
Texto Áureo
“Porque o pecado não terá domínio sobre vós,
pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.” (Rm 6.14)
Verdade Prática
Cristo Jesus é a graça divina manifestada
em forma humana
LEITURA BÍBLICA
Romanos 6.1-12
O cristão e o poder do pecado,
6.1-23
1. Quanto à subdivisão de Rm 5–8. Foi bastante fácil
perceber a estrutura dos primeiros quatro capítulos da carta aos romanos. Rm 5,
em seguida, ampliou o panorama: pela fé não apenas acontece a virada salvadora,
mas adicionalmente também a vida em realização plena! Porém, encontramos
dificuldades para captar os pensamentos dos capítulos seguintes, Rm 6–8. “Não
há como evidenciar um plano rigoroso” (U. Luz, pág 209). Possivelmente, o
apóstolo está agindo de tal modo como se faz também hoje após uma palestra:
quem tem uma pergunta para expor ao conferencista? Segue-se um diálogo.
É desse modo que Paulo talvez esteja abordando alegações que
poderiam ser levantadas por leitores que refletem sobre o texto. Através de
itens selecionados, ele defende e aprofunda o exposto até aqui. Depõe a favor
dessa compreensão que determinados vocábulos se acumulam, o que acontece sempre
de forma súbita, mas de igual maneira cedem claramente a um novo termo-chave.
Em Rm 6.1-23; 7.1-25 e 8.1-30 trata-se de temas especiais (cf as respectivas
opr aos mesmos). Um resumo, que retorna ao estilo de confissão de Rm 5.1-11,
conclui a unidade da carta em Rm 8.31-39.
2. Rm 6 como primeiro tema especial. A concordância
terminológica revela à primeira vista que o capítulo se destaca por usar 17
vezes “pecado”, “pecar”. Paulo lança o alicerce para o tema “o cristão e o
pecado”. Expõe-se à pergunta crítica: que será da justiça por meio da fé, se
ela se defrontar com a realidade de que o pecado continua existindo? Afinal,
será que aquilo que Paulo expôs até o momento tem algo a ver com a vida que se
vive na prática? Acaso trata-se de mera interiorização ou até de acrobacia intelectual?
a. Expatriados do reino do pecado – viver com Cristo para
Deus, 6.1-11
Paulo desobstrui a dobradiça pela qual a fé movimenta
vigorosamente a vida, para que aconteça de fato a melhoria do cotidiano. O
caminho geralmente trilhado para isso seria a intensificação do imperativo.
Exacerba-se o “deves!”: ler mais a Bíblia, orar mais,
confessar-se de modo mais criterioso, viver mais disciplinadamente, servir mais
desinteressadamente! Acontece que em Paulo nunca estão ausentes os imperativos.
Após o v. 11, p. ex., eles ocorrem em grande número. Contudo, quando está em
jogo a verdadeira base de apoio para melhorar a vida, seguem-se dez versículos
sem uma única exigência. Ao invés disso, começa uma instrução jurídica.
Trata-se de uma compreensão mais abrangente da obra redentora de Cristo, a
saber, de suas conseqüências legais.
Com a formulação “Que
diremos, pois?” Paulo demonstra repetidas vezes que ele pressente uma objeção
que paira no ar. Há pouco ele havia enaltecido em Rm 5.20b que: quanto maior o
poder do pecado, tanto maior será ali o poder da graça! De imediato entra em
funcionamento uma certa lógica: então, foi-nos dada uma alavanca para com
nossas mãos movermos a graça, a saber, continuando a pecar.
Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais
abundante? No singular “pecado” Paulo não pensa em atos isolados, e sim no
pecado como poder (cf Rm 5.20b). Combina com isso o “permanecer”. Assim como se
pode permanecer na esfera da bondade de Deus ou na esfera da descrença (Rm 11.22,32),
assim também na área de poder do pecado. Ela eqüivale a um ente político, um
império: v. 12,14,16,18,22. O interesse especial na questão é: trata-se de uma
estrutura jurídica. O pecado governa legalmente sobre nós, pois o exercício do
mal não apenas feriu nossa própria consciência, mas criou também relações de
direito, estruturas do mal, nas quais agora é obrigatório viver.
Quem lança essa pergunta oblíqua? Em Rm 3.7,8 Paulo é
acusado de forma muito semelhante por “caluniadores” de que por sua doutrina da
graça ele estaria seduzindo para a prática do pecado. Será que agora Paulo está
se voltando contra as mesmas pessoas? Não, aqui a situação é completamente
outra.
Ele não liquida rapidamente a questão como lá, não fala em
tom de reprovação, mas dirige-se, no estilo do “nós” e com minuciosos detalhes,
ao próprio círculo. Também nos cristãos está latente a possibilidade de abusar
da graça, de fazer do evangelho uma massa manipulável, cf Gl 5.13: “Irmãos,
fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à
carne”.
Um voraz desejo egoísta pressente o ar matinal, avança para
dentro do espaço de liberdade recém-recebido, e se produz nele grandiosamente.
Decorrência: as condições morais numa comunidade tornam-se deploráveis.
Não-cristãos às vezes pecam com mais dignidade que cristãos. A decorrência
seguinte: por força das circunstâncias, a comunidade envereda pelo mais triste
legalismo que existe.
