:10). No início existiam poucos ricos na igreja; muitos que eram detentores de posses vendiam suas propriedades para serem repartidos com os pobres. Também, por serem cristãos, estavam sujeitos a todo tipo de assédio da classe dominante do governo local: havia prisões, arrestamento de bens, tortura e morte. E os judeus - não cristãos - proprietários de muitos bens negligenciavam as obrigações que pesavam sobre eles (Lv 19:10; 23:22; Dt 15:1-18; 1Tm 6:9,17-19). Por causa disso, e pelas suas atitudes, eles eram frequentemente repreendidos por Deus (Am 2:4-8; Lc 6.24; 18.24,25).

Tiago diz que os ricos são como a flor da erva, aquela flor bonita que existe nas campinas, mas que com o calor do sol se secam, se murcham; assim, os ricos passarão na sua insignificância. Portanto, não cobicem as riquezas, diz Tiago para aqueles crentes pobres do primeiro século; não fiquem com inveja dos ricos porque eles passarão num instante e vocês são herdeiros do reino que Deus tem reservado àqueles que O amam.

A lição aqui é que não devemos permitir que as alterações da nossa situação financeira influenciem o nosso compromisso com Deus. Se somos pobres, se temos uma condição humilde, gloriemo-nos nisso, demos graças a Deus por isso. Contudo, se temos condição de progredir, que o façamos; mas se não, lembremos que Deus nos tem reservado um tesouro ainda muito maior e infinitamente muito melhor. E se temos alguma riqueza material aqui neste mundo, lembremos que ela é passageira! Recentemente, o mundo passou por uma crise financeira, que veio de repente, de um dia para o outro muitos milionários ficaram na miséria, entre eles cristãos. Nos Estados Unidos, pessoas venderam suas mansões por míseros dólares, mansões que valiam milhões de dólares, para ter alguma coisa para sobreviver. O mundo está cheio de histórias de pessoas que eram riquíssimas, eram tranquilas financeiramente, mas que no dia seguinte amanheceram pobres sem absolutamente nada.
 

Se a nossa felicidade e estabilidade espiritual vão depender da oscilação da nossa situação financeira ou do sistema financeiro mundial, então nunca seremos cristãos perseverantes. Nós não devemos depender dessas coisas. Devemos, sim, colocar a nossa confiança em Deus e aguardar nEle e nEle ter o nosso conforto apenas. Esta é a orientação de Tiago.

3. Perante Deus, pobres e ricos são iguais. “O rico e o pobre se encontram; a todos o Senhor os fez”(Pv 22:2). “O que oprime o pobre insulta àquele que o criou, mas o que se compadece do necessitado o honra”(Pv 14:31). Não há predileção entre o rico e o pobre. Ambos foram criados por Deus. São gêmeos com aparências díspares.

Num texto que lembra bastante as denúncias dos profetas do Antigo Testamento, Tiago pronuncia julgamento sobre os ricos (Tg 5:1-6). E, da mesma forma que os “pobres” nos salmos, os cristãos devem olhar para o Senhor com paciência e perseverança, a fim de receberem livramento (Tg 5:7-11).

Contudo, nem Tiago nem os profetas condenam os ricos pelo simples fato de serem ricos. Tiago, por exemplo, enumera os pecados específicos pelos quais “o rico” será julgado: um egoísta acúmulo de dinheiro (Tg 5:2,3); luxo sem sentido (Tg 5:5); fraude contra o trabalhador (Tg 5:4); e perseguição ao justo (Tg 5:6). O fato de que Tiago não condena o rico, só porque ele é rico, provavelmente também é demonstrado em Tg 1:10,11, onde é possível que o “rico” seja um “irmão” em Cristo.

Portanto, jamais se pode avaliar a espiritualidade de uma pessoa pelo que ela possui de bens materiais. O pobre ao ser provado deve dizer: mas quão rico eu sou! O rico ao ser provado pelas glórias do mundo deve dizer: quão vulnerável eu sou! Cada um deve olhar para a sua vida na perspectiva da eternidade.

