TEXTO ÁUREO:
“Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação; na verdade, o espírito está pronto,. mas a carne é fraca” (Mt 26.4
1).
VERDADE PRÁTICA:
A tentação é permitida por Deus como prova da fé. Ela só pode ser
vencida mediante o poder o Espírito Santo operando no crente.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: TIAGO 1.2,3,12-16
INTRODUÇÃO
Desde o princípio, o Senhor tem permitido a seus servos
serem provados para que, como vencedores, sejam aprovados diante dos homens,
dos anjos, e do Diabo. É bem-aventurado quem, sendo tentado, permanece fiel a
Deus, tornando-se, assim, digno de receber a coroa da vida.
O QUE É A TENTAÇÃO
1. Conceito. Tentação é “ato ou efeito de tentar; disposição
de ânimo para a prática de coisas diferentes ou censuráveis” (Dicionário
Aurélio). Biblicamente, podemos dizer que é o convite ao pecado.
2. 0 significado na epístola. Em Tiago, tentações têm o
significado de perseguições, lutas e provações pelas quais o crente pode
passar.
ORIGEM DA TENTAÇÃO
A tentação tem três origens ou fontes:
1. Da parte da carne.
a) Tentação humana. A Bíblia nos diz que “não veio sobre vós
tentação, senão humana” (1 Co 10.13). Neste texto, podemos entender que
“tentação humana” quer dizer a que é própria da natureza carnal do homem (ver
Rm 7.5-8; G15.13,19). Ela tem seu aspecto mal, pernicioso, incitador ao pecado.
b) O significado da carne. A carne, é o “centro dos desejos
pecaminosos” (Rm 13.14; Gl 5.16,24). Dela vem o pecado e suas paixões (Rm 7.5;
Gi 5.17-21). Na carne não habita coisa boa (Rm 7.18). Devemos salientar que o
termo carne, aqui, não se refere ao corpo, que não tem nada de mal em si mesmo,
mas à natureza carnal, herdada de nossos pais. O corpo do crente é templo do
Espírito Santo (1 Co 6.19,20).
2. Da parte do mundo. O mundo, como fonte de tentação, não é
o mundo físico, criado por Deus, O Dicionário da Bíblia, de Davis, diz que “a
palavra mundo emprega-se freqüentemente para designar os seus habitantes”, como
em S19.8, Is 13.11 e J0 3.16.
O Dicionário Teológico (CPAD), referindo-se ao mundo, diz
que “No campo da teologia, porém, é o sistema que se opõe de forma persistente
e sistemática ao Reino de Deus”. João exorta a que não amemos “o mundo, nem o
que no mundo há”. “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1 Jo
2.15,16). Tudo isso é fonte de tentação.
3. Da parte do Diabo. E a fonte mais cruel da tentação. Seu
caráter é sempre destrutivo.
a) Jesus foi tentado. E a fonte mais terrível e avassaladora
da tentação. Dela, não escapou nem mesmo nosso Senhor Jesus Cristo. Após o
batismo em água, Ele foi conduzido “pelo Espírito para ser tentado pelo diabo”
(Mt 4.1; Mc 1.13; Lc 4.2). Foi o único que não caiu em pecado (Hb 4.15).
b) Homens de Deus foram tentados. Homens de Deus, do porte
de Abraão, Sansão, Davi, e tantos outros, foram tentados pelo Adversário
(Satanás) a fazerem o que não era da vontade de Deus, com sérios prejuízos para
suas vidas.
c) Os homens comuns são tentados. Os homens são tentados a
praticar toda espécie de males, crimes, violência, estupros, brigas, ciúmes,
guerras, mentiras, calúnias, roubos, etc.
d) Os crentes são tentados. Até os crentes em Jesus são
vítimas da ação do maligno, quando causam prejuízos à Igreja do Senhor, com
escândalos, calúnias, invejas, divisões, rebeliões, busca pelo poder,
politicagem religiosa, e tantas outras coisas ruins.
A Tentação não Vem de Deus (1.13)
As dificuldades da escolha moral trazem a “coroa da vida”
quando as enfrentamos com perseverança, mas elas também podem suscitar
perguntas na mente. Quando isso ocorre, passamos da área das provações para o
campo da tentação.
Tiago tem em mente um homem que busca uma desculpa pelos
seus fracassos em ser perseverante. Esse homem diz: “Essa tentação é pesada
demais para mim; a culpa é de Deus”. O autor deixa claro que nenhum homem que
sente um impulso de pecar deve dizer:
De Deus sou tentado (v. 13). Deus permite as provações para
tomar-nos fortes, mas Ele nunca nos incita a fazer o mal. Deus é um Deus santo;
seu plano de redenção foi planejado para destruir o pecado. Por causa da sua
natureza, Deus não pode ser tentado pelo mal; incitar uma das suas criaturas a
pecar seria uma violação do seu propósito ao enviar o seu único Filho. Deus
permite a possibilidade do mal nas suas formas atraentes no mundo moral, mas
Ele não quer que caiamos em tentação.
A Tentação Vem de Dentro (1.14)
Tiago conhecia os poderes sobrenaturais do mal que agiam no
mundo (cf. 3.6), mas aqui ele procura ressaltar o envolvimento e a
responsabilidade pessoal do homem ao cometer pecados. O engodo do mal está em
nossa própria natureza. Ele está de alguma forma entrelaçado com a nossa
liberdade. A questão é: “Será que eu preferiria ser livre, tentado e ter a
possibilidade de vitória ou ser um ‘bom’ robô?” O robô está livre de tentação,
mas ele também não conhece a dignidade da liberdade ou o desafio do conflito e
não conhece nada acerca da imensa alegria quando vencemos uma batalha.
Tiago diz que cada um
é atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Essa palavra epithumia
(“desejo”, RSV) pode ter um significado neutro, nem bom nem mal. Assim, H.
