31 julho 2014

LIÇÃO 05 - 03/08/14 - "O CUIDADO AO FALAR E A RELIGIÃO PURA

TEXTO ÁUREO

"...Mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1.19).


VERDADE PRÁTICA


As nossas palavras podem, ou não, evidenciar a sabedoria de Deus


LEITURA BÍBLICA =TIAGO 1: 19-27


INTRODUÇÃO

Vivemos num tempo em que, para muitos, há uma grande distância entre o dizer e o fazer, pregar e praticar, falar e dar o exemplo. Mahatma Ghandi, diante de um líder cristão, disse: “Eu admiro o vosso Cristo, e não o vosso cristianismo”. Que Deus nos ajude a viver na prática a Palavra de Deus, para não cairmos no descrédito daqueles que nos rodeiam.

NO RELACIONAMENTO COM OS OUTROS

1. Pronto para ouvir (v.19b), A Bíblia dá mais valor a quem sabe ouvir do que a quem sabe falar. Quando falamos, sempre nos arriscamos a errar. E isso é natural. Mas, quando ouvimos, sempre podemos aprender com nossos interlocutores, tanto o que é certo quanto o que é errado. A Bíblia manda o filho ouvir a instrução de seu pai (Pv 1.8); ouvir as palavras dos sábios (Pv 22.17); e diz que é melhor “ouvir a repreensão do sábio do que a canção do tolo” (Ec 7.5).

2. Tardio para falar (v.19c). Tiago recomenda que todo homem deve ser “tardio para falar”. Aqui, há muita sabedoria, por trás desse pedacinho de frase. O velho adágio popular diz: “Quem muito fala, muito erra”. E a Bíblia assevera solenemente: “...o homem de entendimento cala-se”(Pv 11.12). E mais: “Até o tolo, quando se cala, será reputado por sábio; e o que cerrar os seus lábios, por sábio” (Pv 17.28).

3. Tardio para irar-se (v.19c). Por causa da ira, amizades são perdidas; muitos ficam doentes, deprimidos; acidentes ocorrem; crimes são perpetrados; e tantos outros males. A Bíblia tem razão, quando diz que todo o homem seja “tardio para se irar”. Ela, no seu realismo sábio, ensina: “Trai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4.26). Jesus, no templo, virou mesas, expulsou os cambistas e não pecou. Moisés, ao ver a idolatria com o bezerro de ouro, quebrou as tábuas da lei, puniu os idólatras e não pecou.
  
NO RELACIONAMENTO COM DEUS

1. Pronto para ouvir a Palavra de Deus. Muitos só querem ser ouvidos em suas prédicas. Mas é importante saber ouvir a Palavra. “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus” (Jo 8.47). Ouvir, aqui, não é um mero escutar; é dar ouvidos, prestar atenção, com o objetivo de obedecer e praticar. Quem assim faz é comparado por Jesus a um homem prudente” (Mt 7.24), enquanto o que ouve e não pratica é comparado a um “homem insensato” (Mt 7.26b). Em Pv. 8.33, lemos: “Ouvi o ensino, sede sábios...”.

2. Rejeitando toda imundícia (v.21). Aqui, imundícia é sinônimo de pecado, iniqüidade, pensamentos maus, mentiras, adultérios, enganos, etc. Paulo ensina que devemos nos despojar do “velho homem” (Ef 4.22), deixando a mentira (Ef 4.25), e que devemos tirar de nós “toda amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmias e toda a malícia” (Ef 4.3 1). Hoje, talvez o esgoto principal pelo qual a imundícia entra nos lares é a TV, com suas novelas imundas, filmes pornográficos, e a Internet, através da qual muitos estão degradando suas mentes e a de seus filhos. É melhor cumprir o que diz o Sl 101.3.

3. Recebendo a Palavra com mansidão (v.21). Tiago falava para crentes. Exortava-os a receber a palavra com mansidão (v.2l). Por quê? Certamente, havia alguém que não recebia a mensagem com alegria. Hoje, acontece a mesma coisa. Quando o pastor exorta, com base na Bíblia, combatendo os pecados, as atitudes ilícitas, há quem fique irado, e até procure mudar de igreja. É o espírito de carnalidade dominando.

