A pós-modernidade é um desafio a partir de seu conceito.
Alguns a chamam de transmodernidade, midmodernidade, modernidade tardia,
ultramodernidade ou contemporaneidade. A datação de seu início também é
debatida. Alguns marcam seu início a partir da Segunda Guerra Mundial,
outros a partir da chegada do homem à Lua, outros, ainda, da invenção do
computador ou até mesmo da clonagem da ovelha Dolly.
Atentando-se a apenas uma característica do tempo do fim,
Paulo lança a sua tese escatológica: o homem se desumanizará. Ele
enumera 19 características do homem dos últimos dias, completamente
influenciado pelos “ismos” destes dias. Não sabemos se os dias nos quais
estamos são os últimos dias e não nos compete saber o dia ou hora que
vem o Filho do Homem, mas apenas devemos ler o tempo no qual vivemos e
vigiarmos às ordens do Mestre, cumprindo-as. Há muitas características
descritas por Paulo que apresentam paralelos aos tempos atuais.
1º filautoi(filautói) – O homem seria amante de si mesmo,
egoísta. A ideologia pós-moderna de Roger, já cantada na década de 1980,
expressa este prisma: “Eu me amo e não posso mais viver sem mim”. Paulo
profetiza a chegada do Humanismo. As pessoas mais
humanas que conheço são as menos humanistas. Em contrapartida, as de
discurso mais humanistas adotam práticas e relacionamentos desumanos.
2º filarguroi(filárgyroi) – O homem seria amante do dinheiro, ganancioso. A ideologia do capitalismo
impregnada na mente humana o levaria à coisificação de pessoas. Seria o
tempo em que o voluntarismo e o amadorismo praticamente terminariam
dando lugar ao profissionalismo. Isto também chegaria
às igrejas, de tal forma que se tornaria difícil você conseguir pessoas
para ajudar ou agir se não fosse pelo dinheiro.
3º ’alazonej(alazónes) – O homem seria presunçoso, ou seja,
presumiria de si mesmo, mais do que é. Multiplicariam-se os homens do
nível “ignorante inconsciente” da Pedagogia (os outros são: ignorante
consciente, consciente ignorante e consciente consciente).
Multiplicariam-se os irracionalismos travestidos de sabedoria, tais como Paulo Coelho aceito na ABL;
4º ‘uperhfanoi (huperēfanoi) – O homem seria orgulhoso, desdenhoso. O termo é a junção de huperē+fanoi, ou seja, “aquele que se fia na sua própria força” + “manifestar, aparecer”. O huperēfanoi é aquele que se manifesta fiado na própria força; prepotente;
5º blasfhmoi(blásfēmoi) – O homem seria blasfemo, desdenharia
das coisas de Deus. Sua blasfêmia não seria apenas uma contrariedade
direta, mas uma postura falsa de um suposto espiritualismo;
6º goneusin apeiqeij(goneusin apeitheis) – O homem seria
desobediente a pai e mãe. Literalmente, ele “não se deixaria persuadir”,
não aquiesceria aos ensinos do pai e da mãe (apeitheis). Suzane Von Richtoven e irmãos Cravinhos se multiplicariam;
7º axaristoi (acháristoi) – O homem seria desprovido de
gratidão. A capacidade de agradecer e reconhecer seu benfeitor e
benfeitoria seria escassa. Isto é consequência da presunção e egoísmo.
Se o homem se acha o centro de tudo, ele subentende que é obrigação do
próximo fazer algo por si. É a ovelha triste porque acha que todos
deveriam cumprimentá-la e agradecer por tudo: humanismo;
8º anosioi(anósioi) – O homem seria não consagrado. an-ósioi
é o não santo, não consagrado, não ordenado, não acompanhado dos
deveres religiosos e seguido pelas palavras santas. Seria o “profano”.
Seria aqueles que se autointitulam algo sem assim terem sido
reconhecidos ou ordenados licitamente. A autointitilação apostólica e
pastoral de muitas seria elevada à potência;
9º astorgoi(ástorgoi) – O homem seria sem afeição, principalmente no relacionamento entre pais e filhos: a, “sem”, storgoi,
“amor entre pai e filho”. Pais e filhos cometeriam atrocidades entre um
e outro. Filhos jogados no lixo e pais sendo assassinados por filhos
não seria incomum. O assassinato de Robinson Cavalcanti não deixa de ser
cumprimento da profecia paulina. Seria o tempo do homossexualismo;
10º aspondoi(áspondoi) – O homem seria sem palavra, violador de pactos; a, “sem”, spondoi,
“libação que acompanharia a firmação de um tratado”; seria implacável.
Basta assistir o vídeo da última campanha política e averiguar que
promessas de campanha foram cumpridas. O tempo do eidos (“imagem”) enfraquece mais ainda o logos (“palavra”). É o tempo do imagetismo. Este imagetismo também geraria um desejo de ser visto, de ser conhecido, de estar na mídia. O midiatismo
surge como filho do imagetismo. A maior parte das pessoas do Ocidente
sonha em ter seu 5 minutos de fama televisiva, ainda que isto lhe custe a
alma.