Orton Wiley escreve: “Todo apetite é instintivo e sem lógica. Ele não
identifica o erro, mas simplesmente anela pelo prazer. O apetite nunca se
controla, mas está sujeito ao controle. Por isso o apóstolo Paulo diz: ‘Antes,
subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu
mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado’ (1 Co 9.27)”. Este talvez
seja o sentido que tago emprega aqui.
No entanto, na maioria dos casos no Novo Testamento,
epithumia tem implicações maléficas. Se for o caso aqui, quando um homem é
seduzido para longe do caminho reto, isso ocorre por causa de um desejo errado.
Tasker escreve: “Este versículo, na verdade, confirma a doutrina do pecado
original. Tiago certamente teria concordado com a declaração de que ‘a
imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice’ (Gn 8.21).
Desejos concupiscentes, como nosso Senhor ensinou de maneira
tão clara (Mt 5.28), são pecaminosos mesmo quando ainda não se concretizaram em
ações lascivas”.
Se essa interpretação for verdadeira, há aqui mais uma
dimensão na origem da tentação. Desejos errados podem ser errados não somente
porque são incontrolados, mas porque, à parte da presença santificadora do
Espírito, eles são carnais.
O PROCESSO DA TENTAÇÃO
A tentação se constitui num processo, que tem os seguintes
passos:
1. Atração do desejo (v.14a). “Mas cada um é tentado, quando
atraído...” Primeiro, vem a atração pelos sentidos: visão (1 Jo 2.16); audição
(1 Co 15.33); olfato; gosto, e tato (Pv 6.17).
2. Engodo (isca). A pessoa é atraída, seduzida e “engodada
pela própria concupiscência” (v.14b).
3. Concepção do desejo (da concupiscência). Na mente, nos
pensamentos (cf. Mc 7.21-23), o desejo é concebido. Só se faz o que se pensa
(v.15a). Nesse ponto, ainda se pode evitar o pecado.
4. O pecado é gerado. “Depois, havendo a concupiscência
concebido, dá à luzo pecado” (v.15). Ainda na mente, já nasce o pecado. Alguém
pode adulterar só na mente (Mt 5.27,28).
5. A consumação do pecado (v.15b). “...e o pecado, sendo
consumado, gera a morte.” A morte, aqui, é espiritual. Nesse ponto, só há
solução se houver arrependimento, ainda, em vida. É importante entendermos esse
terrível processo, a fim de que nos resguardemos dele. Alguém já disse que
ninguém pode impedir que um pássaro voe sobre sua cabeça, mas pode impedi-lo de
fazer um ninho nela. Isso ilustra o processo da tentação. Esta, em si, não é
pecado. Pecado é praticar o que a tentação sugere.
DIFERENÇA ENTRE TENTAÇÃO E PROVAÇÃO
A tentação, conforme estudamos, é sempre uma indução ao mal,
ao pecado. A provação, no entanto, não tem esse sentido. Quando a Bíblia diz
que Deus tentou alguém, devemos entender que Deus o provou, e isso tem
objetivos muito elevados, conforme descrevemos a seguir. Tiago nos diz que
“Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser
tentado pelo mal e a ninguém tenta” (v.13).
Quando a Bíblia diz que alguém foi tentado por Deus, isso
pode ser entendido como provação. Abraão só foi considerado o pai de todos os
que crêem, porque creu e foi “tentado”, ou seja, “provado” por Deus (ver Gn
22.1-18). A prova da fé é essencial para “louvor, honra, e glória na revelação
de Jesus Cristo” (1 Pe 1.7).
Tiago exorta os crentes a terem “grande gozo”, quando caírem
em “várias tentações”, sabendo que “a prova da vossa fé produz a paciência”
(vv.2,3). Ele considera uma bem-aventurança o crente sofrer a tentação, porque,
quando for provado, receberá a coroa da vida (v.12).
O COMPORTAMENTO DO CRISTÃO FACE ÀS PROVAÇÕES
O apóstolo Tiago introduz a sua epístola, estabelecendo o
tipo de comportamento que o cristão deve ter face às tentações da vida, bem
como definindo os efeitos práticos das provações para a vida cristã. De acordo
com a sábia doutrina desse apóstolo do Senhor destacamos os seguintes fatos:
1. O crente deve encarar com gozo as tentações (Tg 1.2). De
modo enfático Tiago começa a sua epístola exortando a comunidade cristã para
que considere as provações como ocasião de regozijo. O imperativo tende
significa considerai ou entendei que assim é. A expressão grande gozo significa
nada menos do que alegria ou suprema alegria.
2. Através das tentações o crente é provado na fé (Tg 1.3).
Sobre isto escreveu o apóstolo Pedro: “Para que aprova da vossa fé, muito mais
preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e
honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo” (I Pe 1.7).
Só quando provada em meio às tentações e adversidades da
vida é que a fé se transforma em testemunho de fidelidade diante de Deus
3. A fé provada obra a paciência (Tg 1.3). Muitos crentes
oram pedindo paciência, como se esta fosse uma virtude comunicada direta e
exclusivamente por Deus. Com o fato de que a paciência é uma virtude aprendida,
resultante das provações da vida, concorda o apóstolo Paulo quando escreve:
“... a tribulação produz a paciência” (Rm 5.3). Portanto, que o crente não se
assuste ao ver multiplicado as suas tribulações enquanto ora pedindo paciência;
pois como já aprendemos, é pela tribulação que vem a paciência.
4. A paciência conduz o crente à perfeição (Tg 1.4). Provado
e aprovado por Deus, Davi pôde testemunhar da sua capacidade de esperar com
paciência no Senhor, em meio às circunstâncias e adversidades da vida (Sl
40.1-3). Mas, ao contrário do doce salmista de Israel, muitos crentes têm
perdido excelentes oportunidades de crescerem espiritualmente e de
desenvolverem o seu caráter em meio às provações pelas quais passam. De acordo
com o ensino de Paulo “a tribulação produz a paciência, e a paciência a
experiência, e a experiência a esperança” (Rm 5.3,4).
