25 fevereiro 2011

O Ataque do Big Brother

          A idéia de escrever este simples artigo partiu da leitura que fiz de um texto do blogueiro e advogado Leonardo Bruno (excelente escritor): Insensato coração e insensata falta de cérebro. . .[1] Onde o mesmo faz uma pequena comparação entre o Livro 1984 de George Orwell e o programa nacional Big Brother transmitido pela Rede Globo. Enquanto 1984 representa uma crítica a invasão da privacidade humana, o reality da Globo promove a destruição desta privacidade. Vejamos primeiro o livro de Orwell.

O livro 1984 é um clássico romance político do século XX. Escrito pelo brilhante Orwell se destaca por ser um empreendimento que poucos conseguiram fazer com tanta maestria (na verdade eu não conheço nenhum outro). Qual empreendimento? Escrever sobre o futuro da humanidade regida por um governo totalitário ao extremo, um romance em que um homem comum se encontra dentro de um regime socialista com suas dúvidas, seus sonhos, seu amor e sua ânsia natural em ser livre. Tal romance foi escrito em 1949 sobre o mundo em 1984, tornando-se uma espécie de profecia.

         O governo totalitarista que Orwell descreve leva ao absurdo, medidas que nem os nazistas e os comunistas russos fizeram em sua ânsia pelo poder e controle da sociedade. O partido controla cada mínimo detalhe da vida, seja a mais simples atividade física e o consumo de gramas de chocolate por semana e os próprios pensamentos, pois existia a policia do pensamento. O partido divide-se em quatro ministérios. O ministério do Amor é responsável por promover ódio e realizar a tortura. O Ministério da verdade é responsável pela mentira e pela falsificação. O Ministério da Pujança trata da miséria e o Ministério da Paz agita a Guerra. O lema do partido é “Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força”.

          O personagem principal é Wiston Smith, um simples trabalhador do partido do Grande Irmão. O Big Brother em 1984 é a figura que representa o partido, uma personificação dele. Ele não existe como eu existo ou como você que está lendo agora. Mas mesmo assim todas as virtudes, as conquistas e a honra humana são atribuídas a ele. O partido na figura do Big Brother é praticamente onipresente. Através das teletelas (televisores que observam tudo que se passa e estão espalhadas por todos os lugares, até mesmo dentro das casas dos trabalhadores do partido) tudo é vigiado e controlado, mesmo os sonhos que podem revelar qualquer sentimento contrário ao partido.

         Dentro deste sistema é proibido amar, exceto amar o Big Brother que é a mesma coisa de amar o Partido. E Wiston se apaixona verdadeiramente por uma jovem chamada Julia. O romance se desenvolve na história deste relacionamento. Winston era o ultimo humano. Alguém que insistia em ter pensamentos próprios e sentimentos próprios. Eu não contarei o final do romance, mas o ponto que gostaria de ressaltar é a forma como este regime totalitário consegue acabar totalmente com a individualidade humana, transformando tudo em uma massa uniforme. E um dos meios é a invasão total da privacidade humana. Simplesmente você não pode ter momentos sozinhos, pois o Big Brother está de olho em você. Até mesmo os pensamentos não podem ser privados, tudo é notado e tudo é vigiado. Nem mesmo o sexo entre um homem e uma mulher é privado neste regime. O começo da perda da individualidade é a perda da privacidade.

         E o famoso programa da Globo? Muitos têm criticado de diferentes formas este reality, uma das criticas de maior repercussão foi a de Luís Fernando Veríssimo. Concordo com tudo que diz Veríssimo e outros que tem destacado a destruição de valores, sua total irrelevância cultural e outros malefícios que traz este programa. Mas em minha opinião a pior desgraça de todas é seu ataque a privacidade humana. É este o ataque do Big Brother, aquilo que foi alertado e criticado por Orwell em 1984, é promovido e vendido como um show a milhões de espectadores todos os dias. Pedro Bial chama de herói os participantes do reality, eu os chamo de vítimas. Estão sendo destruídos todos os dias, suas vidas expostas em troco de um milhão de reais. Mulheres que passavam despercebidas todos os dias ou mesmo quando notadas possuíam seus enigmas e mistérios, hoje estão na boca de todos como prostitutas e vadias, o palco foi armado no Big Brother, a música e a bebida foram dadas, homens e mulheres foram postos no meio desta arena e a humanidade foi estilhaçada.

 Nunca na história o ser humano foi reduzido de tal forma, sua privacidade vendida como uma parte do show. Seus sentimentos, suas angustias e sua intimidade é revelada pelo simples interesse econômico. Triste fim da humanidade! Ao vender sua privacidade vendeu sua vida. Ela foi reduzida a um produto de TV, até mesmo o sexo entre o homem e uma mulher não lhe é privado neste reality. Uma semelhança com o Big Brother de 1984?

Todos nós temos culpa nisso, alguns como produtos a venda na TV, fazendo da coisa mais importante na vida que é sua privacidade, servir de meros pontos de audiência e outros como a maioria de nós compondo a platéia todos os dias em nossos lares ou lugares. Participando deste teatro sujo e engordando o bolso do partido. Perdão, partido não, engordando o bolso da emissora de Televisão.



[1] http://cavaleiroconde.blogspot.com/2011/01/insensato-coracao-e-insensata-falta-de.html
 
Fonte: http://olharprotestante.blogspot.com/2011
 

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