CUMPRIDORES DA PALAVRA

1. Não somente ouvintes (v.22). Quem ouve a palavra de Deus e não a cumpre, como já vimos, é comparado por Jesus a “um homem insensato” (Mt 7.26). Tiago compara tal pessoa a um homem que se olha no espelho e, ao sair, não mais se lembra dos detalhes do seu rosto natural (vv.23,24). No tempo do apóstolo, os espelhos não tinham a nitidez e o brilho de hoje; eram feitos de metal. Quem ouve a Palavra e não a cumpre e não fixa seu sentido em sua mente está perdendo tempo.

2. Atentando bem para a lei da liberdade (v.25). Fomos chamados à liberdade cristã. Isto é: liberdade da servidão do pecado, para seguirmos a Cristo e servi-Lo de todo coração. Diante disso, Paulo nos exorta, dizendo que não devemos usar da liberdade para dar ocasião à carne (Gl 5.13). E desta forma que devemos cumprir a Palavra de Deus, com liberdade para fazermos o que agrada a Deus, e não aos homens ou a nós mesmos.

3. Sendo fazedor da obra (v.25). Tiago fala do cumpridor da Palavra como um “fazedor da obra” de Deus, sendo, assim, “bem-aventurado no seu feito”. E muito importante que pratiquemos a Palavra:

a) No lar. O verdadeiro crente é aquele que dá testemunho da fidelidade a Deus em casa, no trato com a esposa, com os filhos, com os vizinhos. E um teste difícil, mas genuíno, eficaz e incontestável.

b) Na igreja. Aqui, não é tão difícil cumprir a Palavra em termos exteriores. Só Deus conhece os corações. Mas, no templo, as pessoas, em geral, têm “cara de santo”. E indispensável que guardemos o nosso pé quando entrarmos na casa de Deus (Ec 5.la).

c) Em todos os lugares. Seja na escola, quartel, consultório, escritório, comércio, rua, ônibus, carro particular, ou em outra qualquer parte.

A RELIGIÃO PURA E IMACULADA

De acordo com o Dicionário Teológico (CPAD), a palavra religião vem do latim
religionis, que, por sua vez, deriva do verbo religare, que tem o sentido de “ligar outra vez”. Por trás desse conceito latino há a idéia de que o homem separou- se ou está separado de Deus e, através da verdadeira religião, o homem pode reatar sua ligação com Ele. Com base na Bíblia, porém, quem liga ou religa o homem com Deus não é religião, mas Jesus Cristo, o único “mediador entre Deus e os homens”(l Tm 2.5). Tiago emite três características da “religião pura e imaculada para com Deus, o pai”, que são:

1. Saber refrear a língua (v.26). Para alguém ser um verdadeiro religioso precisa saber dominar a língua. Do contrário, “a religião desse é vã”. É o tipo de religiosidade sem valor, sem vida, sem poder, sem salvação, visto que a pessoa é conhecida pelo que expressa com a língua, pois Jesus disse que “da abundância do coração fala a boca” (Lc 6.45). Daí, a importância do fruto do Espírito, que abrange a temperança (cf. Gl 5.22).



2. Visitar órfãos e viúvas (v.27). A verdadeira religião atende ao “homem integral” (corpo, alma e espírito), valorizando “o amor genuíno pelos necessitados” (Bíblia de Estudo Pentecostal). Órfãos e viúvas, no texto, representam, também, todos os necessitados, os famintos, os carentes físicos e emocionais. São os que não têm o mínimo para comer; os meninos de rua, as crianças abusadas sexual- mente; os párias, os injustiçados de todos os tipos. A igreja que quer praticar a “religião pura e imaculada” precisa cuidar do corpo, também, tanto quanto da alma e do espírito.

 Jesus pregou a maior mensagem, mas multiplicou o pão duas vezes, alimentando os famintos. Os discípulos, queriam que a multidão “se virasse”, mas o Mestre lhes ordenou: “...dai-lhes vós de comer” (Mt l4.16b).

