“Família é o ponto de partida de todos os outros
relacionamentos, Família é uma oficina onde se forma o caráter do indivíduo,
Família é a nascente do rio da civilização”
Em tempos em que a família, núcleo da sociedade,
parece estar sem referência diante dos estímulos da mídia e dos modismos e em
que a instituição casamento, base da família, enfrenta ataques poderosos, um
nome se coloca como a resposta para que cristãos tenham suas mentes renovadas e
uniões fortalecidas. Este nome é Cristo.
Por meio de Sua Palavra, a Igreja busca ser não
apenas um ambiente para comunhão, mas respaldar sua importância como comunidade
terapêutica. Mas como isso é possível? Como ajudar as famílias a vencerem os
grandes desafios com que a modernidade as tem confrontado? Como forjar o
caráter dos jovens e ajudá-los a se preservarem? E quanto ao casamento, como
agir quando existem problemas?
Um especialista cristão nesses assuntos, cujo
currículo fala por si, o pastor sênior do Ministério Família Debaixo da Graça –
Assembleia de Deus em Bragança Paulista (SP), Josué Gonçalves, concedeu uma
entrevista exclusiva à Comunhão. Terapeuta familiar, palestrante internacional,
ele integra a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) e a
Associação Evangélica Brasileira (AEVB). Bacharel em Teologia pelo Instituto
Bíblico das Assembleias de Deus (Ibad), com especialização em Aconselhamento
Pastoral e Terapia de Casais, o pastor desenvolve um ministério especialmente
voltado para as famílias desde 1990. Na conversa com a equipe da Comunhão,
pastor Gonçalves fala com propriedade sobre os desafios da família cristã
contemporânea.
Segundo dados do IBGE, O número de divórcios cresceu
20% nos últimos 10 anos. O que está havendo com a instituição casamento?
Com o avanço tecnológico e as mudanças na sociedade,
o casamento sofreu uma desvalorização como instituição divina. Hoje o divórcio
já não é considerado uma “tragédia familiar”, como era visto antes.O trágico
está se tornando normal dentro de uma sociedade que valoriza o
“descartável”. Ou seja, você não está
feliz? Troca! Essa é a ênfase da sociedade pós-moderna.
Em sua experiência na área de terapia familiar, quais
são os principais desafios para um casamento bem-sucedido? Que aspectos da vida
a dois devem ser mais vigiados?
Permanecer casado e feliz são os grandes desafios
para os casais hoje, e isso só é possível se o marido e a mulher enxergarem o
casamento como uma aliança que está acima do compromisso entre os dois.
Independentemente se eu acordei amando minha esposa intensamente ou não, eu
tenho uma aliança com ela, e isso está acima de qualquer coisa. É o que diz a
Palavra de Deus em Hebreus, 13.4: “Digno de honra seja o matrimônio”.
E quanto aos casais cristãos mais experientes, com
10 anos ou mais de casamento: como manter o romantismo e a paixão? Como evitar
que a relação esfrie com o tempo?
Existe uma lei natural que diz que tudo o que não é
renovado sofre um processo natural de degeneração. Não há casamento que
sobreviva se não houver manutenção constante.
Existem cinco palavras-chave na preservação de um casamento, fidelidade,
amizade, humildade, submissão e respeito.
Para o senhor, falar em sexo ainda é um grande tabu
entre os cristãos?
Há 22 anos, quando eu comecei meu ministério com
família, principalmente na minha igreja, Assembleia de Deus, não era comum
tratar desse assunto com liberdade e clareza. Hoje, a maioria das igrejas está
aberta para tratar de sexo e sexualidade tanto entre os casados como com os
jovens.
E quais os impactos dessa dificuldade na relação
marido/mulher? Como o casal pode melhorar a vida nessa área?
Uma das causas pelas quais muitos casais não vivem
como deveriam viver à luz das Escrituras Sagradas é porque não começaram da
maneira correta. Quanto tempo uma pessoa leva se preparando para ser médico,
advogado, administrador de empresa, engenheiro etc.? São anos de estudo,
estágio e especializações. E quanto tempo um casal leva se preparando para ser
marido, esposa, pai, mãe, genro ou nora? Na maioria das vezes, as pessoas se
casam sem nenhuma preparação. Outro problema sério é quando não se tem um bom
exemplo em casa. Isto posto, o casamento pode melhorar quando há nos dois uma
predisposição para aprender.
Tem ganhado grande adesão entre os jovens o
movimento “Eu Escolhi Esperar”. Qual sua opinião a respeito? Trata-se de uma
onda passageira ou de uma tendência que deve se consolidar e crescer?
Não acredito que seja apenas uma onda, creio que é a
resposta da oração da igreja. Deus levantou esse ministério do “Escolhi
Esperar” liderado pelo meu amigo, pastor Nelson Júnior, com o propósito de
salvar futuros casamentos da tragédia do divórcio. Lembre-se: tudo o que começa
errado tem tudo para terminar errado.
Ao mesmo tempo, têm aumentado muito os casos de
adolescentes grávidas, mesmo entre os evangélicos. Diante do fato consumado, a
solução é casar?
Não. Sou contra a atitude dos pais que tentam resolver
um problema criando outro. Uma adolescente, mesmo grávida, não tem maturidade
suficiente para assumir um casamento e uma família. O melhor que a família pode
fazer é acolher a filha e a criança que virá. Depois, tudo deve ser resolvido
com bom-senso, amor e muita responsabilidade. Quanto ao crescente número de
adolescentes grávidas, mostra-nos que há um vazio de liderança na família. O
que os pais precisam entender é que filhos não se perdem na rua, mas em casa.
