Lição 1: O surgimento da Teologia da Prosperidade
1º de Janeiro de 2012
TEXTO ÁUREO
“Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20). - Questionar a moralidade das ações de Deus é inadequado. As criaturas não têm o direito de objetar ao que seu Criador faz.
VERDADE PRÁTICA
O pecado da Teologia da Prosperidade consiste em sua anulação da soberania de Deus.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Lucas 12.13-21.
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
- Explicar as raízes da Teologia da Prosperidade;
- Descrever os principais ensinamentos da Teologia da Prosperidade, e
- Analisar as principais conseqüências da Teologia da Prosperidade.
Palavra Chave
Teologia da Prosperidade: Uma teologia centrada na saúde e na prosperidade material, não na salvação em Jesus Cristo.
COMENTÁRIO
(I. Introdução)
Iniciamos o primeiro trimestre de 2012 com um assunto instigante e de caráter emergencial. Tornou-se comum ouvir-se falar em prosperidade, em bênção financeira, riquezas e bens materiais. Somos forçados a acreditar que a prosperidade está vinculada somente ao sucesso financeiro. Talvez alguém se assuste ao ouvir que não é errado o crente ser próspero. Deus é bom e deseja que tenhamos uma vida abundante (Jo 10.10). Podemos encontrar na Bíblia pelo menos vinte e três versículos ou mais, onde é mencionada a palavra prosperidade, e entendemos claramente que a prosperidade tem influência não somente no material como também no âmbito espiritual: o crente pode ser próspero materialmente e ser próspero Espiritualmente. Entretanto, não tenhamos a falsa idéia de que podemos ser livres de qualquer dor, escassez ou momentos difíceis. Tiago 1.17 esclarece: "Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto descendo do Pai das luzes em quem não há mudança nem sombra de variação", e Paulo ainda em Rm 8.32 afirma: "Aquele que nem a seu próprio filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele todas as coisas?". Por tanto ser próspero não é deixar de servir a Deus, nem ser altivo e por a esperança na incerteza das riquezas, mas demonstrar fidelidade ao Deus que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos. A verdadeira prosperidade será o objeto de estudo durante este início de ano, e em contraposição à também conhecida como Confissão Positiva, estaremos ferramentados para uma apologética firme e segura contra as heresias e as aberrações da Teologia da Prosperidade. Nesta Lição, estudaremos as origens deste movimento surgido nos EUA e que alastrou-se como erva daninha pelo Brasil, levando muitas lideranças importantes a abandonarem o genuíno Evangelho. Como assevera o salmista: "Pois comerás do trabalho de tuas mãos, feliz serás e te irá bem. A tua mulher será como a videira frutífera aos lados de tua casa, os teus filhos como planta de oliveira, à roda de tua mesa. Eis que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor" ( Sl 128.2-4). Leia agora as palavras do próprio Cristo: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores"(Mt 7.15). Receio que o dano espiritual já sofrido por muitos crentes bem intencionados seja irreversível, mas com este tema, talvez impeçamos alguns de incorrerem num terrível destino. Que o Soberano Senhor use este trimestre para desmascarar os falsos mestres! Boa aula!
(II. Desenvolvimento)
I. RAÍZES DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
1. Gnosticismo. Paulo foi um ferrenho apologéta contra as heresias da - como ele a chamava - 'falsamente chamada ciência'. Segundo o site Wikipedia, "Gnosticismo - (do grego Γνωστικισμóς (gnostikismós); de Γνωσις (gnosis): 'conhecimento') é um conjunto de correntes filosófico-religiosas sincréticas que chegaram a mimetizar-se com o cristianismo nos primeiros séculos de nossa era, vindo a ser declarado como um pensamento herético após uma etapa em que conheceu prestígio entre os intelectuais cristãos" [http://pt.wikipedia.org/wiki/Gnosticismo]. É oriunda de uma concepção religiosa muito antiga, de antes de Cristo, que veio do Oriente, provavelmente da Pérsia, que ao combinar filosofia pagã, alguns elementos da astrologia e mistérios das religiões gregas com as doutrinas apostólicas do Cristianismo, tornou-se uma forte influência na Igreja gerando uma terrível heresia que foi severamente combatida por Paulo, Pedro e João em suas epístolas e ainda no século seguinte, no período patrístico, com os escritos apologéticos de Irineu (130-200), Tertuliano (160-225) e Hipólito (170-236). Seus adeptos tornaram-se uma seita que defendia a posse de conhecimentos secretos que, segundo eles, tornava-os superiores aos cristãos comuns que não tinham o mesmo privilégio. Segundo expõe o site Ministério CACP, "A premissa básica do gnosticismo é uma cosmovisão dualista. O Supremo Deus Pai emanava do mundo espiritual "bom". A partir dele, procediam sucessivos seres finitos (éons), quando um deles (Sofia) deu à luz a Demiurgo (deus criador), que criou o mundo material "mau", juntamente com todos os elementos orgânicos e inorgânicos que o constituem. Cristãos gnósticos, como Marcião (160 d. C.) e Valentim, ensinavam que a salvação vem por meio de um desses éons, Cristo, que se esgueirou através dos poderes das trevas para transmitir o conhecimento secreto (gnosis) e libertar os espíritos da luz, cativos no mundo material terreno, para conduzi-los ao mundo espiritual mais elevado. Cristo, embora parecesse ser um homem, nunca assumiu um corpo físico; portanto, não foi sujeito às fraquezas e emoções humanas. Jesus não veio em carne! " [disponível em: http://cacp.org.br/seitasdiversas/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=351&menu=8&submenu=1].