Para esse “permaneceremos no pecado” o próximo versículo diz
“viveremos ainda no pecado”: Organizar a vida novamente segundo o espírito, a
mentalidade e o bel-prazer do pecado. Sequer temos o desejo de separar-nos
desta atitude mental, gostaríamos de continuar pecando e detectamos no ensino
de Paulo uma possibilidade de fazê-lo sem prejuízo. Afinal, temos agora a
“graça” como escapatória. Testemunhamo-la comovidos, talvez até de modo
comovente para outros, os quais seduzimos. Porém, dessa maneira acabamos apenas
brincando com cascas de palavras. Quem gosta de pecar, nem está mais ciente de
que Jesus está presente. Acaso o Senhor falou ao curado no tanque de Betesda: E
agora continua pecando tranqüilamente? (Jo 5.14). Acaso disse à mulher
adúltera, depois de lhe ter anunciado o perdão: Continua pecando sem problemas,
pois agora terás sempre a mim? (Jo 8.11).
Paulo rejeita de duas maneiras a objeção do v. 1.
Primeiramente, ressoa sua palavra de repulsa mais aguda: De modo nenhum! A essa
idéia ele de forma alguma responde com “amém”. Contudo, à repulsa instintiva
agrega-se seu argumento lógico: nós os que para ele morremos. Essa declaração
perpassa todo o trecho como um fio condutor (v. 2,5,6,7,8,11). Se não
compreendermos nada nesse ponto, o trecho todo não poderá causar impacto. Por
isso é necessário decifrar com cuidado e detalhamento especial a metáfora
recorrente em Paulo, referente a morrer espiritualmente.
É possível abordar o morrer de diversas maneiras. Para quem
está morrendo e para seus familiares, o aspecto psicológico pode ocupar o
primeiro plano (despedida, dor, perda, luto). Porém Paulo nem sequer está
pensando em algo triste. O médico que tem a tarefa de fornecer a certidão de
óbito encara a morte sob o aspecto clínico. Paulo, no entanto, tem em mente as
decorrências legais de um falecimento, o que se torna especialmente evidente em
Rm 7.1-6. No exato segundo em que a morte acontece, cai por terra qualquer
reivindicação diante do falecido. Ninguém pode exigir mais nada dele. Autoridade
financeira, credor ou executor penal podem buscar algo somente dos vivos.
Os mortos escapam a todo sistema de compromissos. Em Jó
3.18,19: na morte “os presos juntamente repousam… e o servo fica livre de seu
senhor” (RC). Morrer muda radicalmente a situação legal. Morrer é libertação.
“Morremos para o pecado!” é um grito de liberdade.
Nos versículos subseqüentes o quadro é consideravelmente
enriquecido: três das seis ocorrências enfatizam que esse morrer não constitui
nenhum acontecimento solitário: “fomos unidos com ele na semelhança da sua (de
Cristo!) morte” (v. 5), “foi crucificado com ele o nosso velho homem” (v. 6),
“morremos com Cristo” (v. 8).
Como Cristo morreu na cruz, a conseqüência para a nossa
participação na sua morte é que não podemos executar esse morrer em nós
próprios. Tecnicamente e também como metáfora, a autocrucificação é impossível.
Ninguém pode movimentar pessoalmente o martelo para afixar as próprias mãos na
cruz. Mas há muitos fiéis que se contorcem dessa maneira a fim de morrerem para
o pecado.
Seu objetivo é torturar-se por meio de severa autopunição,
depreciando-se a si próprios, chorando, praticando ascese ou procedimentos
especiais, dos quais acreditam obter efeitos mágicos. Ou se convencem
amargamente que estão real e totalmente mortos para o pecado. No entanto, a
questão é de mera intervenção externa. Ao aceitarmos na fé o Cristo anunciado,
Deus não apenas aceitou nossa decisão, mas também fez algo. Ele nos “selou”
pelo Espírito Santo.
Na Antigüidade costumava-se tatuar escravos recém-adquiridos
com uma marca de propriedade (cf Rm 8.9b,14-16; 2Co 1.22; Ef 1.13; 4.30). Por
meio da dádiva divina de pertencermos ao crucificado fomos legalmente
expatriados do reino do pecado e transferidos para a esfera de poder e bênção
de Cristo. Uma nova órbita em torno de outro sol nos liberta para uma vida
alternativa. “Andemos nós em novidade de vida” ou “servimos em novidade de espírito”
(v. 4b; 7.6).
No entanto: somos nós
os que “morremos”, o reino do pecado porém continua existindo. Suas estruturas
nos cercam, como antes, de todos os lados. Mais ainda: o mal age como se
fôssemos subordinados a ele. Ele se apresenta imponente diante de nós, para nos
impressionar e acovardar. Ele nos assedia, a fim de extenuar a nossa fé, até
que voltemos a funcionar como antigamente. Porém, cumpre oferecer resistência
aqui mais do que nunca. Não temos mais nenhuma obrigação com esse sistema (Rm
8.12).
Mas, reiterando: o poder do pecado ainda está aí. Ele possui
tanta força que nenhum fiel a Deus deveria brincar com ele. Em 1Co 10.12 lê-se:
“Portanto, aquele que pensa que está de pé”, firme na fé como um abrigo
antiaéreo, capaz de dar conta de qualquer tentação, p. ex., permitindo-se
contemplar sorridente os quadros mais sujos, “quem está em pé, olhe que não
caia". No entanto, por maior que seja a força deste poder, ele não tem
legitimidade. Suas demandas a nós são ilegais. Nosso Senhor legal é Cristo.
Retornemos agora à seqüência do pensamento. O que parecia
ser a conclusão lógica no v. 1, examinado à luz do sol, desfaz-se em nada: Como
viveremos ainda no pecado, já que ninguém pode viver duas vidas ao mesmo tempo!
