24 setembro 2015

LIÇÃO 13 - 27/09/15 - "A MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA DA SALVAÇÃO"

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Estamos disponibilizando para você que é nosso seguidor aqui no Blog, a apresentação da Revista Lição Bíblica do 4º trimestre da Escola Bíblica Dominical. Neste trimestre o livro a ser  estudado é o Livro de Gêneses, o começo de todas as coisas, o comentarista é o saudoso Claudionor Correia  de Andrade.  A revista é dividida em 13 lições que são: 

Lição 01 - Gênesis, o Livro da Criação Divina, pg 03

Lição 02 - A Criação dos Céus e da Terra, pg 11

Lição 03 - E Deus os Criou Homem e Mulher, pg 19

Lição 04 - A Queda da Raça Humana, pg 26

Lição 05 - Caim Era do Maligno, pg 33

Lição 06 - 0 Impiedoso Mundo de Lameque, pg 40

Lição 07 - A Família que Sobreviveu ao Dilúvio, pg 47

Lição 08 - 0 Início do Governo Humano, pg 55

Lição 09 - Bênção e Maldição na Família de Noé, pg 63

Lição 10 - A Origem da Diversidade Cultural da Humanidade, pg 70

Lição 11 - Melquisedeque Abençoa Abraão, pg 77

Lição 12 - saque, o Sorriso de uma Promessa, pg 83

Lição 13 - José, a Realidade de um Sonho, pg 90

Agora, vamos ao nosso último assunto desse trimestre:


Texto Áureo
 “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens.” (Tt 2.11)

  
Verdade Prática
A graça de Deus emanou do seu coração amoroso para salvar o homem perdido, por meio do sacrifícios vicário de Cristo Jesus.
  

LEITURA BÍBLICA

TITO 2: 11-14; 3:4-6

INTRODUÇÃO

Temos aqui as bases ou as considerações sobre as quais todas as orientações precedentes estão ratifica das, extraídas da natureza e do plano do evangelho e da finalidade da morte de Cristo.
  
Da natureza e plano do evangelho. Jovens e velhos, homens e mulheres, senhores e servos, o próprio Tito, todas as diferentes classes de pessoas, devem realizar seus respectivos deveres, porque esse é o alvo e a tarefa do cristianismo: instruir, ajudar e formar pessoas, sob todo tipo de distinções e relacionamentos, para uma forma e conduta corretas.
  
1. Eles são colocados sob a dispensação da graça de Deus — assim se chama o evangelho (Ef 3.2). E graça em relação ao surgimento dela — o livre favor e boa vontade de Deus, não o merecimento na criatura; é a manifestação e a declaração dessa boa vontade de maneira eminente e marcante; e como é o meio de transmitir e trabalhar a graça nos corações dos crentes. A graça compele à bondade: “Não reine o pecado, mas apresentai-vos a Deus, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Rm 6.1244). “Porque o amor de Cristo nos constrange” a não vivermos para nós mesmos, mas para Ele (2 Co 5.14,15). Sem esse efeito, a graça é recebida em vão.
   
2. Essa graça do evangelho traz salvação (revela-a e a oferece aos pecadores e a assegura aos crentes) — salvação do pecado e da ira, da morte e do inferno. Por isso ela é chamada de Palavra da vida. Ela leva à fé, e assim para a vida, a vida de santidade agora e da felicidade no futuro.
  
A lei é a ministração da morte, mas o evangelho é a ministração de vida e paz. Isso, portanto, deve ser recebido como salvação (suas regras e mandamentos obedecidos), para que se obtenha seu objetivo final, ou seja, a salvação da alma. Aqueles que negligenciam essa graça de Deus que traz salvação agora serão mais indesculpáveis, uma vez que:
  
3. “... se há manifestado”, ou brilhado mais clara e distintamente do que em qualquer outra época. A antiga dispensação era comparativamente escura e sombria. Essa é uma luz clara e brilhante; e ela é mais brilhante agora, mais dispersa e ampla. Porque:
  
4. Ela apareceu “... o todos os homens”; não somente aos judeus, da maneira que a glória de Deus aparecia no monte Sinai a esse povo exclusivo, mas invisível pára todos os outros. Mas a graça do evangelho está aberta a todos, e todos são convidados para vir e participar do benefício dela, gentios e judeus. A proclamação dela é livre e geral: Fazei discípulos de todas as nações: Pregai o evangelho a toda criatura, O muro de separação foi derribado.
  
Esse muro já não existe. “. .. a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto, mas que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé” (Rm 16.25,26). A doutrina da graça e salvação pelo evangelho é para todas as classes de pessoas (escravos e servos, bem como senhores), por essa razão todos devem empenhar-se e ser encorajados a recebê-la e crer nela, e a andar de acordo com ela, ornando-a em tudo.
  
5. A revelação desse evangelho é para ensinar, não somente por meio de informação e instrução, como um professor faz com seus alunos, mas por meio de preceito e comando, como um soberano que dá as leis aos seus subalternos. Ela orienta sobre do que se deve abster e o que seguir, o que evitar e o que fazer, O evangelho não é para mera especulação, mas para a prática e a disposição correta da vida; porque nos ensina:
  
(1) A abandonar o pecado: “.. renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas”; renegá-las e não ter nada que ver com elas, como vimos: “...vos despojeis do velho homem, que se corrompe”; isto é, todo o conjunto de pecados, aqui repartido em impiedade e concupiscências mundanas. “Abandonem a incredulidade, toda descrença, negligência ou desprezo do Ser divino, deixando de amá-lo, de temê-lo, de confiar nele, nem obedecer-lhe como deveríamos, negligenciando suas ordenanças, fazendo pouco caso da sua adoração, profanando seu nome ou seu dia.
  
Portanto, renunciem à impiedade (detestem e se desfaçam); e às concupiscências mundanas, todos os desejos e paixões corrompidos e viciosos que prevalecem em homens mundanos, as concupiscências da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, toda sensualidade e impureza, desejos e ambições cobiçosos, buscando e valorizando mais o louvor dos homens do que ode Deus. Abandonem tudo isso”.

