Reinaldo Azevedo comenta novamente sobre a lei da homofobia
"A falsa denúncia de homofobia no “Fantástico” demonstra por que a tal lei anti-homofobia não pode ser aprovada. Ou: O tiro no pé da militância gay"
Reinaldo
Azevedo,
colunista de um dos blog mais acessados do país, publicou movamente
em seu espaço no site da revista Veja um artigo onde comenta a falsa
denúncia de homofobia exibida pelo “Fantástico” no último
domingo.
Segundo o jornalista a reportagem demonstra por que a tal
lei anti-homofobia não pode ser aprovada. No artigo Azevedo volta a
citar os pastores evangélicos. Confira o texto na íntegra:
O
“Fantástico” levou no domingo ao ar uma reportagem preconceituosa.
Sim, é o “preconceito a favor”. A questão é saber se o
“preconceito a favor de uma causa” provoca ou não danos a
terceiros. A dúvida é meramente retórica porque a resposta é
óbvia. O vídeo com a reportagem está aqui.
Eu a reproduzo abaixo. Leiam com atenção. Volto em seguida.
Dois
domingos atrás, o Fantástico foi a Santos conhecer um curso que se
destina a formar drag queens. Durante a gravação, um aluno se
destacou e, quando voltou ao trabalho, o aprendiz de drag teve uma
surpresa. E não foi nada agradável. Foi Ailton aparecer no
Fantástico na semana passada. “Sou psicólogo, administrador,
professor da área de logística e quase drag.”, disse ele na
reportagem. No dia seguinte, tudo mudou. “Um dos meus chefes
simplesmente chegou para mim e disse que não era condizente com ele,
que aquilo não era bom para empresa, não era bom para a imagem”,
conta o professor.
A
reportagem era sobre um curso de drag queen, e Ailton era um dos
alunos. Ele andou de salto alto, dançou, cantou. Ele era professor
de logística em uma escola, no centro de São Vicente, litoral de
São Paulo. Ficou dois anos e meio no emprego. Na segunda-feira
depois da reportagem, recebeu o aviso do chefe, antes mesmo de chegar
ao trabalho. “Ele falou abertamente: ‘você está demitido’”,
diz conta. A carta de demissão diz que Ailton foi despedido “sem
justa causa”, mas ele acha que o motivo está claro. “Sofri um
ato homofóbico”, desabafa.
Por
isso, o professor registrou um boletim de ocorrência por “injúria”.
Contou à polícia que o patrão disse que ele era uma “mancha para
sua empresa”. Ailton ficou apenas com o segundo emprego, em uma
entidade que oferece cursos profissionalizantes de graça. O
professor é homossexual assumido e alega que o agora ex-chefe sabia
disso. “Eu não imaginava que fosse gerar essa polêmica toda”,
se emociona Ailton.
Procuramos
o dono da empresa. Ele conversou com nossa equipe, mas não quis
gravar entrevista. Em uma nota, o advogado da escola contesta a
versão de Ailton. Afirma que a empresa está “indignada com as
inverdades mencionadas e que tomará medidas judiciais para proteger
sua honra”. O ex-patrão de Ailton negou qualquer tipo de
preconceito, disse que já vinha pensando em demitir o
ex-funcionário, porque o rendimento dele estava caindo e que Ailton
também estava faltando. Ele achou melhor fazer o desligamento,
depois que Ailton não apareceu na escola durante dois dias, porque
estava participando do curso de drag queen.
Repórter:
Você faltava?
Ailton:
O único dia que eu faltei, foi exatamente no Sábado de Aleluia. Na
quinta-feira, eu havia deixado uma atividade.
Para
a presidente da Comissão Nacional de Diversidade Sexual da Ordem dos
Advogados do Brasil, demitir por causa de duas faltas é exagero.
“Não houve nenhuma advertência e simplesmente a demissão? Dois
dias de falta não ensejam a demissão desta forma como foi feito.
Acho que isso fica evidenciado, que foi uma demissão causada por
homofobia.”, afirma Maria Berenice Dias. Chateados, os colegas do
curso de drag queen mandaram recados para o ex-patrão de
Ailton.
“Agora
você deveria conversar com o Ailton e trazer ele de volta. Faz isso
que eu to te pedindo. Chama ele de volta que eu acho que vai ser
melhor pra todo mundo.”
“Eu
aproveitaria o marketing que o Ailton teve, colocaria ele montado de
drag na frente da loja. Eu garanto que ia ter muito mais público.
Pensa nisso. Contrata ele agora como drag!”, sugere Zé Carlos
Gomes, coordenador do curso .
Segundo
a representante da OAB, Ailton pode pedir indenização por danos
morais. Mas ele não se decidiu. “Eu não sei te dizer até que
ponto a indenização é interessante. Eu só sei de uma coisa:
preconceito não pode existir.”
Voltei
Se
a tal lei tivesse sido aprovada, a chance de o ex-patrão de Ailton
ir para a cadeia seria enorme. Dispensa “por homofobia” rende
pena de 2 a 5 anos de reclusão. Caso o empregador seja acusado de
não contratar alguém pela mesma a razão, a coisa é ainda pior:
pena de três a cinco anos. No caso em questão, a lei nem existe,
mas a sentença já está dada: pela reportagem do Fantástico —
não há como negar — e pela representante da OAB, todos
convertidos em juízes.
Aílton
não tem dúvida de que foi vítima de homofobia, claro!, embora,
vejam que fantástico (!), ele seja homossexual assumido e seu patrão
soubesse disso. Assim, devemos entender que seu patrão “homofóbico”
contratou um homossexual assumido. Entenderam???
Muito
bem! Aílton diz que faltou ao emprego num dia e deixou de “cumprir
uma atividade em outro”… Mas, se ele é gay e aparece na
televisão se comportando como uma drag queen, é claro que só isso
pode ter decidido a sua demissão. Temos, então, que um gay não
poderá mais ser dispensado por incompetência, negligência, sei lá
o quê. Será sempre homofobia. Fosse ele hétero e tivesse aparecido
na TV como aluno de um curso para machões, aí não haveria como
alegar preconceito.
Reitero:
a lei nem foi aprovada, e já há gente sendo demonizada na
televisão. Ademais, pergunto: uma escola — estou falando de
“escola”, não de uma empresa da área de entretenimento — tem
o direito de não querer uma drag queem como professora caso
considere que isso a prejudica na disputa pelo mercado? Uma
pré-escola pode decidir não contratar a Tia Swellen Wonderful —
que, na verdade, é o Tio João Evangelista de Souza —porque isso
deixaria as crianças um pouco confusas? Segundo a lei que querem aprovar, não! Cadeia!
Essa
é a mesma lei que poderia mandar para a cadeia um padre ou pastor
que coibisse a expressão da “homoafetividade” dentro de uma
igreja. Atenção! Se um líder religioso desse um pito num casal
hétero que estivesse trocando um beijo de língua dentro do templo,
a lei o protegeria. Afinal, nos seus domínios, cabe-lhe impor o
padrão moral de sua crença. Caso fizesse o mesmo com parceiros
gays, poderia ficar cinco anos trancafiado. E olhem que nem seria
preciso dizer palavras duras: caso os parceiros gays se sentissem
psicologicamente constrangidos — uma coisa, assim, subjetiva… —,
já haveria motivos para a acusação de homofobia. O texto trata até
do “constrangimento filosófico”, seja lá o que isso
signifique.
O
que quer essa gente? Que os empregadores comecem a ficar com receio
de contratar gays, já que podem estar se expondo a uma futura
acusação de homofobia?
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