Paulo chegou a essa clareza quando iluminou da maneira mais completa as
conseqüências legais da ação na cruz. Nos capítulos anteriores líamos: Cristo
morreu por nós. Agora acrescenta-se: e nós morremos com ele.
Por se tratar do pensamento condutor de todo o trecho, conscientizamo-nos
mais uma vez do lugar que este “morrer” tem na biografia de um ser humano.
Paulo o martelou exaustivamente desde Rm 1.16: tudo na fé, pela fé, a partir da
fé, para a fé! O texto de Rm 5.2 resumiu-o assim: ter acesso pela fé à graça
integral. Quando chegamos a crer, Deus não nos dá primeiramente o dedo
mindinho, a fim de conceder a totalidade somente como acréscimo, somente num
tratamento especial. No momento central da experiência da salvação em Cristo,
ele se doa pessoal e integralmente. Cumpre-se o que diz Jo 5.24: “Quem ouve a
minha palavra e crê naquele que me enviou… passou da morte para a vida”.
Para reforçar o afirmado, a saber, que eles estão “mortos”,
Paulo lhes apresenta como “certidão de óbito” (J. A. Bengel) o seu batismo.
Inicialmente, ele confere o entendimento de batismo que ele pode pressupor: Ou,
porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos
batizados na sua morte? A pergunta tem uma formulação meramente retórica.
Também na distante Roma, onde ele próprio não havia atuado, isso era parte
integrante do saber básico cristão. Todavia, é possível que o saber escape da
consideração, a ponto de não significar mais nada para nós. Então será matéria
morta que precisa ser novamente interiorizada.
Analisemos um a um os elementos do v. 3. Todos “fomos
batizados”, não se batizaram a si próprios. Essa forma passiva não era uma
evolução natural para um movimento que surgiu do judaísmo. Um judeu fiel à lei
era obrigado a tomar banhos de imersão em numerosas ocasiões, nos quais ele
próprio mergulhava o corpo todo na água. Essa “lavagem” ritual restabelecia sua
capacidade de prestar culto a Deus, p. ex., após contaminação com lepra, fluxos
genitais, contato com cadáveres ou túmulos. O primeiro dessas longas séries de
“batismos” em sua vida adquiriu naturalmente uma solenidade especial. P. ex.,
para gentios dispostos a passar para o judaísmo, desenvolveu-se mais tarde o
chamado “batismo de prosélitos” (realizada no homem após sua circuncisão). Como
se tratava simbolicamente de lavagem, resultavam três características para sua
realização:
• Ao lavar-se a si própria, a pessoa batizava-se a si mesma.
• Por isso, a pessoa também o fazia despida, e
• Realizava-o não em reunião pública, mas diante de duas ou
três testemunhas.
O batismo cristão se diferenciava desse rito tanto no
sentido quanto na forma de execução. Ela se derivava do batismo de João. Lá
vigoravam outras circunstâncias:
• Todas as pessoas dispostas a arrepender-se, também judeus,
apesar de seus ritos de lavagens, submetiam-se a esse batismo.
• Permitiam que João o realizasse neles. Esse aspecto
destacava-se de forma tão marcante que João entrou na história com o cognome
“Batista”.
• Como se deixou para trás a figura da lavagem, ficou
eliminada também qualquer repetição.
• Da mesma forma caiu por terra a característica de uma ação
em recinto restrito. João batizava publicamente no rio Jordão.
Era com essas
coordenadas que também os primeiros cristãos executavam a cerimônia. A forma
passiva “ser batizado”, que é mantida consistentemente pelo NT, explica-se,
portanto, a partir do contraste com os ritos de lavagem judaicos. Nessa forma
verbal de modo algum reside uma indicação velada para o agir salutar de Deus no
batism. João já tinha rejeitado com veemência a expectativa
de que Deus ou Cristo fosse o verdadeiro sujeito do batismo na água, e o NT
transmitiu essa frase com cuidado. Além disso, as pessoas batizadas eram
extremamente ativas de outra maneira: Elas “vinham” ao batismo,
“arrependiam-se”, “davam razão a Deus”, “confessavam seus pecados”, não
“desprezavam” a deliberação salvadora de Deus, mas passavam a andar espontaneamente
no caminho dele.
Apesar de toda plasticidade, o batismo, como qualquer ato, é
mudo e, por isso, também sujeito a equívocos. À semelhança da Santa Ceia, ele
carece da palavra de interpretação. Para o batismo surge, nesse sentido, aqui e
em quase todo o NT, a preposição “em direção de…” (no grego eis). Portanto, faz
parte de cada batismo uma referência sobre a finalidade com que acontece. “Em
direção do que (eis ti), pois, fostes batizados?” De João, de Jesus, de Moisés
ou de Paulo?
A referência de um batismo cristão é, com algumas variações,
com toda a clareza: em relação a Cristo Jesus. Imediatamente, Paulo aguça a
afirmação em vista do que é decisivo: fomos batizados sobre (eis) sua morte na
cruz. O auge de sua vida estava, segundo a vontade de Deus, no seu morrer pelos
pecados do mundo. Todos os quatro evangelhos culminam na história da Paixão.
Sem essa morte expiatória ele sequer seria o Cristo, de modo que ele era
proclamado essencialmente como o Crucificado (1Co 2.2).
Ouvintes que aceitavam essa palavra do juízo e da graça
clamavam ao Senhor na fé e deixavam-se batizar sobre ele, sobre a sua morte.