3. Guardar-se da corrupção do mundo (v.27). Tiago usou uma dialética perfeita. Emitiu uma tese: o que é ser religioso; seguiu-a de uma antítese: quem não sabe refrear a sua língua está enganado e, por fim, chegou à síntese: o verdadeiro religioso interessa-se pelo sofrimento alheio (religião prática) ao mesmo tempo em que cuida do espírito, zelando pela santidade, “guardando-se da corrupção do mundo”. Não adianta ser caridoso, filantropo, equilibrado no falar e não ser um crente santo. O caminho do inferno está cheio desse tipo de gente. Para o céu só vão os que zelam pela santificação (cf. Hb 12.14).

CONCLUSÃO

Praticar a Palavra é algo difícil, porém, sublime. A Bíblia é o código de Deus para o homem. Nela, de um lado, encontramos o amor e a bondade divinos. De outro, os preceitos, os estatutos e as normas, através das quais os interesses humanos, egoístas e carnais são contrariados e condenados. Mas, com a ajuda do Espírito Santo, podemos viver a Palavra em nossa vida diária.




Subsídio para o Professor

CONTRA A IRA E O MAU TEMPERAMENTO (1:19-21)

Se tiver de haver qualquer conexão direta com os versículos anteriores, esta breve secção deve ser vista como algo que toca em certo aspecto da santidade e da conduta que se espera de primícias privilegiadas (ver o décimo oitavo versículo), de quem se espera que ilustrem amplamente, em si mesmos, o poder e a realidade do novo nascimento. Assim é que alguns manuscritos dizem, «Portanto, meus amados irmãos...«Assim dizemos mss P(2), KLP, bem como a maioria dos manuscritos minúsculos da tradição bizantina.

O texto correto, entretanto, diz«...(isto) sabeis...», conforme se vê nos mss P(74), Aleph, BC, eo Sai, o Bo e o Si(hp). A maioria dos textos alexandrinos e ocidentais concorda com isso, pelo que o parágrafo mui provavelmente não aparecia originalmente com qualquer elementos de ligação, porque também o seu tema, é desvinculado do resto. Grande parte da epístola de Tiago se caracteriza por idéias sem vinculação entre si, assemelhando-se ao livro de Provérbios. O vocábulo grego «iste» pode ser traduzido como imperativo ou como indicativo; mas o imperativo ordena que os crentes tomem consciência do que estava prestes a ser dito.

1:19: Sabei isto, meus amados irmãos: Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar.

O versículo indica que havia contendas na igreja, com base no egoísmo no desejo pela proeminência, em vinculação com a falta de consideração pelos sentimentos e direitos alheios. São defeitos comumente encontrados hoje em dia nas igrejas, uma fonte de contendas e cismas constantes. Desculpamos nosso mau temperamento com base em várias considerações falsas, a saber:

1. Estaríamos, realmente, exercendo justa indignação, defendendo direitos da igreja.
2. Embora reconhecendo nossas faltas, desculpamo-nos dizendo que «temos trabalhado demais», ou dizendo que outros nos provocaram.

3. E alguns chegam mesmo a crer que seu espírito irascível é uma tendência herdada, da qual não podem controlar-se.
Na realidade, porém, tudo isso é obra da carne, devido à falta de crescimento espiritual, evidência da imaturidade espiritual. Este versículo pode ser comparado com Pv 10:19; 15:1,2; 16:32; 17:27; Mt 5:22; Ef 4:26,29,31.

Com grande freqüência a ira se origina do ódio, se não é que sempre tem tal base, de mistura com o egoísmo; e ambas as atitudes caracterizam o pecador, que não faz segredo de sua depravação. Mas é uma desgraça quando essas coisas sucedem no seio da igreja, que pertencem somente a homens que não buscam pelas realidades espirituais, que não vivem segundo a dimensão eterna. Quando nos iramos, esquecemo-nos do amor de Cristo; e este não opera em nós. Um menino pequeno foi indagado por qual motivo não ficava irado com sua professora, ao mesmo tempo que se irava com tanta freqüência com sua mãe. Sua resposta foi reveladora. Ele disse que não ficava zangado com sua professora porque não queria perder a aprovação dela. Evidentemente ele contava com o amor de sua mãe como algo garantido, de forma que podia mostrar-se indisciplinado em casa, retendo sempre a aprovação materna. Mas não tinha a certeza sobre a mesma coisa, quanto à sua professora.
Porém, muitos membros da igreja, desconsiderando totalmente a aprovação de Deus e de seus semelhantes, exibem mau temperamento e servem somente para destruir a unidade que deve haver no seio da igreja cristã.