SABEDORIA FACE ÀS TENTAÇÕES E PROVAÇÕES
Se nos falta sabedoria para enfrentar as provações,
angústias e tentações do tempo presente deveram pedi-la, em oração, a Deus.
1. Falta-nos, às vezes, sabedoria para agir (Tg 1.5). Quem,
em várias ocasiões, não se viu diante de situações embaraçosas das quais não
sabia como sair? Quem, nalgum momento, não se viu preso por correntes de
angústias, ou frente a frente com alguma tentação humanamente invencível? Todos
nós, sem dúvida. É nesta hora que descobrimos a inutilidade do tempo e das
horas que deixamos passar sem estreitarmos os laços que nos unem a Deus - a
fonte de toda a ciência.
2. Deus está pronto a nos comunicar a Sua sabedoria (Tg
1.5). Uma vez que em Deus está a fonte de toda a ciência e sabedoria, só Ele é
capaz de concedê-la “liberalmente”, sem restrições, a tantos quantos a buscarem
sincera e submissamente. Só a sabedoria
que emana do alto, de Deus, é capaz de dar ao crente a inteligência necessária
em meio a todas as circunstâncias da vida.
“Porque o Senhor dá a sabedoria; da sua boca vem o
conhecimento e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os
retos; escudo é para os que caminham em sinceridade” (Pv 2.6,7).
3. Deus atende o apelo da fé (Tg 1.6). A verdadeira ciência
da vida é comunicada por Deus ao crente em atenção à sua atitude de fé. A vida
de fé é serena como uma piscina. Já “o que duvida é semelhante à onda do mar,
que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte” (Tg 1.6).
O homem incrédulo é, aqui, assemelhado ao mar de ondas
enfurecidas, e Tiago afirma que o mesmo não receberá do Senhor coisa alguma (Tg
1.7).
A fé é a moeda do cristão nas suas transações com o Céu;
qualquer outra moeda é falsa e de nenhum valor nos negócios do reino celestial.
4. Só o crente sincero tem a Vitória assegurada (Tg 1.8). O
homem de coração vacilante, dividido entre viver por fé e viver pelo que vêem
os seus olhos, é inconstante, inseguro em todos os seus caminhos. Ele anda como
se estivesse andando sobre areia movediça ou sobre um colchão de água. O medo é
o seu aqui e agora, e a incerteza o seu horizonte e futuro. Enquanto isso, “os
que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala, mas
permanece para sempre” (Sl 125.1).
SETE PASSOS PARA A VITÓRIA NA TENTAÇÃO
1. Saber utilizar a Palavra de Deus. Nosso Senhor Jesus
Cristo, quando foi tentado, não deu chance ao Diabo para conversar muito com
Ele. A cada insinuação do maligno, ele usava a “espada do Espírito, que é a
Palavra de Deus” (Ef 6.1 7b), dizendo: “Está escrito...” (Mt 4.4b, 7a, 10h).
Por isso, é preciso ler a Bíblia, para usar a Palavra na hora certa.
2. Através da oração. Jesus nos mandou orar sem cessar para
não cairmos em tentação (Lc 22.40; 1 Ts 5.17). A maioria dos crentes, hoje, não
ora. Certo pregador disse: “O Diabo ri da nossa sabedoria, zomba das nossas
pregações, mas treme diante de nossas orações”.
3. Através da vigilância. Jesus enfatizou a importância da
vigilância para não cairmos em tentação (cf. Mt 26.4 la).
4. Através da disciplina pessoal. Falando sobre o “atleta
cristão”, Paulo diz que “aquele que luta, de tudo se abstém” (1 Co 9.25a). Em
seguida, afirma: “Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que,
pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1
Co 9.27). Muitos caem, por exemplo, na tentação do sexo, porque não sabem
controlar seus instintos.
5. Resistindo ao Diabo. O inimigo sabe qual é o ponto fraco
de cada crente. Mas, com determinação e resistência, no Espírito, é possível
ser vitorioso (cf. 1 Pe 5.8,9; Tg 5.17). José, jovem hebreu, mesmo pagando
terrível preço, não se deixou vencer pelo pecado do adultério. Foi vencedor e
exaltado por Deus.
6. Buscando a santificação. É preciso que o crente viva a
separação integral para Deus (Hb 12.14; 1 Pe 1.15).
7. Ocupando a mente com as coisas espirituais. Isso se
consegue através da oração, jejum, estudo da Bíblia e leitura de bons livros;
servindo, evangelizando, louvando, participando da obra do Senhor, santificando
a mente, a vida e o corpo (ver 1 Ts 4.3-7).
CONCLUSÃO
A tentação, no seu sentido mais comum, é um processo
terrível, da parte do homem, do mundo e do Diabo, cuja finalidade é destruir a
fé, a santidade, a comunhão com Deus, levando o crente a pecar. Para vencer, é
preciso fazer como Jesus, que usou a “Espada do Espírito” — a Palavra. E
preciso usar as armas que Deus colocou à disposição de Seus servos. Em Cristo,
“somos mais que vencedores” (Rm 8.37).
Subsídio para o Professor
INTRODUÇÃO
Desde o princípio, o Senhor tem permitido a seus servos serem provados para que, como vencedores, sejam aprovados diante dos homens, dos anjos, e do Diabo. É bem-aventurado quem, sendo tentado, permanece fiel a Deus, tornando-se, assim, digno de receber a coroa da vida.
O QUE É A TENTAÇÃO
1. Conceito. Tentação é “ato ou efeito de tentar; disposição de ânimo para a prática de coisas diferentes ou censuráveis” (Dicionário Aurélio). Biblicamente, podemos dizer que é o convite ao pecado.