 II. DEUS SÓ FAZ O BEM (Tg 1:16,17)

1. Não erreis (Tg 1:16). “Não erreis, meus amados irmãos“. Este versículo atua como uma transição entre Tg 1:12-15 e 17-18. Atribuir a Deus o intento maligno de tentar as pessoas é um assunto sério. Tiago quer ter a certeza de que seus leitores não se “enganarão” nesta questão. Muitas vezes, as pessoas que caem em pecado culpam Deus em vez de assumir a responsabilidade. Perguntam ao Criador: “Por que me fizeste assim?”. 

Proceder assim é enganar-se a si mesmo. Tudo o que Deus faz é bom. Na verdade, Ele é a fonte de “toda dádiva e todo dom perfeito” (Tg 1:17).

Como expusemos na Aula 02, de uma maneira que não sabemos explicar, Deus não é responsável pelos atos pecaminosos de suas criaturas; por isso, elas darão conta de seus atos pecaminosos junto a Deus; por isto, Deus não é injusto quando Ele as conduz para a condenação. A Bíblia responsabiliza o ser humano pelo pecado e pela decisão errada que ele comete. Não deixemos que a nossa fé venha esmaecer nem por um minuto, em pensar que a graça de Deus, que a soberania de Deus, nos dá uma desculpa para o pecado. Nós somos responsabilizados pelas Escrituras por todas as nossas ações. Portanto, “não erreis, meus amados irmãos”.

2. Toda boa dádiva e todo dom vêm de Deus. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto…” (Tg 1:17). Tudo o que Deus nos dá é bom. Toda boa dádiva procede das Suas mãos. Ele, muitas vezes, nos dá não o que pedimos, mas o que precisamos. Seriamos destruídos se Deus deferisse todas nossas orações. Muitas vezes pedimos uma pedra, pensando que estamos pedindo um pão; pedimos uma serpente, pensando que estamos pedindo um peixe. Deus, então, é tão bondoso, que não nos dá o que pedimos, mas o que necessitamos. Elizabeth George registra uma sublime mensagem sobre os paradoxos da oração:
Pedi a Deus força, para que eu pudesse alcançar êxito. Fui enfraquecido, para que pudesse aprender a humildade para obedecer…
Pedi saúde, para que eu pudesse fazer grandes coisas. Fiquei enfermo, para que pudesse fazer coisas melhores…
Pedi riquezas, para que eu pudesse ser feliz. Foi me dada a pobreza, para que eu pudesse ser sábio…
Pedi poder, para que eu pudesse ter o louvor dos homens. Recebi fraqueza, para que eu sentisse a necessidade de Deus…
Pedi todas as coisas, para que pudesse desfrutar a vida. Foi me dada a vida, para que eu pudesse desfrutar todas as coisas…
Não recebi nada do que pedi, mas tudo de que precisava.
Quase que a despeito de mim mesmo, minhas orações não respondidas foram respondidas. Eu sou, dentre todos os homens, o mais ricamente abençoado (George, Elizabeth. Tiago - Crescendo em sabedoria e fé).

3. A origem de tudo o que é bom está no Pai das luzes. ”Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação” (Tg 1:17). De Deus só pode vir o bem. Todo o bem que temos e experimentamos vem lá do alto, do Pai das luzes, que é imutável.

Note que Tiago chama Deus de “Pai das luzes“; na Bíblia, a palavra pai significa, por vezes, criador ou fonte (cf. Jó 38:28). Assim, Deus é o Criador ou a fonte das luzes. Mas o que são essas luzes? Sem dúvida, compreendem os corpos celestes: o sol, a lua e as estrelas (Gn 1:14-18; Sl 136:7). Deus é a fonte de toda forma de luz existente no universo, “em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”. Deus é diferente de todos os corpos celestes criados por Ele. Enquanto estes estão sempre mudando, Deus permanece imutável.

É possível que Tiago tenha pensado não apenas no brilho declinante do sol e das estrelas, mas também em sua mudança de posição em relação à Terra, à medida que esta realiza sua rotação.