«...amados irmãos...» Palavras usadas como tratamento, o que também sucede no décimo sexto versículo deste capítulo.

«...prontos para ouvir...» Em outras palavras, ao invés de exibirem um mau temperamento, forçando sua vontade sobre os outros, os crentes deveriam estar prontos a ouvir e ver os pontos de vista dos outros. Deve haver uma atitude de mútua condescendência, o que é apenas outra maneira de se falar sobre o amor mútuo em operação. O amor cristão consiste em cuidarmos dos outros conforme cuidamos de nós mesmos. Aquele que segue essa regra não explode em ira, nem anseia por impor sua vontade aos outros.

«...tardio para falar...» Essa qualidade acompanha a qualidade anterior. A prontidão em ouvir deve incluir a prontidão para receber a «palavra da verdade» (ver o décimo oitavo versículo). Pelo menos, o homem que atenta para essa palavra terá a virtude do altruísmo e da condescendência, que este texto nos dá a entender. «Aquele que se apressa nas palavras se apressa por lançar fogo», e «Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva!» (Tg 3:5).
«Já que algum resto do velho homem permanece em nós, necessário é que, através da vida, sejamos continuamente renovados, até que a natureza carnal seja abolida; pois tanto a nossa perversidade, como a nossa arrogância, como a nossa indolência são grandes empecilhos a Deus, no aperfeiçoamento de sua obra em nós».   (Calvino, in loc).

A PRÁTICA ADICIONADA AO OUVIR = 1:22-25

A breve secção que ora se inicia salienta uma verdade religiosa e espiritual com a qual todos concordamos, mas que nem sempre praticamos. Freqüentar aos cultos da igreja não basta; não é virtude ouvir lições e sermões, como se isso fosse um medicamento espiritual; nossa presença nos cultos, se formos ali somente para tal atividade, não impressiona a Deus.

Somos obrigados, devido à nossa posição como crente, de pormos em prática aquilo que ouvimos. Aquele que ouve mas não pratica, e ainda pensa que é um crente, perdeu-se no seu autoludíbrio (Sistema automático pelo qual os mecanismos controlam seu próprio funcionamento, quase sem a interferência do homem.). Se vemos em um espelho uma imagem da qual não gostamos, mas nada fazemos para melhorá-la, aquela aparência má permanecerá.

Portanto, se na alma fica demonstrado haver um defeito, precisando ela do cultivo de algo positivo, pela prática, mas o indivíduo fica impassível, certamente teremos de imaginar uma alma indolente e corrupta. Outrossim, a simples «convicção de pecado», o reconhecimento de nosso estado, não tem real e duradoura significação, a menos que seja seguido pelo arrependimento autêntico. De nada adianta alguém ouvir falar sobre o amor, sobre como Deus amou ao mundo, sobre como Cristo deu a sua vida, a menos que esse amor opere através de nós para benefício de outros. A bem-aventurança espiritual pela qual lutamos, a aprovação de Deus, bem como a consciência de uma inquirição espiritual bem feita, só são dadas para aqueles que são praticantes da doutrina cristã, e não somente ouvintes.

Não são muitas as pessoas na igreja cristã, ou mesmo no mundo, que são ateus teóricos: em outras palavras, não são muitos os que negam a existência de Deus. Mas a maioria das pessoas, visto que vive com base em motivos egoístas, se compõe de «ateus práticos». Em outras palavras, vivem como se Deus não existisse: não há espaço para Deus em suas vidas; e o fato que Deus existe não faz qualquer diferença prática em suas vidas. A igreja cristã conta com muitos teístas (Doutrina que admite a existência de um deus pessoal) teóricos que, na realidade, são ateus práticos. Esses são os que ouvem a Palavra, mas não põem em prática aquilo que ouvem; aprovam sermões e lições, a leitura bíblica e as orações, mas agem com base em motivos egoístas, não estando verdadeiramente motivados por viver segundo os moldes da dimensão eterna.

