04 outubro 2015

O CAMELO E O FUNDO DA AGULHA


"...E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus". Mt. 19:24

Muito já se discutiu entre os estudiosos sobre essa passagem, e já foram formuladas muitas teorias para amenizar a dureza de Jesus para com os ricos, mas o que queremos demonstrar aqui é que o Mestre não estava abrandando nada para os que possuíam muito, mas estava os repreendendo duramente.

Uma das conclusões a qual alguns estudiosos chegaram era a de que camelo, em grego, significava uma corda grossa com que se amarravam os barcos. E que agulha seria uma pequena porta situada num dos grandes portões da muralha de Jerusalém. Ou seja, ambas as interpretações deixam mais “mansa” a afirmação de Jesus. Mas seria isso mesmo?

Em grego, a palavra kámelos (κάμηλος) significa exatamente o nosso camelo, palavra traduzida do latim camelus. Em Mc 10, 25 e em Lc 18, 25 a palavra usada é kámelon (κάμηλον), claramente para se referir ao animal. Com certeza, esse nome grego provém da palavra hebraica gamal (למג), que é usada para identificar aquele mamífero ungulado (Camelus Bactrianus), encontrado nos nossos zoológicos brasileiros.

Seja como for, não podemos ignorar que as palavras nos dizem muitas coisas da comparação de Jesus. Ele queria deixar bem claro que, para os ricos, a dificuldade é ainda maior para se alcançar a plenitude da vida, pois para um camelo atravessar o buraquinho da agulha é necessário que a “vaca tussa”, primeiramente! Já o termo grego para agulha é raphís (ραφίς), aquele objeto usado para costurar – claro que era bem maior naquela época. Lucas usa o termo belónes (βελόνης), que significa agulha cirúrgica, usada para cuidar da saúde das pessoas.

Mas devemos entender, hoje, que Jesus se referia às dificuldades apresentadas a uma pessoa que acumulava bens em excesso. Aquele homem rico era bom e queria ajudar as pessoas, mas não era capaz de reconhecer a sua finitude e a futilidade de seus bens. Nos nossos dias, essa passagem pode ser estendida a todos aqueles que não conseguem se livrar de suas maldades, sejam ricos ou pobres.

Ao falar sobre a impossibilidade desse tipo de pessoas entrarem no reino de Deus, Jesus pregou a ilustração que é a impossibilidade de um “camelo passar pelo buraco de uma agulha”. Alguns têm imaginado que o buraco de agulha referido fosse uma portinhola, no muro de Jerusalém, através do qual pudesse passar finalmente um camelo, depois de muitos puxões e empurrões; outros admitem que a expressão camelo, que no grego representa uma pequena modificação de “Kamelos” para “Kamilos”, trata de uma corda grossa ou um cabo, mas isso só diminuiu a impossibilidade do ato. Todavia, o grego de Mateus 19.24 e de Marcos 10.25 fala de uma agulha usada com linha, enquanto que o de Lucas 18.25 usa o termo médico que indicava uma agulha usada nas operações cirúrgicas. É evidente que ali não é considerada nenhuma portinhola, mas sim, o pequenino buraco de uma agulha de costura. Provavelmente era um provérbio incomum para ilustrar coisas impossíveis. O Talmude fala por duas vezes de um elefante para o qual é impossível passar pelo buraco de uma agulha. Por conseguinte, quem quer que ame as riquezas, a ponto de isso impedi-lo de confiar em Jesus Cristo como Salvador, está na impossibilidade de ser salvo.

Em resposta à pergunta feita pelos discípulos: “Então quem pode ser salvo?” Jesus respondeu: “Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus”, Lc 18.27. Nessa frase, as palavras “dos” e “para” são uma só no original, cujo sentido literal é “ao lado”. Tome-se o lado do homem, na questão das riquezas, e torna-se-á impossível a salvação. Porém, tome-se o lado de Deus sobre a questão e a impossibilidade anterior se transformará em possibilidade.
Livro A Bíblia Responde - CPAD

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