2. Crenças perigosas. O ponto aqui não é o fato do perigo da mistura, mas que, enquanto Deus criou a humanidade justa, o homem tem-se corrompido "Eis aqui, o que tão-somente achei: que Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias." (Ec 7.29). Talvez seja necessário examinarmos mesmo que resumidamente, os principais mestres da mensagem da Fé, cuja fonte principal são os ensinos da metafísica do Novo Pensamento. Muito antes dessa seita ganhar força, Phineas Parkhurst Quimby (1802-1866), é tido como o pai intelectual do Novo Pensamento, uma vez que a essência do movimento está enraizada na interpretação dos ensinamentos de Quimby. Phineas Parkhurst Quimby, que era conhecido como "Park", nasceu em 16 de fevereiro de 1802, em Lebanon, New Hampshire. Era relojoeiro e tinha pouca educação tradicional. Vários elementos importantes de sua vida, levou ao desenvolvimento de suas idéias de cura mental. Foi o divulgador da noção de que a enfermidade e o sofrimento, em última análise, têm sua origem no pensamento incorreto (http://phineasquimby.wwwhubs.com/). Seus seguidores afirmavam que o homem pode criar sua própria realidade através do poder da afirmação (confissão) positiva. "Poder da mente" foi substituído por "Poder da fé" como assevera um dos escritores dessa escola, Warren Felt Evans: "a fé é a forma mais intensa de ação mental" [1]. Algo muito difundido em uma corrente neo Pentecostal é a "fé inteligente". Hank Hanegaff em sua obra publicada pela CPAD 'Cristianismo em Crise', elenca diversos nomes conhecidos desse lado de cá do Equador: E. W. Kenyon, Kenneth Copeland, Kenneth Hagin, T.L. Osborn, William Branham, Benny Hinn, Aimee Semple McPherson, Kathryn Khulman, Robert Tilton e Marilyn Hickey, Oral Roberts, John Avanzini, Charles Capps, Morris Cerullo, Paul Crouch e Jerry Savelle [2]. Em sua maior parte, os ensinos são reciclados de outros pregadores da Prosperidade e sua mensagem condimentada com jargões como "a fé do tipo de Deus", "confissão atrai possessão" e "receber segue-se ao ato de dar".
3. Confissão positiva. Para Essek William Kenyon, cuja vida e ministério foram influenciados por seitas como Ciência da Mente, Escola da Unidade do Cristianismo, Ciência Cristã e a metafísica do Novo Pensamento, é possível ao cristão viver em total saúde e prosperidade financeira. Com base no que que conhecera, Kenyon começou a aplicar a técnica do poder do pensamento positivo. Orava pelos enfermos e muitos foram curados. Não era pentecostal, pastoreou várias igrejas e fundou outras. Seus livros tiveram grande influência sobre outros adeptos da Teologia da Prosperidade. Parece que as doutrinas de Kenyon foram plagiadas por Kenneth Hagin que pregava mensagens muito semelhantes. E. W. Kenyon teria sido o primeiro autor a publicar sobre o que se tornou a Teologia da Prosperidade. Em seu livro “The Hidden Man” (O Homem Escondido), na página 99, escreveu: “Sei que estou curado porque Ele disse que estou curado, e não me importo com os sintomas que possam estar em meu corpo”. O mesmo aconteceria se esses [mestres da Fé] estivessem tossindo e alguém lhes dissesse que eles estavam com tosse, e eles respondessem: “Há anos que eu não sei o que é tossir!”. Kenneth Hagin (Texas, EUA, 1918), discípulo de Kenyon, quando jovem sofreu várias enfermidades e pobreza; aos 16 anos afirma que recebeu uma revelação quando lia Mc 11.23,24, entendendo que tudo se pode obter de Deus, desde que confesse em voz alta, nunca duvidando da obtenção da resposta, mesmo que as evidências indiquem o contrário. Isso é a essência da "Confissão Positiva". Foi pastor da igreja batista; da Assembléia de Deus Americana, em seguida passou por várias igrejas pentecostais, e , finalmente, fundou sua própria igreja, aos 30 anos, fundando o Instituto Bíblico Rhema. K.Hagin diz, com base em Gl 3.13,14, que fomos libertos da maldição da lei, que são: 1) Pobreza; 2) doença e 3) morte espiritual. Ele toma emprestadas as maldições de Dt 28 contra os israelitas que pecassem. Segundo essa doutrina, o cristão tem direito a saúde e riqueza; diante disso, doença e pobreza são maldições da lei. Eles ensinam que "todo cristão deve esperar viver uma vida plena, isenta de doenças" e viver de 70 a 80 anos, sem dor ou sofrimento. Quem ficar doente é porque não reivindica seus direitos ou não tem fé. E não há exceções. Pregam que Is. 53.4,5 é algo absoluto. Fomos sarados e não existe mais doença para o crente. Os seguidores de Hagin enfatizam muito que o crente deve ter carro novo, casa nova própria, as melhores roupas, uma vida de luxo. No Brasil algumas Igrejas adaptaram estas práticas para as características brasileiras, além de possuir metodologias e princípios próprios. Em suas reuniões em vez de ouvir num sermão que "é mais fácil um camelo atravessar um buraco de agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus" (Mt 19.24 e Mc 10.25), possibilidade de desfrutar de bens e riquezas, sem constrangimento e com a aquiescência de Deus. Arrependimento e redenção, tema central do Cristianismo, e as dificuldades nesta vida para o justo de Deus são temas raramente tratados nessas denominações.
SINOPSE DO TÓPICO (I)
As raízes da Teologia da Prosperidade não estão firmadas nas Sagradas Escrituras.
II. PRINCIPAIS ENSINAMENTOS DA “TEOLOGIA DA PROSPERIDADE”
1. Divinização do homem. Na filosofia de Nietzsche, Deus morre, para que o homem assuma a sua própria divindade. Deus deixa de existir a fim de que o super-homem controle a existência sobre a terra. O filósofo ateu Feuerbach, considerava que a grande reviravolta da história será quando o homem se conscientizar de que o único Deus do homem é o próprio homem: “Homo homini Dei”. Outro humanista ateu, Edmund Leach, afirmou que os homens se tornaram como deuses e, que já é tempo de os homens entenderem e assumirem a sua própria divindade. Incrivelmente sem máscara ou retoque, o antigo silvo da serpente de Gênesis "sereis como Deus" tem reverberado através dos séculos em tamanho e formatos diversos como este pensamento Nietzchianiano. M. Scott Peck escreve: "Deus quer que nos tornemos ele mesmo (ou ela mesma). Estamos crescendo na deidade. Deus é o alvo da evolução" [3]. Hank Hanegraff em sua obra Cristianismo em Crise, pp. 116 e 117, escreve: K. Hagin assevera: "O homem... foi criado em termos de igualdade com Deus, e poderia permanecer na presença de Deus sem qualquer consciencia de inferioridade... Deus nos criou tão parecidos com Ele quanto possível... Ele nos fez seres do mesmo tipo dEle mesmo... O homem vivia no Reino de Deus. Vivia em pé de igualdade com Ele... O crente é chamado de Cristo... Eis quem somos; somos Cristo!"; "Kenneth Copeland declara que ä razão para Deus criar Adão foi seu desejo de reproduzir a si mesmo... Ele (Adão) não era um deus pequenino. Não era um semideus. Nem ao menos estava subordinado a Deus"; "Benny Hinn pronuncia: Éu sou um pequeno messias caminhando sobre a terra". A Bíblia, porém diz que o homem é estruturalmente pó (Gn 2.7; 3.19).
