Em junho de 1971, os leitores do jornal a Folha de São Paulo se depararam com um acontecimento no mínimo curioso. O paraense e funcionário civil aposentado do Ministério da Marinha, João Vieira de Melo, 64 anos, 40 de casado, 10 filhos e 32 netos, se tornou um dos mais novos milionários do Brasil ao acertar os 13 pontos da Loteria Esportiva.
Como toda pessoa contemplada com um prêmio dessa magnitude (CR$ 1.031.439), João fez seus planos. Primeiro pagaria um empréstimo de 7 mil cruzeiros feito na Caixa Econômica Federal para reforma de sua casa. Depois compraria um carro, e ainda faria um mimo para os filhos: uma casa de presente para cada um deles.
Mas, uma das metas do novo milionário é que gerou polêmica. Queria ele construir um novo templo para a Assembleia de Deus na cidade "para manifestar seu reconhecimento à generosidade de Deus", o qual segundo ele em entrevista à Folha "me inspirou na hora de preencher o volante da Loteca". E isso sem ter na época a chamada "Bíblia do Milhão" ou as campanhas de prosperidade.
Descrito nas duas matérias feitas sobre o caso como um "frequentador assíduo" da Assembleia de Deus, João se dirigiu à igreja com a nobre finalidade de abençoar a obra "anunciando que daria todo dinheiro necessário à construção do novo templo". Quem sabe, imaginava ele, seria um momento de grande manifestação de apreço do ministério local, ou um culto marcado por louvores pela grande "vitória" concedida por Deus a um dos seus servos.
Porém, qual foi sua decepção, quando nesse intento de doar, de construir um novo templo, o pastor da congregação Eliezer Pereira Barros "ao invés de agradecer, passou a criticá-lo severamente, ameaçando inclusive expulsá-lo da igreja." Com surpresa, ouviu o pastor (não se sabe se foi particularmente ou em público) lhe dizer que "o dinheiro oferecido é de origem criminosa. Os crentes não praticam qualquer espécie de jogo".
Aborrecido, o abençoado irmão declarou que, caso expulso da igreja, faria suas orações em casa mesmo. E a doação? Segundo ele "darei as muitas pessoas necessitadas". Pobre João! A igreja não quis ser abençoada financeiramente como ele o foi e nem tão pouco compreendeu seu gesto de liberalidade.
O caso, inusitado para a época, não deixa de trazer reflexões de como os valores se transformaram no meio assembleiano em geral. Como seria recebida atualmente uma atitude como essa do caro irmão aposentado? Seria repreendido, ou ameaçado de expulsão? Ou teria sido franqueado ao sortudo o púlpito, e aberto os microfones para testemunhar? As respostas ficam na imaginação de cada leitor...
Fonte: acervo.folha.com.br - dias 16 e 17 de junho de 1971 - Primeiro Caderno p. 17 e 26.
Fonte: acervo.folha.com.br - dias 16 e 17 de junho de 1971 - Primeiro Caderno p. 17 e 26.
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