Quando argumentam, defendem veementemente a inspiração das Escrituras; mas, em suas vidas diárias, praticam muitas coisas que demonstram que não consideram a sério a Bíblia, a Palavra de Deus. Talvez até cheguem a denunciar heréticos, que se desviam daquilo que pensam ser a doutrina ortodoxa (Conforme com a doutrina religiosa tida como verdadeira); mas, em suas vidas, são hereges práticos, discordando dos ensinamentos da fé que defendem. Defendem verbalmente ao cristianismo, mas não provam a verdade de suas doutrinas, mediante a vida prática diária.

Acreditam na graça divina, mas agem como se esta fosse base para a doutrina da «crença fácil», segundo a qual idéia ao homem é dada passagem livre para os céus, sem a necessidade de real conversão e de transformação moral segundo a imagem de Cristo. O que torna tão vital essa questão é que há um grande número de tais pessoas; e, infelizmente, a pregação superficial na igreja, que não exige moralidade, e nem desafio espiritual para a transformação segundo a imagem e a natureza de Cristo, tem promovido o culto dos «ouvintes que não são praticantes» da Palavra.


1:22: E sede cumpridores do palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.

«...pois...» Esse termo vincula este versículo com o que é dito anteriormente: se tivermos de pôr de lado, como roupa suja, a imundícia e a excrescência da iniqüidade, recebendo com mansidão a Palavra implantada, que nos revolucionará, levando-nos assim à salvação, precisamos ser mais do que meros ouvintes da Palavra. Devemos praticar os preceitos de nossa fé, provando que se trata de um elemento transformador. De outra maneira, estaremos dando provas positivas de que a Palavra de Deus foi implantada em nós apenas supostamente, porquanto não nos está transformando moralmente.

«...praticantes da palavra...» Essa expressão é usada somente por Tiago, em todo o N.T., embora a idéia seja bastante comum, expressa de muitos modos diversos. (Ver Ez 33:32 e Mt 7:24, que são as duas ocorrências principais). Ouvir e praticar edifica na pessoa um firme alicerce, que não pode ser abalado; porque se trata, realmente, do Espírito em nós, criando a imagem e a natureza de Cristo. Assim, todas as virtudes que possuímos, que podemos expressar para outros, são fruto do Espírito (ver Gl 5:22,23). Parece, pois, que o segredo da «prática» e do «ser» aquilo que professamos, se acha na busca e na submissão ao Espírito, incluindo-se nisso o uso dos dons espirituais, mediante os quais a igreja será levada à maturidade e à perfeição (ver Ef 4:7-16). Ninguém pode ser «praticante» bem-sucedido da palavra a menos que, primeiramente, seja algo em Cristo; e a pessoa se «torna em algo» através do poder residente e transformador do Espírito Santo.

O Talmude (Doutrina e jurisprudência da lei mosaica, com explicações dos textos jurídicos do Pentateuco, e a Michná, i. e., a jurisprudência elaborada pelos comentadores entre o III e o VI séculos.) reconhece esse princípio. «Todos os meus dias tenho passado entre os sábios, e não tenho encontrado melhor coisa para o homem que o silêncio; não o aprender, mas o fazer, é a base; e quem multiplica suas palavras ocasiona o pecado». (Pirke, Aboth, i. 16; i.18; Rabino Simeon ben Gamaliel I). «Todo aquele cujas obras excedem sua sabedoria, tem uma sabedoria firme, e todo aquele cuja sabedoria excede às suas obras, não tem uma sabedoria firme». (Rabino Chananiah ben Dosa, iii.14). (Ver declarações similares em Filo, De Praem et Paenis , 14; e Sêneca, Ep., 108.35).

A expressão «praticantes da palavra» significa «pôr em prática o que lhes é ordenado», mostrando que tais pessoas são sensíveis para com a Palavra de Deus, devendo ser transformadas por ela, tanto em seu ser como em suas ações. A piedosa anuência aos ensinamentos de Jesus, seguida por ações contraditórias, é um simulacro (Imagem de divindade ou personalidade pagã; ídolo, efígie) da vida cristã, algo que os profetas condenaram sem reservas. (Ver Os 6:6 e Mt 9:13).

