30 outubro 2017

CALVINO NÃO MORREU

Resultado de imagem para calvino não

Quando João Calvino (1509-1564) perdia a batalha dialética contra seus opositores e se via encurralado com suas próprias contradições, recorrentemente ele apelava para dois subterfúgios: um anti-intelectual e outro imoral.

No subterfúgio anti-intelectual, o teólogo de Genebra usava e abusava das antinomias, o apelo exacerbado ao mistério. O próprio autor calvinista Paul Helm reconhece essa fraqueza de Calvino em "A Providência Secreta de Deus" (Cultura Cristã). 

Quando Calvino afirmava, por exemplo, que desde a madre algumas pessoas já nascem predestinadas por Deus para a morte eterna, e a razão disto não está nos pecados antevistos dessas pessoas, mas sim nos desígnios ocultos de Deus que as predestinara à condenação, ele não podia sustentar essa questão exegeticamente, nem mesmo com uso inadequado de Romanos 9 - que, diga-se de passagem, nem todos calvinistas concordam com a leitura supralapsariana de Calvino neste capítulo. Num último recurso, Calvino, como teólogo incorrigível, batia o pé e dizia: "é assim e pronto e ninguém sabe explicar!" Sabe sim, muitos souberam e explicaram, mas Calvino não lhes quis dar ouvidos. Na teologia há lugar sim para o mistério (vide Trindade), mas, como bem nos adverte o Dr. William Craig, "tal recurso deve ser feito apenas como último recurso depois de muito pensar árduo". Aquele que é considerado no meio acadêmico um dos maiores apologistas do nosso século, conclui: "podemos sem apelar para o mistério, mostrar a compatibilidade entre a presciência de Deus e a responsabilidade humana". William Craig estava certo, como muitos contemporâneos de Calvino que lhe faziam oposição. Mas Calvino que já tinha ido muito além do que Agostinho fora antes dele, já não estava disposto humildemente a ser corrigido.

Mas havia ainda o subterfúgio imoral, e esse era muito pior porque Calvino além de se negar a aprofundar a sua exegese e corrigi-la, ou perceber que seus argumentos não eram partilhados por aquela antiga Igreja dos quatro primeiros séculos, nem por muitos doutores cristãos de sua época (o que deveria servir-lhe como sinalização de perigo e corrupção doutrinária), Calvino afugentava o espírito cristão e da pouca modéstia e bom tom que lhe restava - são os próprios historiadores calvinistas que admitem que Calvino não era lá um símbolo de paciência e moderação (bem ao contrário do que os historiadores falam de Jacó Armínio, "homem tolerante e piedoso, e muito contra os princípios rígidos de uma uniformidade forçada" - A. Knight e W. Anglin) - punha-se a lançar impropérios contra seus opositores e até pelejar pela prisão e morte deles. Claro, a Bíblia que ordena mansidão, paciência, tolerância e amor até mesmo para com os inimigos como a identidade do verdadeiro cristão parecia ainda não estar em total voga no século 16 (embora o cânon já tivesse sido fechado desde os quatro primeiros séculos da nossa era). Quem lê os escritos de Calvino, e não me refiro a belas frases soltas compartilhadas na internet, sabe que Calvino não raras vezes buscava desqualificar os que se opusessem aos seus dogmas, como a Dupla Predestinação Incondicional. Estes são alguns dos adjetivos depreciativos com os quais Calvino buscava destruir a imagem de seus opositores: “dementes”, “porcos”, “cães virulentos que vomitam contra Deus”, “inimigos da graça de Deus”, “inimigos da predestinação”, “estúpidos”, “espíritos desvairados”, “bestas loucas”, “gentalha”, “espíritos ignorantes”, “bestas”, “cães, porcos e perversos”, “insanos” e “criaturas bestiais”. Calvino chegou a sugerir que seus inimigos fossem cuspidos na cara, como no caso de Sebastian Castellion. Jean Wyllys tem seu precedente histórico! (Quem lê, entenda). Se Calvino não podia responder aos argumentos de seus adversários, então Calvino apelava para o ataque moral aos seus adversários.

O que é lamentável é que 500 anos depois, olhando para o atual quadro do cenário teológico brasileiro, com a tentativa de imposição dos pontos de vista dos discípulos de Calvino sobre os demais cristãos (cuja maioria absoluta não segue a doutrina calvinista), o que se vê é aquela mesma derrota na batalha dialética e, por consequência, o recorrente abuso das antinomias e dos ataques à moral dos opositores, mesmo que cristãos sérios de igrejas históricas, com uso de linguagem depreciativa com vistas tão somente não a refutar os argumentos, mas a aniquilar o caráter e a reputação do outro. Diante de tal quadro caótico, só posso chegar àquela velha conclusão de Salomão: "...não há nada novo debaixo do sol" (Ec 1.9, NVI).

Viva vencendo!!!!

Seu irmão menor

Nenhum comentário:

Postar um comentário