2. 0 significado na epístola. Em Tiago, tentações têm o significado de perseguições, lutas e provações pelas quais o crente pode passar.
ORIGEM DA TENTAÇÃO
A tentação tem três origens ou fontes:
1. Da parte da carne
a) Tentação humana. A Bíblia nos diz que “não veio sobre vós tentação, senão humana” (1 Co 10.13). Neste texto, podemos entender que “tentação humana” quer dizer a que é própria da natureza carnal do homem (ver Rm 7.5-8; G15.13,19). Ela tem seu aspecto mal, pernicioso, incitador ao pecado.
b) O significado da carne. A carne, é o “centro dos desejos pecaminosos” (Rm 13.14; Gl 5.16,24). Dela vem o pecado e suas paixões (Rm 7.5; Gi 5.17-21). Na carne não habita coisa boa (Rm 7.18). Devemos salientar que o termo carne, aqui, não se refere ao corpo, que não tem nada de mal em si mesmo, mas à natureza carnal, herdada de nossos pais. O corpo do crente é templo do Espírito Santo (1 Co 6.19,20).
2. Da parte do mundo O mundo, como fonte de tentação, não é o mundo físico, criado por Deus, O Dicionário da Bíblia, de Davis, diz que “a palavra mundo emprega-se freqüentemente para designar os seus habitantes”, como em S19.8, Is 13.11 e J0 3.16.
O Dicionário Teológico (CPAD), referindo-se ao mundo, diz que “No campo da teologia, porém, é o sistema que se opõe de forma persistente e sistemática ao Reino de Deus”. João exorta a que não amemos “o mundo, nem o que no mundo há”. “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1 Jo 2.15,16). Tudo isso é fonte de tentação.
3. Da parte do Diabo. E a fonte mais cruel da tentação. Seu caráter é sempre destrutivo.
a) Jesus foi tentado. E a fonte mais terrível e avassaladora da tentação. Dela, não escapou nem mesmo nosso Senhor Jesus Cristo. Após o batismo em água, Ele foi conduzido “pelo Espírito para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1; Mc 1.13; Lc 4.2). Foi o único que não caiu em pecado (Hb 4.15).
b) Homens de Deus foram tentados. Homens de Deus, do porte de Abraão, Sansão, Davi, e tantos outros, foram tentados pelo Adversário (Satanás) a fazerem o que não era da vontade de Deus, com sérios prejuízos para suas vidas.
c) Os homens comuns são tentados. Os homens são tentados a praticar toda espécie de males, crimes, violência, estupros, brigas, ciúmes, guerras, mentiras, calúnias, roubos, etc.
d) Os crentes são tentados. Até os crentes em Jesus são vítimas da ação do maligno, quando causam prejuízos à Igreja do Senhor, com escândalos, calúnias, invejas, divisões, rebeliões, busca pelo poder, politicagem religiosa, e tantas outras coisas ruins.
A Tentação não Vem de Deus (1.13)
As dificuldades da escolha moral trazem a “coroa da vida” quando as enfrentamos com perseverança, mas elas também podem suscitar perguntas na mente. Quando isso ocorre, passamos da área das provações para o campo da tentação.
Tiago tem em mente um homem que busca uma desculpa pelos seus fracassos em ser perseverante. Esse homem diz: “Essa tentação é pesada demais para mim; a culpa é de Deus”. O autor deixa claro que nenhum homem que sente um impulso de pecar deve dizer:
De Deus sou tentado (v. 13). Deus permite as provações para tomar-nos fortes, mas Ele nunca nos incita a fazer o mal. Deus é um Deus santo; seu plano de redenção foi planejado para destruir o pecado. Por causa da sua natureza, Deus não pode ser tentado pelo mal; incitar uma das suas criaturas a pecar seria uma violação do seu propósito ao enviar o seu único Filho. Deus permite a possibilidade do mal nas suas formas atraentes no mundo moral, mas Ele não quer que caiamos em tentação.
A Tentação Vem de Dentro (1.14)
Tiago conhecia os poderes sobrenaturais do mal que agiam no mundo (cf. 3.6), mas aqui ele procura ressaltar o envolvimento e a responsabilidade pessoal do homem ao cometer pecados. O engodo do mal está em nossa própria natureza. Ele está de alguma forma entrelaçado com a nossa liberdade. A questão é: “Será que eu preferiria ser livre, tentado e ter a possibilidade de vitória ou ser um ‘bom’ robô?” O robô está livre de tentação, mas ele também não conhece a dignidade da liberdade ou o desafio do conflito e não conhece nada acerca da imensa alegria quando vencemos uma batalha.
Tiago diz que cada um é atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Essa palavra epithumia (”desejo”, RSV) pode ter um significado neutro, nem bom nem mal. Assim, H. Orton Wiley escreve: “Todo apetite é instintivo e sem lógica. Ele não identifica o erro, mas simplesmente anela pelo prazer. O apetite nunca se controla, mas está sujeito ao controle. Por isso o apóstolo Paulo diz: ‘Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado’ (1 Co 9.27)”. Este talvez seja o sentido que tago emprega aqui.
No entanto, na maioria dos casos no Novo Testamento, epithumia tem implicações maléficas. Se for o caso aqui, quando um homem é seduzido para longe do caminho reto, isso ocorre por causa de um desejo errado. Tasker escreve: “Este versículo, na verdade, confirma a doutrina do pecado original. Tiago certamente teria concordado com a declaração de que ‘a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice’ (Gn 8.21).
Desejos concupiscentes, como nosso Senhor ensinou de maneira tão clara (Mt 5.28), são pecaminosos mesmo quando ainda não se concretizaram em ações lascivas”.Se essa interpretação for verdadeira, há aqui mais uma dimensão na origem da tentação. Desejos errados podem ser errados não somente porque são incontrolados, mas porque, à parte da presença santificadora do Espírito, eles são carnais.