2. Demonização da salvação. Um dos populares ensinos da Palavra da Fé é que Jesus recebeu a natureza e Satanás e por isso precisou nascer de novo. Essa doutrina está intrinsicamente ligada à heresia de que “Jesus morreu espiritualmente”, postulando que o sangue derramado por Jesus foi insuficiente para a redenção do homem; Ele precisou sofrer nas mãos de Satanás, no inferno, e nascer de novo como o primeiro homem a vencer a morte. Benny Hinn ensina esta heresia: “Ele (Jesus), que é justo por escolha, disse: ‘a única maneira pela qual posso fugir do pecado é me tornando pecado. Não posso simplesmente detê-lo, permitindo que ele me toque; ele e eu temos nos tornado um’. Enquanto isso, Aquele que é a natureza de Deus, tornou-se a natureza de Satanás, quando se tornou pecado”. (TBN, 01/12/90). Nesta exata declaração, Hinn consegue transmitir vários erros distintos: (a) - Jesus não é justo por escolha, mas por natureza; (b) Jesus jamais falou isso, quer tenha sido na Escritura e muito menos a Benny Hinn; (c) A natureza divina de Jesus é constante; nem mesmo Deus pode mudar a Sua natureza divina para algo mais. - Quando se tornou homem, o Verbo de Deus combinou Sua natureza divina com a natureza carnal do homem - não de um anjo - o que é o contrário de ter Ele assumido a natureza de Satanás. Esta é uma heresia de primeira linha, a qual leva à conclusão da morte espiritual de Jesus, nega a suficiência do Seu sangue, condenando os que nela crêem, a não ser que se arrependam. Este é um “outro evangelho”, diferente daquele que nos foi dado na Escritura. A mensagem da Palavra da Fé engloba muito mais do que a tolice do “fale e exija”. Ela está absolutamente ligada às heresias do crente divino-humano e das heresias de Jesus espiritualmente morto. Ela exalta o homem e denigre Cristo, conforme costuma fazer a maioria dos falsos ensinos. A Bíblia, porém, diz que a salvação foi conquistada na cruz e que o maligno não tem parte com o Senhor (Mt 27.51; Jo 14.30).
3. Negação do sofrimento. As Escrituras apresentam como sendo a nossa porção nesta vida: "Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (Jo 16.33); "Por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus" (At 14.22); "Para que ninguém seja abalado por estas tribulações; porque vós mesmos sabeis que para isto fomos destinados" (1Ts 3.3). As nossas aflições são determinadas por Deus, com o objetivo de produzirem frutos para o nosso bem e para a Sua glória. Como disse John Piper, em 'O Sorriso Escondido de Deus': "as aflições de John Bunyan nos deram O Peregrino. As aflições de Willaim Cowper nos deram hinos em inglês como "There Is a Fountain Filled With Blood" e "God Moves in a Mysterious Way". E as aflições de David Brainerd nos deram um Diário publicado que tem mobilizado mais missionários que qualquer outra obra semelhante. A fornalha do sofrimento produziu o ouro da direção e inspiração para viver a vida cristã, adorar o Deus cristão e espalhar o evangelho cristão. Existe uma certa ironia no fruto destas aflições. O confinamento de Bunyan ensinou-lhes o caminho peregrino da liberdade cristã. A doença mental de Cowper produziu música doce da mente para almas atribuladas. A miséria abrasadora do isolamento e da doença de Brainerd explodiu em missões mundiais, além de toda a imaginação. Ironia e desproporção são, ambos, o caminho de Deus. Ele nos mantém desequilibrados, com suas conexões imprevisíveis. Pensamos que sabemos como fazer algo grande, e Deus o faz pequeno. Pensamos que tudo que temos é fraco e pequeno, e Deus o torna grande. A estéril Sara dá a luz ao filho da promessa. Os 300 homens de Gideão derrotam 100 mil midianitas. Uma funda nas mãos de um jovem pastor derruba o gigante. Uma virgem dá à luz o Filho de Deus. Os cinco pães de um rapazinho alimentam milhares. Uma violação da justiça, um expediente político-fisiológico e a tortura criminosa, numa cruz repulsiva, tornaram-se o fundamento da salvação do mundo. "Este é o caminho de Deus - tirar do homem toda vanglória e dar toda glória a Deus...". A teologia da prosperidade parte do princípio de que todos são filhos do Rei (Deus, Jesus) e que, portanto, recebem os benefícios desta filiação em forma de riqueza, livramento de acidentes e catástrofes, ausência de doenças, ausência de problemas, posições de destaque, etc. Esta “teologia” oferece fórmulas para fazer o dinheiro render mais, evitar-se acidentes, livrar-se de doenças e problemas, aumentar as propriedades, além de viver uma vida sem dificuldades. A teologia da prosperidade sustenta que nenhum filho de Deus pode adoecer ou sofrer, pois isso seria uma clara demonstração de ausência de fé e, por outro lado, da presença do diabo. Ao mesmo tempo, eles chegam ao exagero de declarar que quem morre antes de 70 anos é uma prova de incredulidade, imaturidade espiritual ou pecado. Por suas palavras, cristão que vive sofrendo é porque não está bem espiritualmente: ou está em pecado ou não tem fé. Crente não deve ser pobre, nem doente. Pobreza e doença são marcas de pessoas dominadas pelo poder do diabo. Diante de tais ensinos uma inevitável questão é: que lugar existe para a mensagem da cruz neste modelo de cristianismo? Ou ainda, será que os mártires do cristianismo primitivo, caso vivessem em nossos dias, seriam aceitos como membros destas igrejas que propagam a teologia da prosperidade? Deixemos que a história e a Bíblia nos falem. A Bíblia diz que o cristão não deve temer o sofrimento e tampouco negá-lo (Cl 1.24; Tg 5.10).
