Muitos irmãos mantêm distância do tema de batalha espiritual porque muitas práticas são mais esotéricas que bíblicas.
Batalha espiritual é um tema bíblico que pode ser visto por dois ângulos ou perspectivas diferentes: batalha espiritual em nível pessoal, isto é, a luta do diabo contra o cristão tentando-o e fazendo-o abandonar a fé e em nível territorial em que certos poderes ou autoridades dominam e governam certas regiões de uma cidade, de um país ou da terra. Que existem poderes e domínios espirituais numa cidade ou região é fato comprovado pelas escrituras.
Por desconhecerem certos princípios que norteiam as guerras espirituais – praticamente os mesmos que delineiam uma guerra terreal – muitos cristãos, em vez de usarem as armas espirituais, ou as estratégias de Deus entram no terreno do esoterismo tentando neutralizar as forças do mal com certos elementos aos quais atribuem poderes especiais.
Vejamos primeiramente a parte real e bíblica da batalha espiritual. Paulo usa dois textos para esclarecer o tema:
“Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão” (2 Co 10.3-6).
Paulo usa a palavra grega estrateia transliterada no português como estratégia, para indicar que nossa formação de guerra, nossa batalha ou milícia não operam conforme regras humanas, mas divinas. Neste texto Paulo não diz quais armas o cristão usa na batalha, mas, no texto de Efésios 6.10-19 ele especifica a roupa de guerra e as armas da peleja. Vejamos.
1. Ele pede que sejamos “fortalecidos no Senhor e na força do seu poder” (6.10), o que pressupõe uma batalha espiritual cujo vigor e energia vem de Deus. Paulo não faz aqui um apelo à inteligência ou ao intelecto, mas à uma energia transcendental, isto é, que está além de nossa força e poder, a algo que vem de Deus.
2. Ele fala em “tomar as armaduras de Deus” ou “Revesti-vos de toda a armadura de Deus”, indicando também que é uma batalha cuja capacitação vem unicamente de Deus (9 v 11), idéia que é reforçada no 13 quando fala em “tomar a armadura de Deus”. Então, o poder ou vigor para a guerra e a armadura ou revestimento espiritual são todos providências de Deus para o cristão. Não são armaduras nem armas humanas.
3. O revestimento recomendado por Paulo vem da parte de Deus. A couraça da justiça que nos amarra ou nos firma, são de Deus; o evangelho da paz que pregamos vem de Deus; o escudo da fé com o qual apagamos os dardos inflamados do diabo são de Deus; o capacete da salvação é de Deus; a espada do Espírito, a palavra, é de Deus, e até mesmo a oração com a qual enfrentamos os poderes do diabo são orações no Espírito (6.14-19).
A armadura do crente, portanto é costurada e confeccionada na oficina de Deus e é feita de elementos espirituais; até mesmo as coisas que pensamos serem nossas armas, como a pregação da palavra “a espada do Espírito” e a oração “orando em todo tempo no Espírito” são também recursos de Deus. Batalha espiritual, portanto, é uma guerra que o cristão luta com os recursos de Deus, e não dos homens. Parece que as duas únicas coisas que o homem contribui nesta guerra são a vigilância e a perseverança, quando afirma: “e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos” (v 18).
A existência de um mundo espiritual com poderes diretos sobre a terra fazia parte da compreensão apostólica. Tanto Jesus quanto os apóstolos falavam da existência de tais poderes. Os discípulos de Jesus voltaram da viagem missionária se regozijando com a manifestação de demônios: “Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Mas ele lhes disse: Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano” (Lc 10.17-19).
Satanás, demônios e manifestações espirituais do mal constituem os elementos contra os quais lutamos.
Em seu livro The Believers Guide to Spiritual Warfare (O Manual do Crente Para a Batalha Espiritual), Tom White diz que esta passagem é um retrato do organograma de autoridade do inferno. Veja o que ele diz a respeito da hierarquia satânica:
“Paulo iluminou o tópico descrevendo os poderes como uma hierarquia organizada de governo, como principados (archai), autoridades (exousia), poderes (dunamis) e forças espirituais da maldade (cosmocratas). É de supor que a estrutura de governo aqui está em ordem decrescente. Daniel 10.13,20 desvenda a identidade dos principados (archai) como príncipes satânicos superiores que foram colocados sobre as nações da terra. A palavra exousia tem uma conotação de governo natural e sobrenatural. Na compreensão apostólica havia forças sobrenaturais que “ficavam por trás” da estrutura governamental humana. Sem dúvida Paulo é um porta-voz da noção apocalíptica judaica de que Deus concede poderes a seres cósmicos para arbitrar os assuntos terrenos. Presume-se que os poderes, dunamis, operam dentro de países e nas culturas influenciando certos aspectos da sociedade. As forças espirituais da maldade, cosmocratas, são os muitos tipos de espíritos que afligem as pessoas, por exemplo, espíritos do engano, adivinhação, sensualidade, rebelião, medo e enfermidades. Geralmente estes são os espíritos do mal que se manifestam e são expulsos nas reuniões de libertação. Entre eles existe também uma estrutura de autoridade onde os mais fracos são subservientes dos mais fortes.”