Os corpos celestes são caracterizados por variações. A expressão “sombra de mudança” pode significar sombra provocada por uma mudança. Neste caso, talvez se refira às sombras que incidem sobre a Terra por seu movimento em torno do sol. Deus é totalmente diferente; nele não há variação, não há sombra provocada por mudança. A sua criação gira, move, muda de posição; todavia, o Pai das luzes é imutável no seu propósito de nos fazer o bem. Ele não muda, ou seja, não é aquele que um dia nos ama, outro dia está com raiva de nós e nos manda a tentação para nos destruir, não. Seu propósito é imutável. Nele não há variação, nem mudança de sombra como existe nos luzeiros que Ele criou.

III. PRIMÍCIAS DE DEUS ENTRE AS CRIATURAS (Tg 1:18)
“Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas”.

1. Algo que somente Deus faz. Um exemplo maravilhoso das boas coisas que Deus nos dá é o nascimento espiritual, a regeneração. Nós somos salvos porque Deus decidiu nos tornar “primícias das suas criaturas” (seus próprios filhos). O nosso nascimento espiritual não se dá por acidente, nem porque Deus tinha que fazê-lo. Ser gerado de novo (2Co 5:17) é um presente para todos os crentes (veja João 3:3-8; Rm 12;2; Ef 1:5; Tt 3:5; 1Pedro 1:3,23; 1João 3:9), é uma ação realizada exclusivamente por Deus através do Santo Espírito; Ele limpa o homem dos seus pecados (Is 1:18), dando-lhe perdão e implantando-lhe um novo caráter.

2. A Palavra da verdade. A Palavra da verdade é o Evangelho, as Boas Novas da salvação (Ef 1:13; Cl 1:5; 2Tm 2:15). Como um proeminente exemplo das boas dádivas divinas, Tiago menciona o fato de que Deus “nos gerou pela palavra da verdade”.

“Ele nos gerou“ é uma descrição do novo nascimento. Por meio do nascimento espiritual, nos tornamos seus filhos. Isto Ele fez a partir de sua determinação espontânea e gratuita, “segundo o seu querer”. Ou seja, Ele não foi obrigado a nos salvar por algum mérito nosso. Ele nos salvou segundo o seu livre querer. Não tínhamos como merecer, conquistar e nem comprar o amor de Deus por nós. Ele o expressou de forma inteiramente voluntário. Que motivo extraordinário de adoração!

O instrumento através do qual Deus realiza este nascimento espiritual é o Evangelho, a Palavra da verdade. Fomos gerados pela Palavra da Verdade, que salva a nossa alma (Tg 1:21). Assim como o nascimento natural vem pelo relacionamento do pai e da mãe, o nascimento espiritual vem por meio da Palavra e do Espírito (1Pedro 1:23). As Escrituras Sagradas, expressas na forma oral ou escrita, participam de todas as conversões autênticas. Sem a Bíblia não conheceríamos o caminho para a salvação. Aliás, nem saberíamos que Deus nos oferece a salvação!

Assim, a despeito de todas as circunstâncias difíceis da vida, podemos aplicar essa verdade afirmando que somos filhos de Deus, as primícias entre as criaturas do Senhor. Os destinatários da Epístola de Tiago, que sofriam grandes provações e tentações, precisavam saber dessa verdade.
3. O propósito de Deus. Tiago diz que o principal propósito de Deus é fazer da pessoa regenerada primícias das suas criaturas - “… para que fôssemos como que primícias das suas criaturas”.

No Antigo Testamento, as primícias eram a colheita do melhor fruto (Lv 23:10,11; Êx 23:19; Dt 18:4). Os cristãos para os quais Tiago escreveu faziam parte dos primeiros convertidos da Dispersão cristã. Por certo, todos os cristãos são como que primícias das criaturas de Deus, mas a expressão aqui se refere, primeiramente, aos cristãos judeus para quem Tiago escreve.
No Antigo Testamento, as primícias eram oferecidas a Deus em gratidão por sua generosidade e em reconhecimento a tudo que vem dele e pertence a Ele. Assim, todos os cristãos devem se apresentar a Deus como sacrifícios vivos (Rm 12:1,2).

Tiago compara os destinatários originais de sua Epístola aos primeiros feixes de cereal da colheita de Cristo. Serão seguidos de outros ao longo dos séculos, mas foram separados como padrão para mostrar os frutos da nova criação. Um dia, o Senhor encherá toda a terra de outros como eles (Rm 8:19-23). A colheita completa se dará quando o Senhor Jesus voltar para reinar sobre a terra.