SINOPSE DO TÓPICO (II)
Contrariando o que a Bíblia diz, que o homem é estruturalmente pó, a Teologia da Prosperidade afirma que os homens são “pequenos deuses”.
III. CONSEQÜÊNCIAS DA “TEOLOGIA DA PROSPERIDADE”
1. Profissionalismo ministerial e espiritualidade mercantil. O que caracteriza hoje no Brasil uma igreja bem-sucedida? Quais são os critérios para se medir o sucesso ministerial? É possível realizar a obra de Deus com propósitos escusos, consciente ou inconscientemente, isso pode acontecer. E tem sido a primeira conseqüência danosa que a Teologia da Prosperidade tem causado em muitos ministérios. As livrarias evangélicas têm sido invadidas por uma grande enxurrada de livros do Movimento da Fé, da Confissão Positiva e da Teologia da Prosperidade, a maioria influenciada por autores americanos (Kenneth E. Hagin, Benny Hinn, Marilyn Hickley, etc.). É impressionante o número de pessoas e igrejas influenciadas por esses livros. Muitos pregadores começaram a ler estes livros que falavam do sucesso aqui e agora e logo começaram a colocar em prática, começaram a se destacar no rádio televisão, etc. O ministério que anteriormente era vocacional tornou-se, em alguns círculos, algo meramente profissional. Em um mundo de negócios, de marketing, de promoção pessoal, de culto à personalidade e de tantas outras coisas, precisamos constantemente revisar e relembrar os valores. Quando um ministro afirma:`'não me importa como a igreja vai crescer, só quero que ela cresça', certamente as motivações desse ministro necessitam de ajuste. Muitos são tentados por não dinamizar em seus ministérios um compromisso com a Palavra de Deus e uma teologia sólida para os dias atuais. Pedro descreve de maneira impressionante tais obreiros: "tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecar; engodando as almas inconstantes, tendo um coração exercitado na ganância, filhos de maldição" (2Pe 2.14).
2. Narcisismo e hedonismo. De alguma forma, temos sido influenciados por dois fatores construtores da presente sociedade, o narcisismo e o hedonismo. Têm a capacidade de postar o homem, e consequentemente a Igreja, no centro do universo, em nosso imaginário. Nos tornarmos, aos nossos próprios olhos, os atores principais do evento histórico. Tal limitação lança-nos a consequências puramente humanistas, como o triunfalismo e ufanismo, e desemboca no orgulho, raiz de grandes males. O hedonismo é esta tendência humana sociocultural, e teologicamente carnal, que nos leva a crer que existimos para nossa própria realização. Que nossa alegria e felicidade pessoal são os bens mais preciosos, pelo qual vale a pena tudo. Que para nos realizarmos podemos, e devemos, romper com quaisquer valores, religiosos ou sociais, passando por cima da Palavra, da família, do ministério e do relacionamento com o Pai. Os púlpitos de muitas de nossas igrejas se tornaram hedônicos. Vivemos para nós mesmos, pensamos em nós mesmos, investimos em nós mesmos, teologizamos para nós mesmos e, consequentemente, não servimos ao Cordeiro Jesus, mas sim a nós mesmos. Outro fenômeno sociológico que tem nos atigido é narcisismo. É o desejo - e desenfreada busca – pela beleza pessoal e público reconhecimento da mesma. Não basta estar no centro das atenções, é necessário que todos saibam disto. O narcisismo é este elemento que faz com que trabalhemos e nos esforcemos para o Senhor e Sua obra, desde que sejamos reconhecidos pelos nossos pares, aplaudidos, elevados em pedestais. Não somente a Teologia da Prosperidade tem gerado crentes narcisistas. Talvez seja já uma triste consequencia de seu enraizamento no meio evangélico.
3. Modismos e perda de ideais. Muitos léderes já demonstram preocupação diante das extravagâncias que estão surgindo nos púlpitos brasileiros. A cada dia que passa surgem novas práticas anti e extrabíblicas, classificadas simplesmente como “modismos”. Estes modismos estão à margem do evangelho que nos foi ensinado por Jesus. Na verdade, se trata de um outro evangelho. Em detrimento da Palavra, multiplicam-se os púlpitos festivos. Encenações inusitadas, objetos ungidos e mágicos, entrevistas com demônios, amuletos, “mercadorias” diversas, tudo é válido no desvario em que se envolvem pregadores e ouvintes., tudo isso deixa uma sensação de que o evangelho anunciado pelos apóstolos nos primeiros tempos, já não serve para os dias atuais. Falar de pecado, arrependimento, perdão e santidade se tornou antiquado, obsoleto, repreensível. É preciso entreter os ouvintes, apresentar uma nova atração a cada semana, tudo semelhante ao que vemos na sociedade consumista. Mas o que é preciso mesmo, e com urgência, é botarmos a boca no trombone e denunciar o que estão fazendo com o evangelho.
SINOPSE DO TÓPICO (III)
A divinização do homem, a demonização da salvação e a negação do sofrimento são os principais pilares da Teologia da Prosperidade.