Uma conduta sensual e terrena não se ajusta ao chamado celestial. “Os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (veja Gl 5.24). Eles o fizeram por meio de um pacto e uma promessa, e o fizeram inicial e predominantemente em ação; eles continuam o trabalho, purificando-se cada vez mais da impureza da carne e do espírito. Assim, o evangelho primeiro faz desaprender aquilo que é mal, para que se possa abandonar o pecado; e então:
  
(2) A tomar consciência daquilo que é bom: “...vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente”. A fé cristã não é formada somente de aspectos negativos. Deve-se fazer o bem e abster-se do mal; quando isso acontece, a sinceridade é provada, e o evangelho, ornado. Deveríamos viver sobriamente em relação a nós mesmos, como devido domínio dos nossos apetites e paixões, guardando os limites da moderação e temperança, evitando todo excesso desordenado.
  
Também devemos viver de maneira justa em relação a todos, tratando cada um de modo digno, não prejudicando ninguém, mas fazendo o bem aos outros, de acordo com nossa habilidade e a necessidade deles: isso faz parte da justiça e retidão, porque não nascemos somente para nós mesmos, e, portanto, não devemos viver somente para nós mesmos. “Somos membros uns dos outros” e devemos “... buscar o que é de outrem” (1 Co 10.24; 12.25). Aquilo que é público, especialmente aquilo que inclui os interesses de todos, deve ter a consideração de todos. O egoísmo é um tipo de injustiça.
  
Ele rouba dos outros a parte em nós que pertence a eles. Quão agradável então é a conduta justa e reta! Esse tipo de conduta assegura e promove todos os interesses, não somente o interesse particular, mas o interesse geral e público, e dessa forma contribui para a paz e felicidade do mundo. Portanto, vivamos de maneira justa, sóbria e pia em relação a Deus, nos deveres da sua adoração e serviço. Devemos fazer tudo pensando nele. “Quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Co 10.31).
  
Deveres pessoais e domésticos devem ser cumpridos em obediência aos seus mandamentos, com o alvo de agradar e honrar a Ele, por causa dos princípios do amor santo e do temor a Ele. Mas também há um dever expresso e direto que devemos a Deus, a saber, nossa convicção e reconhecimento do seu Ser e sua perfeição, rendendo-lhe adoração e homenagem interna e externa; amando, temendo e confiando nele; dependendo dele e devotando-nos a Ele; cumprindo todas as obrigações e ordenanças cristãs que Ele designou; orando, louvando e meditando na sua Palavra e obras. Essa é a piedade, olhar para Deus e ir ao encontro dele, de acordo com o nosso estado agora, não sem mediação, mas como Ele se manifestou por meio de Cristo. E assim que o evangelho orienta e requer. Buscar a Deus de qualquer outra maneira, a saber, por meio de santos ou anjos, é impróprio e contrário à regra e ordem do evangelho.

Toda comunicação de Deus conosco por meio do seu Filho e nossa comunicação com Ele devem ser por intermédio de Jesus. Devemos olhar para Deus, por meio de Cristo, como o objeto da nossa adoração e esperança. Assim devemos exercitar-nos na piedade. Sem essa piedade não pode haver um ornamento desse evangelho, que ensina e requer esse tipo de conduta. A conduta de acordo com o evangelho deve ser uma conduta piedosa, em que expressamos nosso amor, temor e reverência a Deus, nossa esperança e confiança nele, como está manifestado em seu Filho. “Porque a circuncisão somos nós (que temos na realidade aquilo que era representado por esse sacramento), que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Crista, e não confiamos na carne” (veja Fp 3.3).
  
Nossa obrigação pode ser reduzida a algumas poucas palavras:  renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbrio, justa e piamente”. O evangelho nos ensina não somente a crer e esperar de maneira saudável, mas também a viver de maneira saudável, de acordo com a fé e esperança neste presente século, e como expectantes de um outro mundo melhor. Existe o mundo atual e o que há de vir. O mundo presente é o tempo e o lugar da nossa provação, e o evangelho nos ensina a viver de maneira saudável aqui, não como nosso estado final, mas com um olho no futuro.
  
(3) Devemos buscar as glórias de um outro mundo, para o qual precisamos nos preparar e viver de maneira sóbria, justa e piamente: “.. aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo”. Esperança, como uma metonímia, é colocada aqui no lugar da coisa esperada, a sabei o céu e as suas bênçãos ali, chamados enfaticamente de a esperança, porque é a grande coisa que esperamos, anelamos e aguardamos; e é uma bem-aventurada esperança, porque, quando obtida, estaremos completamente felizes para sempre.
  
E o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo. Isso denota tanto o tempo do cumprimento da nossa esperança como a certeza e grandeza dela: isso será na segunda aparição de Cristo, quando Ele.. . vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos  (Lc 9.26). Sua própria glória que tinha antes da existência do mundo; e a do Pai, sendo a expressa imagem da sua pessoa, e como Deus-homem, seu Príncipe e Juiz; e a dos santos anjos, como seus ministros gloriosos.  Sua primeira vinda ocorreu em pobreza e humilhação, para satisfazer a justiça e comprar a felicidade.
  
Sua segunda vinda será em majestade, para resgatar seu povo dali. “Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação” (Hb 9.28).
  
O grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo; porque eles não são duas essências, mas somente uma, de acordo com o artigo singular: tou megakm Theou kai Soteros, e não kai tou Soteros, e assim kai é traduzido em 1 Coríntios 15.24: “quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai”, to Theo kai Patri.
  
Cristo então é o grande Deus, não figuradamente, como um magistrado (e outros) às vezes é chamado de deus, ou que aparece e age como se fosse em nome de Deus, mas própria e absolutamente “.. .0 verdadeiro Deus” (1 Jo 5.20), o “...Deus Forte” (Is 9.6), “... que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus” (Fp 2.6). Em sua segunda vinda, Ele recompensará seus servos e os trará para a glória com Ele. Observe: Existe uma esperança comum e abençoada para todos os verdadeiros cristãos no outro mundo. Se tivessem esperança em Cristo apenas neste mundo, seriam os homens mais miseráveis de todos (1 Co 15.19).
  