Apesar de Tiago 1:18 se referir, originalmente, aos cristãos do século I, todos nós que honramos o nome de Cristo podemos aplicar perfeitamente esta passagem à nossa vida.

CONCLUSÃO

Todo aquele que é gerado pela Palavra da verdade possui um comportamento irrefragável de um verdadeiro filho de Deus, diante de um mundo de tanta desigualdade em todas as áreas da vida. O seu relacionamento íntimo com Deus e a aplicação das Escrituras Sagradas à sua vida diária, faze-o suportar, com alegria, todas as situações adversas. Ele é “ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3:15). Ele écônscio do seu maior desafio: fazer o Evangelho ser conhecido num mundo dominado por relacionamentos distorcidos.

Subsídio para o Professor 



INTRODUÇÃO

A passagem de Tiago 1.9-16 nos conduz a um manancial de riquezas quanto à compreensão da posição do homem em relação ao seu semelhante bem como em relação ao próprio Deus. O texto coloca o pobre e o rico como absolutamente responsáveis e iguais diante de Deus, ao mesmo tempo em que reconhece a soberania divina e ainda a eqüidistância de Deus dos problemas e circunstâncias da vida cotidiana do homem. Procuremos, então, saber o que o Espírito Santo quer ensinar- nos através destes oito versículos da Epístola de Tiago.

POBRES E RICOS - COMO DEUS OS VÊEM

A pobreza e a riqueza, independentemente de suas origens, são fatos comuns à realidade da existência humana, Evidentemente nunca foi propósito de Deus que uns poucos retivessem consigo tanta fortuna, enquanto que a maioria das pessoas vive uma vida que abeira a extrema miséria. Então, de acordo com o ensino de Tiago, como Deus vê pobres e ricos? Tentaremos responder a esta questão analisando-a no contexto da Igreja.

1. O cristão pobre (v.9). O crente que vive com o mínimo necessário, e até mesmo aquele que vive sem condições de satisfazer as suas necessidades básicas mínimas, é instado pelo apóstolo: “Mas glorie-se o irmão abatido (pobre) na sua exaltação”.
Isto é: o cristão pobre deve fazer da sua posição em Cristo, uma fonte de gozo.

Uma vez que Deus não olha para o homem distinguindo-o por classe social qualquer, mas estabelece o seu valor intrínseco através da obra redentora efetuada por Jesus Cristo no Calvário, fica evidenciado que é pela sua identidade com Cristo que o cristão pobre se exalta, e nisto deve gloriar-se.

 
2. O cristão rico (v.10). Desde o princípio da Igreja tem havido entre seus membros aqueles que detêm maior riqueza material. Considerando a possibilidade dos mais ricos abandonarem a simplicidade do Evangelho, escrevendo a Timóteo recomenda o apóstolo Paulo: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos” (I Tm 6.17).

A este, manda o Espírito Santo através do apóstolo Tiago, que ele se glorie em seu abatimento (insignificância), porque o rico bem como a sua riqueza “passará como a flor da erva” (Tg 1.10).

3. A transitoriedade do rico e das riquezas (v.11). Parece que ao pobre ninguém precisa lembrar a sua necessidade de depender única e exclusivamente de Deus.  Nada tendo aqui, ele vive o antegozo de possuir um tesouro no Céu (Mt 6.19,20).

O rico, porém, precisa ser lembrado de que o vigor da vida perece, as rugas chegam com os anos, e de que, enfim, as riquezas terrenas de nada valem. Enquanto o vigor da vida não se esvai e a velhice não chega, aos irmãos abastados por dinheiro e outros bens, recomenda o Espírito Santo:  “Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna” (I Tm 6.18,19).

DEUS SÓ FAZ O BEM

O versículo 16 é com freqüência tratado como uma transição do pensamento dos versículos 13-14 para os versículos 17-18. A mudança é brusca: Não erreis. Não vagueiam tanto no seu pensamento a ponto de acreditar que qualquer provação ou tentação, com um propósito mal, vem de Deus. Deus somente dá o que é bom — e Ele é a Fonte de todas as coisas boas. Deus nos fez o tipo de pessoas que somos e quando a criação estava completa Ele viu que tudo “era muito bom” (Cii 131). Moffatt traduz a primeira parte do versículo 17 da seguinte maneira: “Tudo que recebemos é bom e todos os nossos dons são perfeitos”.