O PROCESSO DA TENTAÇÃO
A tentação se constitui num processo, que tem os seguintes passos:
1. Atração do desejo (v.14a). ”Mas cada um é tentado, quando atraído…” Primeiro, vem a atração pelos sentidos: visão (1 Jo 2.16); audição (1 Co 15.33); olfato; gosto, e tato (Pv 6.17).
2. Engodo (isca). A pessoa é atraída, seduzida e “engodada pela própria concupiscência” (v.14b).
3. Concepção do desejo (da concupiscência). Na mente, nos pensamentos (cf. Mc 7.21-23), o desejo é concebido. Só se faz o que se pensa (v.15a). Nesse ponto, ainda se pode evitar o pecado.
4. O pecado é gerado. ”Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luzo pecado” (v.15). Ainda na mente, já nasce o pecado. Alguém pode adulterar só na mente (Mt 5.27,28).
5. A consumação do pecado (v.15b). ”…e o pecado, sendo consumado, gera a morte.” A morte, aqui, é espiritual. Nesse ponto, só há solução se houver arrependimento, ainda, em vida. É importante entendermos esse terrível processo, a fim de que nos resguardemos dele. Alguém já disse que ninguém pode impedir que um pássaro voe sobre sua cabeça, mas pode impedi-lo de fazer um ninho nela. Isso ilustra o processo da tentação. Esta, em si, não é pecado. Pecado é praticar o que a tentação sugere.
DIFERENÇA ENTRE TENTAÇÃO E PROVAÇÃO
A tentação, conforme estudamos, é sempre uma indução ao mal, ao pecado. A provação, no entanto, não tem esse sentido. Quando a Bíblia diz que Deus tentou alguém, devemos entender que Deus o provou, e isso tem objetivos muito elevados, conforme descrevemos a seguir. Tiago nos diz que “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta” (v.13). Quando a Bíblia diz que alguém foi tentado por Deus, isso pode ser entendido como provação. Abraão só foi considerado o pai de todos os que crêem, porque creu e foi “tentado”, ou seja, “provado” por Deus (ver Gn 22.1-18). A prova da fé é essencial para “louvor, honra, e glória na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1.7).
Tiago exorta os crentes a terem “grande gozo”, quando caírem em “várias tentações”, sabendo que “a prova da vossa fé produz a paciência” (vv.2,3). Ele considera uma bem-aventurança o crente sofrer a tentação, porque, quando for provado, receberá a coroa da vida (v.12).
O COMPORTAMENTO DO CRISTÃO FACE ÀS PROVAÇÕES
O apóstolo Tiago introduz a sua epístola, estabelecendo o tipo de comportamento que o cristão deve ter face às tentações da vida, bem como definindo os efeitos práticos das provações para a vida cristã. De acordo com a sábia doutrina desse apóstolo do Senhor destacamos os seguintes fatos:
1. O crente deve encarar com gozo as tentações (Tg 1.2). De modo enfático Tiago começa a sua epístola exortando a comunidade cristã para que considere as provações como ocasião de regozijo. O imperativo tende significa considerai ou entendei que assim é. A expressão grande gozo significa nada menos do que alegria ou suprema alegria.
2. Através das tentações o crente é provado na fé (Tg 1.3). Sobre isto escreveu o apóstolo Pedro: “Para que aprova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo” (I Pe 1.7).
Só quando provada em meio às tentações e adversidades da vida é que a fé se transforma em testemunho de fidelidade diante de Deus.
3. A fé provada obra a paciência (Tg 1.3). Muitos crentes oram pedindo paciência, como se esta fosse uma virtude comunicada direta e exclusivamente por Deus. Com o fato de que a paciência é uma virtude aprendida, resultante das provações da vida, concorda o apóstolo Paulo quando escreve: “… a tribulação produz a paciência” (Rm 5.3). Portanto, que o crente não se assuste ao ver multiplicado as suas tribulações enquanto ora pedindo paciência; pois como já aprendemos, é pela tribulação que vem a paciência.
4. A paciência conduz o crente à perfeição (Tg 1.4). Provado e aprovado por Deus, Davi pôde testemunhar da sua capacidade de esperar com paciência no Senhor, em meio às circunstâncias e adversidades da vida (Sl 40.1-3). Mas, ao contrário do doce salmista de Israel, muitos crentes têm perdido excelentes oportunidades de crescerem espiritualmente e de desenvolverem o seu caráter em meio às provações pelas quais passam. De acordo com o ensino de Paulo “a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança” (Rm 5.3,4).
SABEDORIA FACE ÀS TENTAÇÕES E PROVAÇÕES
Se nos falta sabedoria para enfrentar as provações, angústias e tentações do tempo presente deveram pedi-la, em oração, a Deus.
1. Falta-nos, às vezes, sabedoria para agir (Tg 1.5). Quem, em várias ocasiões, não se viu diante de situações embaraçosas das quais não sabia como sair? Quem, nalgum momento, não se viu preso por correntes de angústias, ou frente a frente com alguma tentação humanamente invencível? Todos nós, sem dúvida. É nesta hora que descobrimos a inutilidade do tempo e das horas que deixamos passar sem estreitarmos os laços que nos unem a Deus - a fonte de toda a ciência.
2. Deus está pronto a nos comunicar a Sua sabedoria (Tg 1.5). Uma vez que em Deus está a fonte de toda a ciência e sabedoria, só Ele é capaz de concedê-la “liberalmente”, sem restrições, a tantos quantos a buscarem sincera e submissamente. Só a sabedoria que emana do alto, de Deus, é capaz de dar ao crente a inteligência necessária em meio a todas as circunstâncias da vida.
“Porque o Senhor dá a sabedoria; da sua boca vem o conhecimento e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; escudo é para os que caminham em sinceridade” (Pv 2.6,7).
