TEXTO ÁUREO
“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da
incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1Pe
1.23).
VERDADE PRÁTICA
Somente aqueles que foram gerados pela Palavra da Verdade
são guiados pelo Espírito Santo.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Tiago 1.9-11,16-18
Introdução
Nesta Aula, trataremos de três assuntos importantes.
Primeiro - com base Tiago 1:9 - 11 -, trataremos sobre a forma como os cristãos
devem encarar a pobreza e a riqueza. Estas condições sociais são enfatizadas
por Tiago como circunstâncias transitórias da vida, como situações efêmeras, e
também como conjunturas em meio às quais o cristão deve aprender a estar sempre
satisfeito. Os cristãos verdadeiros, gerados pela Palavra da verdade e por
estarem ligados pelo Evangelho, devem saber se relacionar com o outro
independente da sua condição econômica e social. Segundo - com base em Tg 1:16,17
-, trataremos acerca de Deus como a fonte de todo bem verdadeiro. Terceiro -
com base em Tg 1:18 -, trataremos acerca do maior de todos os dons que o Senhor
nos concede: o de sermos gerados de novo pelo poder da Palavra de Deus.
I. A
RELAÇÃO ENTRE OS POBRES E OS RICOS DA IGREJA (Tg 1:9-11)
A Bíblia jamais ensina que a riqueza em si é um mal. O
próprio Deus deu a Salomão tanto a riqueza como a sabedoria (1Rs 3:12,13). Tudo
depende de como a riqueza é adquirida, como é usada e qual o lugar que ela
ocupa no coração de quem a possui. À luz das Escrituras Sagradas, o pobre é
convidado a gloriar-se em Cristo pela sua nova posição de filho de Deus e pelo
que tem permanente no Céu; enquanto o rico, no encontro com o Evangelho de
Cristo, é convidado por Cristo a se humilhar para compreender a natureza
passageira da sua riqueza.
1. Os pobres na igreja do primeiro século. A história da
igreja e os estudos mostram que a igreja do primeiro século era composta de
irmãos de condição muito pobre financeiramente. A maioria vinha das classes
mais humildes da sociedade; havia ricos, mas poucos. Se Tiago está escrevendo
para cristãos judeus na Palestina e Síria, muitos deles, ou quem sabe todos,
deviam ser pobres. Temos noticias de uma grande fome que aconteceu por volta
daquela época, e é possível que os cristãos, que padeciam no ostracismo, tenham
sofrido de modo particularmente severo (veja Atos 11:28,29).
A pobreza, a carência, é uma das situações na vida em que o
cristão é muito tentado. Ele é tentado pela falta daquilo que lhe é essencial
para sua subsistência; ele também é tentado pela cobiça, pela inveja, pelo
ressentimento ao ver outras pessoas receberem aquilo que ele não tem e não pode
ter. Então, o irmão carente - materialmente falando - é muito provado por causa
de sua situação.
A orientação de Tiago em 1:9 é que o cristão, cuja posição
social e econômica é realmente baixa, deve gloriar-se na sua dignidade -
“glorie-se na sua dignidade” (Tg 1:9) -, ou seja, não é pecado ser pobre,
embora as igrejas neopentecostais ensinam que a vontade de Deus é que nós
sejamos ricos e prósperos financeiramente. Este ensino é falso; não há em lugar
nenhum do Novo Testamento esse tipo de ensino. Uma pessoa pode ser pobre e
digna, especialmente se ela é cristã, se ela ama a Deus; se ela é discípula de
Jesus Cristo, existe uma certa dignidade nisso. É claro que o “gloriar-se“,
neste contexto, não significa a vanglória arrogante de alguém considerada
poderosa, mas o alegre orgulho possuído pela pessoa que valoriza aquilo que
Deus valoriza.
A palavra “dignidade” (”exaltação”, ARC) é usada em outros
lugares do Novo Testamento como descrição do reino celestial ao qual Cristo foi
elevado (Ef 4:8) e de onde desce o Espírito Santo (Lc 24:49). Pela fé, agora os
crentes pertencem ao reino celestial como cidadãos (Fp 3:20) e também aguardam
do Céu o Senhor Jesus, que transformará o “nosso corpo de humilhação” em “corpo
da sua glória” (Fp 3:21). Podemos afirmar, então, que “dignidade” inclui o gozo
atual que o crente tem em seu “status” espiritual exaltado e também a esperança
de participar do glorioso e eterno reino de Cristo.