16_ Não vos enganeis, meus amados irmãos. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, 17_descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sobra de variação. Segundo a sua própria vontade, 18_ ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.

“Não vos enganeis” esta ligando duas idéias. Não se enganem, pensando que o pecado vem de Deus (vs. 13), pois dele só vem o bem, tanto que “ele nos gerou pela palavra da verdade” (vs. 18), e a partir do vs. 21 temos a apresentação do que seja a “palavra da verdade”.

Nosso ponto de partida, portanto, deve ser o vs. 13. Não nos enganemos, pensando que Deus nos conduz ao mal. Não nos desculpemos dos nossos pecados, colocando a culpa em Deus. Ele não tenta a ninguém. Dele só vem o que é bom e nunca o mal.

“Meus amados irmãos”. Apesar da advertência a ser feita, o tom é carinhoso. Tiago repreende sem ira, mas até com ternura. Uma lição que devemos aprender aqui é a tratar a todos com carinho, sem concordar com o erro.
Não lança duvidas sobre a conversão genuína dos cristãos daqueles dias, (muito menos hoje) embora percebesse que tinham caído em alguns erros doutrinários e práticos.

“Toda boa dádiva e todo som perfeito vêm do alto”. “Alto” é empregado aqui como substituição para “Deus”. Embora várias vezes Tiago use o nome de Deus na sua carta, era prática comum aos hebreus substituírem o nome divino por outra forma de expressão.

Além do termo “Alto” ser um sinônimo de Deus, outra consideração deve ser feita sobre o mesmo. Ele mostra a transcendência de Deus. Ele é o que esta lá em cima, em contraposição aos homens, que estão cá embaixo. Há uma diferença entre Deus e os homens. Em João 8:23, por exemplo, encontramos as seguintes palavras de Jesus: “Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.” Há uma diferença entre Jesus e seus opositores. A diferença moral, portanto, é acentuada pelo termo “Alto”.

Transcendência de Deus: É o Caráter do que está fora do alcance de nossa ação ou até de nosso pensamento.

• Ele é diferente e independente da sua criação (ver Êxodo 24.9-18; Isaías 6.1-3; 40.12-26; 55.8,9).

• Seu ser e sua existência são infinitamente maiores e mais elevados do que a ordem por Ele criada (1Reis 8.27; Isaías 66.1,2; Atos 17.24,25).

• Ele subsiste de modo absolutamente perfeito e puro, muito além daquilo que Ele criou. Ele mesmo é incriado e existe à parte da criação (ver 1Timóteo 6.16).

• A transcendência de Deus não significa, porém, que Ele não possa estar entre o seu povo como seu Deus (Levítico 26.11,12; Ezequiel 37.27; 43.7; 2Corintios 6.16).
 
“Boa dádiva... dom perfeito”. Os dois termos “dádiva , perfeito” são derivados, significa “dou, concedo, ofereço”. Parece mais uma repetição para enfatizar o argumento, uma forma de expressar, do que propriamente duas realidades distintas. O ensino de Tiago é que Deus dá boas coisas ao seu povo. Tudo o que é bom vem de Deus. Dele não nos vem o mal, a tentação. Vem o bem, que está no vs. 18.

“Descendo do Pai das luzes”. O dom vem dele, descendo, para nós. Uma conclusão lógica, já que ele é lá do alto e nós somos cá de baixo.

A figura de Deus como luz é comum, tanto no Velho Testamento quanto no Novo Testamento. No Salmo 27:1 “O Senhor é a minha luz e a minha salvação...”, Em João 1:5 lemos que “Deus é luz”. O Salvador também aplicou a si a significativa figura: João 8:12 “Eu sou a luz do mundo; quem me segue, de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida”.

Mas, Tiago ultrapassa esta metáfora, ele amplia e declara que Deus é “Pai das luzes”. A linguagem é alusiva a Deus como Criador dos luminosos, ensino que fica patente em Gênesis 1:14-18. Ele é Pai das coisas mais elevadas da criação, os astros. Os astros se localizam muito acima dos homens. Mas, quem os criou é maior do que os astros e está acima deles, por ser “o Pai das luzes”.