A palavra esperança aqui significa a coisa esperada, a saber o próprio Cristo, que é chamado de esperança nossa (1 Tm 1.1), e bem-aventurança nele e através dele, e riquezas da glória (Ef 1.18), apropriadamente chamada aqui de a bem-aventurada esperança. O intento do evangelho é encorajar todos a uma vida boa por meio dessa bem-aventurada esperança. “Cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1.13).

  
Em relação ao mesmo propósito lemos aqui: “... renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbrio, justa e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança”; não como mercenários, mas como cristãos obedientes e gratos. “Que pessoas vos convém ser em santo trato e piedade, aguardando e apressando-vos para a vinda do Dia de Deus?” (2 Pe 3.11,12).
  
Aguardando e apressando-se, isto é, esperando e diligentemente preparando-se para ela. No aparecimento da glória de Cristo será obtida a bem-aventurada esperança. “A felicidade deles será a seguinte: “. ..para que estejam com ele, para que vejam a sua glória” (Jo 17.24).
  
A glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo irromperá então como o sol. Ainda que no exercício do seu poder judiciário, Ele aparecerá como o Filho do Homem e será poderosamente declarado ser o Filho de Deus. A divindade, que estava em grande parte velada na terra, brilhará então como o sol em sua força. Assim, a obra e o desígnio do evangelho são elevar o coração para essa segunda aparição de Cristo. “Somos gerados de novo para uma viva esperança” (1 Pe 1.3), convertidos “. para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos céus a seu Filho” (1 Ts 1.9,10).
  
Os cristãos são marcados por isso, aguardando a vinda do seu Senhor (Lc 12.36), amando a sua vinda (2 Im 4.8). Vamos, pois, olhar para essa esperança; que os nossos lombos estejam cingidos, e as nossas lâmpadas, brilhando, aguardando a vinda do Senhor. Não sabemos o dia e hora, mas “.. .o que há de vir virá e não tardará” (Hb 10.37). 
  
O consolo dos cristãos é que o seu Salvador é o grande Deus e se manifestará em glória na sua segunda vinda. Poder e amor, majestade e misericórdia surgirão então juntos no maior brilho, para o terror e confusão dos ímpios, mas para o triunfo eterno e o regozijo dos piedosos. Se Ele não fosse o grande Deus e ao mesmo tempo uma criatura humana, Ele não poderia ser o Salvador deles, nem sua esperança. Essas são as considerações sobre as quais se devem guardar essas orientações e as devidas obrigações da natureza e desígnio do evangelho. E, com isso, está conectado mais um fundamento, a saber:
  
A finalidade da morte de Cristo: “...o qual se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (v. 14). A finalidade da morte de Cristo e o escopo da sua doutrina eram levar-nos à santidade e à felicidade.
  
1. O comprador da salvação — Jesus Cristo, o grande Deus e nosso Senhor (“Salvador”, versão RA), que não salva simplesmente como Deus, muito menos somente como homem; mas como Deus-homem, duas naturezas em uma pessoa: homem, para que possa obedecer, sofrer e morrer, pelo homem, estando apto a lidar com ele e por ele; e Deus, para que possa sustentar a humanidade e dar valor e eficácia às suas tarefas, e ter a devida atenção com os direitos e honra da divindade, bem como o bem da sua criatura, e realizar a posterior para a glória da anterior.
  
2. O preço da nossa redenção: Ele se deu a si mesmo. O Pai deu seu Filho, mas Ele também se deu a si mesmo; e, na liberdade e voluntariedade, bem como na grandeza da oferta, estão a aceitabilidade e o mérito dela. “Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou” (Jo 10.17,18). “Por eles me santifico a mim mesmo (veja Jo 17.19), ou separo e dedico a mim mesmo para essa obra, para ser sacerdote e um sacrifício a Deus pelos pecados do homem”.
  
A natureza humana foi a oferta, e a natureza divina, o altar santificando o dom e o ato completo da pessoa. “Ele se deu a si mesmo em preço de redenção por todos” (1 Tm 2.6). “Na consumação dos séculos, uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo”. Ele foi o sacerdote e o sacrificio. Fomos resgatados não com prata e ouro, “...mas como precioso sangue de Cristo” (1 Pe 1.18,19), chamado de o sangue de Deus (At 20.28), isto é, daquele que é Deus.

3. As pessoas beneficiadas: “...por nós”, pobres e de- caídos pecadores, afastados de Deus e em rebelião contra Ele. Ele se deu a si mesmo por nós, não somente para o nosso bem, mas em nosso lugar. O Messias foi morto, não por Ele mesmo, mas por nós. “Ele padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (1 Pe 3.18). “Ele foi feito pecado por nós (uma oferta e sacrifício pelo pecado); para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5.21). Maravilhosa condescendência e graça! Ele nos “. .. amou e se entregou a si mesmo por nós” (veja Ef 5.2). O que podemos fazer se não amá-lo e nos entregarmos a Ele?
  
4. Os motivos para entregar-se a si mesmo por nós: (1)”...para nos remir de toda iniqüidade”. Isso é adequado para a primeira repreensão: renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas. Cristo deu-se a si mesmo para nos remir dessas coisas, ou seja, para aniquilá-las. Quem ama e vive em pecado está pisando no sangue remidor desprezando e rejeitando um dos maiores benefícios dele e agindo contra seu desígnio. Mas, de que maneira os sofrimentos de Cristo poderiam nos remir de toda iniqüidade? Resposta: Por meio da dignidade infinita de sua pessoa. Aquele que era Deus sofreu, mas não como Deus.
  
Os atos e propriedades de cada natureza são atribuídos à pessoa. Deus comprou sua igreja com seu próprio sangue (At 20.28). O pagamento foi feito de uma vez por todas, sem a necessidade de sofrer para sempre. Uma mera criatura não poderia fazer isso, por causa da limitação da sua natureza; mas o Deus-homem podia. O grande Deus e Salvador se entregou a si mesmo por nós: isso explica tudo. “Com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb 9.25,26; 10.14).
  
Ele não precisou oferecer-se muitas vezes, nem pôde ficar preso na morte, uma vez que passou por ela. Que final feliz para a morte de Cristo! Por meio dela, obtemos a redenção de toda iniqüidade. “. . para purificar para si um povo seu especial”. Isso reforça a segunda repreensão: para vivermos neste presente século sóbria, justa e piamente. Cristo morreu para purificar e para perdoar — para obter graça, para curar a natureza e para libertar da culpa e da condenação. Ele se entregou a si mesmo para sua igreja, para purificá-la.
  
Assim obteve para si um povo seu especial, ao purificá-lo. Dessa forma, eles são distinguidos do mundo que jaz na iniqüidade. Eles são nascidos de Deus, assimilados por Ele, carregam a sua imagem, são santos como é santo o seu Pai celestial. Observe: A redenção do pecado e a santificação da natureza andam juntas, e ambas formam um povo especial de Deus: libertação do pecado e da condenação, libertação do poder das concupiscências e a purificação da alma pelo Espírito. Eles são “... a geração eleita, o sacerdócio rea4 a nação santa”, e assim, seu povo especial.  “... zeloso de boas obras”.

Esse povo especial, sendo purificado pela graça, precisa ser visto fazendo o bem e zelando por isso. Observe: O evangelho não é uma doutrina de licenciosidade, mas de santidade e vida saudável. Somos remidos da nossa conduta vã, para servir a Deus “... em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa rida” (veja Lc 1.75). Vamos então nos esforçar para fazer boas obras e ser zelosos nelas. Precisamos cal- dar para que esse zelo seja guiado pelo conhecimento, estimulado pelo amor, conduzido para a glória de Deus, e esteja sempre ocupado em fazer alguma coisa boa; e assim sermos dirigidos do motivo para as obrigações, a partir do propósito da morte de Cristo.
  
AS BOAS OBRAS E O TRATO COMOS HEREGES
  
Em 3.8-11 vem mais uma exortação do pastor experiente ao pastor jovem. A palavra de Paulo é uma “palavra fiel”  (esta expressão designa uma verdade solene) e Tito deve proclamá-la com  firmeza, para que os crentes se apliquem às boas obras (v. 8). Este é o versículo chave da epístola. O povo de Deus deve mostrar que é povo de Deus pela sua conduta. Jesus disse que “pelos seus frutos os conhecereis”, e não “pelo seu louvor os conhecereis”.

A ênfase do Novo Testamento é no caráter que devemos ter. Hoje se enfatiza muito o louvor, a atividade, as reuniões, e nem sempre o caráter cristão, marca distintiva da conversão e o melhor testemunho que podemos dar, como vemos nas palavras de Jesus, em Mateus 5.13-16.
  
QUALIFICAÇÕES PARA BOAS OBRAS
  
Quem pode realizar uma obra à vista de Deus? As Escrituras tornam bem claro que ninguém, a não ser os salvos, podem fazer isto. "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras", Efésios 2:10. "Portanto os que estão na carne não podem agradar a Deus", Romanos 8:8.
  
As boas obras são o fruto do Espírito, e ninguém, a não ser os salvos, tem o Espírito. As boas obras são o resultado e não a causa da salvação. A ordem divina é salvação, depois o serviço. Somos salvos para servir a Deus e aos outros. Em cada campo, exceto na mecânica, é preciso que haja vida antes da atividade. Cada homem, por natureza, está morto em pecados e alienado de Deus. A crença que o pecador pode trabalhar para ganhar a salvação é uma das piores heresias. "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo", Tito 3:5. Tudo o que o perdido faz para merecer o favor de Deus é uma obra morta. É preciso haver o arrependimento. Não há meios de se ganhar o favor de Deus, a não ser por intermédio de Seu Filho. "Mas agora em Cristo Jesus, vós que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto", Efésios 2:13.
  
A IMPORTÂNCIA DAS BOAS OBRAS
  
As boas obras. são importantes como evidências necessárias da salvação. Elas não buscam a salvação, mas a manifestam. Não são a causa, mas o efeito do novo nascimento, "criados para as boas obras".
  
As boas obras do crente estarão diante dele no juízo, a fim de serem rejeitadas ou recompensadas. Elas foram colocadas sobre Cristo e Ele as levou em Seu próprio corpo no madeiro. Com relação a salvação, os pecados do crente foram colocados sobre Cristo e julgados nEle. Com relação à correção será tratada nesta vida. Leia Hebreus 12:5-11. O crente será galardoado por suas obras quando Cristo vier. "Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará a plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestarão os desígnios dos corações; e então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus", 1 Coríntios 4:5.
  
O Modo de Tratar com os Hereges
  
Na última passagem, encontramos o quinto e último tópico da epístola: o que Tito deve evitar no ensino e como deve lidar com um herege; há ainda algumas outras orientações. Observe: Para que o propósito do apóstolo possa ser mais claro e completo, e especialmente adequado à situação da igreja em Creta, e para os muitos judaizantes nomeio dela, ele mostra a Tito o que, em seu ensinamento, deveria evitar (v. 9).
  
Existem questões necessárias a ser discutidas e esclarecidas, especialmente as que são úteis para o aperfeiçoamento e conhecimento; mas questões inúteis e loucas, que não visam à glória de Deus nem à edificação devem ser deixadas de lado. Alguns podem aparentar sabedoria, mas são vaidosos, como muitos doutores judaicos, bem como estudiosos posteriores que afluíam com perguntas sem importância para a fé ou a prática cristã.
  
Tito devia evitar esses homens. “.. genealogias” (dos deuses, alguns entendem, acerca dos quais os poetas pagãos faziam tanto barulho; ou que deixavam os judeus tão curiosos): algumas indagações úteis e legais podem ser feitas acerca dessas coisas, para ver o cumprimento das Escrituras em alguns casos e especialmente em relação à descendência de Jesus Cristo, o Messias; mas tudo aquilo que servia apenas para a ostentação e para alimentar a vaidade em relação a árvores genealógicas longas deveria ser abolido. Esses mestres judaicos estavam dispostos a ocupar seu tempo e aborrecer seus ouvintes com essa distinção de famílias e tribos, que, desde a vinda de Cristo tinha ficado sem efeito. Eles insistiam em querer impô-la novamente aos crentes.
  
Tito deveria opor-se a essas coisas e considerá-las inúteis e vãs contendas e nos debates acerca da lei. Havia aqueles que defendiam a continuidade dos ritos e cerimônias mosaicas na igreja, embora tivessem sido substituídos e abolidos por Cristo. Tito não devia tolerar essas coisas, mas evitar e opor-se a elas, “. . porque são coisas inúteis e vãs”. Isto se refere a todas as questões loucas e às genealogias, bem como àqueles que debatiam acerca da lei. Eles estão tão longe de instruir e edificar na piedade que são obstáculos a ela.
  
A fé cristã e as boas obras, que devem ser colocadas em prática, serão enfraquecidas e prejudicadas por essas coisas, a paz da igreja, perturbada, e o avanço do evangelho, retardado. Observe: Os ministros devem não somente ensinar coisas boas e úteis, mas evitar e opor-se às coisas más e vãs, que corrompem a fé e impedem a piedade e as boas obras. O povo também não deveria ter coceira nos ouvidos, mas amar e adotar a sã doutrina, que melhor edifica a igreja.
  
Mas, visto que, apesar de tudo, haverá heresias e homens hereges na igreja, o apóstolo orienta a Tito o que fazer num caso desses e como lidar com esse tipo de pessoas (v. 10). Aquele que renuncia à verdade em Cristo Jesus, que defende publicamente falsas doutrinas e as propaga para a corrupção da fé acerca de pontos importantes e graves, quebrando a paz da igreja, depois de fazer o possível para corrigi-lo, mas sem sucesso, deve ser evitado, “Admoeste-o repetidas vezes, para que, se possível, ele possa ser reintegrado e você acabe ganhando o seu irmão; mas, se não o convencer, lance-o fora da comunhão, para que os outros não sejam prejudicados e advirta os cristãos para evitá-lo”. “Sabendo que esse tal está pervertido (afastado da base ou fundamento) e peca gravemente, estando já em si mesmo condenado”.
  
Esses que não se deixam corrigir pelas admoestações, mas continuam obstinados em seus pecados e erros, estão pervertidos e em si mesmo condenados. Eles infligem a si mesmos o castigo que os dirigentes da igreja deveriam infligir a eles. Eles mesmos se lançam fora da igreja, afastando-se da comunhão com ela, e, dessa forma, condenam-se a si mesmos.
  
Observe: Uma heresia realmente nociva pode causar grande estrago, por isso, ninguém deveria ser acusado levianamente, embora todos tenham de ter o máximo de cuidado com ela. Um herege é pervertido — uma metáfora de uma construção tão destruída que é difícil, senão impossível, consertá-la e edificá-la novamente. Hereges de verdade dificilmente são restaurados à verdadeira fé.
  
O problema não está na forma errada de julgar, mas na perversão da vontade, envolvendo o orgulho, ou ambição, ou teimosia, ou cobiça, ou alguma corrupção semelhante.

Precisa-se ter muito cuidado com essas pessoas: “Seja humilde, ame a verdade e pratique-a, e você escapará da heresia condenada”. Esforços e paciência precisam ser usados com aqueles que transgridem de maneira mais grave. Não se deve desistir deles facilmente e rejeitá-los, mas deve-se dar tempo suficiente para buscar a restauração deles.
  
Os meios até mesmo com os hereges são persuasivos e racionais. Eles devem ser admoestados, instruídos e advertidos; é o que significa nouthesia. Após uma obstinação e uma atitude irrevogável e contínua, a igreja tem o poder, e a obrigação, de preservar sua própria pureza, ao separar um membro tão corrupto, para que a disciplina possa, pela bênção de Deus, se tornar eficaz na restauração do ofensor. Caso contrário, isso o deixará ainda menos indesculpável em sua condenação.
  
O apóstolo acrescenta mais algumas orientações (vv. 12,13).

Vemos duas coisas pessoais acrescentadas aqui:
  
1. Tito deveria estar pronto para se encontrar com Paulo em Nicópolis (uma cidade da Trácia, como se supõe, nas fronteiras da Macedônia), tão logo Artemas ou Tíquico fossem enviados a Creta, para substituí-lo no cuidado das igrejas ali, quando ele partisse.
  
O apóstolo não queria que no seu estado jovem e inexperiente eles estivessem sem uma ou outra supervisão importante, para guiá-los e ajudá-los. Tito, pelo que parece, não era o bispo ou pastor comum e fixo, mas um evangelista, caso contrário, Paulo não o teria chamado tantas vezes para deixar o seu posto. Sabemos muito pouco de Artemas, mas Tíquico é mencionado em diversas ocasiões. Paulo o chama de “Tíquico, irmão amado e fiel ministro do Senhor e “.. fiel ministro, e conservo no Senhor”: alguém apto, portanto, ao serviço proposto.
  
Paulo então diz a Tito: “. ..procura vir ter comigo a Nicópolis; porque deliberei invernar ali”. Fica evidente então que a epístola não foi escrita de Nicópolis, como o pós-escrito traz, porque então ele teria escrito: Determinei invernar aqui, não ali.
  
2. A outra ordem pessoal a Tito é que trouxesse dois dos seus amigos na sua jornada e cuidasse para que suas necessidades fossem supridas, para que nada lhes ficasse faltando. Isso deveria ser feito, não apenas como um ato de cortesia, mas de piedade cristã, por respeito tanto a eles quanto ao trabalho que foram convocados a fazer, que provavelmente seria pregar o evangelho ou ser útil de alguma forma às igrejas. Zenas é chamado de doutor da lei. Não sabemos se é com referência à lei romana ou à mosaica. Apoio era um ministro eminente e fiel.
  
Acompanhar essas pessoas em parte do seu caminho e provê-las em seu trabalho e jornada era um serviço devoto e necessário. E para promover essas coisas e rever o que havia exortado anteriormente a Tito que ensinasse (v. 8), ele repete aqui: “... os nossos aprendam também a aplicar-se às boas obras, nas coisas necessárias, paro que não sejam infrutuosos” (v. 14).
  
Permita que os cristãos, esses que creram em Deus, aprendam a aplicar-se às boas obras, especialmente apoiando ministros em seu trabalho da pregação e propagação do evangelho, com isso se tornando cooperadores da verdade (3 Jo 5-8).
  
Para que não sejam infrutuosos. O cristianismo não é uma profissão infrutífera. Os seus adeptos devem estar “.. cheios de frutos de justiça, que são por Jesus Cri si o, para glória e louvor de Deus”. Não basta ser inofensivo, mas eles devem ser úteis, fazendo o bem, e fugindo do mal. Alguns interpretam esse texto da seguinte maneira: “Que os nossos iniciem e se apliquem a alguns trabalhos e serviços, providenciem para si mesmos e suas famílias, para que não sejam pesas inúteis na terra”. Eles não devem pensar que o cristianismo lhes dá um direito ao bem-estar. De forma alguma. O cristianismo coloca uma obrigação sobre eles para buscar um trabalho honesto e ficar diante de Deus (veja 1 Co 7.24).
  
Esse é um bom testemunho, dará crédito à fé cristã e será bom para a humanidade. Eles não serão membros inúteis do corpo, não serão onerosos e pesados para os outros, mas habilitados para ser úteis àqueles que estão passando necessidades. “...a aplicar-se às boas obras, nas coisas necessárias”; não viver como parasitas do trabalho dos outros, mas sendo frutíferos para o bem comum.
  
O apóstolo conclui com saudações e bênçãos (v. 15). Embora, talvez, não conhecido pessoal- mente (pelo menos de alguns deles), no entanto, todos os que estão com Paulo testificam do seu amor e os melhores votos a Tito, reconhecendo o seu trabalho e estimulando-o a seguir em frente. Como é confortador e encorajador contar com as orações de outros cristãos por nós e sentir o seu amor. “Saúdam-te todos os que estão comigo.
  
Saúda tu os que nos amam na fé” ou pela fé, que são nossos amados companheiros cristãos. A santidade, ou a imagem de Deus em uma pessoa, é uma coisa preciosa que dá força a todos os outros elos, e é em si o melhor. “A graça seja com vós todos. Amém!” Esta é a bênção de encerramento, não somente a Tito, mas a todos os fiéis com ele, que mostra que embora a epístola seja dirigida a Tito no seu prefácio, ela era para o uso das igrejas de lá, e eles estavam na mente e no coração do apóstolo quando escreveu a mesma. “graça seja com vós todos, ou seja, o amor e o favor de Deus, com os frutos e a repercussão disso, de acordo com as necessidades, principalmente as espirituais, e o sentimento crescente delas na vossa alma”.


Essa é a oração e o anelo do apóstolo, mostrando a sua grande afeição por eles, desejando o bem-estar deles e que obtenham o que pediram. Observe: A graça é a coisa principal a ser desejada e pedida, com respeito a nós mesmos e aos outros; isto é, em resumo, todo bem. A oração é encerrada com amém, expressando desejo e esperança, que assim seja e assim será.

SUBSÍDIO PARA O PROFESSOR

A graça de Deus traduz a bondade do Senhor e o seu desejo de favorecer o homem, de ser misericordioso com o ser humano, ainda que o homem não mereça esta benevolência divina, vez que pecou e se rebelou contra o seu Criador. Entretanto, apesar do pecado, Deus mostrou seu amor em relação ao homem, por intermédio da sua graça. Sem que o homem mereça coisa alguma, Deus providenciou um meio pelo qual o homem pudesse retornar a conviver com Ele. Ele enviou seu Filho para que morresse em nosso lugar e satisfizesse a justiça divina. Portanto, a todos quantos crerem na obra do Filho, Deus permite que venha novamente a ter comunhão com Ele, ainda que imerecidamente. É este favor imerecido que consiste na Graça de Deus.

I. A MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA DE DEUS
1. Definição de graça. Graça – “hessed”, no hebraico; “charis”, no grego; “gratia”, no latim -, tem o sentido de ser um favor imerecido concedido por Deus à humanidade. Imerecido, porque o homem perdeu todo e qualquer direito, ou privilégio junto ao seu Criador, por causa do pecado.

2. A Graça comum. Deus não é apenas o Criador da Terra, do homem, e de tudo que nela há, mas, pela sua Graça Comum, ou Universal, ele é também o Sustentador de todas as coisas, incluindo a existência do homem, conforme afirmou Paulo, em Atenas: “Porque n’Èle vivemos, e nos movemos, e existimos...”(Atos 17:28).

Sem a Graça comum, ou Universal, que é um favor imerecido que ele quis e continua concedendo ao homem, não haveria vida sobre a terra. Deus, através de sua Graça Comum, abençoa todos os homens, crentes e incrédulos. Foi o que o Senhor Jesus deixou claro, quando afirmou: “... porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos”(Mt 5:45).

Assim, quer o homem saiba disto, ou não; quer reconheça ou não a misericórdia de Deus; quer seja grato ou não, na verdade a sua vida está nas mãos de Deus e é sustentado pela sua Graça.

É Deus quem controla o dia e a noite, que administra as estações do ano, que mantém a regularidade dos movimentos de rotação e translação da terra, que mantém o equilíbrio da cadeia alimentícia, que regula o sistema de defesa do corpo humano, entre tantos outros benefícios concedidos pela sua Graça Comum, ou Universal. Por isto, nós que conhecemos a Palavra de Deus, dizemos que “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim”(Lm 3:22).

3. A graça salvadora. Sem qualquer mérito humano, mas unicamente pela sua graça, Deus quis prover um meio de salvar o ser humano. E proveu. E a graça salvadora de Deus não tem limites, é inesgotável, é abundante. Por isto ela envolve todo o mundo, é suficiente para predispor toda a humanidade a tornar-se merecedora da Redenção Divina, oferecendo-lhe a oportunidade de escapar da justa e inevitável condenação – “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor”(Rm 6:23.) E porque é o “Deus de toda a graça”, conforme está escrito em 1Pedro 5:10, ele “...quer que todos se salvem e venham ao conhecimento da verdade”(1Tm 2:4). Nesse sentido, e para que isto pudesse acontecer foi que “... a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”(Tito 2:11).

4. Graça justificadora e regeneradora. A graça de Deus é a fonte da justificação do homem (cf Rm 3:24; Ef 2:8). Ela substitui o pecado na vida do homem, que é justificado pela fé em Cristo Jesus. Quando somos justificados, somos atingidos pela graça divina (Rm 5:18), graça que sobrepuja a nossa velha natureza, de tal sorte que o apóstolo diz que “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5:20). Também na vida do justificado, a graça reina pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor (Rm 5:21).

A graça, portanto, passa a ser o critério do nosso relacionamento com Deus. Somos, a todo momento, atingidos pelo favor imerecido do Senhor. É por este motivo que o tempo em que vivemos é denominado de “dispensação da graça” (cf. Ef 3:2), ou seja, o período em que o relacionamento de Deus para com os homens é regido pela “graça”, pelo favor divino em relação ao homem que não leva em consideração os méritos humanos.

A justificação é recebida pela fé quando o ser humano crê em Jesus, aceitando-o como seu único e suficiente Salvador, ou seja, no momento em que ocorre a conversão, quando se torna uma “nova criatura” (2Co 5:17). Desta feita, a pessoa torna-se partícipe da família de Deus, como bem diz o apóstolo Paulo: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da família de Deus” (Ef 2:19).

5. Graça santificadora. A santificação é parte integrante da vida cristã, e o cristão que não deseja a santificação está perdendo o temor a Deus. Como Deus deseja também nos auxiliar no processo de santificação, Ele nos dá o seu Santo Espírito para habitar em nós e nos orientar nesta separação do mundo, ou seja, separação do pecado (não dos pecadores). A graça de Deus só pode ser eficaz, na vida do convertido, se ele se dispuser a negar-se a si mesmo, para ter uma vida de santidade.

A santificação é um processo espiritual, que tem início na conversão, e deve prosseguir por toda a vida do crente, até a morte, ou o seu encontro com Cristo, em sua vinda. É o estado vivencial daquele que é santo, que vive em santidade. A falta de santificação anula os efeitos da regeneração e da justificação. Diz a Bíblia: "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14).

A vida cristã somente pode progredir e se desenvolver se houver separação do pecado, o que deve ser perseguido até o dia do arrebatamento da Igreja. A salvação é um contínuo processo que, iniciando-se na regeneração, fruto do arrependimento e da conversão, prossegue, após a justificação, mediante a santificação, até o seu instante final, que é a glorificação.

II. A CONDUTA DO SALVO EM JESUS
A carta de Paulo a Tito ressalta de maneira esplêndida a profunda conexão que existe entre teologia e vida, doutrina e dever. No capítulo 1, Paulo tratou do dever do cristão em relação à igreja. No capítulo 2, do dever do cristão em relação à família; e, no capítulo 3, ele trata do dever do cristão em relação ao mundo. Até o capítulo 2, Paulo havia se ocupado com a ordem interna das igrejas de Creta e com os deveres dos seus membros uns com os outros. Agora, no capítulo 3, faz um breve comentário sobre seu relacionamento com o poder civil e o ambiente pagão em geral. A vida cristã trata do nosso correto relacionamento com as autoridades, com o próximo e com Deus.

1. Sujeição às autoridades (Tt 3:1). “Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades sejam obedientes estejam prontos para toda boa obra...”.

Paulo pede a Tito para lembrar aos cristãos das assembleias de Creta as responsabilidades em relação ao governo deles. O enfoque cristão ensina que todos os governos são ordenados por Deus (Rm 13:1). Um regime pode ser não-cristão ou até anticristão, mas qualquer governo é melhor do que nenhum governo. A ausência de governo leva à anarquia, e um povo não pode sobreviver por muito tempo sob a anarquia.

O cristão precisa se conscientizar de que ele tem dupla cidadania: é cidadão do Céu e também do mundo. Ele deve obediência a Deus e também às autoridades constituídas. Duas coisas são exigidas do cristão em relação às autoridades:

- Em primeiro lugar, submissão (Tt 3.1). Aqueles que governam são autoridades constituídas pelo próprio Deus e devem ser respeitados. O cristão deve ser um cidadão exemplar, estandopronto para toda boa obra. Ele não é um problema para a sociedade, mas um benfeitor. O cristão deve ser cooperativo nos assuntos que envolvem toda a comunidade, uma vez que a cidadania celestial (Fp 3:20) não o isenta de suas responsabilidades como cidadão da terra. O cristão deve cumprir as leis e instruções das autoridades civis e pagar seus impostos com fidelidade (Rm 13:6).

- Em segundo lugar, obediência (Tt 3:1). A obediência civil é responsabilidade do cristão. Ele não pode ser anarquista nem agitador social, uma vez que resistir à autoridade é insurgir-se contra o próprio Deus que permitiu que ele assumisse o cargo de autoridade. Entretanto, a obediência civil tem limites. O Estado não é dono da consciência dos homens. Se um governo determina que o cristão desobedeça a Deus, então ele deve se opor, sob o principio de Atos 5:20: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”. Sempre que o Estado se torna absolutista e opressor, invertendo e subvertendo a ordem, promovendo o mal e coibindo o bem, os cristãos têm o direito e até o dever de desobedecer. A autoridade é constituída por Deus para promover o bem e coibir o mal (Rm 13:4).

2. O relacionamento do cristão (Tt 3:2). “não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens”.

Paulo nos ensina que o cristão deve relacionar-se positivamente não apenas com as autoridades, mas também com seus pares, ou seja, com todos os membros da comunidade. Devemos ter relacionamentos corretos não apenas dentro da igreja, mas também com os não-crentes.

O apóstolo Paulo menciona quatro atitudes que um cristão deve cultivar no trato com seus concidadãos:

a) não difamar a ninguém, ou seja, não destruir a reputação das pessoas – “não difamem a ninguém...”. A difamação é um assassinato moral. É usar a espada da língua para ferir e destruir a reputação das pessoas. O cristão não deve caluniar ninguém. Aqueles que foram alvos da benignidade de Deus não podem ser instrumentos de maldade para ferir as pessoas. Uma das maneiras mais aviltantes de promover a si mesmo é falar mal dos outros.

b) não ser contencioso, ou seja, não destruir o relacionamento com as pessoas - "[...] nem sejam altercadores...". Altercar é criar confusão, provocar contendas, envolver-se em discussões que ferem as pessoas e destroem os relacionamentos. Devemos pavimentar o caminho do diálogo em vez de sermos geradores de conflitos. Aqueles que foram reconciliados com Deus devem buscar a reconciliação com as pessoas em vez de serem altercadores.

c) não cavar abismos, mas construir pontes de contato com as pessoas - "[...] mas cordatos...". O cristão precisa ser uma pessoa polida. Sua língua deve ser bênção e não maldição. Precisamos tratar uns aos outros com dignidade e respeito. Precisamos viver em paz uns com os outros.

d) ser cortês - "[...] dando provas de toda cortesia, para com todos os homens”'. Parece muito apropriado que a cortesia deva ser ensinada como uma das virtudes cristãs. Essencialmente, significa pensar de maneira amável acerca de outras pessoas, colocar os outros em primeiro lugar, dizer e fazer coisas graciosas. A cortesia serve aos outros antes de si mesmo, prontifica-se em ajudar e expressa pronta apreciação pela gentileza recebida. Jamais é mal-educada, vulgar ou rude.