3. Deus atende o apelo da fé (Tg 1.6). A verdadeira ciência da vida é comunicada por Deus ao crente em atenção à sua atitude de fé. A vida de fé é serena como uma piscina. Já “o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte” (Tg 1.6).
O homem incrédulo é, aqui, assemelhado ao mar de ondas enfurecidas, e Tiago afirma que o mesmo não receberá do Senhor coisa alguma (Tg 1.7).
A fé é a moeda do cristão nas suas transações com o Céu; qualquer outra moeda é falsa e de nenhum valor nos negócios do reino celestial.
4. Só o crente sincero tem a Vitória assegurada (Tg 1.8). O homem de coração vacilante, dividido entre viver por fé e viver pelo que vêem os seus olhos, é inconstante, inseguro em todos os seus caminhos. Ele anda como se estivesse andando sobre areia movediça ou sobre um colchão de água. O medo é o seu aqui e agora, e a incerteza o seu horizonte e futuro. Enquanto isso, “os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala, mas permanece para sempre” (Sl 125.1).
SETE PASSOS PARA A VITÓRIA NA TENTAÇÃO
1. Saber utilizar a Palavra de Deus. Nosso Senhor Jesus Cristo, quando foi tentado, não deu chance ao Diabo para conversar muito com Ele. A cada insinuação do maligno, ele usava a “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Ef 6.1 7b), dizendo: “Está escrito…” (Mt 4.4b, 7a, 10h). Por isso, é preciso ler a Bíblia, para usar a Palavra na hora certa.
2. Através da oração. Jesus nos mandou orar sem cessar para não cairmos em tentação (Lc 22.40; 1 Ts 5.17). A maioria dos crentes, hoje, não ora. Certo pregador disse: “O Diabo ri da nossa sabedoria, zomba das nossas pregações, mas treme diante de nossas orações”.
3. Através da vigilância. Jesus enfatizou a importância da vigilância para não cairmos em tentação (cf. Mt 26.4 la).
4. Através da disciplina pessoal. Falando sobre o “atleta cristão”, Paulo diz que “aquele que luta, de tudo se abstém” (1 Co 9.25a). Em seguida, afirma: “Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1 Co 9.27). Muitos caem, por exemplo, na tentação do sexo, porque não sabem controlar seus instintos.
5. Resistindo ao Diabo. O inimigo sabe qual é o ponto fraco de cada crente. Mas, com determinação e resistência, no Espírito, é possível ser vitorioso (cf. 1 Pe 5.8,9; Tg 5.17). José, jovem hebreu, mesmo pagando terrível preço, não se deixou vencer pelo pecado do adultério. Foi vencedor e exaltado por Deus.
6. Buscando a santificação. É preciso que o crente viva a separação integral para Deus (Hb 12.14; 1 Pe 1.15).
7. Ocupando a mente com as coisas espirituais. Isso se consegue através da oração, jejum, estudo da Bíblia e leitura de bons livros; servindo, evangelizando, louvando, participando da obra do Senhor, santificando a mente, a vida e o corpo (ver 1 Ts 4.3-7).
CONCLUSÃO
A tentação, no seu sentido mais comum, é um processo terrível, da parte do homem, do mundo e do Diabo, cuja finalidade é destruir a fé, a santidade, a comunhão com Deus, levando o crente a pecar. Para vencer, é preciso fazer como Jesus, que usou a “Espada do Espírito” - a Palavra. E preciso usar as armas que Deus colocou à disposição de Seus servos. Em Cristo, “somos mais que vencedores” (Rm 8.37).
ESTUDO COMPLEMENTAR
O CRISTÃO DEVE PERMANECER FIEL NAS TENTAÇÕES = TIAGO 1: 12-17
O cristão que suporta com firmeza a provação torna-se digno de vitórias e admiração.
1:12 = Tiago inicia com uma bem-aventurança: Bem-aventurado o homem. A semelhança de Jesus em Mateus 5:3-12, pronuncia uma bem-aventurança sobre determinado grupo de pessoas (coisa que nos surpreende): todo aquele que suporta a provação. Não é meramente a pessoa que é provada e considerada feliz, ou abençoada, mas a pessoa que suporta a provação e permanece fiel.
Em 1:2-4 = diz Tiago que a provação produz perseverança; agora ele afirma que a perseverança produz a verdadeira bem-aventurança ou bênção. Entretanto, Tiago não é masoquista e, tampouco estóico, e não está ensinando que as provações são engraçadas, ou que devemos sentir alegria na dor. Ao contrário, salienta que as provações servem a um propósito, a prova experimental da realidade da fé, e que isso deveria prover à pessoa uma perspectiva de alegria profunda. Por causa das reações perante as provações, sabemos se uma pessoa é verdadeiramente fiel, e depois de ter passado na prova receberá a recompensa.A pessoa que passa pela prova é como a prata que passa pelo cadinho: depois da prova pode receber a marca de pureza. Deus marca a pessoa “aprovada”; sua fé é comprovadamente sadia.
Tal pessoa receberá um galardão ou (como o expressa o termo grego) “a coroa da vida”. Essa ilustração refere-se ao julgamento final como se fora uma decisão de juiz, após uma corrida esportiva (cf. 2 Timóteo 4:8). O vencedor da corrida aproxima-se e recebe um laurel, uma coroa sobre a cabeça. Essa coroa é a própria vida (cf. Apocalipse 2:10), a qual é concedida não a uma única pessoa, mas a todas quantas ter¬minam a carreira (suportam a provação), visto que o Senhor prometeu aos que o amam tal recompensa eterna. O preço da salvação é único: o amor fiel e incessante ao Senhor. Tendo em mente tal perspectiva, os crentes podem considerar-se verdadeiramente felizes, afortunados, a despeito das circunstâncias externas, visto que já estão experimentando a recompensa.