Por meio desse ato tornavam pública sua relação com o
Senhor. Ela, no entanto, sempre também será uma relação com a igreja dele. Não
é insignificante que o batismo era realizado por um representante da
comunidade. Assim, tudo está integrado nessa questão: um só Senhor, uma só fé,
um só batismo, um só corpo e um só Espírito (Ef 4.4,5). A partir de agora, está
descartada a devoção particular descompromissada.
Paulo passa a tirar proveito, para o seu raciocínio, desse
consenso da igreja primitiva sobre o batismo. Ele conclui: Fomos, pois,
sepultados com ele na morte pelo batismo. A formulação “na morte” significa
naturalmente, como no versículo anterior “sobre a morte de Cristo‖. No batismo,
afinal, não fomos nós próprios mortos ou afogados. Expressamente consta: Fomos
“sepultados junto com ele”. O “sepultados junto com” liga-se diretamente à
última palavra do v. 3. Os dois termos aparecem, dessa forma, como que
encaixados um no outro: “batizados–sepultados com”. Ser batizado é idêntico ao
ser sepultado junto com. Batismo é sepultamento. Diante do morrer, o
sepultamento tem um sentido diferente que pode muito bem ser discernido. O ato
não muda mais nada no estado do falecido.
Não acrescenta nada à sua condição de morto, não a
intensifica. O falecido não se torna mais morto ainda. O sepultamento
encontra-se num nível diferente. Ele atinge a influência do falecido. Torna
incontestável a realidade de sua morte. Uma cerimônia fúnebre tem função
demonstrativa perante o mundo envolvente. Transforma o falecimento num fato
público impossível de ignorar, constituindo assim um processo legal. É o que
ocorre aqui: o batismo atesta “oficialmente” o fato de termos morrido com
Cristo. Em decorrência, essa consideração marginal do batismo carregou, com a
clareza desejável, um apoio ao objetivo de Paulo expresso no v. 2.
Quanto ao estar sepultado com: na Antigüidade, eram bem
conhecidas sepulturas duplas. Cônjuges, mas também pai e filho, mãe e filha ou
também irmãos eram depositados numa sepultura conjunta – expressão de uma
solidariedade válida ainda para além da morte. Para o que se segue, essa
circunstância exerce um papel importante.
O v. 4b traz uma frase com um “para que”. Ela aponta para a
condução da vida depois do batismo. Sobre a condição de “estar sepultado com”
paira uma intenção divina: para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os
mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Nessa
sepultura para dois governa, do mesmo modo como na sepultura de Jesus diante de
Jerusalém, não a decomposição, mas sim a promessa. À comunhão na morte e na
sepultura segue-se também uma correlação na ressurreição. É verdade que Paulo
encerra de forma inesperada a frase de correlação, sim, ele a dobra. Nós
esperaríamos: como Cristo foi erguido da sepultura para a glória do Pai, do
mesmo modo nós também seremos glorificados após o batismo. Contudo, para nós o
caminho depois do batismo não é diretamente para a perfeição e verticalmente
para o céu, onde está entronizado Cristo, mas nosso caminho segue para dentro
do serviço nesse mundo, que ainda está marcado pela decomposição, humildade e
precariedade (1Co 15.42,43).
Porém, guardada esta restrição, está valendo essa equação
incrível: como Cristo, nós agora podemos levar uma vida na novidade! De acordo
com a singela afirmação do versículo, participa-se da experiência de forças da
sua ressurreição, da Páscoa que transborda incessantemente, de ser
diuturnamente renovado, para tornar a ser capaz de corresponder a Deus, de
viver, de servir e de sofrer.
Nos v. 2-4 foi dito o elementar sobre a alegação do v. 1.
Para consolidá-lo, Paulo passa a repeti-lo com uma amplitude marcante. Em duas
retomadas, nos v. 5-7 e 8-10, ele martela incansavelmente com a lógica da fé:
Se – então! Nossa exegese abordará de agora em diante tão somente detalhes que
são adicionados nos versículos seguintes.
No v. 5, Paulo formula nossa comunhão com o Cristo morto
numa nova figura, retirada do âmbito dos organismos. Porque, se fomos unidos
com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança
da sua ressurreição. O “certamente” indica no que Paulo está pensando mais
intensamente agora, em comparação com os v. 2-4. Ali seu interesse era o efeito
da separação (“já morremos para o pecado” [BLH], v. 2), de agora em diante será
cada vez mais o efeito positivo, culminando em “viver para Deus” (v. 10,11).
Continuamente Paulo
apela para o “saber, crer, conhecer” dos cristãos em Roma, como já no v. 3,
agora no v. 6, e depois novamente nos v. 8,9. Assim, ele pleiteia pela
confiança deles, visando não por último o seu projeto de engajá-los em sua
missão à Espanha (cf qi 4). Não quer que se sintam como que pressionados a
aceitar algo estranho.
Afinal, ele “traz à memória” nada mais que assuntos
conhecidos (Rm 15.15). Porém, é impressionante o que ele lhes atribui que
saibam realmente! Que apreendam as conseqüências legais da morte de seu Senhor
para todos os que crêem, na sua extensão, amplitude e profundidade. Sabendo
isto: que foi crucificado com ele (Cristo) o nosso velho homem, para que o
corpo do pecado seja (legalmente) destruído, e não sirvamos o pecado como
escravos; porquanto quem morreu está (na forma da lei) justificado (livre) do
pecado.