11º diaboloi(diáboloi) – O homem seria incitador a brigas, caluniador, acusador, maldizente; seria falastrão. Debates e realities shows com brigas dariam muito IBOPE.
12º akrateij(akrateis) – O homem seria incontinente, sem
domínio próprio. Seria o tempo da obesidade, o tempo do adultério, o
tempo do excesso. Ele seria “ingovernável”. Não aceitaria sobre ele
autoridade. Desta forma, a consequência natural seria o anti-institucionalismo. Seria a ditadura do relativismo.
O relativismo preconiza a diversidade de “eus”, de métodos, de
pressupostos, conduzindo à transição da epistemologia moderna. Em um
mundo humanista e egocêntrico, o homem não aceita o governo ou opinião
de outro. É a autocontraditória ilógica ditadura do Relativismo. O pluralismo esincretismo
seriam consequências do relativismo. Este pluralismo não seria apenas
religioso, mas de pertencimento. O cristão, hoje, pertence a uma
diversidade de grupos e isto gera nele um senso de “anti-exclusivismo”.
Ele quer pertencer a tudo e a todos e ao mesmo tempo não ser de ninguém.
É comum alguém afirmar que “está frequentando” ou “faz parte” de
determinada igreja, mas a nomenclatura “ser membro” ter gradativamente,
mudado, pelo desejo de não se compromissar. A família também sente
grandes conseqüências disso, pois as distâncias são maiores, os
relacionamentos com a parentela menores. A criança fica na creche e
encontra aos fins-de-semana com os pais, criando uma personalidade mais
fraca e um senso de proteção menor.
13º anhmeroi(anémeroi) – O homem seria imoderado, excessivo,
violento, sem limite, selvagem. O ato de Elise Matsunaga mostra a
excessividade da violência contemporânea. Elisa Samúdio, cortada em
pedaços dados a rotweillers é exemplo também. As brigas de
adolescentes na escola, que vão parar na internet são animalescas. O
revide, nos últimos dias, seria desproporcional;
14º afilagaqoi (afilágathoi) – O homem seria sem amor para com
as coisas boas. Independente de Calvinismo ou Arminianismo, a tendência
do homem nos últimos dias será para fazer aquilo que é mal. Sua
pergunta não seria “é certo?” (deontologia), mas “dá certo?”
(teleologia), ainda que isto signifique a coisificação do ser humano e a
aplicação do utilitarismo;
15º prodotai(prodótai) – O homem seria traidor. Ele estaria disposto (pro) a entregar o outro (dótai).
Em um sistema capitalista, trair não é uma questão de princípios, mas
de preço. A ética do mercado não é se “é certo?”, mas é “dá certo?” e
“quanto vale?”;
16º propeteij(propeteis) – O homem seria precipitado. Falaria e
agiria com precipitação. Quereria falar, mas não teria o que falar.
Tomaria atitudes impensadas. Pareceria possesso, fora de si mesmo, mas
seriam atitudes próprias suas, precipitadas. Seria o tempo do imediatismo consequência do capitalismo e da ideologia difundida pelo Tio Sam, de que Time is Money.
17º tetufwmenoi(tetufomenoi) – O homem seria orgulhoso,
“inchado como um tufão”. Ele perderia a capacidade de ouvir, pois
ouviria apenas a si mesmo. Por isso, João repete recorrentemente em
Apocalipse “quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, pois nos últimos dias o
homem perderia a capacidade de ouvir ao outro (2Tm 4.3-4). O homem
advoga ser dono de si mesmo. É o tempo da privatização, não apenas de empresas e estabelecimentos, mas da vida. Não se deseja mais repartir a vida ou opiniões.
18º - filhdonoi mallon h filoqeoi(filédonoi mallon he filótheoi)
– O homem seria mais amigo dos prazeres do que amigo de Deus. Sua
amizade é ao que lhe traz prazer, mesmo que seja algo tão ilógico quanto
queimar uma pedra para cheirar, beber urina ou tomar sangue. Ele
buscaria estar belo em um mundo imagético. No mundo imagético,
multiplicam-se os corpos sarados, as academias, as modelos, os bombados.
Paulo profetiza que o Hedonismo se multiplicaria. O mundo se tornaria carlaperenizado. É o pansexualismo.
Em um mundo imagético capitalista hedonista, se a igreja não me serve
jiló (amargo, mas que faz bem), faço como em um self-service e vou para
outra onde escolho ser servido com torresminho (só gordura e faz mal).
Esta amizade dos prazeres geraria um sensitivismo, pois o que importa é se eu me “sinto bem” em fazer algo ou estar em algum lugar.
19º exontej morfwsin eusebeiaj thn de dunamin authj hrnhmenoi(éxontes mórfwsin eusebeías tén dé dúnamin autes ernemenoi)
– Os homens teriam uma aparência de uma piedade adoradora, ou seja,
religiosidade exterior, mas negariam a eficácia de seus princípios.
Teriam uma imagem midiática de bom moço, mas fazendo o que só o Senhor
sabe fora das câmeras.
