BENS DE PASTORES DA MARANATA CRESCEM 6 VEZES EM 5 ANOS!
Por Vilmara Fernandes e Letícia Cardoso - Jornal A Gazeta
Foi a quanto chegou o aumento do
patrimônio de alguns dos administradores da igreja, segundo investigação
do Ministério Público. Um total de 26 pessoas, a maioria pastores da
Maranata, está sendo investigado pelo desvio de dinheiro do dízimo doado
por fiéis.
As investigações que apuram o desvio do
dinheiro do dízimo doado pelos fiéis da Maranata revelam que os pastores
que administravam a igreja podem ter enriquecido de forma ilícita. Um
exemplo vem do patrimônio deles, que, nos últimos cinco anos, chegou a
engordar até seis vezes. E não fica só aí: a movimentação financeira em
suas contas foi até dez vezes maior do que o rendimento declarado ao
Imposto de Renda.
A análise das finanças faz parte das
investigações que estão sendo conduzidas pelos promotores do Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e estão no
processo que tramita na Vara de Inquéritos Criminais de Vitória, ao qual
A GAZETA teve acesso.
O material serviu de respaldo para que a
Justiça autorizasse a busca e a apreensão de documentos e equipamentos
na igreja e na casa dos investigados, além do sequestro de bens da
instituição e de seus pastores, no final do ano passado.
“Ressaltamos a
corrida por retificações nas declarações de Imposto de Renda de boa
parte das pessoas físicas alvos do processo, que fizeram acrescer
transações, bens e valores até então omitidos para não demonstrar
incompatibilidade.”
“É possível extrair variadas descrições das práticas ilícitas adotadas por membros da igreja.”
- Relato dos promotores no processo que tramita na Justiça.
“É possível extrair variadas descrições das práticas ilícitas adotadas por membros da igreja.”
- Relato dos promotores no processo que tramita na Justiça.
Clandestino
Foi a partir da quebra do sigilo fiscal
dos investigados que o Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de
Dinheiro, do Ministério Público Estadual, acabou confirmando as
denúncias sobre a destinação clandestina do dinheiro doado pelos fiéis.
“Era utilizado por determinados membros para investimento em bens e
vantagens particulares”, diz o relato dos promotores, no processo.
De acordo com as denúncias, com o
dinheiro doado foram comprados apartamentos, casas, sítios, carros, e
pagas contas de cartões de crédito. Até dólares foram enviados para o
exterior na mala dos fiéis. O resultado, segundo relato dos promotores, é
uma evolução patrimonial “considerável e incompatível” com a renda
declarada.
Enriquecimento
Para exemplificar a situação à Justiça,
foram utilizados cinco casos de pastores e suas respectivas situações
patrimonial e financeira. “Há exemplos do súbito, injustificado e
suspeito enriquecimento de alguns membros da igreja”, relata o texto.
Um dos casos apontados é o de Gedelti
Victalino Gueiros, um dos fundadores e presidente da Maranata, afastado
do cargo no final do ano passado. A movimentação de dinheiro em sua
conta foi sete vezes superior ao seu rendimento, “indicando clara
incompatibilidade entre os anos de 2009 e 2011″, diz o texto do
processo.
Em 2009, por exemplo, seu rendimento bruto declarado foi de R$ 127 mil, mas a movimentação em sua conta superou os R$ 964 mil.
Sem crise
Não é muito diferente a situação de
Antonio Angelo Pereira dos Santos, ex-vice-presidente, que foi apontado
pela própria igreja como um dos responsáveis pelo esquema de corrupção.
Seus bens, assim como sua movimentação financeira, cresceu mais de seis
vezes nos último cinco anos.
Um detalhe curioso é que o seu
patrimônio continuou aumentando até mesmo nos períodos em que seus
vencimentos estavam em queda. De 2009 para 2010, seu rendimento caiu de
R$ 77 mil para R$ 45 mil, mas seu patrimônio foi de R$ 349 mil para 375
mil.