Para entendermos a questão do mundo espiritual precisamos olhar a Escritura e ver o que aconteceu nos dias de Daniel. Este servo de Deus, depois de três semanas de intensa intercessão recebe a resposta às suas inquietações através de um varão celestial que o conforta, dizendo: “… porque desde o primeiro dia, em que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e por causa das tuas palavras é que eu vim” (Dn 10.12). O versículo seguinte traz uma das maiores revelações bíblicas de todos os tempos: “Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia”.
Como entender o texto? Ora, o governo da época era o de Ciro, rei da Pérsia, mas no mundo espiritual havia um príncipe que paralelamente governava. O versículo 20 esclarece o episódio, pois diz: “Sabes por que eu vim a ti? Eu tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas; e, saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia”. Entendemos que houve uma batalha nos céus com os demônios liderados por Satanás tentando impedir a passagem do Arcanjo. E no mundo natural e espiritual foi o que aconteceu: a Grécia foi a nação que a seguir ocupou o lugar de destaque no mundo político da época.
Lei da dupla referência
Temos uma base bíblica que prova a existência desses espíritos nas altas esferas espirituais e o assunto pode ser melhor entendido quando conhecemos a lei da dupla referência.
De acordo com a Bíblia Anotada de Dake “esta lei ocorre sempre que uma pessoa viva e conhecida é mencionada, e quando há menção de fatos indicando que um ser invisível a utiliza como uma ferramenta para levar adiante os seus propósitos.”
A Bíblia anotada de Ryrie diz na nota de rodapé: “Um ser sobrenatural que tentava levar os reis da Pérsia a se oporem ao plano de Deus. Os anjos maus procuram influenciar os relacionamentos entre as nações… Com a ajuda de Miguel, o anjo bom obteve um lugar de superioridade para influenciar os destinos da Pérsia. No entanto, a batalha entre anjos bons e maus pelo controle das nações continua, conforme o versículo 20″.
Há, por exemplo, duas passagens nas Escrituras que se referem a um governador de um país e também a Satanás. São as referências de Ezequiel 28.11-19 que menciona o rei de Tiro, mas cuja figura central é o próprio Satanás e Isaías 14.3-27 que se refere ao rei de Babilônia. Parecem ser pessoas da terra, mas na realidade os textos se referem a seres espirituais, pois o texto descreve alguém cujos atributos transcendem a vida de uma pessoa humana.
A versão Septuaginta do antigo testamento traduz o texto de Deuteronômio 32.8 da seguinte maneira: “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando separava os filhos dos homens uns dos outros, fixou os termos dos povos conforme o número dos anjos de Deus”. O texto na Septuaginta em Inglês afirma: “Quando o Altíssimo dividia as nações, quando separou os filhos de Adão, fixou os termos das nações conforme o número dos anjos de Deus”. F.F. Bruce afirma que o texto da Septuaginta representa a versão original:
“Este texto bíblico pressupõe que a administração de várias nações foi distribuída entre um determinado número de anjos… Em alguns lugares certos poderes angelicais são apresentados como principados e potestades hostis, os “dominadores deste mundo” de trevas descritos em Efésios 6.12”
As notas de Albert Barnes (Barne’s Notes) Baker Book House, Vol. II p. 335) complementam a idéia de que os judeus criam na existência de setenta nações e que a cada uma delas foi concedido um anjo guardião.
O mundo da época de Jesus e dos apóstolos em nada difere do mundo de hoje. Justine Glass no livro They Foresaw the Future (Prevendo o Futuro – Puttman, 1969) relata que o Egito foi o berço do ocultismo, e o império seis mil anos atrás era governado por profetas, profecias e pela alta magia (não este tipo de macumba e demonologia de nossos tempos). A Índia e a Pérsia aprenderam os oráculos da magia com o Egito. “A magia era considerada no Egito uma ciência, e inseparável da religião. O sacerdote era um mágico que podia levitar, suportar grande peso sem qualquer dano, caminhar no espaço, submergir longo tempo sem se afogar, lidar com o fogo sem se queimar, desmaterializar-se, fazer viagens astrais, ler pensamentos, etc.” (Ibid p 13). No reinado de Sesostris II (1906-1887), um sacerdote de Heliópolis teria profetizado o nascimento de Cristo: “O governo ideal, o pastor de todos os homens, em cujo coração não há maldade… seu poder é desconhecido”.