(III. CONCLUSÃO)
Não se pode negar que o Movimento da Confissão Positiva tem várias coisas a nos ensinar... Orar crendo nas promessas de Deus e ter uma mente positiva, evitando assim atitudes pessimistas... Nossa preocupação é com outros aspectos, com respeito à soberania de Deus, à pessoa de Jesus, à natureza do homem e as mandingas como práticas. Ovelhas há que já perderam a noção do que é ser cristão. Não sabem sequer por que Jesus morreu. Têm o dízimo como meio de obter bênçãos espirituais e materiais. Não conhecem o evangelho da renúncia, da resignação, do sofrimento, do carregar a cruz, do contentar-se com o pouco. Após ouvirem a pregação de Pedro, muitos, compungidos, perguntaram: “Que faremos?” Pedro respondeu: “Arrependei-vos”, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo” (At 2.37-38 ). A resposta, hoje, seria: “Participe das campanhas, faça o sacrifício do dar tudo, e seja próspero”. Atendendo à curiosidade de Nicodemos, Jesus disse: “Quem não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3). A resposta no outro evangelho: “Seja dizimista fiel”. Se alguém perguntasse a Tiago o que deveria fazer para livrar-se dos encostos, ele prontamente diria: “Sujeitai-vos a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7). A resposta do evangelho festivo seria: “Use sal grosso, sabonete de descarrego, vassouras, fitas, colares, cajados, pedras, e seja dizimista fiel”. O Apóstolo Paulo confessa que “orou três vezes ao Senhor” para que o livrasse de um espinho na carne. Mas o Senhor, em vez de atendê-lo, respondeu: “A minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Reconhecendo a vontade soberana de Deus, Paulo se conforma e continua com seu espinho. E declara: “Portanto, de boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas”, pelo que “sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Pois quando estou fraco, então é que sou forte” (2 Co 12.7-10). Certamente a recomendação para esses casos, nos púlpitos ádeptos da Teologia da Prosperidade é a seguinte: “Exija de Deus seus direitos”. Sofredores como o Apóstolo, o servo Jó e muitos outros desconheciam esse caminho “legal” para exigir direitos assegurados. Nenhum crente, a fim de prosperar, necessita aderir às fórmulas inventadas pelos pregadores da prosperidade. A verdadeira prosperidade vem como resultado de um correto relacionamento com Deus que é fruto de um coração obediente.
"Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade." (1Jo 3.18)
N’Ele, que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8),
Francisco A Barbosa
Subsídio para o Professor
Nos dias hodiernos, muita ênfase tem se dado à riqueza e à prosperidade, inclusive em muitos púlpitos evangélicos. A mensagem da cruz, da salvação e da santificação tem sido substituída pela pregação da “teologia da prosperidade”, movimento que surgiu nos Estados Unidos, alastrou-se pela América Latina e tem feito muitas igrejas abandonarem o genuíno Evangelho. Este movimento prega que o cristão não pode ser pobre e nem pode sofrer, mas a Palavra de Deus está repleta de exemplos de homens que padeceram dores, enfermidades e escassez. Muitos cristãos vivem em busca de riquezas materiais e se esquecem das riquezas espirituais que Deus nos oferece através de Jesus Cristo (Ef 1:3; 2:6; Tg 2:5). Portanto, faz-se necessário entendermos, à luz das Escrituras, o que é a “Verdadeira Prosperidade”. É o que vamos estudar ao longo deste 1º trimestre de 2012.
I. RAIZES DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
O pr. Caramuru Afonso Francisco, em sua colaboração para a Escola Bíblica Dominical, sobre o Tema “A promessa da Verdadeira Prosperidade“, informa assim sobre as raízes da Teologia da Prosperidade:
1. Sua origem. A história da teologia da prosperidade teve início com o norte-americano Phineas Parkhurst Quimby (1802-1866), que nasceu em New Lebanon, no estado de New Hampshire. Quimby era um relojoeiro e, a partir de 1847, dedicou-se à cura de doenças por intermédio da mente. Este curandeiro e hipnotizador negava a existência da matéria, do sofrimento, do pecado, da enfermidade etc. Fundador do Novo Pensamento, tornou-se conhecido como o guru da Ciência da Mente. Suas ideias influenciaram a Mary Baker Eddy que, em 1879, fundou a Igreja da Ciência Cristã. Os promotores dos ideais de Quimby procuram se passar por cristãos evangélicos, mas a Bíblia nos adverte com relação a eles e seus assemelhados: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores”(Mt 7: 15).
Quimby dedicou-se ao estudo da “cura espiritual”, estudo este iniciado com a prática da hipnose, que havia há pouco sido introduzida nos Estados Unidos. Depois de identificar, pela hipnose, de que uma mente poderia influenciar outra, Quimby começa a elaborar o que afirmava ser a “cura das doenças pela mente”. Para Quimby, a “doença era um estado desarranjado da mente” e, portanto, com a realização do “arranjo mental”, ter-se-ia a cura. Para Quimby, saúde é “… sabedoria perfeita e o quanto um homem é sábio, assim é a sua saúde. Como nenhum homem é perfeitamente sábio, nenhum homem pode ter perfeita saúde, pois a ignorância é a doença, embora não necessariamente acompanhada por dor…” (QUIMBY, P. Doença). Percebemos, aqui, portanto, que a ideia de Quimby era de que a saúde era vinculada ao estado espiritual da pessoa.
Depois da morte de Quimby, Eddy diz ter descoberto os fatos importantes relacionados com o espírito e com a superioridade deste sobre a matéria, denominando de “ciência cristã” esta sua descoberta, que deu origem à doutrina. Em 1879, fundou a Igreja do Cristo Cientista, da qual foi eleita presidenta, sendo, em 1881, eleita pastora. Eddy apresentou diversas doutrinas contrárias às Escrituras, de modo que sua “ciência cristã” não pode ser reconhecida nem como ciência, vez que é refutada pelos cientistas, que a consideram uma prática ocultista, nem como “cristã”, na medida em que não põe Cristo no Seu legítimo lugar de único e suficiente Senhor e Salvador do mundo.
2. Principal idealizador da teologia da prosperidade:Essek W. Kenyon. Essek William Kenyon, que se destacou nas décadas de 30 e 40, foi influenciado pela Ciência da Mente, Ciência Cristã e pela Metafísica do Novo Pensamento. Aproveitando-se dos conceitos de Mary B. Eddy, empenhou-se em pregar a salvação e a cura em Jesus Cristo. Dava ênfase aos textos bíblicos que falam de saúde e prosperidade, além de aplicar a técnica do poder do pensamento positivo.
Kenyon, que pastoreou várias igrejas e fundou outras, não era pentecostal. Ele é reconhecido hoje como o pai da Confissão Positiva que, por sua vez, identifica-se com a Teologia da Prosperidade e com a Palavra da Fé ou Movimento da Fé. Kenyon exerceu nítida influência, durante a sua vida, sobre grandes nomes que se tornariam os pregadores mais conhecidos do chamado “movimento da fé”, entre os quais se destacam Kenneth Hagin, Tommy L. Osborn e F.F. Bosworth.
