Jesus virá mesmo?
“Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o Senhor da casa; se á tarde, se á meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã" (Mc
13.35).
Essa semana passada, tive a oportunidade de estar pregando a Palavra de Deus, e em meio a tantas necessidades do povo de Deus, orei e percebí a necessidade de se pregar sobre a volta de Jesus para buscar os Seus. Por isso então, preguei novamente
sobre a volta de Jesus Cristo, a ressurreição dos mortos e o arrebatamento da
igreja, sempre com uma pergunta que me inquieta constantemente: Por que a
igreja não se interessa mais pela volta do Senhor Jesus Cristo?
A expectativa do retorno do Senhor Jesus fazia parte do dia
a dia da igreja nos primeiros trezentos anos de sua história, e, pelo que
afirma George Duby (Ano 1000 ano 2000 na pista de nossos medos), na virada do
milênio no ano 1000 os cristãos da Europa que aguardavam a volta do Senhor,
acreditaram que Satanás seria solto – terminaria o milênio – venderam suas
propriedades, muitos foram para Jerusalém na expectativa da volta do Senhor.
Essas desilusões com a demora do Senhor em regressar vêm
sempre depois dos grandes avivamentos. Cada avivamento traz em seu bojo uma
nova expectativa da volta do Senhor. Depois de algumas décadas, vem novo
esfriamento espiritual e as pessoas perdem a esperança da volta do Senhor.
Isso já aconteceu nos dias dos apóstolos, o que levou Pedro
a escrever respondendo as perguntas dos irmãos: “Onde está a promessa da sua
vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como
desde o princípio da criação” (2 Pe 3.4). Ora, se nos dias apostólicos os
irmãos já começavam a duvidar da promessa da volta do Senhor, imagine dois mil
anos depois.
Ao longo desses dois mil anos a igreja atravessou diversas
fases, ouviu profecias anunciando a volta do Senhor e, aqui no Brasil, como
ocorreu em todos os avivamentos, os irmãos começaram a esfriar quanto ao
retorno do Senhor. Não me refiro a profecias anunciando dias e horas, porque os
crentes conhecedores das Escrituras não ligam para profecias que estabelecem
datas do retorno de Cristo, refiro-me, isto sim, a onda de fervor profético
proclamando que o Senhor estava às portas.
Às vezes chega-se a duvidar de que o Senhor realmente
voltará, devido às várias interpretações dadas sobre o retorno do Senhor ao
longo da história. Existe uma linha teológica que Jesus já regressou na pessoa
do Espírito Santo no Pentecostes; outros que ele virá quando se cumprir a
última semana das profecias de Daniel – um ensinamento não muito confiável.
No entanto, o que deve nos manter alertas não são as
diversas interpretações teológicas nem as profecias que se ouvem aqui e acolá,
mas os textos bíblicos que afirmam que a volta do Senhor se dará à semelhança
do ladrão que chega de surpresa para invadir sua casa.
E como são palavras de Jesus e dos apóstolos nelas podemos
confiar. Jesus usou de parábolas para falar a respeito de seu retorno. Será
como o ladrão, de noite, afirmou Pedro (2 Pe 3.4). “Portanto, vigiai, porque
não sabeis em que dia vem o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de
família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse
arrombada a sua casa. Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à hora em
que não cuidais, o Filho do Homem virá” (Mt 24.42-44).
Jesus ensinou que devemos ficar “apercebidos”, isto é,
atentos. Creio que aqui esteja a chave: A igreja deve manter-se alinhada com a
promessa de Jesus de que voltará “esperando e apressando a vinda do Dia de Deus
(2 Pe 3.12). Se a igreja tiver em mente o retorno do Senhor mudará
estrategicamente seu estilo de vida, comprometendo-se com a obra de
evangelização aos povos não alcançados e com o atendimento aos pobres.
Por que a igreja não anuncia nem prega frequentemente sobre
a vinda de Jesus Cristo?
1. A igreja está acomodada dentro de seu sistema
organizacional.
Quando me refiro a acomodação dentro da organização não
tenho em mente apenas as grandes denominações, mas também aquelas igrejas locais,
autônomas que giram em torno de si mesmas. Refiro-me também às comunidades
cristãs surgidas nas décadas dos anos de 1970-80 e as neocomunidades que se
espalharam pelo Brasil com uma mensagem de prosperidade financeira e sucesso
ministerial.