Os apóstolos bem conheciam Roma, cidade que vivia do agouro. Os imperadores consultavam pitonisas e médiuns para saber de seu futuro. O Monte Sibila (daí os oráculos sibilinos) era local onde as profetizas vaticinavam o destino do império e era local freqüentado pela elite romana. Um dos magos durante os governos de Tibério e de Nero, Trasilio, usava da diplomacia para lidar com os reis. Tibério o convidou para ir a seu palácio na ilha de Capri que só podia ser alcançado subindo-se por uma ladeira junto ao despenhadeiro. O imperador, quando não gostava de alguém dava ordens a que seus guardas etíopes os empurrassem ribanceira abaixo. Ninguém podia dizer algo em contrário a Tibério que era lançado nos rochedos sobre o mar. O imperador perguntou a Trasílio: “Diga-me, Trasílio, você já leu seu próprio destino nas estrelas?”, insinuando que o lançaria no abismo, ao que lhe respondeu o vidente: “Majestade, os astros me alertam de que estou em grande perigo”. Tibério viu que este era um vidente muito sábio e não o matou (Ibid p. 31).
Os impérios viviam sob o terror dos prognosticadores. Nada diferente de hoje quando os presidentes do Brasil levam consigo em viagens internacionais seus gurus e médiuns!
A cidade de Pérgamo mencionada por Jesus como “cidade de Satanás”, era uma fortaleza espiritual contra o evangelho nos dias do apóstolo João (Ap 2.13).
“Pérgamo, a mais famosa cidade da Mísia, situava-se no vale do rio Caíco, a 30 quilômetros do mar Egeu, o que lhe conferia grande importância comercial e espiritual. Havia sido uma cidade-estado grega, doada ao império romano em 133 A.C. por Atallus III. Esta célebre cidade possuía a Segunda mais importante biblioteca do mundo, com 200 mil volumes, que depois foram levados para Alexandria….Um dos seus principais monumentos era um templo dedicado ao deus Esculápio, representado por uma serpente. A cidade possuía também uma antiga forma de adoração ao diabo, e um antigo culto babilônico – o culto dos magos – Antipas morreu ali como mártir.”
A influência de Babilônia na transformação de Pérgamo em “trono de Satanás”, e mais tarde na transformação de Roma em assento da “grande prostituta” (Ap 17.1), remonta ao ano 487 a.C. Quando Xerxes invadiu a Babilônia, toda a hierarquia religiosa fugiu para Pérgamo levando consigo os oráculos espirituais – os livros de magia com seus segredos. Júlio César foi o primeiro imperador romano que recebeu em Pérgamo o título de sumo pontífice em 74 a.C. O título dava ao imperador o direito de ser o representante supremo de Deus na terra. A partir de Júlio César, todos os imperadores iam a Pérgamo receber o título de divindade.
De Pérgamo, o supremo pontífice da Ordem Babilônia legou como herança, por lei, toda a sua autoridade e domínio à hierarquia babilônica de Roma, e assim os Césares tornaram-se pontífices máximos e soberanos pontífices dessa organização idólatra. Os imperadores eram os líderes espirituais!
Estes poucos exemplos bíblicos e históricos mostram como os dominadores espirituais controlam cidades e regiões da terra.
Para combater Satanás e seus demônios requer-se vida de justiça, de autoridade na Palavra e do testemunho de Jesus. João, o apóstolo, escreveu: “Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (Ap 1.9). Estas duas coisas, a palavra de Deus e o testemunho de Jesus que o levaram ao exílio eram também as armas que João usava contra o mal. O texto de Apocalipse 12 explica: “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). O testemunho de Cristo e a palavra de Deus levaram João para a prisão em Patmos. Na abertura do livro de Apocalipse vem o testemunho de que João “atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo” (Ap 1.2).
A vida de justiça – padrão de boas obras – deve estar acompanhada de uma vida de manifestações do poder Deus. Manifestações de cura, de libertação, de expulsão de demônios e milagres são o testemunho – ao lado de uma vida de santidade e de boas obras de que o reino de Deus é chegado a uma cidade.
Viva vencendo os enganos dos enganadores que usam a biblia!!!
Seu irmão menor.
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