É justamente esta combinação do “status” atual e da herança
futura que Tiago destaca em Tiago 2.5: “Não escolheu Deus os que para o mundo
são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos
que o amam?“. É claro que Tiago não é da Teologia da Libertação, que diz que
Deus fez uma opção preferencial pelos pobres; aqui, ele está constatando uma
realidade de que através da história o número de cristãos que vem das camadas
mais humildes da sociedade é muito maior do que aqueles que vieram de entre os
ricos, nobres, poderosos, influentes, intelectuais e os fazedores de opiniões
deste mundo. É só ler a história da igreja que veremos que isso é uma verdade.
Então há uma dignidade que os irmãos humildes se lembrem disso, e que Deus os
recebe em seu reino.
2. Os ricos na igreja Antiga. ”E o rico, na sua
insignificância, porque ele passará como a flor da erva“(Tg 1:10). No início
existiam poucos ricos na igreja; muitos que eram detentores de posses vendiam
suas propriedades para serem repartidos com os pobres. Também, por serem
cristãos, estavam sujeitos a todo tipo de assédio da classe dominante do
governo local: havia prisões, arrestamento de bens, tortura e morte. E os
judeus - não cristãos - proprietários de muitos bens negligenciavam as
obrigações que pesavam sobre eles (Lv 19:10; 23:22; Dt 15:1-18; 1Tm 6:9,17-19).
Por causa disso, e pelas suas atitudes, eles eram frequentemente repreendidos
por Deus (Am 2:4-8; Lc 6.24; 18.24,25).
Tiago diz que os ricos são como a flor da erva, aquela flor
bonita que existe nas campinas, mas que com o calor do sol se secam, se
murcham; assim, os ricos passarão na sua insignificância. Portanto, não cobicem
as riquezas, diz Tiago para aqueles crentes pobres do primeiro século; não
fiquem com inveja dos ricos porque eles passarão num instante e vocês são
herdeiros do reino que Deus tem reservado àqueles que O amam.
A lição aqui é que não devemos permitir que as alterações da
nossa situação financeira influenciem o nosso compromisso com Deus. Se somos
pobres, se temos uma condição humilde, gloriemo-nos nisso, demos graças a Deus
por isso. Contudo, se temos condição de progredir, que o façamos; mas se não,
lembremos que Deus nos tem reservado um tesouro ainda muito maior e
infinitamente muito melhor. E se temos alguma riqueza material aqui neste
mundo, lembremos que ela é passageira! Recentemente, o mundo passou por uma
crise financeira, que veio de repente, de um dia para o outro muitos milionários
ficaram na miséria, entre eles cristãos. Nos Estados Unidos, pessoas venderam
suas mansões por míseros dólares, mansões que valiam milhões de dólares, para
ter alguma coisa para sobreviver. O mundo está cheio de histórias de pessoas
que eram riquíssimas, eram tranquilas financeiramente, mas que no dia seguinte
amanheceram pobres sem absolutamente nada.
Se a nossa felicidade e estabilidade espiritual vão depender
da oscilação da nossa situação financeira ou do sistema financeiro mundial,
então nunca seremos cristãos perseverantes. Nós não devemos depender dessas
coisas. Devemos, sim, colocar a nossa confiança em Deus e aguardar nEle e nEle
ter o nosso conforto apenas. Esta é a orientação de Tiago.
3. Perante Deus, pobres e ricos são iguais. “O rico e o
pobre se encontram; a todos o Senhor os fez”(Pv 22:2). “O que oprime o pobre
insulta àquele que o criou, mas o que se compadece do necessitado o honra”(Pv
14:31). Não há predileção entre o rico e o pobre. Ambos foram criados por Deus.
São gêmeos com aparências díspares.
Num texto que lembra bastante as denúncias dos profetas do
Antigo Testamento, Tiago pronuncia julgamento sobre os ricos (Tg 5:1-6). E, da
mesma forma que os “pobres” nos salmos, os cristãos devem olhar para o Senhor
com paciência e perseverança, a fim de receberem livramento (Tg 5:7-11).
Contudo, nem Tiago nem os profetas condenam os ricos pelo
simples fato de serem ricos. Tiago, por exemplo, enumera os pecados específicos
pelos quais “o rico” será julgado: um egoísta acúmulo de dinheiro (Tg 5:2,3);
luxo sem sentido (Tg 5:5); fraude contra o trabalhador (Tg 5:4); e perseguição
ao justo (Tg 5:6). O fato de que Tiago não condena o rico, só porque ele é
rico, provavelmente também é demonstrado em Tg 1:10,11, onde é possível que o
“rico” seja um “irmão” em Cristo.
