16 julho 2017

PR. JOSUÉ GONÇALVES - COMO VAI A FAMÍLIA?

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“Família é o ponto de partida de todos os outros relacionamentos, Família é uma oficina onde se forma o caráter do indivíduo, Família é a nascente do rio da civilização”

Em tempos em que a família, núcleo da sociedade, parece estar sem referência diante dos estímulos da mídia e dos modismos e em que a instituição casamento, base da família, enfrenta ataques poderosos, um nome se coloca como a resposta para que cristãos tenham suas mentes renovadas e uniões fortalecidas. Este nome é Cristo.

Por meio de Sua Palavra, a Igreja busca ser não apenas um ambiente para comunhão, mas respaldar sua importância como comunidade terapêutica. Mas como isso é possível? Como ajudar as famílias a vencerem os grandes desafios com que a modernidade as tem confrontado? Como forjar o caráter dos jovens e ajudá-los a se preservarem? E quanto ao casamento, como agir quando existem problemas?

Um especialista cristão nesses assuntos, cujo currículo fala por si, o pastor sênior do Ministério Família Debaixo da Graça – Assembleia de Deus em Bragança Paulista (SP), Josué Gonçalves, concedeu uma entrevista exclusiva à Comunhão. Terapeuta familiar, palestrante internacional, ele integra a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) e a Associação Evangélica Brasileira (AEVB). Bacharel em Teologia pelo Instituto Bíblico das Assembleias de Deus (Ibad), com especialização em Aconselhamento Pastoral e Terapia de Casais, o pastor desenvolve um ministério especialmente voltado para as famílias desde 1990. Na conversa com a equipe da Comunhão, pastor Gonçalves fala com propriedade sobre os desafios da família cristã contemporânea.

Segundo dados do IBGE, O número de divórcios cresceu 20% nos últimos 10 anos. O que está havendo com a instituição casamento?
Com o avanço tecnológico e as mudanças na sociedade, o casamento sofreu uma desvalorização como instituição divina. Hoje o divórcio já não é considerado uma “tragédia familiar”, como era visto antes.O trágico está se tornando normal dentro de uma sociedade que valoriza o “descartável”.  Ou seja, você não está feliz? Troca! Essa é a ênfase da sociedade pós-moderna.

Em sua experiência na área de terapia familiar, quais são os principais desafios para um casamento bem-sucedido? Que aspectos da vida a dois devem ser mais vigiados?
Permanecer casado e feliz são os grandes desafios para os casais hoje, e isso só é possível se o marido e a mulher enxergarem o casamento como uma aliança que está acima do compromisso entre os dois. Independentemente se eu acordei amando minha esposa intensamente ou não, eu tenho uma aliança com ela, e isso está acima de qualquer coisa. É o que diz a Palavra de Deus em Hebreus, 13.4: “Digno de honra seja o matrimônio”.

E quanto aos casais cristãos mais experientes, com 10 anos ou mais de casamento: como manter o romantismo e a paixão? Como evitar que a relação esfrie com o tempo?
Existe uma lei natural que diz que tudo o que não é renovado sofre um processo natural de degeneração. Não há casamento que sobreviva se não houver manutenção constante.  Existem cinco palavras-chave na preservação de um casamento, fidelidade, amizade, humildade, submissão e respeito.

Para o senhor, falar em sexo ainda é um grande tabu entre os cristãos?
Há 22 anos, quando eu comecei meu ministério com família, principalmente na minha igreja, Assembleia de Deus, não era comum tratar desse assunto com liberdade e clareza. Hoje, a maioria das igrejas está aberta para tratar de sexo e sexualidade tanto entre os casados como com os jovens.

E quais os impactos dessa dificuldade na relação marido/mulher? Como o casal pode melhorar a vida nessa área?
Uma das causas pelas quais muitos casais não vivem como deveriam viver à luz das Escrituras Sagradas é porque não começaram da maneira correta. Quanto tempo uma pessoa leva se preparando para ser médico, advogado, administrador de empresa, engenheiro etc.? São anos de estudo, estágio e especializações. E quanto tempo um casal leva se preparando para ser marido, esposa, pai, mãe, genro ou nora? Na maioria das vezes, as pessoas se casam sem nenhuma preparação. Outro problema sério é quando não se tem um bom exemplo em casa. Isto posto, o casamento pode melhorar quando há nos dois uma predisposição para aprender.

Tem ganhado grande adesão entre os jovens o movimento “Eu Escolhi Esperar”. Qual sua opinião a respeito? Trata-se de uma onda passageira ou de uma tendência que deve se consolidar e crescer?
Não acredito que seja apenas uma onda, creio que é a resposta da oração da igreja. Deus levantou esse ministério do “Escolhi Esperar” liderado pelo meu amigo, pastor Nelson Júnior, com o propósito de salvar futuros casamentos da tragédia do divórcio. Lembre-se: tudo o que começa errado tem tudo para terminar errado.

Ao mesmo tempo, têm aumentado muito os casos de adolescentes grávidas, mesmo entre os evangélicos. Diante do fato consumado, a solução é casar?
Não. Sou contra a atitude dos pais que tentam resolver um problema criando outro. Uma adolescente, mesmo grávida, não tem maturidade suficiente para assumir um casamento e uma família. O melhor que a família pode fazer é acolher a filha e a criança que virá. Depois, tudo deve ser resolvido com bom-senso, amor e muita responsabilidade. Quanto ao crescente número de adolescentes grávidas, mostra-nos que há um vazio de liderança na família. O que os pais precisam entender é que filhos não se perdem na rua, mas em casa. Na maioria das vezes, quando as adolescentes se perdem fora de casa, é porque os pais negligenciaram o processo de orientação, educação.