A Linguagem cosmológica e confirmada pelo final do vs. 17 “em quem não há mudança nem sobra de variação.” O Pai é imutável. Faça-se, porém, uma observação necessária: Não confundamos imutabilidade com imobilidade. Deus não muda seu caráter e sua essência, mas age de maneiras diferentes de como agiu no passado. Ele não esta preso a esquemas. Não há nele sombra de variação. Até os astros mudam.

Naqueles dias viam as luzes no céu brilharem, viam o sol nascer e se pôr, tendo o brilho diminuído durante o dia, viam as fases da lua. As luzes do firmamento mudavam, mas o Pai que os criou não muda nunca. É o mesmo sempre. Sempre é bom, Nunca deixará de ser bom e de dar boas coisas aos seus filhos.

Não é suficiente, porém, dizer que “toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto”. Qual é a evidência desta declaração? O que tem Tiago para apresentar como prova de sua afirmativa? A resposta está no vs. 18 “Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade...”. É o novo nascimento: “ele nos gerou”.

É oportuno observar que foi “segundo a sua própria vontade” que ele agiu. A salvação é produto do querer de Deus. É a sua vontade e o seu amor para conosco que estão como elementos motivadores da nossa salvação.

Não encontramos na Bíblia um Deus relutante aos apelos de um homem desesperado por uma salvação que lhe é negada. Desde o Éden encontramos um Deus que procura e um homem que se esconde. Deus quer o nosso bem. Foi o seu querer, a sua vontade, que o levou a salvar-nos.

Pelo seu querer, Deus “nos gerou”. Gerou significa literalmente “dou à luz” cujo sentido é “estou grávida”. A idéia de 1:18 é bastante curiosa. No processo de novo nascimento do cristão, Deus reúne em si tanto as funções masculinas como as femininas: “ele nos deu à luz”. Ele nos fez nascer espiritualmente porque assim o desejou.

Como fomos gerados? Qual o processo pelo qual se deu a gravidez e o parto do cristão? “Ele nos gerou pela palavra da verdade”. A mesma idéia encontramos em I Pedro 1:23, que diz: “tendo nascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece”.

Os termos variam, mas a idéia é a mesma. Em Tiago, temos “palavra da verdade”. Em Pedro temos “semente... incorruptível... palavra de Deus, a qual vive e permanece”. O que é “palavra da verdade” e “palavra de Deus”? É evidente que tanto Tiago, quanto Pedro está revelando aquilo que foi dito pelo Espírito Santo aos homens e que se completou com a vinda de Jesus Cristo, o clímax da revelação. A idéia de Cristo como o ápice da revelação é bem sustentada pelo autor de Hebreus, em 1:1, 2. Este conjunto é chamado por Tiago de “Lei da Liberdade” em Tiago 1:25 “...a lei perfeita, a da liberdade,” e 2:12 “...ser julgados pela lei da liberdade.” e de a “...lei real segundo a escritura” em Tiago 2:8.

A revelação completa de Deus ao homem traz a indicação de como se tornar livre.

Deus nos fez nascer pela palavra da verdade, “para que fossemos como que primícias das suas criaturas”. “Primícias” significam “primeiros”. Os cristãos nascidos pela palavra, são os primeiros? E isto significa que há outros? Quem são os segundos? São os gentios, aqueles que não têm o Senhor como seu Deus.

As primícias eram o principio da colheita que se oferecia a Deus. Deviam sempre ser o principio, porque este é o fundamento da mordomia. Deus deve ter prioridade. A Deus não se dá o resto nem o que sobeja. Assim sendo, os primeiros frutos eram consagrados a Deus, dados a ele. Em Levítico 27:28, 29 fala exatamente sobre os regulamentos sacerdotais, incluindo as ofertas ao Senhor.