Conforme o ponto de vista judaico, o praticante da palavra era praticante da lei. Conforme o ponto de vista cristão, a Palavra se tornou o «evangelho». O evangelho exige fé, ou seja, temos de entregar nossas almas aos cuidados de Cristo, a fim de sermos transformados segundo a sua imagem. Essa transformação dá início ao ser moral, pois deveremos assumir a natureza moral de Cristo, e, desse modo, chegaremos a participar da mesma santidade que Deus tem. Esse conceito é anotado em Mt 5:48; Rm 3:21 e Hb 12:14. Tudo isso está envolvido na «prática da palavra», o que faz a mensagem cristã tornar-se eficaz em nossas vidas. Segundo se lê em Lc 11:28, «Antes bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!»

«Faremos e ouviremos. Está escrito (em Shabbath, 88a) que quando Israel puser o 'faremos' antes do 'ouviremos', virão sessenta miríades de anuos ministrantes, conferindo a cada israelita uma coroa, uma correspondente ao 'faremos', e outra ao 'ouviremos'; e quando pecarem, descerão cento e vinte miríades de anjos destruidores, para lhes arrancar as coroas».

«...ouvintes...» Temos aqui uma alusão à prática da leitura das Escrituras, na sinagoga, mais tarde praticada também na igreja cristã. Poucas pessoas possuíam cópias manuscritas, e menor número ainda sabia ler. Quase todo o «aprendizado da Bíblia» era efetuado pelo ouvir a leitura das Escrituras. Hoje em dia, quase todos sabem ler, podendo fazê-lo durante a semana, e não apenas em dias de culto. Por isso mesmo, nossa responsabilidade aumentou extraordinariamente.

Os judeus tomavam sua Torah (as Escrituras do A.T. e seus comentários) a sério. Criam que Deus lhes fizera tal revelação, tornando-os privilegiados acima de outros povos. Portanto, a leitura da Torah, na sinagoga, era uma prática solene, que se esperava servir de fator transformador das vidas dos ouvintes. O próprio Senhor Jesus se ocupou dessa prática, na sinagoga. (Ver Mt 5:17,18; 7:12; 12:5; 19:17; 23:3; Lc 4:21; 10:26 e 16:17,29). Cristo sempre mostrou ter as Escrituras Sagradas no mais alto conceito.

«Porque Moisés tem, em cada cidade desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados» (At 15:21).

«...enganando-vos a vós mesmos...» Isso fariam, supondo que Deus se agrada da pessoa que conhece profundamente as Escrituras, mas não as aplica à sua vida diária; supondo que o ouvir é bastante; supondo que a aceitação de um credo obriga Deus a salvar a alma; supondo que a fé salvadora consiste em aceitar alguma doutrina ortodoxa, mas sem reconhecer que a fé verdadeira é mística, e não racional ou credal. Em outras palavras, o Espírito Santo, que entra em contacto genuíno conosco, transforma as nossas vidas, e não meramente nos expõe doutrinas em que devemos crer.

Assim sendo, o indivíduo colhe aquilo que tiver semeado, e isso determinará o seu estado eterno. (Ver Gl 6:7,8, onde somos avisados que não nos devemos enganar a nós mesmos).

Aquele que ouve mas não pratica, assim age porque está cheio de si mesmo, e desconhece o que é a dedicação a Cristo e qual é seu poder residente. O homem que pensa que pode haver substituição para a prática da Palavra, «engana» a si próprio com uma idéia falsa; e, assim, só prejudica espiritualmente a si mesmo.
«A religiosidade não consiste no conhecimento e na crença, nem mesmo em verdades fundamentais, e, sim, em sermos levados a certa atitude e conduta».

Aproveite o assunto: questione, pergunte, mas não volte para casa com dúvidas.

Aproveite o domingo, não para descansar. Mas para dedicar-se ao Trabalho do Senhor.

Meu abraço.

Viva vencendo!!!

Seu irmão menor.

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