Estes homens se multiplicariam e quereriam escusar-se de sua conduta
generalizando. Seria a multiplicação da fala de Sérgio Cabral: “Quem
nunca engravidou uma namoradinha”; a fala de Vagner Love: “Quem nunca
capotou com o carro”. É a tentativa de normatização do absurdo.
Dentre estes estão “aqueles que entram pelas casas e capturam mulheres
tolas, sobrecarregadas de pecados, levadas por paixões diversas” (2Tm
3.6). Será que não poderíamos dizer que entre estes estão aqueles que
produzem os programas de Márcia Goldsmith, Big Brothers, Fazenda, Ratinho, Pânico, e as “Carminhas” da vida, cativando a mente de muitos?
Será um tempo de informativismo. O avanço da tecnologia (tecnologicismo) e a globalização (globalismo)
proporcionariam uma circulação da informação sem limites. Estes homens
aprenderão sempre e jamais poderão chegar ao conhecimento da verdade
(2Tm 3.7). Eles terão coleções de CDs, DVDs, livros, mas não conhecerão a
verdade. Por quê? Porque a verdade é o que é e estes homens tentarão
ser o que não são. Assim como Janes e Jambres, que resistiram a Moisés
não conseguiram vencer, também estes não vencerão (2Tm 3.8-9). O
informativismo traz, na enxurrada de tantas coisas, a enxurrada de
versões bíblicas que contribui para uma geração que não conhece textos
de cor.
O tempo é desanimador, mas o pressuposto é que, sendo Deus eterno e
conhecedor de todas as coisas, poderia ter plantado você nos dias de
Lutero, Wesley e Moody, mas não o fez. Assim sendo, é o tempo mais
oportuno para nós. Lembrando a fala de Atanásio quando seus acusadores o
concitaram a renegar a fé, argumentando que o mundo inteiro estava
contra ele, o mesmo disse: Se o mundo inteiro está contra Atanásio,
então é Atanásio contra o mundo
ATITUDES A SEREM TOMADAS NESTE TEMPO
Em um tempo tal como este, que atitudes podem e devem ser
tomadas por aquele que deseja preparar-se para exercer uma apologética
que seja relevante e faça a diferença?
Primeiramente, é necessário ter convicções sem fazer
imposições. “Eu sei em quem tenho crido” (2Tm 1.12), bradou Paulo e é o
brado que devemos continuar dando. Para isto, precisamos conhecer quem
nos cremos, que, mais que um sistema de crenças ultrapassado, é um
Cristo vivo, que está em nós e fala conosco. Não podemos impor o que
cremos, mas temos que ter certeza daquilo em que cremos.
É necessário maior preparo reflexivo-argumentativo. A
proliferação da informação exige maior preparo. Não é necessário – nem
possível – se conhecer tudo, mas fundamental o bom preparo, profundo e
coerente, da argumentação e entendimento do que se crê.
É necessário ensinarmos o outro que crê a aprender a
aprender. Com tanta informação sai na frente que aprende a processar as
informações que tem e não quem tem mais informação. Para isso,
precisamos ensinar a não dependência e jamais tentar manipular a
informação, mas ensinar o cristão a aprender, a pesquisar, a saber em
que fontes buscar (2Tm 2.15, 1Tm 4.12).
É fundamental conhecer Deus na prática e refletir
profundamente sobre Ele. A certeza intelectual é mais fundamentada
quando a verdade é experimentada em nossa vida. Nossas experiências não
determinam quem nós somos, mas não devem ser invalidadas. Nossas
experiências fazem parte de nossa essência e se invalidamos nossas
experiências invalidamos quem nós somos. Não devemos negá-las, mas
analisá-las à luz das Escrituras. Devemos conhecer Deus na teoria, mas,
sobretudo na prática (Os 6.3).
Devemos ouvir aos antigos. Em um tempo que o homem não ouve
ao próximo, quem empresta seus ouvidos para atentar a bons conselhos
sai na frente.
Devemos ter o referencial de verdade absoluta a partir de
Cristo e dEle revelado nas Escrituras. Em um tempo de relativismo que
corrói a alma do contemporâneo pela falta de certezas e fundamentos, o
homem que tem o referencial de verdade, pleno e único, sai na frente.
Sua alma repousa na segurança da crença no único e verdadeiro caminho.
Sua alma testifica com paz.
Tanto quanto orientou Timóteo, Paulo, também,
anteriormente, o fez com Tito. Suas livro é um verdadeiro manual de
teologia apologética. Nele, Paulo orienta a Tito: “Seja poderoso na
doutrina tanto para admoestar, como para convencer os contradizentes”
(Ti 1.9); carimbe sua teologia com uma boa prática (Ti 1.16); “não
entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca
da lei; porque são coisas inúteis e vãs” (Ti 3.9); tenha os apologetas
em boa estima, cuidando deles (Ti 3.13).
Entendendo como deve se exercer a apologética na
contemporaneidade, lendo e entendendo este tempo e o homem deste tempo, e
tomando as atitudes supracitadas, indicadas, o cristão deve estar mais
bem preparado para fazer a diferença neste tempo.
Seminário Teológico Betel
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