E termina tratando das coisas consagradas ao Senhor. “28_Todavia, nenhuma coisa consagrada ao Senhor por alguém, daquilo que possui, seja homem, ou animal, ou campo da sua possessão, será vendido nem será remida; toda coisa consagrada será santíssima ao Senhor. 29_ Nenhuma pessoa que dentre os homens for devotada será resgatada; certamente será morta.”
O que a Deus fosse oferecido, seria dele, irremediavelmente dele. O texto do Livro de Deuteronômio 26:1-11 tratam do oferecimento das primícias. Dadas a Deus, passavam a ser dele. “10_E eis que agora te trago as primícias dos frutos da terra que tu, ó Senhor, me deste. Então as porás perante o Senhor teu Deus, e o adorarás; 11_e te alegrarás por todo o bem que o Senhor teu Deus te tem dado a ti e à tua casa, tu e o levita, e o estrangeiro que está no meio de ti.”

Cristo nos resgatou do poder do Inimigo e nos deu ao Pai. Somos propriedade divina. Não pertencemos mais ao poder das trevas. Somos de Deus. E não somos um presente dado de forma irrefletida e recebido de má vontade. Foi o querer de Deus que operou o processo de nosso novo nascimento. E foi sua revelação consumada em Jesus Cristo, numa sintonia entre as pessoas da divindade, que nos gerou. Por isso, tudo o que temos de bom, a começar da salvação e da comunhão, vem-nos de Deus. Ele nos ama e nos dá o que é bom.

PRIMICIAS D DEUS ENTRE AS CRIATURAS

Quando o autor menciona nos, a quem ele se refere: aos leitores em geral ou aos cristãos? Os comentaristas têm pontos de vista divergentes. A verdade é significativa em qualquer um dos casos.

Se entendermos nos como que significando homens criados à imagem de Deus, o significado é claro Deus nos fez da maneira que somos — segundo a sua vontade. A razão para nossa liberdade, provas, perplexidades e problemas morais envolvendo escolha é que deveríamos ser semelhantes a Ele — como primícias das suas criaturas. Ele nos criou com liberdade para escolher o mal ou com liberdade para escolher o bem para que fossemos em certo sentido os criadores do nosso próprio espírito, a glória coroada da sua palavra criativa (cf. Hb 11.3).

Podemos, no entanto, com sólidas evidências exegéticas entender nos como que referindo-se à Igreja cristã. Robertson coloca o seguinte título para esse versículo: “O Novo Nascimento”. Deus, que é nosso Pai por meio da criação, é também nosso Pai por meio da redenção. Homens redimidos do pecado são a glória coroada dos propósitos de Deus para a vida humana — “os primeiros espécimes da sua nova criação” (Philips). A palavra da verdade é a verdade do evangelho. Knowling vai mais adiante e afirma: “Não podemos esquecer que o nosso Senhor (Jo 17.17-19) fala da ‘palavra’ que é verdade, por meio da qual os discípulos devem ser santificados”. O propósito final de Deus é conduzir-nos à vitória por meio dos nossos testes para tornar-nos semelhante a Ele em santidade e amor.
 
CONCLUSÃO

Resumidamente, o ensino do apóstolo Tiago neste texto (1.9-16), consiste do seguinte:

1. O crente materialmente pobre tem uma posição elevada em Cristo. Por tudo que o crente, desprovido de bens materiais, tem em Cristo, há em seu coração motivos, mais que sobejos, para um viver feliz.

2. O crente materialmente abastado deve evitar a arrogância. O cristão que detém dinheiro, bens e prestígio social, jamais deve esquecer de que Deus o fez apenas mordomo e depositário do que tem. Deve lembrar-se sempre de que assim como é transitória a vida, passageiros são os bens que amealhou ao longo da sua curta e fatigosa existência.

3. Há grande fonte de felicidade em meio às tentações. Provado e aprovado pelo Senhor, no porvir o crente receberá a coroa da vida, por Deus prometida a todos quantos O amam.

4. A fonte de nossas tentações está em nós e não em Deus. As tentações morais que sofremos jamais deverão ser atribuídas a Deus como tropeço às nossas vidas. Deveríamos ter a sensibilidade e sinceridade de Paulo, e, assim como ele, confessarmos: “... vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros” (Rm 7.23).

Não obstante as dificuldades e complexidades das circunstâncias da vida podem bradar em tom de triunfo: “... graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (I Co 15.57).


 

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