João Huss
Pronunciada a sentença de morte, os bispos vestiram o preso de hábito sacerdotal, e, enquanto recebia as vestes de padre, disse: "nosso Senhor Jesus Cristo estava, por escárnio, coberto com um manto branco, quando Herodes o mandou conduzir a Pilatos."
Sendo de novo exortado a retratar-se, replicou, voltando-se para o povo: " Com que cara, pois, contemplaria os céus? Como olharia para as multidões de homens a quem preguei o evangelho puro? Não! Aprecio mais a salvação do que este pobre corpo, ora destinado à morte!" As vestes foram removidas uma a uma, pronunciando cada bispo uma maldição ao realizar sua parte na cerimônia. Finalmente, puseram-lhe na cabeça uma carapuça ou mitra de papel, em forma de pirâmide, em que estavam desenhadas horrendas figuras de demônios com a palavra "Arquiherege" bem visível na frente. "Com muito prazer - disse Huss - levarei sobre a cabeça esta coroa de ignominia, por teu amos, Jesus, que por mim levaste coroa de espinhos." Quando ficou assim trajado, os prelados disseram: "Agora, votamos tua alma ao diabo." "E eu - disse Huss esguendo os olhos para os céus - entrego meu espírito em tuas mãos oh Senhor jesus, pois tú me remistes."
Foi então entregue às autoridades seculares, e levado para fora, ao lugar da execução. Imenso séquito o acompanhou: centenas de homens em armas, padres e bispos em seus custosos trajes e os habitantes de Constança. Quando estava atado ao poste, e tudo pronto para acenderem-se o fogo, o mártir uma vez mais exortado a salvar-se, renunciando seus erros. "A que erros?", diz Huss. "Invoco a Deus para testemunhar que tudo que escrevi e preguei, assim foi feito com o fim de livrar almas do pecado e da perdição, e, portanto muito alegremente confirmarei, com meu sangue, a verdade que escrevi e preguei." E quando as chamas começãram a envolvê-lo. pôs-se a cantar: "Jesus filho de Daví tem misericórdia de mim", e assim continuou até que a sua voz silenciou de um vez para sempre...
Tesouro de ilustrações
Quem Foi João Huss: João Huss nasceu por volta de 1370 de uma família camponesa que vivia na pequena aldeia de Hussinek, e ingressou na universidade de Praga quando tinha uns dezessete anos. A partir de então toda a vida transcorreu na capital de seu país, excetuados seus dois anos de exílio e encarceramento de Constança. Em 1402 ele foi nomeado reitor e pregador da capela de Belém. Ali ele pregou com dedicação a reforma que tantos outros checos propugnaram desde os tempos de Carlos IV. Sua eloqüência e favor eram tamanhos que aquela capela em pouco se transformou no centro do movimento reformador. Vesceslau e sua esposa Sofia o escolheram por seu confessor, e lhe deram seu apoio. Alguns dos membros mais destacados da hierarquia começaram a encará-lo com receio, mas boa parte do povo e da nobreza parecia segui-lo, e o apoio dos reis ainda era suficiente importante para que os prelados não se atravessem a tomar medidas contra o pregador entusiasmado.
No mesmo ano que passou a ocupar o púlpito de Belém, Huss foi feito reitor da universidade, de modo que se encontrava em ótima posição para impulsionar a reforma. Ao mesmo tempo que pregava contra os abusos que havia na igreja Huss continuava sustentando as doutrina geralmente aceitas, e nem mesmo seus piores inimigos se atreviam a censurar sua vida ou sua ortodoxia. Huss era muito gentil e contava muito com o apoio popular.
O conflito surgiu nos círculos universitários. Pouco antes tinha começado a chegar a Praga as obras Wycliff. Um discípulo de Huss, Jerônimo de Praga, passou algum tempo na Inglaterra, e trouxe consigo algumas das obras mas radicais da reforma inglesa. Sem demora, diversos integrantes da hierarquia que eram alvos dos ataques de Huss e de seus seguidores, os quais viam nos ensinos de Wycliff uma ameaça séria a sua posição, se reuniram ao grupo dos alemães. Era a época em que, em resultados do Concílio de Pisa, havia três papas. Venceslau apoiava o papa pisano, enquanto o arcebispo de Praga e os alemães da universidade apoiavam Gregório XII.