3. Principal divulgador da Teologia da Prosperidade: Kenneth Hagin. Se Essek William Kenyon foi o principal idealizador da “teologia da prosperidade”, coube a Kenneth Hagin a sua divulgação maciça por todo o mundo. Em abril de 1933, teria tido uma dramática experiência, que o levou à conversão, quando, por três vezes, teria morrido, vendo os horrores do inferno e retornando à vida. Em 1934, teria também se levantado do “leito da morte” pela “revelação da fé na Palavra de Deus”. Estudando os escritos de Kenyon, divulgou-os em livros, cassetes e seminários, dando sempre ênfase à confissão positiva. Em 1974, fundou o Centro Rhema de Adestramento Bíblico, em Oklahoma.
Com Hagin temos a configuração do falso ensino da “palavra da fé”, conceito tão importante que é o próprio título da principal revista do ministério criado por Hagin, num desenvolvimento das teses apresentadas por Kenyon. Reside aqui a ideia da “confissão positiva”, ou seja, como dizia Kenyon, “o que eu confesso, eu possuo“.
Essa doutrina se origina em uma “aparição”, em uma “visão” e, o que é mais importante, quando o próprio Hagin afirma que se encontrava aborrecido porque via os ímpios prosperarem, enquanto os membros de sua igreja passavam por dificuldades. Ele diz: “…”Eu costumava me preocupar quando eu via pessoas não salvas obtendo resultados, mas os membros da minha igreja não obtinham resultados. Então clareou em mim o que os pecadores estavam fazendo. Eles estavam cooperados com a lei de Deus - a lei da fé…” (HAGIN, K. Tendo fé em sua fé, p.4,5 apud HOWARD, J).
- Refutação: Não devemos nos perturbar com a prosperidade dos ímpios. Devemos confiar em Deus e saber que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm 8:28). Se atentarmos para a prosperidade dos ímpios, que é uma prosperidade puramente material e que finda aqui, corremos o risco de nos desviarmos dos caminhos do Senhor, como nos ensina o salmista Asafe (Sl 73). Vemos que, infelizmente, não foi o caminho seguido por Hagin que, excessivamente preocupado com tais circunstâncias, acabou sendo presa fácil de uma “aparição”, que traria um falso ensinamento para o meio do povo de Deus. Aqui no Brasil, um dos segmentos religiosos em evidência, que segue o falso ensino de Kenneth Hagin é a “Igreja Internacional da Graça”.
II. PRINCIPAIS ENSINAMENTOS DA “TEOLOGIA DA PROSPERIDADE”
Veja a seguir alguns ensinamentos de Kenyon sobre a “teologia da prosperidade” que influenciaram os sucessores do seu ideal, e a refutação bíblica:
01) Um dos principais ensinos de Kenyon é o de que “… pecado e doença são um só. Eles não podem dominar a nova criatura (…). O que Deus diz é se você é uma nova criatura, então não há condenação para você. Se não há condenação, a doença não pode ser senhora sobre você….”(KENYON, E.W. Jesus, o curador).
- Refutação Bíblica: Quando observamos as Escrituras Sagradas, vemos que, embora o pecado tenha gerado, entre suas consequências, a morte física (cf. Gn 3:19) e, por conseguinte, as doenças sejam resultado desta penalidade, não é exato afirmar que a pessoa que contraia doença, necessariamente esteja em pecado. A Bíblia tem exemplos de pessoas que, embora estivessem doentes, estavam em comunhão com Deus, como é o caso de Jó, Eliseu (2Rs 13:14), do cego de nascença (João 9:3) e de Timóteo (1Tm 5:23).
02) Outro ensino de Kenyon é de que a salvação nos livrou da pobreza e da necessidade. Segundo suas palavras: “… Virá a hora em que você saberá que a necessidade e a pobreza são coisas do passado…”.
- Refutação Bíblica: Quando observamos as Escrituras Sagradas, vemos que, embora o pecado tenha gerado, entre suas consequências, a necessidade do trabalho para a sobrevivência do homem e a penosidade deste mesmo trabalho (Gn 3:18,19), não é menos exato de que a pobreza não significa necessariamente que haja pecado. Aliás, pelo contrário, a pobreza foi considerada por Jesus como um obstáculo a menos para a salvação, visto que afirmou que os ricos teriam maior dificuldade para servir ao Senhor (Mc 10:25; Lc 18:25). Na própria igreja primitiva, havia aqueles crentes que viviam da assistência social, ou seja, da caridade pública e nem por isso tinham deixado de ser crentes (At 6:1,2). Os crentes da Judéia estavam passando necessidade a ponto de o apóstolo Paulo fazer uma coleta em seu favor e este fato não o impediu de serem considerados como verdadeiros e genuínos servos do Senhor, chamados, inclusive, de santos (Rm 15:26). Aliás, o mesmo Paulo testifica que Jesus Se fez pobre (2Co 8:9), e nunca pecou (Hb 4:15).
03) Kenyon também ensinou que Jesus, para nos remir, não só sofreu no Calvário, morrendo por nós, como também teve de sofrer no Hades, sede do domínio de Satanás, até que Seus direitos fossem reclamados, quando, então, o diabo não pôde mais detê-lo e Ele ressurgiu - “… Veja, Jesus foi feito pecado com nosso pecado. Ele Se tornou nosso substituto. Nós morremos com Ele. Fomos sepultados com Ele. Fomos julgados com Ele. Ele foi para o lugar que nós deveriam ter ido e lá Ele sofreu até que os clamores de justiça contra nós fossem encontrados, até que todos os clamores fossem satisfeitos. Então, a sepultura não pôde mais detê-Lo(…). O trabalho foi aceito, terminado por Jesus quando Ele sentou à mão direita do Pai. Ele não foi terminado na cruz. Ele começou na cruz, mas foi consumado quando o sangue foi aceito e Cristo assentado….” (KENYON, E.W - A realidade da redenção).
- Refutação: A morte de Jesus foi suficiente para alcançar a nossa justificação (Rm 5:10). Não se fez necessário “acerto de contas” algum no Hades com Satanás para que Jesus obtivesse o perdão dos nossos pecados, uma vez que a dívida que o homem tinha era com Deus e não com o diabo. O pecado é desobediência contra o Senhor, é injustiça e é um problema que diz respeito ao relacionamento entre Deus e os homens (Is 59:2). O diabo nada tem, nada representa neste processo, sendo apenas um ser que procura matar, roubar e destruir o homem (João 10:10), mantendo-o iludido com relação às coisas de Deus (2Co 4:4). Jesus completou a Sua obra salvadora no Calvário, como Ele mesmo disse (João 19:30), não havendo sequer um “lugar” onde o diabo reine, como pressupôs Kenyon, até porque o Hades é o lugar dos mortos e, pela história que Jesus nos conta do rico e de Lázaro, o diabo ali não está (Lc 16:19-31), mas, sim, nas regiões celestiais (Ef 6:12), de onde será tirado, junto com os seus anjos, quando chegar a Nova Jerusalém, para receber os santos arrebatados pelo Senhor (Ap 12:7-12).
