28 fevereiro 2012

As duas pessoas que poderiam condenar a mulher em adultério


"Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais"(Jo.8:3-11).
Os fariseus não estavam preocupados em diminuir os casos de adultério em Israel. Queriam “pegar” Jesus. E, para isso, não tiveram escrúpulo em usar um ser humano, expondo ao público, o que deveria ser tratado, primeiro, em privado.
Observavam Jesus, já há algum tempo, sabiam que ele não ordenaria uma execução.
Esperavam que ele, simplesmente, se negasse a cumprir a lei e, pronto, teriam como acusá-lo de descaso e de desrespeito à lei.
Bom é que se diga que a lei não funcionava assim. E estava faltando o parceiro.
Jesus os surpreendeu!
É como se Jesus tivesse dito: Ok! Quem não tiver pecado digno de morte, que mate a moça.
Sim, porque não seriam constrangidos senão por pecados tão graves quanto o pecado da moça.
Quantas pessoas poderiam condenar essa mulher?
Apenas duas pessoas poderiam condenar essa mulher:
Nenhum dos que pediam a sua condenação estava em condição de condená- la: estavam carregados de seus próprios pecados; foram saindo à medida em que iam sendo levados à consciência de sua carga pessoal.
Uma das pessoas que podiam condená-la era Jesus de Nazaré, ele não tinha carga alguma.
Ele não a condenou. Disse-lhe não a condenava, embora o pudesse, e que fosse embora e não pecasse mais.
A outra pessoa que a podia condenar era ela mesma.
Como?
Não se perdoando.
Disso, inclusive, dependeria o fato de se ela venceria o pecado que a assediava.
Porque se ela não se perdoasse voltaria ao erro só para deixar claro que estava certa sobre si mesma, que não deveria ser perdoada.
Isso não é verbalizado, mas a falta de perdão pessoal cobra o preço da não libertação.
Quem não se perdoa?
Quem acha que não merece ser perdoado.
Qual o equívoco?
Não entender que só merece ser perdoado quem não precisa de perdão. Quando é dito que alguém merece ser perdoado, o que, de fato, está sendo dito, é que ele tinha atenuantes ou razões, isto é, que seu pedido de desculpas deve ser aceito.
Perdão é diferente de aceitar desculpas. Perdão é para quem não tem desculpas, razão ou motivo para apresentar.
Perdão é oferta de Deus, que a gente recebe e distribui, a começar de nós mesmos.
Jesus não a condenou à pena capital, porque, para Jesus, ela havia adulterado, mas não era adúltera.
Classificá-lá como adúltera era dizer que a natureza dela havia sido subtraída, e que não havia mais saída. Aí a pena capital era natural, porque se a natureza não pode mais ser vencida pelo amor de Deus, não há porque manter tais pessoas assim.
Mas Cristo não vê assim!
Quando o Cristo disse à mulher para ir e não pecar mais, estava declarando que ela havia errado, mas que isso não fazia dela um erro.
O Cristo via nela um ser humano que ninguém mais via, talvez nem ela mesma.
O Cristo oferecia-lhe perdão e oportunidade.
A força do Cristo é dispensada aos que aceitam o seu perdão.
Quem é perdoado deve, também, se perdoar para que essa força possa ajudá-lo.
Se a gente não se perdoa, volta, ainda que num caminho inconsciente, à prática do erro, como a dizer que Deus está errado quando nos perdoa, que é o nosso erro e não o amor dele que fala de quem nós somos.
Isso é tentar colocar-se fora da possibilidade do amor de Deus.
E a gente se perdoa num gesto de concordância com Deus.
É algo como: Deus me perdoou no Cristo, logo, esse erro não me define, eu sou o que Deus vê em mim, e é para esse ser humano em Cristo que eu vou.
Deus vê em nós mais do que os nossos erros.
E Deus está sempre certo. Todo ser humano, pela graça, pode começar de novo.
A gente, independente de quantas vezes erra, deve sempre buscar o perdão e retomar a caminhada proposta pelo Cristo.
A gente nunca deve desistir de encontrar o ser humano que Deus vê em nós.
Ariovaldo Ramos

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