Há ainda o caso do pastor Adaíso
Fernandes Almeida, cujo patrimônio saltou de R$ 667 mil para R$ 2,97
milhões em cinco anos; do pastor José de Anchieta Fraga Carvalho, cujo
patrimônio triplicou, e sua movimentação financeira foi quase dez vezes
superior ao seu rendimento declarado; e também do pastor Alexandre Melo
Brasil, cujo entra e sai em sua conta foi oito vezes maior do que seus
vencimentos.
Boa parte dessa movimentação ocorreu no
momento em que o mundo vivia os reflexos da crise financeira que teve
início em 2008 e teve repercussões nos governos federal, estaduais e
municipais e até nas empresas nos anos que se seguiram.
Investigados
Ao todo, 26 pessoas estão sendo
investigadas pelo Gaeco como responsáveis pelas fraudes. A maioria fazia
parte da administração da igreja, grupo destituído pela Justiça no
final do ano passado. Entre essas pessoas estão Gedelti Victalino
Gueiros e Antonio Angelo Pereira dos Santos.
O esquema de corrupção que desviou o
dinheiro doado pelos fiéis foi viabilizado por intermédio de notas
fiscais frias que pagavam serviços superfaturados, segundo as denúncias.
Elas indicam o envolvimento de pastores, diáconos e até fornecedores do
Presbitério de Vila Velha, que concentra a administração dos mais de 5
mil templos no Brasil, além de outros no exterior.
Segundo relato dos promotores do Gaeco,
constantes no processo que tramita na Justiça, o dízimo foi usado até em
outras vantagens particulares. “E, para acobertar os desvios e as
irregularidades, os envolvidos no esquema criminoso se valiam da
constituição fraudulenta de empresas e acordavam a emissão de notas
fiscais superfaturadas”, diz o texto.
Há denúncias ainda de que equipamentos
eletrônicos foram adquiridos no exterior e importados de forma ilegal. O
material teria sido utilizado na montagem de um sistema de audiovisual
para a igreja transmitir seus cultos para templos no Brasil e no
exterior.
Entre os crimes que podem ter sido
cometidos estão estelionato, falsidade ideológica, formação de
quadrilha, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e até formação de
curral eleitoral. Há investigações também sendo feitas pela Polícia
Federal e pelo Ministério Público Federal.
Silêncio
O promotor do Gaeco, Lidson Fausto da
Silva, não quis se manifestar sobre detalhes do caso, argumentando que
as informações são fornecidas por intermédio de nota oficial do
Ministério Público Estadual, quando necessárias.
Silêncio semelhante, segundo as poucas
informação confirmadas pelo promotor, vem sendo mantido pelos membros da
igreja já intimados a depor. Quase todos têm se recusado a falar, sob o
argumento de que só comentam o caso em juízo.
Uma preocupação de que essas pessoas
poderiam sofrer algum tipo de intimidação está presente no processo.
Promotores relatam as dificuldades encontradas para colher novas provas e
depoimentos em decorrência até do “receio de sofrer retaliações,
perseguições e difamações na igreja”, diz o texto do processo judicial.
A juíza Sayonara Couto Bittencourt
Barbosa chegou a proibir que as 26 pessoas investigadas, incluindo os
pastores, façam contato com qualquer testemunha que já foi ouvida ou que
ainda vá prestar depoimento. Há pessoas que têm recorrido à Ouvidoria
do Ministério Público Estadual e ao Gaeco para fazer suas denúncias por
telefone. “Quem liga para o 127 ou 3145-7150 tem o sigilo garantido”,
assinala o promotor Lidson.
Resposta
O advogado Rodrigo Horta, que faz a
defesa do pastor Adaísio, disse que só fala sobre o assunto em juízo.
José Luiz Oliveira de Abreu, advogado de Antonio Angelo, discorda das
afirmações dos promotores. Ele garante que o patrimônio de seu cliente é
compatível com o rendimento do mesmo e que isso será provado no momento
certo, “na Justiça”, assinalou.
Foi por intermédio da assessoria de
imprensa da Maranata que os demais pastores citados na matéria
responderam às denúncias de enriquecimento ilícito. José de Anchieta
informou que o aumento de seu patrimônio “se deve ao trabalho prestado
por sua empresa a uma multinacional que lhe rendeu um faturamento
especial naquele período”.
Já Alexandre Mello, que também é
advogado, explicou que “recebe quantias em nomes de clientes, faz o
saque e repasses, ficando apenas com os honorários, o que justifica sua
movimentação bancária”.
Convicção
O ex-presidente da Maranata, Gedelti
Victalino Gueiros, assinalou que, “de acordo com parecer técnico de
auditoria independente, a evolução financeira no período de 2007 a 2011,
contrapondo aos dados apresentados pelo Ministério Público Estadual, é
compatível com seus rendimentos”. Acrescentou ainda que os dados estão à
disposição da Justiça.
A Igreja Maranata, por sua vez, assinala
que reafirma sua convicção de que as acusações serão esclarecidas. “A
igreja jamais se insurgiu contra qualquer tipo de investigação que
esclareça os fatos”, disse em nota oficial, acrescentando que “é com
base na transparência e respeito integral à verdade que a Igreja Cristã
Maranata confia no rápido desfecho para esse lamentável episódio”.
Entenda o caso:
Denúncias: No
final de 2011, circularam informações de que o dízimo doado por fiéis
da Maranata estava sendo desviado por pastores, diáconos e fornecedores
da igreja;
Matérias: Após A GAZETA publicar matérias sobre as fraudes, o Ministério Público Estadual abriu uma investigação criminal em fevereiro do ano passado;
Rombo: O prejuízo estimado era de R$ 21 milhões, mas a Maranata recorreu à Justiça, pedindo o ressarcimento de R$ 2,1 milhões;
Acusados: O então vice-presidente da igreja, Antônio Angelo Pereira dos Santos, e o diácono e contador Leonardo Alvarenga foram apontados, pela Maranata, como os responsáveis pelo esquema de corrupção que desviou o dízimo. Os dois foram afastados de suas funções e processados na Justiça;
Investigações: As investigações conduzidas pelo Gaeco revelaram que outros pastores da cúpula da Maranata, incluindo seu líder, Gedelti Gueiros, estavam envolvidos nas fraudes. Seus sigilos bancário e fiscal foram quebrados;
Operações: No fim de 2012, os promotores do Gaeco e a Polícia Federal realizaram uma operação conjunta, denominada “Entre irmãos”, em que foi feita a busca e a apreensão, além do sequestro de bens da igreja e dos pastores investigados.
Matérias: Após A GAZETA publicar matérias sobre as fraudes, o Ministério Público Estadual abriu uma investigação criminal em fevereiro do ano passado;
Rombo: O prejuízo estimado era de R$ 21 milhões, mas a Maranata recorreu à Justiça, pedindo o ressarcimento de R$ 2,1 milhões;
Acusados: O então vice-presidente da igreja, Antônio Angelo Pereira dos Santos, e o diácono e contador Leonardo Alvarenga foram apontados, pela Maranata, como os responsáveis pelo esquema de corrupção que desviou o dízimo. Os dois foram afastados de suas funções e processados na Justiça;
Investigações: As investigações conduzidas pelo Gaeco revelaram que outros pastores da cúpula da Maranata, incluindo seu líder, Gedelti Gueiros, estavam envolvidos nas fraudes. Seus sigilos bancário e fiscal foram quebrados;
Operações: No fim de 2012, os promotores do Gaeco e a Polícia Federal realizaram uma operação conjunta, denominada “Entre irmãos”, em que foi feita a busca e a apreensão, além do sequestro de bens da igreja e dos pastores investigados.
Fonte: A Gazeta, jornal da Rede Gazeta, que tem circulação em todo o Estado do Espírito Santo.
Opinião da blogueira:
É cansativo o discurso corporativista
dos cristãos protestantes. Muitos veem as denúncias como ataque à Igreja
de Cristo. Porém, as informações divulgadas pela excelente matéria só
mostram uma dura realidade. Isso tudo é reflexo da corrupção que vem
dominando lugares que deveriam ser casas de oração. Não devemos fechar
nossos olhos para questões tão sérias. Devemos estar atentos que por aí
andam falsos pastores, mestres e profetas que se dizem servos de Deus,
mas que se comprometem apenas com a adoração ao Dinheiro. Que Deus nos
livre desse mundo corrompido.
***Por Mikaella Campos, direto do blog Minha vida em Cristo sem heresias para o Púlpito Cristão


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