Nas grandes denominações aqui e acolá ouve-se, às vezes
algum pregador falar da volta do Senhor, mas sua mensagem esbarra no sistema
organizacional em que os crentes vivem em função do templo, de seus
departamentos e da construção de novos prédios. Esta acomodação faz da missão
da igreja uma coisa irreal. Porque quando envia missionários, estes sobrevivem
do “resto” que cai da mesa denominacional; os missionários são enviados para
fundar igrejas ligadas à sua denominação visando a expansão de seu grupo e
nunca enviados com uma visão de reino para trabalharem e cooperarem com as
obras já existentes. Pregar para os acomodados com o sistema é como cantar
canções de ninar. Foi assim que Deus disse a Ezequiel:
“Eis que tu és para eles como quem canta canções de amor,
que tem voz suave e tange bem; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem
por obra” (Ez 33.32).
2. A igreja vive um tempo de fartura material.
A igreja dos primeiros 3 séculos dava tudo que tinha a favor
da evangelização e do sustento dos pobres, sem jamais se preocupar com grandes
construções – apesar de manterem lugares de reuniões. Os poucos bens que
possuíam eram confiscados devido a sua fé. O Império não perdoava. Espoliava os
cristãos e não os deixava possuir bens.
“Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também
aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes
vós mesmos patrimônio superior e durável” (Hb 10.34). Quer dizer, os irmãos até
se alegravam quando chegavam os policiais e os agentes do governo e os
expulsavam de suas casas e terras, porque sabiam que possuíam patrimônio eterno
em Cristo.
Mas hoje vamos até o STF para defender nossos direitos de
propriedade, porque perdemos a noção da eternidade e nos concentramos na
fartura material. Não é sem razão que a teologia da prosperidade encontrou
terreno fértil numa igreja apóstata.
Às vezes penso que fui um boboca, um trouxa que não
conseguiu angariar bens nem enriquecer, porque não soube nem quis explorar a
mensagem da fé que prego – é que tenho ainda em vista a eternidade quando serei
julgado por Cristo e espero ter melhor galardão do que o que me oferecem na
terra. E posso afirmar com certeza que ainda aceito convites para pregar sem sequer
dizer o quanto gastarei com a viagem!
3. Por outro lado, a igreja vive um período de miséria
espiritual.
Somente editoras com grande poder financeiro conseguem
publicar comentários bíblicos ou livros de meditações diárias, porque o mercado
é vago e escasso para esse tipo de publicações. Sei bem disto, porque tenho
muitas obras rejeitadas com o argumento de que não se encaixam na linha
editorial da empresa e de que não são livros de grande aceitação no mercado
literário. Publicam, sim, livros a que eu chamo de “água com açúcar”, pois este
tipo de literatura alimenta os moribundos da fé.
4. A igreja vive na apostasia.
Enquanto o Império Romano existiu não havia espaço para a
apostasia, porque Roma não admitia organizações e sequer reuniões de grupos, a
menos que fossem reuniões abertas a qualquer pessoa – se bem que admitia novas
religiões e chegava até mesmo a colocar os deuses dos demais povos em seu
panteão. Os crentes foram perseguidos porque anunciavam um novo reino e um novo
Rei e Senhor, Jesus Cristo. Não seriam perseguidos se pregassem ideias e
filosofias.
Sempre apontamos o dedo para a igreja católica romana como
sendo ela a igreja apóstata, e nos esquecemos de que a apostasia é um desvio
dos ensinamentos de Cristo e de seus apóstolos. Neste sentido não apenas
católicos, mas protestantes, evangélicos e pentecostais, e também as igrejas
neopentecostais são também apóstatas porque não têm em mente Cristo e, sim, seu
próprio bem-estar.
Paulo avisou que o anticristo não surgirá sem que primeiro venha
a apostasia, e esta surgiu a partir do terceiro século com o imperador
Constantino.
5. A igreja perdeu a noção da eternidade e dos céus.
Basta que você faça um levantamento sobre os cânticos que
entoamos em nossos cultos. Raramente a igreja entoa cânticos que falem da
eternidade com Cristo; estes estão reservados para serem cantados, quando são
entoados, em cerimônias fúnebres. Os cânticos que falam da eternidade parecem
spams reservados para a lixeira eletrônica. Veja também as mensagens que ouvimos:
que mensagem fala da eternidade e de nossa glória eterna? Se você quer ouvi-las
procure as capelas funerárias, porque é lá que são pregadas.
Só os irmãos da terceira idade se lembram dos cânticos que
falam da eternidade!
Mantenhamos a viva esperança: Jesus, sim, virá!
Abraços.
Vivam vencendo até que Ele venha!!!
Seu irmão menor.
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