Portanto, jamais se pode avaliar a espiritualidade de uma
pessoa pelo que ela possui de bens materiais. O pobre ao ser provado deve
dizer: mas quão rico eu sou! O rico ao ser provado pelas glórias do mundo deve
dizer: quão vulnerável eu sou! Cada um deve olhar para a sua vida na
perspectiva da eternidade.
II. DEUS SÓ FAZ O BEM (Tg 1:16,17)
1. Não erreis (Tg 1:16). “Não erreis, meus amados irmãos“.
Este versículo atua como uma transição entre Tg 1:12-15 e 17-18. Atribuir a
Deus o intento maligno de tentar as pessoas é um assunto sério. Tiago quer ter
a certeza de que seus leitores não se “enganarão” nesta questão. Muitas vezes,
as pessoas que caem em pecado culpam Deus em vez de assumir a responsabilidade.
Perguntam ao Criador: “Por que me fizeste assim?”.
Proceder assim é enganar-se
a si mesmo. Tudo o que Deus faz é bom. Na verdade, Ele é a fonte de “toda
dádiva e todo dom perfeito” (Tg 1:17).
Como expusemos na Aula 02, de uma maneira que não sabemos
explicar, Deus não é responsável pelos atos pecaminosos de suas criaturas; por
isso, elas darão conta de seus atos pecaminosos junto a Deus; por isto, Deus
não é injusto quando Ele as conduz para a condenação. A Bíblia responsabiliza o
ser humano pelo pecado e pela decisão errada que ele comete. Não deixemos que a
nossa fé venha esmaecer nem por um minuto, em pensar que a graça de Deus, que a
soberania de Deus, nos dá uma desculpa para o pecado. Nós somos
responsabilizados pelas Escrituras por todas as nossas ações. Portanto, “não
erreis, meus amados irmãos”.
2. Toda boa dádiva e todo dom vêm de Deus. “Toda boa dádiva
e todo dom perfeito vêm do alto…” (Tg 1:17). Tudo o que Deus nos dá é bom. Toda
boa dádiva procede das Suas mãos. Ele, muitas vezes, nos dá não o que pedimos,
mas o que precisamos. Seriamos destruídos se Deus deferisse todas nossas
orações. Muitas vezes pedimos uma pedra, pensando que estamos pedindo um pão;
pedimos uma serpente, pensando que estamos pedindo um peixe. Deus, então, é tão
bondoso, que não nos dá o que pedimos, mas o que necessitamos. Elizabeth George
registra uma sublime mensagem sobre os paradoxos da oração:
Pedi a Deus força, para que eu pudesse alcançar êxito. Fui
enfraquecido, para que pudesse aprender a humildade para obedecer…
Pedi saúde, para que eu pudesse fazer grandes coisas. Fiquei
enfermo, para que pudesse fazer coisas melhores…
Pedi riquezas, para que eu pudesse ser feliz. Foi me dada a
pobreza, para que eu pudesse ser sábio…
Pedi poder, para que eu pudesse ter o louvor dos homens.
Recebi fraqueza, para que eu sentisse a necessidade de Deus…
Pedi todas as coisas, para que pudesse desfrutar a vida. Foi
me dada a vida, para que eu pudesse desfrutar todas as coisas…
Não recebi nada do que pedi, mas tudo de que precisava.
Quase que a despeito de mim mesmo, minhas orações não
respondidas foram respondidas. Eu sou, dentre todos os homens, o mais ricamente
abençoado (George, Elizabeth. Tiago - Crescendo em sabedoria e fé).
3. A origem de tudo o que é bom está no Pai das luzes. ”Toda
boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem
não há mudança, nem sombra de variação” (Tg 1:17). De Deus só pode vir o bem.
Todo o bem que temos e experimentamos vem lá do alto, do Pai das luzes, que é
imutável.
Note que Tiago chama Deus de “Pai das luzes“; na Bíblia, a
palavra pai significa, por vezes, criador ou fonte (cf. Jó 38:28). Assim, Deus
é o Criador ou a fonte das luzes. Mas o que são essas luzes? Sem dúvida,
compreendem os corpos celestes: o sol, a lua e as estrelas (Gn 1:14-18; Sl
136:7). Deus é a fonte de toda forma de luz existente no universo, “em quem não
pode existir variação ou sombra de mudança”. Deus é diferente de todos os
corpos celestes criados por Ele. Enquanto estes estão sempre mudando, Deus
permanece imutável.
