Vidas Sofridas
Nessa semana, resolvi tirar um dia para poder rever algumas pessoas e, aquelas que eu não podia ver devido á distância, resolvi ligar para saber como estavam.
Posso dizer que aprendi muito com o que vi e ouvi.Lembrei-me da Palavra de Deus que nos fala sobre o tempo, escrito pelo sábio Salomão.”Há tempo para todo propósito debaixo do sol;tempo de nascer e tempo de morrer;tempo de edificar e tempo derribar e etc...”.
Meu primeiro impacto foi ao rever uma irmã em Cristo, conhecida há mais de 17 anos e que eu não a via há mais de 10.Qual não foi minha surpresa ao revê-la! Fiquei sobremodo alegre, matei a saudade e conversamos por aproximadamente uns quarenta e cinco minutos.E enquanto conversávamos pude observar as marcas do tempo em seu rosto... Sua voz já não era a mesma. Seu tom se tornou baixo e rouco.Seu cabelo grisalho, lhe caia no rosto e em seu rosto havia sulcos,parecidos que foram esculpidos.
Estranhei-a de princípio, mas logo estávamos falando de várias coisas e sobre várias pessoas que também ‘andam sumidas’.
Depois desse bom diálogo, caminhei por mais uns trezentos metros e foi á casa de um irmão que, na juventude compartilhávamos as orações, as vigílias, as escolas dominicais, os ensaios da mocidade,o evangelismo noturno nas avenidas, bares, cabarés, clubes,o conhecidíssimo bairro Bonfim, o alto da Av .Afonso Pena entre outros lugares que pudemos ter a alegria de estar juntos, pregando e ajudando a quem realmente queria mudar de vida.
Encontrei um homem sem camisa, queimado pelo sol,bastante magro, olhos com grandes olheiras e uma cara de sofrimento.Era meu companheiro... era meu irmão em Cristo, que já faziam mais ou menos doze prá treze anos que não nos víamos.
Ele me recebeu com alegria, me fêz entrar, conhecer sua família; pai de três meninas com idades entre cinco a dez anos, sua esposa que, aparentemente também parecia uma mulher sofrida.
Quando começamos a conversar, ele me falou sobre o mal que a distância tinha lhe causado e que não mais servia ao Senhor Jesus. Contou que as coisas foram tomando um rumo diferente e quando ele percebeu estava sendo tragado pelo mundo com suas ofertas ‘boas’ aos olhos. Se desviou. Deixou de ir á igreja. Já fazia oito anos que ele não sabia o que era um ambiente de culto.Suas duas filhas mais novas nunca tinham também ido á um culto evangélico.Sua esposa,descrente também não estava ingressada em nenhum tipo de igreja ou religião.
Ele me contou sua história bem devagar. Chorou por várias vezes, lamentou sua vida atual e me disse que só não atentou contra sua vida, porque sabia que iria para o inferno mais depressa. Perdeu o bom emprego que tinha, não conseguiu recuperar o nome e também não teve a oportunidade de dar uma vida melhor á sua família.
Estava trabalhando como gari da Prefeitura e o salário não era o suficiente para manter a casa.
Observei que seu olhar era distante e triste. Seus olhos não tinham mais o brilho de antes.Não o vi sorrir nem por uma vez.Apenas comprimia os lábios ou fazia um semblante de sorriso.Encontrei nele outro homem:duro consigo mesmo,reclamando da vida,não tendo um bom relacionamento com a esposa e frustrado...
Ele se lembrou comentando das nossas várias atividades e disse que daria tudo para voltar atrás, ‘...mas o tempo não volta’.Eu disse: “mas pode ser diferente daqui prá frente” mas ele abanou a cabeça em sinal negativo.
Suas mãos estavam grossas e as unhas sujas.O corpo bem frágil... Senti por um pouco de tempo o que ele sofria...
Ao me despedir, pediu que orasse por ele e família e que breve me faria uma visita.