“... mostrando toda mansidão para com todos os homens” (ARC). A mansidão não é um atributo natural. Não é virtude, é graça. Alguém disse que “mansidão é aquela atitude humilde que se expressa na submissão às ofensas, livre de malícia e de desejo de vingança”. Ser manso não é ser frouxo ou ficar impassível diante dos problemas. Ser manso não é ser tímido ou covarde. Não é manter a paz a qualquer custo. Uma pessoa mansa é aquela que entregou seus direitos a Deus.

3. A lavagem da renovação do Espírito Santo (Tt 3:3). “Porque também nós éramos, noutro tempo, insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros”.

O pecado atingiu todas as nossas faculdades: razão, emoção e volição. Estávamos perdidos e condenados. Se Deus não tivesse colocado seu coração em nós estaríamos arruinados inexoravelmente.

Em Tito 3:3, Paulo faz um diagnóstico sombrio da nossa condição antes de sermos salvos:

a) Insensatez. “Nós éramos insensatos”. Nossa mente estava corrompida pelo pecado. A estultícia e a insensatez eram as marcas registradas da nossa vida. Nossos conceitos estavam errados, nossos valores distorcidos e nossos desejos corrompidos.

b) Desobediência. “Nós éramos desobedientes”. Nosso coração, além de tolo e obtuso, era também rebelde e desobediente à autoridade divina e humana. Nossa inclinação era toda para o mal. Éramos transgressores da lei e rendidos a toda sorte de pecado. Estávamos depravados não só na mente, mas também na moral.

c) Extraviado. “Nós éramos extraviados”. Sem Deus, sem a salvação em Cristo, o homem é um extraviado, como ovelha errante (Mt 9:36); cada passo que dávamos era para nos afastar mais de Deus. Mas bem-aventurado é aquele que age como o "filho pródigo", o qual tomou a decisão sábia de retornar humilhado à casa do pai, onde foi recebido com amor e misericórdia (Lc 15:18-24).

d) Servindo a “várias concupiscências e deleites”. Ou seja, nós éramos escravos de toda sorte de paixões e prazeres. Estávamos com a coleira do diabo no pescoço. Éramos vítimas de forças malignas que não podíamos controlar. Vivíamos presos com grossas cordas, sujeitos a toda sorte de desejos pervertidos e embriagados por todas as taças dos prazeres mais aviltantes. Sentíamos total anorexia pelos banquetes de Deus, mas profunda voracidade pelo cardápio do pecado.

e) Vivendo em Malícia e inveja. “Nós vivíamos em malícia e inveja”. Nossa mente era cheia de maldade e sujeira. Vivíamos rendidos à inveja, cobiçando o que não nos pertencia. A malícia ou maldade é o que se faz quando se deseja o mal a alguém; a inveja é ressentir-se e desejar o bem que outros têm. Essas duas atitudes insensatas interrompem todo relacionamento humano.

f) Odiosos. “Nós éramos odiosos e vivíamos odiando-nos uns aos outros”. Nosso relacionamento com nós mesmos e com os outros estava em crise. Éramos odiosos e, por isso, odiávamos. Fazíamos o que éramos. Quando o nosso relacionamento com Deus está rompido, não conseguimos conviver conosco nem com as outras pessoas. Longe de Deus somos uma verdadeira guerra civil ambulante.

III. AS BOAS OBRAS E O TRATO COM OS HEREGES
1. A prática das boas obras (Tt 3:8). “Fiel é a palavra, e isto quero que deveras afirmes, para que os que creem em Deus procurem aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos homens”.

Todos aqueles que creem em Deus procuram aplicar-se às boas obras. As boas obras não são a causa, mas a evidência da salvação. Não somos salvos pelas boas obras, mas para as boas obras. Não são as nossas boas obras que nos levam para o céu; nós é que as levamos para o céu (Ap 14:13).

2. Como tratar com os hereges (Tt 3:10,11). “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido e peca, estando já em si mesmo condenado”.

Um herege é simplesmente uma pessoa que decidiu que está certa e que todos os demais estão equivocados. Tito deveria evitar pessoas que gostavam de criar partidos dentro da igreja e semear a cizânia da heresia e da discórdia. Nada machuca mais a igreja do que aqueles que se apartam da verdade e vivem criando mal-estar, ferindo a comunhão, falando mal das pessoas e maculando sua honra.

O que perturbava as igrejas de Creta era a tendência de os falsos mestres formarem grupos dissidentes, dividindo assim o corpo de Cristo. O erro dessas pessoas estava ligado tanto à doutrina quanto à ética, tanto à teologia quanto à vida. Eram pessoas facciosas.  Deliberadamente persistiam em dividir a união da igreja. Paulo ensina que não devemos nos envolver com as discussões tolas dos falsos mestres. As pessoas que estão ocupadas fazendo a obra do Senhor não têm tempo para discussões inúteis. Infelizmente, muitos acabam discutindo e dando atenção demasiada aos ensinos que são contrários a Palavra de Deus. Muitos acabam tendo um fim trágico: a apostasia.

CONCLUSÃO

“A graça seja com vós todos. Amém!” (Tt 3:15). Paulo termina a Epístola pastoral de Tito rogando a graça de Deus sobre todos os crentes. A graça é a fonte da vida e melhor do que a vida. Por ela somos salvos, por ela vivemos e por ela entraremos nos páramos celestiais.

Viva vencendo, tendo por alicerce a salvação!!!

Abraços.

Seu irmão menor.

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