1:13 = Há outra reação possível diante da provação: a pessoa pode entrar em colapso e fracassar. É natural que o indivíduo prestes a “desistir” não queira assumir nenhuma responsabilidade pelo seu fracasso, visto que tal desistência é totalmente incoerente com a auto-imagem de um “bom cristão”, pelo que a pessoa racionaliza assim: “A prova foi difícil demais; a culpa é de Deus, por enviar-me uma prova dificílima”.
Tiago nos adverte contra esse tipo de reação: Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus. Essa conclusão exerceria forte impressão sobre os leitores de Tiago - uma congregação monoteísta. Porventura não é Deus soberano? Tiago recusa-se a responder a essa pergunta, visto que tal discussão obscureceria a verdadeira questão. Tal pessoa não quer uma compreensão maior, mas procura uma desculpa. Essa desculpa esfarrapada de que a tentação proveio de Deus não está no cerne da análise teológica, mas constitui um cabide em que se pendura a culpa; é, antes, uma acusação.
Tiago refuta essa acusação por dois motivos. Primeiro, “as pessoas más não deveriam colocar a Deus sob teste” (a frase assim traduzida: Deus não pode ser tentado pelo mal resulta de má compreensão do texto grego). Israel havia praticado isso muitas vezes (pelo menos dez vezes: Números 14:22); todas as vezes que o povo enfrentava o sofrimento, jogava a culpa sobre Deus, duvidando de sua vontade e de sua capacidade para ajudar seu povo. Todavia, assim respondia o Antigo Testamento: “Não tentarás o Senhor teu Deus, como o tentaste em Massa” (Deuteronômio 6:16). Os cristãos não devem cometer o mesmo erro que Israel cometera, ao testar o Senhor.
Em segundo lugar, Deus… a ninguém tenta. Deus não deseja o mal a ninguém; ele não é causador do mal; ele não tenta a ninguém no sentido que não procura prender ninguém numa armadilha. Tiago não dá prosseguimento à sua explicação, nem esclarece a questão da teodicéia (Filosofia, Termo cunhado por Leibniz (v. leibniziano) para designar a doutrina que procura conciliar a bondade e onipotência divinas com a existência do mal no mundo), já que disse o que lhe bastava para seus propósitos: você pode confiar em Deus. A causa do fracasso de alguém não se encontra em Deus.
1:14 = Alguém poderia esperar que Tiago continuasse seu raciocínio e lançasse a culpa sobre o diabo, mas ele não faz isso, embora acredite que Satanás desempenha um papel em nosso fracasso (veja Tiago 4:7). Em vez disso, assim escreve Tiago: mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. A essência real da tentação não está no exterior, isto é, “foi o diabo que me obrigou a fazer isso”, mas no interior. “Eu pequei… por minha própria culpa, por minha exclusiva culpa”, seria nossa única “desculpa”. Sejam quais forem as forças malignas que estabelecerem as circunstâncias externas, é a reação interna que as transforma em provação.
Tiago concorda plenamente com Paulo. Usando ilustrações de caça e pesca, segundo os termos do original grego (tentado e atraído e engodado), Tiago mostra a natureza sedutora da “isca”, aparentemente tão inofensiva, e demonstra os resultados desastrosos, revelando o sedutor no íntimo, a própria concupiscência. O termo que Paulo emprega para descrever isso é “pecado” ou “carne”, isto é, a natureza humana decaída. “Sou carnal, vendido como escravo ao pecado.” “Eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado” (Romanos 7:14, 25). Os desejos do ser humano são bons pela criação, porque conduzem a pessoa a usufruir a criação, a comer, a procriar etc, mas tais desejos se corromperam, de modo que agora induzem à concupiscência, ao roubo e à fornicação. A situação externa de modo algum poderia influir nas pessoas, a menos que uma tendência interna, a de sua própria natureza, não estivesse seduzindo: “vá em frente, vamos, você merece; vai ser muito bom”.
1:15 = O desejo da pessoa que cede aos atrativos é retratado aqui como uma prostituta ou adúltera, e não como armadilha ou anzol.A concupiscência usou com muita malícia suas artimanhas, acabou engravidando e agora carrega no ventre um feto ilegítimo, o fruto de suas maquinações. Entretanto, “ninguém precisa ficar sabendo”, murmura a concupiscência a seu amante, ao companheiro ilegítimo. A defecção (Falta, desaparecimento.) íntima da vida de fé e de confiança jamais precisaria ser vista pelos outros. Todavia, o útero do coração não consegue reter o feto indefinidamente; a criatura concebida precisa vir à luz, e seu nome é pecado. Tiago conseguiu visualizar a doutrina que Jesus proclamou em Marcos 7:20-23: “do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições… a blasfêmia, a soberba, e a loucura”.
Essa cadeia formada de provação - concupiscência - pecado não termina ali; possui mais um elo, que se chama morte. Paulo conhecia essa verdade (Romanos 6:23), como também João a conhecia (1 João 1:16-17; 3:14), mas é Tiago que a descreve de modo mais vivido. A criatura adulterina não vai embora; em vez de partir, essa criatura bastarda atinge a maioridade e gera um filhote, um ser monstruoso, patogênico (Capaz de produzir doenças), indesejável - a morte. Aqui está o resultado de fracassar na prova. A pessoa está a meio caminho entre a concupiscência e o pecado, passa pela maturidade do pecado e chega à morte. A cadeia de elos mencionada por Paulo em Romanos 7:7-12 se reproduz aqui. Tiago não permite o engano íntimo. A morte é o fim da carreira do pecado. Há uma única forma de escapar, a qual o autor da carta nos descreve como sendo cadeia contrastante, nos versículos que se seguem (1:16-18).