No lugar da expressão “nosso velho homem” entra a fala do
corpo do pecado. Nessa locução, corpo não designa especificamente o corpo
humano, que como tal não está “destruído”, mas, segundo a compreensão bíblica,
refere-se ao homem todo, assim como vive e convive, com tudo o que entrementes
causou e alcançou, ao que também não pode esquivar-se mais.
Uma nova repetição consolida os objetivos fundamentais da
unidade. É a última linha que mostrará o ponto em que Paulo finalmente pretende
chegar, a nova qualidade de vida que Cristo trouxe à luz.
Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos,
sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a
morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para
sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. O marcante
“morreu para o pecado de uma vez para sempre” tinha uma razão de ser.
Naquele tempo
fortaleciam-se tendências religiosas que propagavam experiências de redenção
com vocábulos em grande parte semelhantes aos usados aqui, mas que tinham um
sentido muito diferente. Elas partiam de impressionantes experiências na
natureza, p. ex., o maravilhoso retorno da vida na primavera. O reiterado
morrer e reviver da natureza foi potencializado, formando um mito de morte e
ressurreição, e reproduzido como experiência mediante um rico ritual.
Muitas pessoas em busca de apoio descobriam-se assim como
sendo compreendidas nos altos e baixos de sua existência. Contudo, Paulo não
queria de maneira alguma ser enquadrado nesses grupos, quando falava como eles,
segundo o presente trecho, de “morrer” e “ressurgir”. Sua mensagem constituía,
em concordância com toda a primeira cristandade, notícia de um acontecimento
axial como nunca houve antes e jamais haveria depois. Essa notícia fala do
auto-sacrifício de Deus em seu Filho Jesus Cristo.
Esse “de uma vez para sempre”, portanto, era diametralmente
oposto ao pensamento cíclico das referidas religiões e demandava ser sempre de
novo enfatizado. Com a mesma vigilância nós temos de cuidar hoje da penetração
de sabedorias da religiosidade natural. Podem até ser convincentes, mas não
conduzem para fora do círculo vicioso de esperanças continuamente despertadas e
constantemente frustradas.
À anulação, por um ato único, do poder do pecado pelo morrer
de Jesus contrapõe-se agora a situação radicalmente nova de seu viver como
Ressuscitado. É vida não turbada, plena de luz, transbordante, singularmente
determinada pelo I Mandamento e pelas primeiras preces do Pai-Nosso: vida para
Deus. Está em vigor enquanto realidade plenamente saturada. Constitui a real
garantia da existência cristã nesse mundo, resistente contra tudo que se lhe
opõe e que possa ser alegado: Cristo não morre mais!
Por mais coisas que
ainda possam faltar à comunidade – e lhe faltam muitas coisas – e por mais
longe que ela possa ser levada ao retrocesso, uma verdade permanece: Cristo
vive, e “seremos salvos pela sua vida” (Rm 5.10).
Depois de dez versículos com definições de posição ressoa
pela primeira vez um imperativo de exortação. Assim também vós considerai-vos
(compreendei-vos) (num julgamento de fé) mortos para o pecado, mas vivos para
Deus, em Cristo Jesus.
A conhecida tradução “considerai-vos” poderia lembrar aos
leitores de hoje o treinamento auto-sugestivo: convencer-se concentradamente de
ser algo que não é, até que seja. Em outras palavras: tirar proveito do poder
de pensamentos positivos. O termo que aqui vertemos para “compreender”, no
entanto, refere-se menos a um raciocínio criativo e muito mais ao pensamento
obediente.
Paulo espera que sua “aula de direito” tenha sido ouvida e
refletida conjuntamente, que os leitores se deixaram convencer por essa lógica
em todas as suas correlações e agora a deixem vigorar, com toda a tranqüilidade
e dimensão. Nosso título tenta resumi-la assim: “Expatriados do reino do pecado
– viver com Cristo para Deus”. Porque com Cristo, por isso também para Deus (cf
v. 10b). É a essa concepção de vida que Paulo retornará em Rm 12.1,2, passando
a desdobrá-la ali paradigmaticamente em suas ramificações.
b. Instrução fundamental na condição e responsabilidade do
cristão, 6.12-14
"Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira
que obedeçais".
Após dez versículos no estilo de “nós”, Paulo havia iniciado
em Rm 6.11 com o “vós” exortativo. Esse tom é continuado agora enfaticamente.
Cabe contrapor-se a falsas conclusões: cristãos por certo “morreram para o
pecado”, “cresceram em comunhão com Cristo”, a fim de “viver para Deus”,
contudo essa verdade não transforma sua existência terrena num leito celestial,
mas antes num campo de luta.
Primeiramente cumpre dominar a mudança nas condições legais
e de poder. Não reine, portanto, o pecado. “Não seja” possui aqui o significado
de: não pode mais. Onde Cristo é Senhor, o poder do pecado tornou-se ilegal (Rm
6.7). Deus lhe deu o “cartão vermelho”. O pecado, porém, retorna
sorrateiramente ao “campo”.
Em 7.8-11, Paulo descreverá a sua insídia. É em vosso corpo
mortal que ele quer se exercitar. O conceito “corpo” será abordado
exaustivamente no texto sobre Rm 12.1b. Sem dúvida fazem parte dele nossas
necessidades físicas como comer e beber, impulso sexual, proteção diante de
frio ou calor, exigência de descanso ou movimentação etc. Tudo isso, porém, não
pode ser dissociado de nossa atividade espiritual, intelectual, familiar,
social, cultural e política.
É esse corpo que
Paulo caracteriza como mortal. Como todas as coisas criadas, ele é transitório,
o que no entanto não o declara de antemão como pecaminoso. Ef 5.29 pressupõe
que cristãos “alimentam e cuidam” de seu corpo, i. é, respeitam suas
necessidades, não desejam que se afastem como algo maligno (“odiar”). O pecado
se opõe ao corpo como algo visivelmente diferente dele. Mas ele visa
apoderar-se do corpo, tentar intensificar seu impulso natural de vida,
concedido por Deus, para torná-lo uma obsessão e algo independente. O pecado
visa posicionar as carências que em si são normais e necessárias numa ordem
diferente, de maneira que sua realização não sirva mais ao ser humano, mas o
domine como senhor e o escravize: de maneira que obedeçais às suas paixões.
O termo “obedecer” deriva-se no grego [como no alemão e nas
línguas latinas] de “ouvir”. Disso pode formar-se a idéia de ouvir atentamente:
Ou seja, obedecer é não subtrair-se ao que se ouviu, mas permanecer debaixo de
seu som, enfim, confiando e seguindo a palavra. Na verdade o uso que fazemos da
palavra também pode ser inexpressivo: um equipamento “obedece” ao toque de uma
tecla, um animal “obedece” a seu instinto. Nesses casos, aquele que “obedece”,
porém, não tem nada a ouvir, a acreditar e a querer, mas reage só a impulsos.
Entretanto, o que no aparelho e no animal fica desligado, no
cristão está ligado. Cristãos, p. ex., não fazem o que é correto por orientação
do instinto. Não é verdade que eles não são capazes de pensar e fazer nada além
do bem. São capazes de agir de maneira diferente, sim. De fato, cabe-lhes,
precisamente a eles, que tenham um propósito. É justamente para cristãos que
entra em campo a responsabilidade humana.
A ideia da responsabilidade ressalta com maior intensidade
quando Paulo agora substitui a figura do serviço de escravo pela do serviço
militar. Ao mesmo tempo ele não fala do corpo, e sim dos membros, ou seja, das
diversas concretizações da vida.
A Bíblia menciona
nossos membros sempre quando se trata de designar o ser humano ativo, e por
isso também o ser humano concreto. Por meio da mão, do pé e do olho nós nos
realizamos e mostramos quem somos na realidade e o que vai dentro do nosso
coração (Mc 9.43-47).
Para que o senhorio do pecado não retorne pela porta
vulnerável do “corpo” e com ajuda de nossas ações, há uma dupla exigência, uma
negativa e outra afirmativa. Primeiro a negativa: nem ofereçais (“colocar à
disposição como armas”) cada um os membros do seu corpo ao pecado, como
instrumentos de iniqüidade. Não levem suas “armas” ao campo do inimigo!
Continuando a ilustração: o inimigo convidou para desertarmos para o lado dele.
Em todo caso, Paulo pressupõe uma situação de decisão.
Se esse convite não for respondido com um não inequívoco,
não haverá sucesso no sim para Deus, mas só um nefasto “sim-não”. É disso que
Paulo tenta prevenir seus leitores. Depois desse negar-se segue em segundo
lugar (v. 13b) o igualmente concreto colocar-se à disposição de Deus. Portanto,
não basta ficar à espreita para ver o que acontece por si só! Quem crê,
coloca-se à disposição para a luta, pois ações representam armas.
A luta é em prol da incumbência de, a partir do recebimento
da justiça por fé, lutar também pela justiça da vida no cotidiano. O que Paulo
tem em mente é mostrado, p. ex., pela série de “instruções de execução” em Rm
12.9-21, que Paulo resume conclusivamente assim: “Não te deixes vencer do mal, mas vençe o mal com o bem”. Por nosso intermédio, algo do mundo
obediente a Deus e justo deve tornar-se visível. A formulação “como ressurretos
dentre os mortos” confere à afirmação uma característica de pendência. Existe
uma diferença entre a vida de ressuscitado do próprio Senhor e a vida dos seus.
“Seremos semelhantes a ele”, mas ainda não o somos (1Jo 3.2). Ainda precisamos
esperar, gemendo pela redenção do nosso corpo (Rm 8.11,22,23). Esse “ainda não”
é admitido de forma sóbria e honesta.
Os cristãos, tão rigorosamente chamados à obediência, estão
preservados na supremacia da graça (Rm 5.20). À semelhança de Gl 5.16, segue-se
uma promessa sem restrições: Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois
não estais debaixo da lei, e sim da graça. Ordens à revelia dessa graça, i. é,
ordens sem misericórdia, seriam absurdas. Por mais severas que viessem a ser
essas ordens, tanto mais sagaz e conseqüentemente mais poderoso se revelaria o
pecado. É somente sob a ordem da graça que a vida obtém êxito. É somente entre
pessoas livres que o imperativo tem sentido.
c. Vida sob o senhorio de Jesus Cristo como presente de
liberdade, 6.15-23
A partir do v. 15, Paulo admite pela segunda vez uma objeção
contra sua doutrina da graça. Como já fez no v. 1, ele não responde a esmo,
genericamente, mas fala com insistência para dentro do âmbito cristão (cf o
comentário sobre aquele versículo). Enquanto no primeiro caso Paulo aduziu na
argumentação a realidade da comunhão com Cristo, agora ele torna frutífero para
o debate o que o senhorio do Cristo significa para nós.
E daí? Há pouco ouviu-se novamente o louvor da graça (v.
14). Que significa isso para nosso agir prático? Havemos de pecar porque não
estamos debaixo da lei, e sim da graça? O pressuposto dessa pergunta talvez
seja também uma preocupação sincera: Afinal, é viável isso, viver unicamente
com a graça?
Há um anseio pela lei devido ao medo diante da possibilidade
de pecar. Contudo, para Paulo, é inconcebível qualquer retorno debaixo da lei
(Gl 5.3,4). De modo nenhum! Ele passa a dar uma lição sobre o poder da graça.
Não sabeis. Os leitores conhecem o antigo sistema do
escravismo. Que "daquele a quem (cada vez) vos ofereceis como servos (escravos)
para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos (escravos)".
O adendo “a quem obedeceis” confirma mais uma vez o que
naquele tempo estava claro para todos: submissão faz parte da estrutura da
instituição da escravidão. Todo o resto é teoria. Um escravo, sonhando
acordado, podia esquecer por um momento esse elemento de sua constituição
existencial, porém logo que abrisse os olhos, a realidade se impunha
pesadamente. Também uma troca de proprietário, da qual o escravo talvez tenha
esperado uma melhora de suas condições, jamais acabava com a sujeição de
escravo.
Paulo passa da metáfora para o concreto. Pensa no ato de
tornar-se cristão. Nele também acontece uma troca de senhores, mas também nesse
caso persiste um “serviço de escravo”, seja do pecado para a morte ou da
obediência para a justiça. A alternativa, portanto, não é: servir ou não servir
ao pecado, mas tão somente servir ao pecado ou servir ao novo Senhor. Não
existe uma terceira opção, a saber: não pecar e tampouco servir a Cristo. Sem
ingressar na constituição existencial da justiça, erigida por Cristo, e se
colocar à disposição dela, pecar seria uma atividade contínua, por maior que
fosse o volume de leis. Porém, quando uma pessoa pertence à justiça, a justiça
também possui um poder compromissivo. “Fui conquistado por Cristo Jesus” (Fp
3.12).
Para os leitores essa mudança tinha se realizado. Mas graças
(sejam dadas) a Deus porque, outrora, escravos do pecado. Na Europa [e no
Brasil] de hoje, para muitas pessoas ser cristão não é mais um presente que
experimentaram (“graças a Deus!”), mas sim uma espécie de fato óbvio. Entre os
romanos, porém, Paulo pode constatar recordações vivas do começo de sua vida
cristã. Viestes a obedecer de coração à forma (configuradora) de doutrina a que
fostes entregues. Nessa declaração confluem dois elementos.
De um lado, eles
próprios participaram com o coração (cf Rm 10.9,10), sem serem forçados, de
livre vontade, e de outro, eles eram receptores de um acontecimento. Como
pessoas a serem instruídas num ofício, os romanos foram entregues aos cuidados
da doutrina. Enquanto em Rm 16.17 Paulo fala da “doutrina que aprendestes
(ativamente!)”, aqui ele ressalta o que aconteceu com eles naquela mudança, que
se deu no contexto do novo poder compromissivo e formativo da nova filiação.
Daí também a expressão: forma (configuradora) da doutrina.
O termo grego typos é oriundo de typto, “bater”: numa pedra,
num metal ou em outro material são martelados ou talhados sinais. O resultado
constitui um 'typos', algo gravado, que por sua vez pode ser utilizado como um
carimbo, como, p. ex., uma forma configurada para cunhar moedas. É esse o
motivo de traduzirmos “forma configuradora da doutrina”.
Ao que parece, Paulo imagina esse ser cunhado pela doutrina
como um processo extenso. Em decorrência, não é satisfatória a explicação de
que se deva pensar, aqui, num ato ritual de um culto determinado, p. ex., no
compromisso com um texto confessional. Dificilmente “doutrina” (didaché) seria
um breve texto de confissão. Recitar um texto tampouco preenche o significado
do verbo configurar.
Antes caberia recordar Mt 28.19,20: “Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”.
Jesus legou aos discípulos uma concepção integral para a vida, uma orientação
determinante para uma vida alternativa. É ela, acima de tudo, que constitui a
matéria de ensino, combinada com fundamentações da Escritura (AT).
Gravemos, pois: vir a crer não é apenas um ato de
entusiasmo, não se esgota na condição interior. Pelo contrário, ao pregador é
dirigida a pergunta: Que devemos fazer? Até agora nosso agir foi nefastamente errado, dá-nos orientação
prática a partir Cristo! Ao crer, dispomo-nos a um processo de aprendizagem.
Paulo era capaz de escrever aos efésios: “aprendestes a Cristo” (Ef 4.20). Ele
tinha vontade de repetir o ensino mais uma vez com os gálatas, “até ser Cristo
(novamente) formado em vós” (Gl 4.19).
Continuando numa linguagem fortemente metafórica, Paulo fala
da troca do “escravocrata”: uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos
(“feitos escravos”) da justiça. Na verdade, é insuportável falar de uma
“escravização” pela justiça. Esse uso impróprio de alguns termos nos versículos
subseqüentes foi identificado na nossa tradução por meio de aspas.
Paulo pede escusas por essa forma de falar, mas também
justifica seu procedimento, no v. 19a: Falo como homem, por causa da fraqueza
da vossa carne, i. é, por causa da fraqueza humana, que com demasiada
facilidade entende as coisas equivocadamente. Em última análise, o que está em
jogo é: quem confessou com todas as letras que Jesus se tornou seu Senhor,
agora queira também portar-se de acordo com essa realidade, não a reprimindo
posteriormente, a fim de esquivar-se.
A comparação deve ser traçada com toda a nitidez e rigor:
Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da
maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem
(“como escravos”) à justiça para a santificação. A conversão dos romanos criou
para eles um novo “agora” (cf também os v. 21,22). “Agora” é condizente com o
tempo que estejam exclusivamente a serviço de Cristo.
Em Rm 14.1-9, Paulo
investiga uma existência destas em todas as suas ramificações. Oito exemplos
demonstram a envergadura de uma vida para Cristo: “comer, beber, ser fraco, ser
forte, estar de pé, cair, viver e morrer para o Senhor”. Tudo isso Paulo resume
aqui e no v. 22 no conceito da santificação.
Até aqui Paulo argumentou com a “igualdade” entre serviço ao
pecado e serviço à justiça. Nos versículos restantes, ele dirige a atenção para
a diferença incomum entre as duas relações de serviço. Para isso, ele indaga
sobre o fruto do tempo antes de os romanos serem cristãos. Porque, quando éreis
escravos do pecado, estáveis isentos (“livres”) em relação à justiça. Naquele
tempo, que resultados colhestes? Fora da justiça só se pode falar ironicamente
de “livres”. Nessa condição, também o “resultado” torna-se um contra-senso.
Amargamente envergonhados, contemplam, do “agora”, o
“naquele tempo”: Apesar de toda a empáfia de liberdade (Rm 1.30: “soberbos,
presunçosos”), não deixava de ser uma liberdade aterradora que produzia frutos
podres. Somente as coisas – que enchem catálogos de vícios como em Rm 1.29-32;
3.10-17 ou 13.13 – de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas (dessas
coisas) é morte. Jaziam diante deles como um campo de ossadas os anos que,
naquele tempo, eventualmente até tinham lhes trazido alegria (Rm 1.32). Agora,
porém, libertados do pecado, transformados em servos (“escravos”) de Deus,
tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna.
No resumo didático, Paulo abandona a metáfora do escravo e
volta a aludir ao sistema militar, como já fizera no v. 13. O pecado aparece
agora como um líder de mercenários, que paga o soldo a seus homens após a
expedição. Porque o salário (soldo) do pecado é a morte. A Bíblia também
conhece o morrer como condição natural de sermos humanos.
Aqui, no entanto,
fala-se, como em Rm 1.32; 5.12, da morte por força de julgamento. Não somente
havemos de morrer, nós merecemos morrer. Porque o pecado destrói o
relacionamento com o Deus da vida, a linha de produção dele precisa ser
diretamente a morte. A morte sempre já está incluída em toda a avidez pela vida
(1Co 15.32b). O pecado está grávido da morte (Tg 4.15). Contrastando com essa
perspectiva sombria, o final agora é dado por uma frase plena de luz: mas o dom
gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
SUBSÍDIO PARA O PROFESSOR
Dentre milhares de segmentos religiosos existentes no
mundo, facilmente encontramos palavras (inseridas em atitudes ou convicções)
relacionadas com o evangelho. Por exemplo, comumente encontramos em várias
delas as palavras amor, caridade, misericórdia, boas obras... Porém, o
cristianismo tem uma particularidade que o distingue das demais religiões,
somente nele ouvimos a palavra GRAÇA.
A definição de graça mais conhecida é “Favor
Imerecido”. Embora tal definição seja verdadeira, é incompleta. Graça é um
atributo de Deus, um componente do caráter divino, demonstrada por Ele através
da bondade para com o ser humano pecador que não merece o Seu favor.
No texto bíblico observamos duas lições sobre a graça
de Deus: a primeira é que a graça de Deus nos coloca no mesmo nível. Essa
mulher chegou aos pés de Jesus, trazida por homens que estavam prontos para
apedrejá-la, estes concordavam que ela merecia tal castigo, e pela lei isso era
fato. Eles se acharam dignos de fazerem tal ato até Jesus dizer: “ Quem não tem
pecado, atire a primeira pedra”. Esta pequena frase foi como uma espada que
corta profundamente, fazendo com que todos começassem a perceber que aquela
mulher não era a única pecadora ali presente, e logo após isso, cada um vendo o
que sua consciência acusava, deixaram as pedras e foram embora.
Diante de Deus, somos todos
pecadores, dependentes da sua graça!
A segunda lição é que a graça transforma a nossa vida.
O único que poderia apedrejar aquela mulher não fez isto, pelo contrário, deu a
ela o perdão. Após esse encontro com Jesus, não encontramos relatos nos
evangelhos, de que essa mulher tenha voltado a cometer adultério.
A graça transformou a vida
desta mulher!
A graça de Deus não deve ser usada como pretexto para
viver uma vida irresponsável e pecaminosa. Pelo contrário, a graça deve levar
aquele que foi salvo, mesmo com o pecado que constantemente assedia, a buscar
uma vida de santidade ao Senhor, ser gracioso para com o próximo, considerando
suas limitações e fraquezas. Lembremo-nos que graça e lei, não são opostas,
elas se complementam, ao pecarmos estamos sob o peso da lei, e aí contamos com
a graça que nos perdoa, e nos coloca de pé novamente.
Aproveite o domingo, orando, visitando irmãos e pessoas necessitadas. Faça evangelismo pessoal, visite um hospital. Faça alguma coisa, em nome de Jesus.
Abraços.
Viva vencendo!!!
Seu irmão menor.
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