Mais tarde o arcebispo se submeteu à vontade do rei, e reconheceu o papa pisano. Mas se vingou dos seus, solicitando deste papa, Alexandre V, que proibisse a posse da obras de Wycliff. O papa concordou, e proibiu, também as pregações fora das catedrais, dos mosteiros ou das igrejas paroquiais. Como o púlpito de Huss, na capela de Belém, não se enquadrava, nestas determinações, o golpe estava claramente dirigido contra ele. A universidade de Praga protestou. Mas Huss tinha agora de fazer a difícil escolha entre desobedecer o papa e deixar de pregar. Com o passar do tempo sua consciência se impôs. Ele subiu ao púlpito e continuou pregando a tão ansiada reforma. Este foi seu primeiro ato de desobediência, e ele se negou a ir, e em conseqüência o Cardeal Colonna o excomungou em 1411, em nome do papa, por não ter aceito à convocação papal. Mas apesar disto Huss continuou pregando em Belém e participando da vida eclesiástica, pois contava com o apoio dos reis e de boa parte do país. Assim Huss chegou a um dos pontos mais revolucionários da sua doutrina. Um papa indigno, que se opunha ao bem-estar da igreja, não deve ser obedecido. Huss não estava dizendo que o papa não era legítimo, pois continuava favorável ao papa pisano.
Outro incidente turbou a questão a questão ainda mais, João XXIII, o papa pisano, estava em guerra com Ladislau de Nápoles. Nesta contenda sua única esperança de vitória estava em obter o apoio, tanto militar como econômico, do restante da cristandade latina. O rei, entretanto, tinha interesse em manter boas relações com João XXIII. Entre outras razões para isso, a questão de ele ou seu irmão Sigismundo era o imperador legítimo ainda não fora decidida, e era possível que, se a autoridade de João XXIII viesse a se impor, seria ele quem teria de decidir a questão. Por isso o rei proibiu que a venda de indulgências continuasse sendo criticada. Sua proibição, todavia, veio tarde demais. A opinião de Huss e seus companheiros já era conhecida de todos, a ponto de terem surgido passeatas do povo, em protesto contra esta nova maneira de explorar o povo checo.
Enquanto isto João XXIII e Ladislau fizeram as pazes, e pretensa cruzada foi revogada. Huss, no entanto, para Roma ficou sendo o líder de um grande heresia, e até chegou-se a dizer que todos os boêmios eram hereges. Em 1412 Huss foi excomungado de novo, por não ter comparecido diante da corte papal, e foi fixado um prazo curto, para ele se apresentar. Se não fizesse, Praga ou qualquer outro lugar que lhe desse acolhida estaria sob interdito. Desta forma a suposta heresia de Huss resultaria em prejuízo da cidade.
Por esta razão o reformador checo decidiu abandonar a cidade onde tinha passado a maior parte de sua vida.
No dia 5 de junho de 1415 Huss compareceu diante do concilio. Poucos dias antes João XXIII tinha sido aprisionado e trazido de volta para Constança, Huss tivera seus piores conflitos com ele, era de seu supor que a situação do reformador melhoraria. Mas sucedeu o contrário, como se tivesse tentado fugir ou se já tivesse sido julgado.
Foi acusado formalmente de ser herege, e de seguir as doutrinas de Wycliff. Huss tentou expor suas opiniões, mas algazarra foi tamanha que ele não o pode. E a questão foi adiada para o dia 7 do mês seguinte. Não tinha maneira de resolver o conflito. De Alily queria que Huss se submetesse ao concilio, cuja autoridade não poderia ficar em dúvida. O concilio pedia unicamente que Huss se submetesse a ele, retratando-se das sua doutrinas, mas não o queria escutar. O cardeal Zabarella preparou um documento que exigia de Huss que se retratasse e Huss respondeu: "Apelo a Jesus Cristo, o único juiz todo-poderoso e totalmente Justo. Em suas mãos eu deponho a minha causa, pois Ele há de julgar cada um não com base em testemunhos falsos e concílios errados, mas na verdadeira justiça."
O encarceraram por vários dias para que fraquejasse, mas Huss continuou firme. Por fim no dia 6 de julho, ele foi levado para o catedral de Constança. Ali, depois de um sermão sobre a teimosia dos hereges, ele foi vestido de sacerdote e recebeu o cálice, somente para logo em seguida lha arrebatarem ambos, em sinal que estava perdendo suas ordens sacerdotais. Depois lhe cortaram o cabelo para estragar a tonsura, fazendo-lhe uma cruz na cabeça. Por ultimo lhe colocaram na cabeça uma coroa de papel decorada com diabinhos, e o enviaram para a fogueira. A caminho do suplício, ele teve de passar por uma pira onde ardiam seus livros. Mas uma vez o pediram que retratasse e mais uma vez ele negou com firmeza. Por fim orou, dizendo: "Senhor Jesus, por ti sofro com paciência esta morte cruel. Rogo-te que tenhas misericórdia dos meus inimigos."
Morreu cantando os salmos.
Que testemunho fantástico!!!
Viva vencendo os obstáculos á sua fé!!!
Seu irmão menor.
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