Vindo embora, apertou meu coração e pude observar que o homem que anda sem Jesus realmente se torna um ‘farrapo’.Ví que ele está vegetando, mas não vivendo.
Almocei por algum lugar na rua e tomei uma condução que me levasse a outro bairro.
Cheguei procurando por um casal que estiveram comigo em diversos trabalhos na igreja no inicio dos anos 90.Que surpresa a minha, ao reencontrá-los:Quase não os reconheci.
Ele já está com 50 anos, mas o cabelo que era castanho, está totalmente branco.Ela que era uma mulher muito bonita, demonstrava ter mais da idade que realmente tem.Tingiu o cabelo de cor avermelhada e me pareceu bastante acabada, descuidada e ‘prá baixo’.
Ele como sempre, continua falante e alegre.Mas, a vida com Deus parou.Me disse que perdeu um dos filhos, de 4 anos, por uma doença e que depois disso, perdeu a sua fé.
Sabe que está errado, mas diz não ter forças prá novamente trilhar o caminho.
Sai de lá, profundamente abalado por suas palavras e por estar ‘de mal com Deus’,como se Ele fosse o culpado pela morte de seu filho.
Por fim, já era noite quando eu retornava e ao longo do itinerário estive pensando em como o tempo afeta a vida das pessoas, as nossas vidas, aliás.O tempo marca, envelhece, arranca a esperança, tira a fé de muitos, envelhece...
Alguns amadurecem,outros se tornam duros e ocos por dentro.E infantis.
Fui dormir e não consegui pegar no sono.Preocupado, me levantei e orei.Peguei minha Bíblia e quando a abri, foi justamente em Eclesiastes capítulo 3.Lí e reli.Parei para meditar e fiz uma análise com o que eu tinha visto durante o dia.Realmente a Palavra de Deus é verdadeira e o homem é apenas como um verme.
Perde-se a saúde, a alegria, o emprego, o casamento, o filho, a salvação e conseqüentemente o céu.
Quero dizer que revê-los foi muito bom, mas foi deprimente prá mim, revê-los todos sabendo que suas vidas seculares não vão bem, e a espiritual, pior ainda.
Dói saber e ver alguém que, com tanta vitalidade servia ao Senhor e agora, já não O serve e anda distante daquilo que se pregou toda uma fase da vida.
Dói, saber que as pessoas que amamos estão caminhando para um precipício e que as que pode tirar de lá, são só elas mesmas, que não há o que eu possa fazer.
Dói ver os cabelos ficando grisalhos ou brancos,anunciando a idade e saber que aquela pessoa tão querida, esta perdendo toda uma vida.
Dói perceber que sou incapaz de mudar aquela vida,aquela situação.
Dói sentir a dor do outro, sem poder fazer nada, porque eles já não querem que se faça nada.
Dói ver homens e mulheres, famílias inteiras se entregando á própria sorte,no compasso da vida.
Dói ver gente sem alma, sem orgulho próprio, sem dignidade, sem esperança, sem um ideal.
Dói saber que, quem perdeu a fé, foi justamente alguém que batalhou por ela durante longos anos.
Dói estar diante de pessoas que amamos e nos sentirmos inúteis, quando dizem que não têm mais forças para voltar ao Caminho.
Dói ver que estas pessoas tão queridas e inesquecíveis deixaram Deus ao longo do caminho e agora caminham sós.
Me lembro de Salomão dizendo que “...há um tempo para tudo”, e me ponho a pensar: haverá um tempo para essas pessoas tornarem a ser o tipo de gente que foram? Haverá tempo suficiente para elas saírem da dor e encontrar a felicidade?Haverá tempo ainda para que elas voltem ao Senhor e continuem a caminhada?
Realmente não sei.Só sei que o tempo é agora, e que amanhã,é completamente indefinido.
Vivam vencendo!!!
Seu irmão menor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário