
Certamente, os pastores deveriam saber melhor. Contudo,
em muitos casos em que o consumismo tem infectado as suas igrejas, eles têm
agido no sentido de implementá-lo. Os pastores a quem me refiro aqui, e estou
bem a par deste assunto, são os que se consideram bíblicos e desejam
sinceramente ver almas sendo salvas, desejando também cumprir a sua vocação ao
ministério, de modo a agradar a Deus. Como poderia tal pastor de ovelhas se
engajar no cristianismo consumista?
O processo se desenvolve sempre de maneira sutil.
Digamos que um pastor ame os membros de sua igreja e deseje vê-los felizes. Ele
também deseja que eles cresçam espiritualmente e está buscando maneiras de
acrescentar novas ovelhas ao seu rebanho. Quando surgem conflitos e as
esperanças de crescimento não são atingidas, sempre são buscadas soluções para
o problema em outras igrejas que, aparentemente, tenham tido sucesso em tais
assuntos. Os remédios recomendados quase
sempre envolvem alguma forma de acomodação.
Por exemplo, um conflito muito comum, hoje em dia,
dentro da igreja é a diferença de gostos na música, o qual geralmente é
resolvido, quando os cultos são separados – um com hinos tradicionais e outro
com cânticos contemporâneos. Como essa alteração parece satisfazer a maioria
dos membros, muitos pastores são encorajados a acrescentar mais almas à sua igreja,
combinando a atração pela música contemporânea dos buscadores sensíveis com
mensagens (apelativas, mas não ameaçadoras), as quais são apresentadas em
cultos convenientes e casuais, de sábado à noite. Programas inovadores são,
então, formulados, a fim de irem ao encontro dos desejos dos que poderiam vir a
se converter, motivando os raramente ativos na igreja, com ênfase especial
sobre atividades de entretenimento, no sentido de atrair a juventude e
conservá-la indo à igreja.
Alguns pastores têm-me dito que eles, relutantemente,
observam as idéias do mundo, a fim de competirem com o mundo e poderem alcançar
os perdidos, livrando-os do mundo. Eles estão cônscios da ironia dessa
aproximação, porém argumentam ser essa a única maneira de evitar que se preguem
para bancos vazios. A pregação, por sua vez, é sempre abreviada e suplementada
por vídeos, peças e produções musicais.
Essa é uma trilha que, aparentemente inofensiva a
princípio, no entanto conduz à estrada larga do cristianismo consumista. Embora
simpatizemos com os pastores que se sentem compelidos (alguns até coagidos pela
política da igreja) a resvalar por essa trilha bilateral, ela é pavimentada com
comprometimentos bíblicos, os quais conduzem a um mortífero final espiritual.
Esse empreendimento de crescimento da igreja não é tão
novo no cristianismo. É uma crônica de se fazerem as cosias à maneira do homem,
desprezando o modo de Deus. No século 4, o Imperador Constantino agiu de igual
modo em estratégias de sucesso no “crescimento a igreja”. Ele professou ter-se
tornado cristão e induziu metade do Império Romano a agir de igual modo. Essa
era de compromissos feitos pelo Imperador (que se autonomeou “Vigário de
Cristo” e “Bispo dos Bispos”, a fim de conseguir novos convertidos, pode ser
caracterizada por Will Durant em sua
“História do Cristianismo” (1). Outro historiador escreve: “Longe se ser uma
fonte de melhoramento (sobre a perseguição que os cristãos sofriam antes), essa
aliança [política] foi uma fonte de ‘maior perigo e tentação’ …
Indiscriminadamente incluindo as igrejas [de pagãos]… simplesmente jogou bem
longe os marcos claros e morais que separavam a ‘igreja’ do ‘mundo’” (2).
Um milênio mais tarde, Martinho “Lutero viu e sentiu
uma Roma (religiosa) absolutamente entregue ao dinheiro, à luxúria e a outros
males semelhantes” escreve Edwin Booth. “Ele ficou perplexo e incapaz de
compreender isso” (3). Mesmo assim, ele e outros [reformadores] fizeram alguma
coisa nesse sentido. A clara vocação da Reforma foi a “Solla Scriptura” e
embora “somente a Escritura” não tenha sido inteiramente seguida, a Palavra de
Deus e os seus caminhos foram restaurados como autoridade e regra de vida para
os milhões, até então enganados pela devastadora acomodação à qual se havia entregado a Igreja Católica Romana.
O cristianismo consumista jamais foi um caminho de mão
única. Ele age como um “toma-lá-dá-cá”. Tetzel, o monge dominicano do século
16, foi um mestre manipulador na venda de indulgências. Por isso, o seu
trabalho se tornou muito mais fácil ao “condescender” com as naturezas
auto-servientes dos seus clientes católicos, [pois] tanto os ricos como os
pobres se dispunham a pagar qualquer quantia, a fim de se livrarem das chamas
do inferno e do purgatório.
O protestantismo teve a sua própria cota, tanto de
artistas espirituais defraudadores como de ingênuos dispostos a serem
defraudados. Se Tetzel foi um instrumento para a construção da Catedral de São
Pedro em Roma, os evangelistas da “saúde e prosperidade” mais ainda o foram, no
século 20 (continuando a crescer muito, na atualidade), tendo ajudado na
construção da Trinity Broadcasting Network, dentro da mais ampla rede de TV
religiosa do mundo. Distorcendo e aderindo à doutrina bíblica da fé em um
poder, qualquer pessoa pode usar esses
falsos homens e mulheres para conseguir saúde e cura, os quais têm amealhado
individualmente verdadeiras fortunas às expensas dos biblicamente fracos e
iletrados, bem como daqueles “cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e
cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas”
(Filipenses 3:19).