É possível que Tiago tenha pensado não apenas no brilho
declinante do sol e das estrelas, mas também em sua mudança de posição em
relação à Terra, à medida que esta realiza sua rotação.
Os corpos celestes são caracterizados por variações. A
expressão “sombra de mudança” pode significar sombra provocada por uma mudança.
Neste caso, talvez se refira às sombras que incidem sobre a Terra por seu
movimento em torno do sol. Deus é totalmente diferente; nele não há variação,
não há sombra provocada por mudança. A sua criação gira, move, muda de posição;
todavia, o Pai das luzes é imutável no seu propósito de nos fazer o bem. Ele
não muda, ou seja, não é aquele que um dia nos ama, outro dia está com raiva de
nós e nos manda a tentação para nos destruir, não. Seu propósito é imutável.
Nele não há variação, nem mudança de sombra como existe nos luzeiros que Ele
criou.
III. PRIMÍCIAS DE DEUS ENTRE AS CRIATURAS (Tg 1:18)
“Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da
verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas”.
1. Algo que somente Deus faz. Um exemplo maravilhoso das
boas coisas que Deus nos dá é o nascimento espiritual, a regeneração. Nós somos
salvos porque Deus decidiu nos tornar “primícias das suas criaturas” (seus
próprios filhos). O nosso nascimento espiritual não se dá por acidente, nem
porque Deus tinha que fazê-lo. Ser gerado de novo (2Co 5:17) é um presente para
todos os crentes (veja João 3:3-8; Rm 12;2; Ef 1:5; Tt 3:5; 1Pedro 1:3,23;
1João 3:9), é uma ação realizada exclusivamente por Deus através do Santo
Espírito; Ele limpa o homem dos seus pecados (Is 1:18), dando-lhe perdão e
implantando-lhe um novo caráter.
2. A Palavra da verdade. A Palavra da verdade é o Evangelho,
as Boas Novas da salvação (Ef 1:13; Cl 1:5; 2Tm 2:15). Como um proeminente
exemplo das boas dádivas divinas, Tiago menciona o fato de que Deus “nos gerou
pela palavra da verdade”.
“Ele nos gerou“ é uma descrição do novo nascimento. Por meio
do nascimento espiritual, nos tornamos seus filhos. Isto Ele fez a partir de
sua determinação espontânea e gratuita, “segundo o seu querer”. Ou seja, Ele
não foi obrigado a nos salvar por algum mérito nosso. Ele nos salvou segundo o
seu livre querer. Não tínhamos como merecer, conquistar e nem comprar o amor de
Deus por nós. Ele o expressou de forma inteiramente voluntário. Que motivo
extraordinário de adoração!
O instrumento através do qual Deus realiza este nascimento
espiritual é o Evangelho, a Palavra da verdade. Fomos gerados pela Palavra da
Verdade, que salva a nossa alma (Tg 1:21). Assim como o nascimento natural vem
pelo relacionamento do pai e da mãe, o nascimento espiritual vem por meio da Palavra
e do Espírito (1Pedro 1:23). As Escrituras Sagradas, expressas na forma oral ou
escrita, participam de todas as conversões autênticas. Sem a Bíblia não
conheceríamos o caminho para a salvação. Aliás, nem saberíamos que Deus nos
oferece a salvação!
Assim, a despeito de todas as circunstâncias difíceis da
vida, podemos aplicar essa verdade afirmando que somos filhos de Deus, as
primícias entre as criaturas do Senhor. Os destinatários da Epístola de Tiago,
que sofriam grandes provações e tentações, precisavam saber dessa verdade.
3. O propósito de Deus. Tiago diz que o principal propósito
de Deus é fazer da pessoa regenerada primícias das suas criaturas - “… para que
fôssemos como que primícias das suas criaturas”.
No Antigo Testamento, as primícias eram a colheita do melhor
fruto (Lv 23:10,11; Êx 23:19; Dt 18:4). Os cristãos para os quais Tiago
escreveu faziam parte dos primeiros convertidos da Dispersão cristã. Por certo,
todos os cristãos são como que primícias das criaturas de Deus, mas a expressão
aqui se refere, primeiramente, aos cristãos judeus para quem Tiago escreve.
No Antigo Testamento, as primícias eram oferecidas a Deus em
gratidão por sua generosidade e em reconhecimento a tudo que vem dele e
pertence a Ele. Assim, todos os cristãos devem se apresentar a Deus como
sacrifícios vivos (Rm 12:1,2).
