Enforcados na gravata
Pr. Edmilson Mendes
Perdi a conta do número de vezes que me pediram para dar nó em gravata. De seminaristas a pastores, todos os tipos me solicitaram o serviço. Para quem nunca deu, fácil não é. Difícil, no entanto, é suportar a gravata no pescoço face ao nosso clima tropical. Mas tem situação pior, aquela dos nós quase impossíveis de desatar no ministério pastoral.
Uma ovelha reclama que a esposa está em greve de sexo há quatro anos. Outra, mais outra e outra confessam os meses de fornicação em que caiu o namoro. O homem vem e desaba em choro declarando sua dependência por pornografia. A mulher diz que precisa revelar uma bomba, está saindo com o namorado da filha e se entregou a leitura de livros eróticos. Um casal confessa que consumiu todas as reservas dos pais velhinhos sem autorização deles e, agora, os mesmos vivem a míngua sem nenhum recurso. E todos, em comum, têm um pedido: Pastor, não conte para ninguém, se contar, negaremos.
Tudo isso são nós, apertados e cegos, que enforcam pouco a pouco as ações pastorais. Ok, nos limites da ética, a confissão é respeitada. O pastorear, por outro lado, continua. Com oração, fé e aconselhamento. Neste ponto, o nó pode se tornar altamente traiçoeiro.
Abastecidos de habilidades acadêmicas, psicologia, práticas devocionais, teologias bíblica e sistemática, grego e hebraico, homilética, exegeses, história da igreja, disciplinas espirituais, o pastor entra num ciclo de aconselhamentos, ora corretos, ora confusos. Aconselhamentos corretos se definem por priorizar aquilo que a Bíblia diz, pesando outros saberes e sensibilidades, sem nunca misturar amizade, admiração e proximidade. Aconselhamentos confusos se definem por misturar antropologia, sociologia, filosofia, psicologia com achismos manipuladores e um pouco de Bíblia ao fundo, os labirintos de tais aconselhamentos levam sempre à confusões, às vezes patéticas, às vezes trágicas.
Tenho visto colegas se enforcando nestas sedutoras possibilidades de manipulação. Nos altares, com suas alinhadas gravatas, parecem seguros senhores da situação. Na psiquê da alma, porém, estão na verdade sendo enforcados pela própria gravata, que limita o ar e a leveza dos próprios movimentos.
Precisamos saber, admitir e respeitar com urgência os nossos limites, senão terminaremos nos enforcando a nós mesmos. Nem todos têm as mesmas habilidades. Cada pastor terá ênfase em algumas habilidades, não em todas. Se corremos perigo, saiamos urgente da zona de risco. Para quê se enforcar? Para quê sufocar cônjuge, filhos e queridos?
Vamos afrouxar os nós das gravatas. Não vamos encarar de forma tão obsessiva a importância que é dada a nossa aparência. Caso não saiba, as ovelhas sabem dos nossos limites. No caso das que não sabem, está na hora de saberem. Enfim, não faça dos símbolos e status da sua gravata uma forca, a vítima pode ser você.
Fonte: Guiame
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