Durante os últimos 50 anos, os mais susceptíveis aos
esquemas dos charlatães foram os cristãos professos, que tinham mais afinidade
com as experiências espirituais místicas do que com a sã doutrina. Essas
pessoas foram geralmente encontradas entre os pentecostais e os carismáticos.
Muitos cristãos inteligentes e cônscios da doutrina se mostraram imunes aos
avanços desse tipo de “fé sem efeito” pregada por Oral Roberts, ou ainda às exposições blasfemas do poder do
Espírito Santo de um Benny Hinn, dois líderes entre uma hoste de outros
promotores de “sinais e maravilhas”.
Contudo, a ambição encontrou terreno fértil – ou
melhor, um pântano mais profundo – entre os que tradicionalmente têm incrementado
o discernimento bíblico. Embora as metodologias sedutoras sejam levemente
diferentes, a base de um efetivo engodo espiritual é o mesmo: nenhum cristão,
quer seja evangélico ou outro, pode estar garantido, “porque tudo o que há no
mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da
vida, não é do Pai, mas do mundo” (1 João 2:16). Além disso, a única
salvaguarda contra esse tipo de engodo, que é a leitura e obediência à Palavra
de Deus, no poder do Espírito Santo, está sendo sistematicamente diluída na
igreja evangélica moderna.
A história da igreja tem demonstrado a necessidade do cristão se apegar à Palavra
de Deus e quando isso é seguido, logo acontecem a santificação e a
frutificação. Quando o cristianismo bíblico é adulterado (com a adição de
métodos humanos) ou abandonado de vez, logo prevalecem as distorções humanas,
conduzindo a igreja professa à anemia e à cegueira espiritual. “Há um caminho
que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte” (Provérbio
14:12). Também há uma correlação entre a profundidade da confiança de uma
igreja nas Escrituras e a sua aceitação de crenças e práticas heréticas. Quando
a igreja tem apenas um conhecimento superficial em relação ao discernimento
bíblico, a capacidade dos seus membros de discernir entre o legítimo e o falso
ensino é praticamente nula.
O efeito letal do cristianismo consumista é o modo como
ele faz a apresentação do evangelho da
salvação, que é a única esperança de reconciliação do homem com Deus. Este é sempre
um sutil apelo de venda, apresentando todas as coisas maravilhosas que Deus tem
à disposição do homem: “Ele ama a todos e quer que todos passem a eternidade
junto dEle e todos têm para Ele uma significação de valor infinito”. Isso passa
a ser o motivo do sacrifício de Cristo na cruz [em vez dos pecados do homem
corrupto]. Essa miscelânea de distorções da verdade com auto-indulgência é
seguida por uma breve “oração do pecador”, a qual é repetida pelos que se deixaram persuadir a entregar
uma tentadora oferta. Esse método tem-se tornado tão comum, que até mesmo
alguns cristãos inteligentes dificilmente reconhecem qualquer problema,
deixando de perceber quão mal orientados foram com relação ao fato de como uma
pessoa é realmente salva.
Como assim? Comecemos com alguém que é realmente salvo, e aja de modo
errado. Toda pessoa nascida de novo pelo Espírito Santo possui um novo coração, repleto do amor
de Deus por Ele e pelo próximo, bem como pelos Seus ensinos. Ele ou ela é nova
criatura, embora ainda não perfeita nessas coisas, embora residindo em seu
coração o desejo de agradar mais a Deus do que a si mesma.
Um exemplo disso é encontrado em Lucas 7:36-50
envolvendo a mulher de reputação pecaminosa, a qual entrou em casa de Simão, o
fariseu, à qual Jesus fora convidado para a ceia. Ela lavou os pés de Jesus com
suas lágrimas e os enxugou com os seus cabelos, beijando-os repetidamente.
Jesus declarou que ela amava muito por ter sido muito perdoada.
Essas passagens ensinam como é essencial a convicção de
pecado, quando se vai a Cristo. O fariseu com justiça própria e auto-serviente
pouca ou nenhuma convicção tinha do pecado e, portanto, não recebeu perdão
(Lucas 18:9-14). Por sua vez, a mulher não pensou em si mesma, nem no desdém
com que era observada pelos convidados à ceia. Sua gratidão por Jesus querer
perdoá-la dos seus pecados compeliu-a a morrer para si mesma e viver para Ele.
Por sua vez, o evangelho, segundo o cristianismo
consumista, sempre faz um apelo ao ego, enfatizando coisas (tanto verdadeiras
como distorcidas) que vão ao encontro das necessidades sentidas pelos perdidos.
Isso fica reduzido a um simples lampejo das doutrinas bíblicas que podem
conduzir a uma convicção de pecado. Qual é o problema? Jesus veio ao mundo para
salvar os pecadores, não os consumistas!
Continuaremos amanhã...
Viva vencendo esse 'evangelho' que é uma afronta ao Verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo!!!
Abraços.
Seu irmão menor.
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