Tiago compara os destinatários originais de sua Epístola aos
primeiros feixes de cereal da colheita de Cristo. Serão seguidos de outros ao
longo dos séculos, mas foram separados como padrão para mostrar os frutos da
nova criação. Um dia, o Senhor encherá toda a terra de outros como eles (Rm
8:19-23). A colheita completa se dará quando o Senhor Jesus voltar para reinar
sobre a terra.
Apesar de Tiago 1:18 se referir, originalmente, aos cristãos
do século I, todos nós que honramos o nome de Cristo podemos aplicar
perfeitamente esta passagem à nossa vida.
CONCLUSÃO
Todo aquele que é gerado pela Palavra da verdade possui um
comportamento irrefragável de um verdadeiro filho de Deus, diante de um mundo
de tanta desigualdade em todas as áreas da vida. O seu relacionamento íntimo
com Deus e a aplicação das Escrituras Sagradas à sua vida diária, faze-o
suportar, com alegria, todas as situações adversas. Ele é “ciente de como se
deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte
da verdade” (1Tm 3:15). Ele écônscio do seu maior desafio: fazer o Evangelho
ser conhecido num mundo dominado por relacionamentos distorcidos.
Subsídio para o Professor
INTRODUÇÃO
A passagem de Tiago 1.9-16 nos conduz a um manancial de
riquezas quanto à compreensão da posição do homem em relação ao seu semelhante
bem como em relação ao próprio Deus. O texto coloca o pobre e o rico como
absolutamente responsáveis e iguais diante de Deus, ao mesmo tempo em que
reconhece a soberania divina e ainda a eqüidistância de Deus dos problemas e
circunstâncias da vida cotidiana do homem. Procuremos, então, saber o que o
Espírito Santo quer ensinar- nos através destes oito versículos da Epístola de
Tiago.
POBRES E RICOS - COMO DEUS OS VÊEM
A pobreza e a riqueza, independentemente de suas origens,
são fatos comuns à realidade da existência humana, Evidentemente nunca foi
propósito de Deus que uns poucos retivessem consigo tanta fortuna, enquanto que
a maioria das pessoas vive uma vida que abeira a extrema miséria. Então, de
acordo com o ensino de Tiago, como Deus vê pobres e ricos? Tentaremos responder
a esta questão analisando-a no contexto da Igreja.
1. O cristão pobre (v.9). O crente que vive com o mínimo
necessário, e até mesmo aquele que vive sem condições de satisfazer as suas
necessidades básicas mínimas, é instado pelo apóstolo: “Mas glorie-se o irmão
abatido (pobre) na sua exaltação”.
Isto é: o cristão pobre deve fazer da sua posição em Cristo,
uma fonte de gozo.
Uma vez que Deus não olha para o homem distinguindo-o por
classe social qualquer, mas estabelece o seu valor intrínseco através da obra
redentora efetuada por Jesus Cristo no Calvário, fica evidenciado que é pela
sua identidade com Cristo que o cristão pobre se exalta, e nisto deve
gloriar-se.
2. O cristão rico (v.10). Desde o princípio da Igreja tem
havido entre seus membros aqueles que detêm maior riqueza material.
Considerando a possibilidade dos mais ricos abandonarem a simplicidade do
Evangelho, escrevendo a Timóteo recomenda o apóstolo Paulo: “Manda aos ricos
deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das
riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas
gozarmos” (I Tm 6.17).
A este, manda o Espírito Santo através do apóstolo Tiago, que
ele se glorie em seu abatimento (insignificância), porque o rico bem como a sua
riqueza “passará como a flor da erva” (Tg 1.10).
3. A transitoriedade do rico e das riquezas (v.11). Parece
que ao pobre ninguém precisa lembrar a sua necessidade de depender única e
exclusivamente de Deus. Nada tendo aqui,
ele vive o antegozo de possuir um tesouro no Céu (Mt 6.19,20).
O rico, porém, precisa ser lembrado de que o vigor da vida
perece, as rugas chegam com os anos, e de que, enfim, as riquezas terrenas de
nada valem. Enquanto o vigor da vida não se esvai e a velhice não chega, aos
irmãos abastados por dinheiro e outros bens, recomenda o Espírito Santo: “Que façam bem, enriqueçam em boas obras,
repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um
bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna” (I Tm
6.18,19).