Na maioria das vezes, quando as adolescentes se perdem fora de casa, é porque
os pais negligenciaram o processo de orientação, educação.
Núcleo central da sociedade, a família tem estado
sob variados ataques, em diversas esferas. Como a Igreja deve enfrentar essa
situação para proteger a família? O que o seu ministério está fazendo que
poderia servir de modelo ou inspiração?
A Igreja dever ser comunidade terapêutica e, ao
mesmo tempo, fazer um trabalho preventivo. O nosso ministério tem realizado no
Brasil vários seminários, simpósios, encontros e congressos que visam ao
fortalecimento da família, à restauração de casamentos, à conscientização dos
pais etc. Também temos usado as redes sociais e outras ferramentas, como o
YouTube, Facebook e Twitter para alcançar o maior número possível de pessoas
com orientação e treinamento.
Hoje contamos também com uma equipe de 30 casais
conselheiros, que trabalham dando assistência a casais de todo o Brasil que nos
pedem ajuda através do nosso site. O nosso ministério recebe uma média de 600
e-mails de casais pedindo ajuda todo mês. Em função da grande demanda, estamos
construindo em Bragança Paulista (SP) o Centro Terapêutico Para Casais. Já
estamos trabalhando na restauração de famílias nesse espaço.
Aumento da violência doméstica, do uso de drogas, da
pedofilia, da pornografia, da homossexualidade e da degradação ambiental e
social. Como especialista em família, a
que o senhor atribui a crise de valores atual?
As causas dessa crise têm a ver com a
desestruturação da família. Quando a família é atingida por uma crise,
desencadeia um processo de degradação que atinge a sociedade em muitas áreas.
Se fizermos uma análise criteriosa sobre os problemas sociais que temos no
Brasil hoje, concluiremos que a causa principal está nas famílias
disfuncionais. O que me preocupa é que não há nenhum plano do Governo voltado
para a reestruturação da família, e qualquer medida que não passar por esse
caminho será paliativa, provisória. Tudo começa e termina na família.
O senhor é otimista quanto a uma reversão dessa
tendência? Por quê? E como reverter esse quadro?
Eu acredito em avivamento como resposta divina. Há
muita gente orando e trabalhando, e nós ainda vamos experimentar um mover do
Espírito Santo que nunca vimos antes em nosso pais. E esse mover irá alcançar
as famílias com cura. Mas, apesar de muitas igrejas estarem fazendo a sua
parte, existem outras que ainda precisam ser despertadas.
De maneira geral, a família brasileira perdeu o seu
foco? O senhor avalia que o papel da Igreja, nesse contexto, tem sido desempenhado
satisfatoriamente?
Sabemos que há um trabalho sendo feito por muitas
igrejas, porém, a necessidade é gigantesca e precisamos que todas as igrejas
estejam envolvidas e comprometidas com a missão de salvar famílias e fortalecer
aqueles que estão bem. Quando todas as igrejas se envolverem e, de forma
estratégica, fizerem um trabalho sério focado na família, o Brasil
experimentará o que nunca experimentou como avivamento. Lembre-se: família é a
prioridade das prioridades no coração de Deus.
Do seu ponto de vista, qual a influência do
computador e da TV sobre as famílias de hoje? Como lidar com essa realidade
dentro dos lares?
A TV e a internet são ferramentas que, quando usadas
de forma responsável, podem ser edificantes para a família. A minha preocupação
é que a maioria dos nossos jovens e também muitos casais não estão usando a
internet para o bem, e sim para o mal. Um outro fator é que hoje temos pessoas
viciadas na internet.
Nos Estados Unidos já existem “Casas de Recuperação
para Viciados em Internet”. Sem dúvida, isso pode destruir casamentos e adoecer
o relacionamento familiar. Em nossa editora, lançamos um livro muito
interessante, que toda família deveria ler: “Pais Ausentes, Filhos On-Line”. Os
pais devem saber por onde os seus filhos estão navegando na internet, do
contrário, corremos o risco de perder os nossos filhos, mesmo eles
não saindo de casa.
A juventude, a seu ver, carece de limites? Por que
isso vem acontecendo?
Sim, os nossos jovens precisam de disciplina, e isso
tem a ver com limites. Sempre afirmo nas minhas palestras que excesso de
carinho, sem limites, pode ser igual a delinquência. Quando lemos a parábola do
Filho Pródigo, compreendemos bem o que pode acontecer quando um “filho
adolescente ou jovem” passa a viver sem limites, sem regras, sem disciplina. O
fim é sempre muito trágico.
A famosa palmada divide opiniões quando se fala em
educação de crianças. Qual é a sua opinião a respeito?
A Bíblia é muito clara quando diz, “não afasta a
vara (disciplina) da criança, a fim de livrar a sua alma do inferno”. Eu sou do
tempo em que uma “boa cintada” era um remédio interessante para corrigir
rebeldia. Eu criei meus filhos com a
“disciplina da varinha”, hoje eles me agradecem. Estão todos na igreja, bem
casados, dois são pais, e somos amigos e companheiros. Bons pais não abrem mão
da disciplina no processo de educação dos filhos.
Para concluir: qual é a definição de família para o
senhor?
Família é o ponto de partida de todos os outros
relacionamentos. Família é uma oficina onde se forma o caráter do indivíduo,
família é a nascente do rio da civilização. Família é um projeto de Deus.
Família é um lugar teológico, onde Deus se revela. Família é o nosso maior patrimônio.
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