A morte de Jesus foi suficiente para tirar o pecado do mundo, pois, se não fosse assim, o véu do templo não se teria, naquele momento exato da morte do Senhor, se rasgado de alto a baixo (Mt 26:50,51). A ressurreição de Jesus, além de ser cumprimento da Palavra do Senhor, já vaticinada desde os profetas (Sl 16:8,11; At 2:31; 1Co 15:3), é a garantia de que o Seu sacrifício foi aceito e que o pecado do mundo foi tirado(1Co 15:14). Assim também Sua ascensão aos céus, que é a Sua glorificação, é confirmação da Palavra do Senhor (João 14:1-3) e uma necessidade para que houvesse a dispensação da graça, a demonstração plena do amor de Deus à humanidade (cf. Rm 9).
04) Divinização do homem. Célebre é a frase de Kenyon, que depois foi repetida por Kenneth Hagin: “… Todo homem que ‘nasceu de novo’ é uma encarnação e a Cristandade é um milagre. O crente é tão Encarnação quanto o foi Jesus de Nazaré…”.
- Refutação: Percebemos, portanto, que, para Kenyon, a salvação nos equipara ao próprio Deus, visto que passamos a ter o Espírito Santo e, por isso, nada pode mais nos abalar, estamos praticamente divinizados e é a isto que se denominou de “confissão positiva”, ou seja, a salvação nos traz “direitos”, “afirmações”, “poderes” que, praticamente, nos equipara a Deus. Este tipo de pensamento justifica o nome de “evangelho da Nova Era” que alguns estudiosos deram ao “movimento da fé”, visto que, no fundo, utilizando-se de uma “roupagem evangélica”, chega a mesma conclusão que o movimento Nova Era, qual seja, a de que o homem pode se tornar deus. Este pensamento, bem propício para quem foi influenciado por ideias de que podemos “curar pela mente”, como defendiam Quimby e Eddy, não tem qualquer respaldo bíblico. A salvação não nos faz tornar “pequenos deuses”, mas, sim, “filhos de Deus”, que não deixam, porém, de ser homens e, por isso mesmo, submissos ao Senhor. Quando alcançamos a salvação, retomamos a imagem e semelhança de Deus originais, a posição perdida pelo primeiro casal, que, como se vê, claramente, no livro do Gênesis, era uma posição de absoluta subserviência a Deus, como “mordomos” da criação terrena. O próprio Jesus, ao descrever a condição humana no estado eterno, ou seja, após o desaparecimento destes céus e terra, disse que nós seremos “como os anjos que estão nos céus’ (Mc 12:25), descartando, assim, qualquer “igualdade” entre os redimidos e a Divindade.
05. Negação do Sofrimento. Kenyon defende a ideia de que “como Deus está em nós”, passamos a fazer parte da “divindade”, não podendo, pois, ter qualquer espécie de sofrimento ou de dor: “Nós temos nossa Redenção. Não há coisa alguma que tenhamos de orar ou pedir…”.
- Refutação Bíblica. A negação do sofrimento é outro equivoco da falaciosa teologia da prosperidade. Para essa “teologia”, o sofrimento deve ser rechaçado, pois é uma indicação direta da falta de fé na Palavra de Deus. A realidade, porem, nos mostra fragilidade desse argumento. Muitos dos chamados homens de Deus, cujas histórias encontram-se nas Escrituras, experimentaram o sofrimento e a adversidade, e a Bíblia narra diversos desses sofrimentos (leia Hebreus cap. 11, que fala dos heróis da fé). Em nenhum momento foi atribuído a esses homens faltarem com sua fé quando passaram por agruras, nem que tais agruras eram resultadas direto da falta de fé em Deus. Veja os sofrimentos do apóstolo Paulo exaradas em 2Co 11:22-33; apesar disso nunca demonstrou falta de fé(cf Hb 4:7). Leia também 2Co 4:8-14.
III. CONSEQUENCIAS DA “TEOLOGIA DA PROSPERIDADE”
1. Profissionalismo ministerial e espiritualidade mercantil. A primeira consequência danosa que a falaciosa “teologia da prosperidade” causa pode ser vista nos púlpitos das igrejas. Há pastores que transformam o púlpito em uma praça de negócios, e os crentes em consumidores. São obreiros fraudulentos, gananciosos, avarentos e enganadores. São amantes do dinheiro e estão embriagados pela sedução da riqueza. Há pastores que mudam a mensagem para auferir lucros. Pregam prosperidade e enganam o povo com mensagens tendenciosas para abastecer a si mesmos.
Muitos têm se aproveitado desta falsa teologia para amealharem riquezas e fazerem do evangelho um negócio rentável e cada vez mais crescente. Esta possibilidade não passou despercebida do Senhor que, em Sua Palavra, já nos primórdios da fé cristã, já advertia os crentes que muitos seriam feitos negócio com palavras fingidas de pessoas inescrupulosas (2Pe 2:3). Antes mesmo da formação da Igreja, o profeta Ezequiel já indicara a existência de pastores infiéis, que têm como objetivo tão somente explorar as ovelhas (Ez 34:4). Eles estão mais interessados no dinheiro das ovelhas do que na salvação delas. Eles negociam o ministério, mercadejam a Palavra e transformam a igreja em um negócio lucrativo.
Hoje estamos assistindo ao fenômeno do mercadejamento da fé. Pastores e mais pastores estão se desvinculando da estrutura eclesiástica e rompendo com suas denominações para criar ministérios particulares, em que o líder se torna o dono da igreja. A igreja passa a ser uma propriedade particular do pastor. O ministério da igreja torna-se um governo dinástico, em que a esposa é ordenada, e os filhos são sucessores imediatos. Não duvidamos de que Deus chame alguns para o ministério específico em que toda a família esteja envolvida e engajada no projeto, mas a multiplicação indiscriminada desse modelo é deveras preocupante.