DEUS SÓ FAZ O BEM
O versículo 16 é com freqüência tratado como uma transição
do pensamento dos versículos 13-14 para os versículos 17-18. A mudança é brusca:
Não erreis. Não vagueiam tanto no seu pensamento a ponto de acreditar que
qualquer provação ou tentação, com um propósito mal, vem de Deus. Deus somente
dá o que é bom — e Ele é a Fonte de todas as coisas boas. Deus nos fez o tipo
de pessoas que somos e quando a criação estava completa Ele viu que tudo “era
muito bom” (Cii 131). Moffatt traduz a primeira parte do versículo 17 da
seguinte maneira: “Tudo que recebemos é bom e todos os nossos dons são
perfeitos”.
16_ Não vos enganeis, meus amados irmãos. Toda boa dádiva e
todo dom perfeito vem do alto, 17_descendo do Pai das luzes, em quem não há
mudança nem sobra de variação. Segundo a sua própria vontade, 18_ ele nos gerou
pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas
criaturas.
“Não vos enganeis” esta ligando duas idéias. Não se enganem,
pensando que o pecado vem de Deus (vs. 13), pois dele só vem o bem, tanto que
“ele nos gerou pela palavra da verdade” (vs. 18), e a partir do vs. 21 temos a
apresentação do que seja a “palavra da verdade”.
Nosso ponto de partida, portanto, deve ser o vs. 13. Não nos
enganemos, pensando que Deus nos conduz ao mal. Não nos desculpemos dos nossos
pecados, colocando a culpa em Deus. Ele não tenta a ninguém. Dele só vem o que
é bom e nunca o mal.
“Meus amados irmãos”. Apesar da advertência a ser feita, o
tom é carinhoso. Tiago repreende sem ira, mas até com ternura. Uma lição que
devemos aprender aqui é a tratar a todos com carinho, sem concordar com o erro.
Não lança duvidas sobre a conversão genuína dos cristãos
daqueles dias, (muito menos hoje) embora percebesse que tinham caído em alguns
erros doutrinários e práticos.
“Toda boa dádiva e todo som perfeito vêm do alto”. “Alto” é
empregado aqui como substituição para “Deus”. Embora várias vezes Tiago use o
nome de Deus na sua carta, era prática comum aos hebreus substituírem o nome
divino por outra forma de expressão.
Além do termo “Alto” ser um sinônimo de Deus, outra
consideração deve ser feita sobre o mesmo. Ele mostra a transcendência de Deus.
Ele é o que esta lá em cima, em contraposição aos homens, que estão cá embaixo.
Há uma diferença entre Deus e os homens. Em João 8:23, por exemplo, encontramos
as seguintes palavras de Jesus: “Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois
deste mundo, eu não sou deste mundo.” Há uma diferença entre Jesus e seus
opositores. A diferença moral, portanto, é acentuada pelo termo “Alto”.
Transcendência de Deus: É o Caráter do que está fora do
alcance de nossa ação ou até de nosso pensamento.
• Ele é diferente e independente da sua criação (ver Êxodo
24.9-18; Isaías 6.1-3; 40.12-26; 55.8,9).
• Seu ser e sua existência são infinitamente maiores e mais
elevados do que a ordem por Ele criada (1Reis 8.27; Isaías 66.1,2; Atos
17.24,25).
• Ele subsiste de modo absolutamente perfeito e puro, muito
além daquilo que Ele criou. Ele mesmo é incriado e existe à parte da criação
(ver 1Timóteo 6.16).
• A transcendência de Deus não significa, porém, que Ele não
possa estar entre o seu povo como seu Deus (Levítico 26.11,12; Ezequiel 37.27;
43.7; 2Corintios 6.16).
“Boa dádiva... dom perfeito”. Os dois termos “dádiva ,
perfeito” são derivados, significa “dou, concedo, ofereço”. Parece mais uma
repetição para enfatizar o argumento, uma forma de expressar, do que
propriamente duas realidades distintas. O ensino de Tiago é que Deus dá boas
coisas ao seu povo. Tudo o que é bom vem de Deus. Dele não nos vem o mal, a
tentação. Vem o bem, que está no vs. 18.
“Descendo do Pai das luzes”. O dom vem dele, descendo, para
nós. Uma conclusão lógica, já que ele é lá do alto e nós somos cá de baixo.
A figura de Deus como luz é comum, tanto no Velho Testamento
quanto no Novo Testamento. No Salmo 27:1 “O Senhor é a minha luz e a minha
salvação...”, Em João 1:5 lemos que “Deus é luz”. O Salvador também aplicou a
si a significativa figura: João 8:12 “Eu sou a luz do mundo; quem me segue, de
modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida”.