Núcleo central da sociedade, a família tem estado sob variados ataques, em diversas esferas. Como a Igreja deve enfrentar essa situação para proteger a família? O que o seu ministério está fazendo que poderia servir de modelo ou inspiração?
A Igreja dever ser comunidade terapêutica e, ao mesmo tempo, fazer um trabalho preventivo. O nosso ministério tem realizado no Brasil vários seminários, simpósios, encontros e congressos que visam ao fortalecimento da família, à restauração de casamentos, à conscientização dos pais etc. Também temos usado as redes sociais e outras ferramentas, como o YouTube, Facebook e Twitter para alcançar o maior número possível de pessoas com orientação e treinamento.

Hoje contamos também com uma equipe de 30 casais conselheiros, que trabalham dando assistência a casais de todo o Brasil que nos pedem ajuda através do nosso site. O nosso ministério recebe uma média de 600 e-mails de casais pedindo ajuda todo mês. Em função da grande demanda, estamos construindo em Bragança Paulista (SP) o Centro Terapêutico Para Casais. Já estamos trabalhando na restauração de famílias nesse espaço.

Aumento da violência doméstica, do uso de drogas, da pedofilia, da pornografia, da homossexualidade e da degradação ambiental e social.  Como especialista em família, a que o senhor atribui a crise de valores atual?
As causas dessa crise têm a ver com a desestruturação da família. Quando a família é atingida por uma crise, desencadeia um processo de degradação que atinge a sociedade em muitas áreas. Se fizermos uma análise criteriosa sobre os problemas sociais que temos no Brasil hoje, concluiremos que a causa principal está nas famílias disfuncionais. O que me preocupa é que não há nenhum plano do Governo voltado para a reestruturação da família, e qualquer medida que não passar por esse caminho será paliativa, provisória. Tudo começa e termina na família.

O senhor é otimista quanto a uma reversão dessa tendência? Por quê? E como reverter esse quadro?
Eu acredito em avivamento como resposta divina. Há muita gente orando e trabalhando, e nós ainda vamos experimentar um mover do Espírito Santo que nunca vimos antes em nosso pais. E esse mover irá alcançar as famílias com cura. Mas, apesar de muitas igrejas estarem fazendo a sua parte, existem outras que ainda precisam ser despertadas.

De maneira geral, a família brasileira perdeu o seu foco? O senhor avalia que o papel da Igreja, nesse contexto, tem sido desempenhado satisfatoriamente?
Sabemos que há um trabalho sendo feito por muitas igrejas, porém, a necessidade é gigantesca e precisamos que todas as igrejas estejam envolvidas e comprometidas com a missão de salvar famílias e fortalecer aqueles que estão bem. Quando todas as igrejas se envolverem e, de forma estratégica, fizerem um trabalho sério focado na família, o Brasil experimentará o que nunca experimentou como avivamento. Lembre-se: família é a prioridade das prioridades no coração de Deus.

Do seu ponto de vista, qual a influência do computador e da TV sobre as famílias de hoje? Como lidar com essa realidade dentro dos lares?
A TV e a internet são ferramentas que, quando usadas de forma responsável, podem ser edificantes para a família. A minha preocupação é que a maioria dos nossos jovens e também muitos casais não estão usando a internet para o bem, e sim para o mal. Um outro fator é que hoje temos pessoas viciadas na internet.

Nos Estados Unidos já existem “Casas de Recuperação para Viciados em Internet”. Sem dúvida, isso pode destruir casamentos e adoecer o relacionamento familiar. Em nossa editora, lançamos um livro muito interessante, que toda família deveria ler: “Pais Ausentes, Filhos On-Line”. Os pais devem saber por onde os seus filhos estão navegando na internet, do contrário, corremos o risco de perder os nossos filhos, mesmo eles
não saindo de casa.

A juventude, a seu ver, carece de limites? Por que isso vem acontecendo?
Sim, os nossos jovens precisam de disciplina, e isso tem a ver com limites. Sempre afirmo nas minhas palestras que excesso de carinho, sem limites, pode ser igual a delinquência. Quando lemos a parábola do Filho Pródigo, compreendemos bem o que pode acontecer quando um “filho adolescente ou jovem” passa a viver sem limites, sem regras, sem disciplina. O fim é sempre muito trágico.

A famosa palmada divide opiniões quando se fala em educação de crianças. Qual é a sua opinião a respeito?
A Bíblia é muito clara quando diz, “não afasta a vara (disciplina) da criança, a fim de livrar a sua alma do inferno”. Eu sou do tempo em que uma “boa cintada” era um remédio interessante para corrigir rebeldia.  Eu criei meus filhos com a “disciplina da varinha”, hoje eles me agradecem. Estão todos na igreja, bem casados, dois são pais, e somos amigos e companheiros. Bons pais não abrem mão da disciplina no processo de educação dos filhos.

Para concluir: qual é a definição de família para o senhor?

Família é o ponto de partida de todos os outros relacionamentos. Família é uma oficina onde se forma o caráter do indivíduo, família é a nascente do rio da civilização. Família é um projeto de Deus. Família é um lugar teológico, onde Deus se revela. Família é o nosso maior patrimônio.

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