05 dezembro 2011

A Corrupção Que Nos Assombra

Francamente, não suporto mais, já cansei de ver as manchetes diárias que saem nos nossos meios de comunicação com denúncias escabrosas comprovadas por farto suporte de documentos, envolvendo as autoridades de nossa República, que deviam zelar pelo bem público.
O Congresso que deveria ser a mais sólida trincheira em defesa da ética e da moral está totalmente desmoralizado. A imprensa é quem vem fazendo a “faxina”, a ponto de em seis meses do governo Dilma, ter descoberto seis ministros com a mão na botija. A meu ver, em nenhum outro país, ocorreu um corte de tantas cabeças ministeriais em tão pouco tempo de governo.
O psicanalista gaúcho, Contardo Calligaris, dá uma explicação bem aprofundada sobre como se formam essas “cabeças corruptas”. Diz ele:
O Brasil destaca-se nessa triste situação não só porque é forjado na cultura individualista, mas por sua História, sempre vulnerável à corrupção”.
O presidente da Associação Psicanalítica de Porto Alegre acrescenta ainda: a história do país explica muita coisa, pois é fruto de uma cultura específica: instituições, organização social, costumes, crenças e mitos. Na fala e no inconsciente dos brasileiros, há a presença de duas figuras supostamente perdidas no passado: O ‘colonizador e o colono’. O colonizador abandonou a mãe-pátria, Portugal, por uma nova terra, que vai explorar. O que quer dizer explorar?. Conhecer e também arrancar seus recursos. Ele veio impor a sua língua e gozar a nova mãe sem o interdito do Pai. O colono, ao contrário, não veio gozar a América; queria construir um nome, encontrar um nova pai. Ser sujeito”.
Hilda Morana, coordenadora do Departamento de Psiquiatria Forense da Associação Brasileira de Psiquiatria, define o termo Corrupção, no sentido social. Segundo ela, “o típico corrupto é o indivíduo que busca driblar regras em benefício próprio, sem levar em consideração outras coisas que não o próprio benefício”.
Frei Betto, em um artigo recente, faz uma descrição muita apropriada sobre o "perfil do corrupto, que achei por demais interessante trazê-lo à tona:
“Manifestações públicas em várias cidades exigem o fim do voto secreto no Congresso; o direito de o CNJ investigar e punir juízes; a vigência da Ficha Limpa nas eleições de 2012; e o combate à corrupção na política.
Por que há tanta corrupção no Brasil? Temos leis, sistema judiciário, polícias e mídia atenta. Prevalece, entretanto, a impunidade – a mãe dos corruptos. Você conhece um notório corrupto brasileiro? Foi processado e está na cadeia?
O corrupto não se admite como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. Anzol sem isca peixe não belisca.
O corrupto não se expõe; extorque. Considera a comissão um direito; a porcentagem, pagamento por serviços; o desvio, forma de apropriar-se do que lhe pertence; o caixa dois, investimento eleitoral. Bobos aqueles que fazem tráfico de influência sem tirar proveito.
Há vários tipos de corruptos. O corrupto oficial se vale da função pública para extrair vantagens a si, à família e aos amigos. Troca a placa do carro, embarca a mulher com passagem custeada pelo erário, usa cartão de crédito debitável no orçamento do Estado, faz gastos e obriga o contribuinte a pagar. Considera natural o superfaturamento, a ausência de licitação, a concorrência com cartas marcadas.
Sua lógica é corrupta: "Se não aproveito, outro sai no lucro em meu lugar". Seu único temor é ser apanhado em flagrante. Não se envergonha de se olhar no espelho, apenas teme ver o nome estampado nos jornais e a cara na TV.
O corrupto não tem escrúpulo em dar ou receber caixas de uísque no Natal, presentes caros de fornecedores ou patrocinar férias de juízes. Afrouxam-no com agrados e, assim, ele relaxa a burocracia que retém as verbas públicas.
Há o corrupto privado. Jamais menciona quantias, tão somente insinua. É o rei da metáfora. Nunca é direto. Fala em circunlóquios, seguro de que o interlocutor sabe ler nas entrelinhas.
O corrupto “franciscano” pratica o toma lá, dá cá. Seu lema: "quem não chora, não mama". Não ostenta riquezas, não viaja ao exterior, faz-se de pobretão para melhor encobrir a maracutaia. É o primeiro a indignar-se quando o assunto é a corrupção.
O corrupto exibido gasta o que não ganha, constrói mansões, enche o pasto de bois, convencido de que puxa-saquismo é amizade e sorriso cúmplice, cegueira.
O corrupto cúmplice assiste ao vídeo da deputada embolsando propina escusa e ainda finge não acreditar no que vê. E a absolve para, mais tarde, ser também absolvido.
O corrupto previdente fica de olho na Copa do Mundo, em 2014, e nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Sabe que os jogos Pan-americanos no Rio, em 2007, orçados em R$ 800 milhões, consumiram R$ 4 bilhões.
O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem-sucedido.
Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra, trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos.

Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas".
Recentemente, o todo-poderoso ex-ministro de Lulla, José Dirceu, em seu blog, deu sua versão sobre o “mar de lama” da política Nacional. Desabafou ele: “A operação derruba ministros está a mil. Nossa mídia fantasiada de objetiva e neutra, mas na prática transformada em partido da oposição, opera no sentido de desmantelar a base de aliados do Governo, e criar um clima de “mar de lama”.
P.S. :
É, eu entendo onde o Zé quer chegar: “o que se passa nos bastidores da “base aliada” não é coisa para ser revelada aos colonos”. Caixa Preta sempre haverá. Ora, o “Caixa Dois” não foi considerado como coisa normal em um discurso de ex-presidente Lula na Televisão? Lembram-se?
O grande nó da questão é que a imprensa “sem rédias” vem descobrindo um jeito de tornar transparentes as paredes das “caixas pretas”. (rsrs)

Por Levi B. Santos
Guarabira, 26 de novembro de 2011
Site da imagem: pcbam.blogspot.com

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