Mas, Tiago ultrapassa esta metáfora, ele amplia e declara
que Deus é “Pai das luzes”. A linguagem é alusiva a Deus como Criador dos
luminosos, ensino que fica patente em Gênesis 1:14-18. Ele é Pai das coisas
mais elevadas da criação, os astros. Os astros se localizam muito acima dos
homens. Mas, quem os criou é maior do que os astros e está acima deles, por ser
“o Pai das luzes”.
A Linguagem cosmológica e confirmada pelo final do vs. 17
“em quem não há mudança nem sobra de variação.” O Pai é imutável. Faça-se,
porém, uma observação necessária: Não confundamos imutabilidade com imobilidade.
Deus não muda seu caráter e sua essência, mas age de maneiras diferentes de
como agiu no passado. Ele não esta preso a esquemas. Não há nele sombra de
variação. Até os astros mudam.
Naqueles dias viam as luzes no céu brilharem, viam o sol
nascer e se pôr, tendo o brilho diminuído durante o dia, viam as fases da lua.
As luzes do firmamento mudavam, mas o Pai que os criou não muda nunca. É o
mesmo sempre. Sempre é bom, Nunca deixará de ser bom e de dar boas coisas aos
seus filhos.
Não é suficiente, porém, dizer que “toda boa dádiva e todo
dom perfeito vêm do alto”. Qual é a evidência desta declaração? O que tem Tiago
para apresentar como prova de sua afirmativa? A resposta está no vs. 18
“Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade...”. É o
novo nascimento: “ele nos gerou”.
É oportuno observar que foi “segundo a sua própria vontade”
que ele agiu. A salvação é produto do querer de Deus. É a sua vontade e o seu
amor para conosco que estão como elementos motivadores da nossa salvação.
Não encontramos na Bíblia um Deus relutante aos apelos de um
homem desesperado por uma salvação que lhe é negada. Desde o Éden encontramos
um Deus que procura e um homem que se esconde. Deus quer o nosso bem. Foi o seu
querer, a sua vontade, que o levou a salvar-nos.
Pelo seu querer, Deus “nos gerou”. Gerou significa
literalmente “dou à luz” cujo sentido é “estou grávida”. A idéia de 1:18 é
bastante curiosa. No processo de novo nascimento do cristão, Deus reúne em si
tanto as funções masculinas como as femininas: “ele nos deu à luz”. Ele nos fez
nascer espiritualmente porque assim o desejou.
Como fomos gerados? Qual o processo pelo qual se deu a
gravidez e o parto do cristão? “Ele nos gerou pela palavra da verdade”. A mesma
idéia encontramos em I Pedro 1:23, que diz: “tendo nascido, não de semente
corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e
permanece”.
Os termos variam, mas a idéia é a mesma. Em Tiago, temos
“palavra da verdade”. Em Pedro temos “semente... incorruptível... palavra de
Deus, a qual vive e permanece”. O que é “palavra da verdade” e “palavra de
Deus”? É evidente que tanto Tiago, quanto Pedro está revelando aquilo que foi
dito pelo Espírito Santo aos homens e que se completou com a vinda de Jesus
Cristo, o clímax da revelação. A idéia de Cristo como o ápice da revelação é
bem sustentada pelo autor de Hebreus, em 1:1, 2. Este conjunto é chamado por
Tiago de “Lei da Liberdade” em Tiago 1:25 “...a lei perfeita, a da liberdade,”
e 2:12 “...ser julgados pela lei da liberdade.” e de a “...lei real segundo a
escritura” em Tiago 2:8.
A revelação completa de Deus ao homem traz a indicação de
como se tornar livre.
Deus nos fez nascer pela palavra da verdade, “para que
fossemos como que primícias das suas criaturas”. “Primícias” significam
“primeiros”. Os cristãos nascidos pela palavra, são os primeiros? E isto significa
que há outros? Quem são os segundos? São os gentios, aqueles que não têm o
Senhor como seu Deus.
As primícias eram o principio da colheita que se oferecia a
Deus. Deviam sempre ser o principio, porque este é o fundamento da mordomia.
Deus deve ter prioridade. A Deus não se dá o resto nem o que sobeja. Assim
sendo, os primeiros frutos eram consagrados a Deus, dados a ele. Em Levítico
27:28, 29 fala exatamente sobre os regulamentos sacerdotais, incluindo as
ofertas ao Senhor.
E termina tratando das coisas consagradas ao Senhor.