1:16 = Não vos enganeis, meus amados irmãos. Não vos enganeis a respeito do quê? Seria o parágrafo anterior encerrado por este versículo, e teria relação com alguma crença segundo a qual a pessoa poderia lançar a culpa sobre Deus, ou abrigar a concupiscência, ou o pecado, sem que sobreviessem as más conseqüências? Ou será que esse versículo se refere ao engano sobre de onde vêm as provações (1:13)? Ou será que esse versículo é cabeçalho do parágrafo seguinte, referindo-se à falha em perceber que Deus nos dá o bem e nos traz salvação? Estrutural¬mente, a terceira opção é a preferível, porquanto o termo que designa os destinatários da carta, meus amados irmãos normalmente introduz um novo parágrafo.
Todavia, aqui funciona como versículo-dobradiça: ser enganado quanto a um daqueles itens é o mesmo que ser enganado em todos, visto que o parágrafo seguinte é apenas a negação do parágrafo anterior. Se alguém lançar a culpa em Deus quanto a uma provação, essa pessoa está imergindo no pecado e negando a bondade de Deus. Tiago acredita que seus leitores são crentes verdadeiros (irmãos), mas teme que se desviem da fé, o que fica implícito na exortação não vos enganeis; ele tem medo de que esses crentes possam cair no erro da dúvida quanto à bondade de Deus, o que poderia ser fatal à fé.
1:17 = Em contraste com o ponto de vista de Deus como emissário de provações e tentações, está a perspectiva de que Deus nos dá boas coisas: Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto. Trata-se de frase poética, e pode ser citação de algum provérbio bem conhecido, alterado por Tiago a fim de enfatizar a expressão lá do alto. Dizer que Deus dá essas boas dádivas naturalmente significa negar que dá coisas más, uma vez que são incompatíveis.
No entanto, Tiago pretende passar uma verdade mais profunda que “Deus é bom”. Já afirmou que Deus dá liberalmente a todos que lhe pedirem (1:5). O bem maior a ser pedido, dentro daquele contexto, é a sabedoria, que voltará a ser mencionada em 3:15, dessa vez em¬pregando a mesma expressão que ocorre aqui (do alto). Assim é que a melhor dádiva de todas, a que Tiago reiteradamente faz referência, é a sabedoria, que ajuda o crente na provação. Portanto, aqui está a mensagem mais importante: não é Deus quem envia a provação; ele envia o maravilhoso dom da sabedoria que nos capacita a resistir durante a provação. Deus nos dá o antídoto, não o veneno.
Além do mais, o caráter de Deus não está sujeito a mudanças. Ele é o Pai das luzes. Trata-se de uma referência à criação, e indica a extensão da bondade de Deus (enquanto o versículo seguinte refere-se à nova criação). Os luminares de Gênesis 1:18, a saber, o sol e a lua, foram colocados ali para o bem da humanidade. Todavia, esse fato por sua vez sugere um contraste. O sol e a luz são notórios pela mudança, mas Tiago refere-se a Deus dizendo que nele não há mudança nem sombra de variação. O texto, embora a linguagem de Tiago seja um tanto obscura, trata-se de uma declaração de natureza astronômica, em referência à falta de constância dos “luminares” celestes. Deus, todavia, em contraposição a essas luminárias celestes, não tem eclipse, não se ergue para logo sumir no horizonte, não tem fases e nenhuma obscuridade devida a nuvens. O caráter de Deus é absolutamente constante, digno de confiança, em quem se pode depositar toda a fé.
1:18 = Como prova da boa vontade de Deus - como se a criação não fosse suficiente - assim diz Tiago: Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. Em primeiro lugar, o que Deus fez, ele o fez por sua decisão. A ação de Deus não foi acidental, nem resposta a uma necessidade. Ele fez tudo segundo sua vontade, sua decisão, pelo que sua ação demonstra a essência de seu caráter.
Em segundo lugar, ele nos gerou. Por um lado, esta ação é criadora. O Pai das luzes também é o Pai da Humanidade, e foi seu desejo que toda a vida humana existisse. Por outro lado, Deus não só providenciou a criação, mas a nova criação também: foi ele quem trouxe o novo nascimento ou a redenção a todos os crentes (João 3:3-8; Romanos 12:2; Efésios 1:5; Tito 3:5; 1 Pedro 1:3, 23; 1 João 3:9). Essa declaração produz um contraste espantoso: a concupiscência conduz ao nascimento, mas traz consigo o pecado e a morte; Deus conduz ao nascimento e traz consigo redenção e vida.
Em terceiro lugar, Deus realiza esse novo ato criador pela palavra da verdade. A primeira vista, alguém poderia pensar que esta ex¬pressão seja uma referência à palavra criativa de Deus (Gênesis 1), ou à veracidade de tudo quanto o Senhor diz (e.g., Salmo 119:43), mas é certo que nesta passagem essa expressão significa algo mais. Que palavra na era do Novo Testamento é mais “palavra da verdade” do que o evangelho? Esta expressão é semi-técnica e designa a proclamação da ação de Deus em Cristo (2 Coríntios 6:7; Efésios 1:18; Colossenses 1:5; 2 Timóteo 2:15; 1 Pedro 1:25). Deus, de propósito, pôs em ação sua segunda criação, ou sua nova criação, ao enviar ao mundo a palavra do evangelho.
O resultado desse ato criador também é beneficente, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. “Nós somos uma colheita,” diz Tiago, “somos os primeiros frutos maduros da nova criação de Deus, uma promessa da grande colheita que virá.” A semelhança de Paulo, Tiago acredita que Deus vai redimir toda a criação, não apenas a humanidade (Romanos 8:18-25). O presente renascimento de crentes promete mais bênçãos vindouras. Todavia, os primeiros são os melhores, pois constituem a porção santificada de modo especial. E assim é que Tiago sublinha a boa dádiva e intenção de Deus nas vidas dos crentes.
Boa leitura e boa escola ministrada por você.
Grande abraço.
Viva vencendo!!!
Seu irmão menor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário