Cultuando o Deus que há em mim
Por Valmir Nascimento Milomen
A auto-ajuda transformou-se em religião. Minha convicção sobre isso aumentou ainda mais na semana passada, depois de participar de um evento em um hotel requintado.
Tudo começou com o telefonema de uma pessoa próxima dizendo que eu deveria estar no local, tendo em vista que outra pessoa, que estava participando de um curso de motivação de oito dias, pedira para que eu estivesse no encerramento.
Pois bem. Na hora marcada lá estávamos minha esposa e eu. Com o ambiente quase lotado, avistamos alguns amigos no fundo do recinto, para onde nos direcionamos. Todavia, não sabíamos ao certo a razão pela qual estávamos ali e o que haveria de acontecer.
Enquanto aguardávamos o início do evento, peguei um folder com algumas informações sobre o curso. Ali dizia que abordava questões ligadas a intimidade, relacionamentos e família; carreira, criatividade e poder pessoal; entusiasmo, energia e depressão; espiritualidade, sentido da vida e conexão; comportamentos compulsivos ou ligados a vícios; e a vontade de eliminar limitações indesejadas. Além de mencionar técnicas de regressão e terapias holísticas.
Nesse momento, enquanto lia o folder, fui abordado pela pessoa que havia me convidado. Ela estava, como posso dizer, exultante. Rapidamente começou a me falar desse curso que acabara de fazer e que estava muito feliz com a minha presença ali. Mas, antes que ele pudesse me explicar algo, uma mulher conclamou a todos para o início da reunião. Meu amigo, então, juntou-se a outras 28 pessoas na primeira fileira da sala.
Tomando a direção da reunião, a mulher começou a nos explicar: Aquela era uma reunião de conclusão de um curso de oito dias, em que aquelas 29 pessoas – logo ali na frente – haviam acabado de passar. O curso foi realizado numa espécie de retiro. Os participantes não tinham acesso a TV, rádio, celular e muito menos internet. “Elas estavam ali para se encontrar. Enfrentar seu medos; suas dúvidas; suas neuras. E hoje elas estão aqui para repassar a vocês um pouco dessa mudança e dessa nova fase da vida. E vocês foram convidados porque são muito importantes para eles”.
Devo reconhecer. A mulher tinha uma boa oratória. Crentes desavisados dariam glória Deus!
Depois de algum tempo, cada um dos participantes foi chamado para falar um pouco sobre a sua vida e como o “curso” foi importante para ela.
Uma senhora de meia idade disse que o curso havia mudado a vida dela. Que por meio dele havia encontrado o perdão e respostas para a sua vida. Uma jovem falou sobre ter encontrado a alegria e a felicidade. Um empresário bem sucedido disse que trazia um trauma em sua vida mas que os três mestres (instrutores) ajudaram a superar aquilo, e agora era um nova pessoa. Quase todos choraram. Um rapaz disse para a mãe que aquele “curso” era o melhor presente que ele havia recebido.
Ali estavam aquelas pessoas. Todas bem sucedidas financeiramente. Prova disso é que o curso custava uma bagatela de quase 5 mil reais, como fiquei sabendo ao final. Essas pessoas diziam que haviam sido transformadas por um curso de 8 dias. Haviam encontrado a felicidade; a alegria; a razão de viver e o perdão. Tudo isso por meio da auto-ajuda. Auto-estima.
Aquele cenário deixou-me envergonhado. Pessoas sedentas por respostas em suas vidas, mas que eu não tive a capacidade de levar a mensagem transformadora de Cristo. E que, então, haviam encontrado uma suposta resposta dentro de si mesmos. A solução para todos os seus problemas.
Além disso, percebi mais uma vez o poder destrutivo da “doutrina da auto-ajuda”, principalmente agora transformada em religião em que o homem é o seu próprio Deus. O escritor de Provérbios, antevendo tal contexto, deixou registrado que “há uma geração cujos olhos são altivos, e as sua pálpebras são sempre levantadas” (Pv. 30.13). Não existem dúvidas de que estamos inseridos no meio dessa geração. Notoriamente, o mundo moderno está envolto numa onda esotérica, em que o pensamento positivo e a lei da atração apresentam-se como insufladores do individualismo e do egocentrismo, sob o argumento de que por meio do descobrimento dos seus valores e potencialidades internas o ser humano pode conseguir tudo quanto queira, sem que hajam barreiras capazes de frustrar o seu intento.
O apóstolo Paulo, de maneira mais enfática, escreveu ao jovem Timóteo, dizendo:
“Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; pois haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo a aparência de piedade, mas negando a eficácia de dela. Destes afasta-te.” Timóteo 3.1-5.
Nessa passagem, fica explícito que um dos sinais dos últimos dias seria a proliferação do amor próprio (homens amantes de si mesmos), demonstrando cla.ramente que esse fenômeno, segundo a visão do mundo, não possui nenhuma aprovação bíblica, como querem alguns, pelo contrário é a prova cabal de que o verdadeiro amor se esfriou (Mt. 24.12), e que o mundo jaz no maligno, o qual cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (2Co.4.4).
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