“28_Todavia, nenhuma coisa consagrada ao Senhor por alguém, daquilo que possui,
seja homem, ou animal, ou campo da sua possessão, será vendido nem será remida;
toda coisa consagrada será santíssima ao Senhor. 29_ Nenhuma pessoa que dentre
os homens for devotada será resgatada; certamente será morta.”
O que a Deus fosse oferecido, seria dele, irremediavelmente
dele. O texto do Livro de Deuteronômio 26:1-11 tratam do oferecimento das
primícias. Dadas a Deus, passavam a ser dele. “10_E eis que agora te trago as
primícias dos frutos da terra que tu, ó Senhor, me deste. Então as porás
perante o Senhor teu Deus, e o adorarás; 11_e te alegrarás por todo o bem que o
Senhor teu Deus te tem dado a ti e à tua casa, tu e o levita, e o estrangeiro
que está no meio de ti.”
Cristo nos resgatou do poder do Inimigo e nos deu ao Pai.
Somos propriedade divina. Não pertencemos mais ao poder das trevas. Somos de
Deus. E não somos um presente dado de forma irrefletida e recebido de má
vontade. Foi o querer de Deus que operou o processo de nosso novo nascimento. E
foi sua revelação consumada em Jesus Cristo, numa sintonia entre as pessoas da
divindade, que nos gerou. Por isso, tudo o que temos de bom, a começar da
salvação e da comunhão, vem-nos de Deus. Ele nos ama e nos dá o que é bom.
PRIMICIAS D DEUS ENTRE AS CRIATURAS
Quando o autor menciona nos, a quem ele se refere: aos
leitores em geral ou aos cristãos? Os comentaristas têm pontos de vista
divergentes. A verdade é significativa em qualquer um dos casos.
Se entendermos nos como que significando homens criados à
imagem de Deus, o significado é claro Deus nos fez da maneira que somos —
segundo a sua vontade. A razão para nossa liberdade, provas, perplexidades e
problemas morais envolvendo escolha é que deveríamos ser semelhantes a Ele —
como primícias das suas criaturas. Ele nos criou com liberdade para escolher o
mal ou com liberdade para escolher o bem para que fossemos em certo sentido os
criadores do nosso próprio espírito, a glória coroada da sua palavra criativa
(cf. Hb 11.3).
Podemos, no entanto, com sólidas evidências exegéticas
entender nos como que referindo-se à Igreja cristã. Robertson coloca o seguinte
título para esse versículo: “O Novo Nascimento”. Deus, que é nosso Pai por meio
da criação, é também nosso Pai por meio da redenção. Homens redimidos do pecado
são a glória coroada dos propósitos de Deus para a vida humana — “os primeiros
espécimes da sua nova criação” (Philips). A palavra da verdade é a verdade do
evangelho. Knowling vai mais adiante e afirma: “Não podemos esquecer que o
nosso Senhor (Jo 17.17-19) fala da ‘palavra’ que é verdade, por meio da qual os
discípulos devem ser santificados”. O propósito final de Deus é conduzir-nos à
vitória por meio dos nossos testes para tornar-nos semelhante a Ele em
santidade e amor.
CONCLUSÃO
Resumidamente, o ensino do apóstolo Tiago neste texto
(1.9-16), consiste do seguinte:
1. O crente materialmente pobre tem uma posição elevada em
Cristo. Por tudo que o crente, desprovido de bens materiais, tem em Cristo, há
em seu coração motivos, mais que sobejos, para um viver feliz.
2. O crente materialmente abastado deve evitar a arrogância.
O cristão que detém dinheiro, bens e prestígio social, jamais deve esquecer de
que Deus o fez apenas mordomo e depositário do que tem. Deve lembrar-se sempre
de que assim como é transitória a vida, passageiros são os bens que amealhou ao
longo da sua curta e fatigosa existência.
3. Há grande fonte de felicidade em meio às tentações.
Provado e aprovado pelo Senhor, no porvir o crente receberá a coroa da vida,
por Deus prometida a todos quantos O amam.
4. A fonte de nossas tentações está em nós e não em Deus. As
tentações morais que sofremos jamais deverão ser atribuídas a Deus como tropeço
às nossas vidas. Deveríamos ter a sensibilidade e sinceridade de Paulo, e,
assim como ele, confessarmos: “... vejo nos meus membros outra lei, que batalha
contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está
nos meus membros” (Rm 7.23).
Não obstante as dificuldades e complexidades das
circunstâncias da vida podem bradar em tom de triunfo: “... graças a Deus que
nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (I Co 15.57).
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