2. Narcisismo e hedonismo. A “teologia da prosperidade” tem gerado inúmeros cristãos narcisistas, isto é, pessoas que só pensam em si e nunca nos outros; são pessoas egoístas. Paulo nos instrui a nos resguardar contra qualquer forma de egoísmo, preconceito ou ciúme que podem levar à dissensão - “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros”(Fp 2:4). Portanto, mostrar um interesse genuíno pelos outros será sempre um passo positivo para manter a unidade entre os crentes.
Outra consequência maligna que a “teologia da prosperidade” tem gerado nos corações daqueles que cristãos dizem ser é o hedonismo, isto é, a busca exacerbada e incessante pelo prazer.
O envolvimento com as coisas deste mundo, a busca incessante pelo prazer, que tanto caracteriza o mundo hodierno, é uma das coisas que faz com que se despreze a busca de um tempo dedicado a Deus. Nestes últimos dias, em que há homens “mais amigos dos deleites do que amigos de Deus” (2Tm 3:4), é natural que “não se tenha tempo para Deus”.
A Igreja, no seu todo, e cada crente, em particular, só poderá ser um referencial para o mundo e para os homens se viver de uma maneira diferente do que vive as pessoas que não receberam Cristo como Salvador; se tiver motivos para justificar o convite para que as pessoas que estão lá fora venham para o nosso meio e vivam como nós vivemos. Mas, se convidarmos, e elas vierem, e aqui descobrirem que em nosso meio existe a mesma luta pelo poder, como existe lá fora, o mesmo apego às coisas materiais, as mesmas mentiras e trapaças, os mesmos sentimentos de vaidade, de orgulho e de egoísmo, então, elas não terão motivos para desejarem ficar conosco.
3. Modismos e perdas de ideais. Diversos modismos têm surgido nas igrejas que propagam a teologia da prosperidade. Dentre as inúmeras cito, como exemplo, a “purificação de ambientes“, para “proteção do crente e de sua família”. Nestas chamadas “purificações” são utilizados os mais variados elementos tais como “sal grosso“, “rosa ungida“, “óleo de Israel“, “água do rio Jordão” e tantas outras coisas que nos fazem lembrar as “relíquias” da Igreja Romana, que tantos absurdos e crendices causaram na cristandade, tendo sido vigorosos instrumentos para a campanha anti-religiosa que tomou conta da Europa a partir do século XIX e que é a principal responsável pelo atual nível de indiferentismo religioso que vive aquele continente.
Queridos irmãos em Cristo, isto é pura idolatria, misturada com a mais banal feitiçaria. Como pode um servo de Deus, lavado e remido no sangue do Cordeiro, crer que, para estar livre dos espíritos malignos, deve ter sal grosso em casa, rosa ungida ou ter um frasco com água do rio Jordão? Qual a diferença deste proceder com aqueles que usam patuás, fitas benzidas, pés de coelho, figas ou outros conhecidos amuletos e talismãs? Evidentemente que é nenhuma!
As pessoas crentes que se deixam levar por isto são tão cegas quanto os incrédulos, para não dizer que estão ainda mais longe da salvação do que aqueles, pois, por pura ignorância, não sabem que Jesus liberta de tudo isto e não impõe estas coisas, como é defendido pelos pregadores deste falso e supersticioso evangelho. Tudo isto é resultado da ignorância espiritual.
- Outra consequência terrível da falaciosa teologia da prosperidade é a perda dos ideais cristãos. Muitos cristãos estão preocupados somente com as coisas materiais, com o aqui e o agora, e estão esquecendo que o objetivo precípuo da nossa jornada é morar no Céu(cf João 14:1-3). Infelizmente, boa parte da igreja evangélica tem perdido a dimensão escatológica do Reino de Deus, quando demonstra privilegiar apenas seu aspecto externo, isto é, o “ter” e não seu lado atemporal ou eterno - o “ser”(1Ts 4:17; 1Co 16:22). Encontramos no Novo Testamento certo homem preocupado mais em “ter” do que “ser”(Lc 12:2-5). Ele queria, por exemplo, ter muitos bens materiais, mas, por outro lado, não demonstrou nenhuma preocupação em ser alguém zeloso com as coisas espirituais (Lc 12:21). O apóstolo Paulo foi claríssimo ao afirmar que se esperarmos em Cristo só para as coisas desta vida seremos os mais miseráveis de todos os homens (1Co 15:19). É esta a triste situação espiritual dos milhões que têm procurado Jesus única e exclusivamente para terem a “prosperidade” apregoada pelos falsos mestres da atualidade, eles mesmos escravos da ganância (2Pe 2:3). Isso é lamentável!
CONCLUSÃO:
Diante do que foi exposto, cabe a nós refletir sobre o verdadeiro sentido da prosperidade dentro dos padrões divinos. A doutrina da prosperidade, no Novo Testamento, não está fundamentada na posse de riquezas. Jesus dessacralizou o conceito de prosperidade que, anteriormente, se pautava nos bens materiais. A prosperidade verdadeira resulta de uma vida cristã equilibrada, equilibrada pelo contentamento. É claro que precisamos trabalhar “para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1Tm 2.2). Isso, no entanto, não deve nos escravizar, colocando-nos à mercê das teias do consumismo, que nos leva a acreditar que não somos felizes se não tivermos um uma mansão luxuosa, um carro importando ou um celular de última geração. A verdadeira prosperidade é Cristo, nEle repousa toda as riquezas de Deus (Ef 2:7). Com Ele, temos razões para estarmos sempre contentes, trabalhando sempre, com respeito e dignidade (Ef 4:28; 1Ts 2:9; 2Ts 3:8), mas confiando nEle que nos supre do que temos real necessidade (Mt 6:33). Pense nisso!
Referências Bibliográficas:
William Macdonald - Comentário Bíblico popular (Novo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo - Aplicação Pessoal.
Revista Ensinador Cristão - nº 49.
O Novo Dicionário da Bíblia - J.D.DOUGLAS.
Comentário Bíblico Beacon - CPAD.
Comentário Bíblico NVI - EDITORA VIDA.
Caramuru Afonso Francisco - A promessa da verdadeira Prosperidade
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