Parte para a glória mais um soldado do exército do Senhor: Pr. Elyseu Queiroz, aos 101 anos
Homem inteligente, estudioso, atualizado e
autodidata, pastor Elyseu converteu-se ao Senhor lendo a Bíblia. Até
então ele nunca tinha visto uma. Seu irmão Sérgio Queiroz, um
jornalista, possuía muitos livros em sua biblioteca. Por curiosidade,
Elyseu encontrou entre as peças um livrinho meio amarelado escrito
Bíblia. Era a Bíblia de Figueiredo (tradução de Figueiredo). Ele
perguntou ao irmão:
– Sérgio, e este livro aqui…, o que é?
– Isto aí é uma Bíblia. Aí tem histórias de como foi criado o mundo, respondeu-lhe seu irmão.
Era jovem com quase 20 anos. Passei a ler aquela Bíblia a gostar e a ler Novo Testamento.
Seu irmão era católico romano e deu-lhe uma explicação, indicando-lhe a leitura do Novo Testamento, mas como jornalista:
– Isso aqui não tem mais valor, disse do Velho Testamento.
Mas eu gostei das histórias do Velho
Testamento e li tudo. Certa vez fui à missa, com ele, lá em Água Branca
(AL), sede do romanismo, um templo muito grande. Todo mundo se ajoelhou
na hora em que o padre levantou aquela hóstia. Fiquei em pé encostado
numa janela. Ao chegar em casa, meu irmão exortou-me:
– Mas Elyseu que papel você fez! Você foi à igreja, todo mundo se ajoelhou e você ficou em pé?!
– Olha, Sérgio, aquele livro que você me
deu e que estou lendo, diz que é pecado se ajoelhar diante dessas coisas
(referi-me aos ídolos).
– Se é para você fazer isso não vá mais à igreja, devolveu-me ele.
Morávamos na Fazenda Corredores,
entre Água Branca e Delmiro Gouveia. Ali não havia crente e tampouco
igreja. Não tinha nada. Após casar-me, mudei para a cidade de Delmiro
Gouveia. Fomos morar vizinhos de um alfaiate de nome Raimundo Alencar.
Ele era crente e me ganhou para Jesus.
Perseguição
Com sua conversão a Jesus, a perseguição
não deu trégua. Dono de uma mercearia, Elyseu de Souza Queiros teve de
vender seu estabelecimento porque ao se converter a Cristo passou a ser
perseguido pela Igreja Católica Romana e ninguém mais comprava em sua
mercearia. O jeito foi vender e aprender a profissão de alfaiate.
Frei Damião levantou perseguição
contra mim e até rezou uma missa de corpo presente, antecipando minha
morte e ainda ordenou que ninguém comprasse meus produtos. Os meus
parentes chegaram a chorar. Meu pai, Pedro Queiroz, era muito conhecido
na cidade. Por causa da perseguição ele ficou bravo. Então escrevi uma
carta ao frei Damião, declarando que eu era uma ovelha perdida (do
rebanho dele). Dizia que se ele viesse à minha casa e provasse que eu
iria para o Inferno por ser crente, na mesma hora deixaria de sê-lo. Ele
não quis aceitar o desafio, com a desculpa de constituir-se desaforo
visitar a casa de um protestante. Entretanto usou a carta para fazer
propaganda contra mim. Mostrou ao povo, a carta como um desacato. O povo
passou a me odiar por causa daquela carta.
Com o desafio ao temido frei Damião,
homem perseguidor aos cristãos, que surgiam na época, e até hoje
idolatrado por meio de uma gigantesca imagem-ídolo, Elyseu teve de
abandonar o comércio. Seu pai, embora católico romano mostrou-se
irritado com a injustiça e sua mãe acabou também se convertendo ao
Senhor.
Meu pai era católico daquele jeito:
que briga, que mata, mas minha mãe era muito católica, porém, quando se
converteu ao Senhor as imagens de santos católicos jogou-as fora.
Diante da situação, o jeito foi ouvir o conselho do irmão Raimundo, um alfaiate:
– Elyseu, se você ainda tem um
dinheirinho eu te ensino o ofício de alfaiate e vamos trabalhar de
sociedade, pois na venda não dá mais.
Então acabei com a venda. Vendi tudo
ao meu irmão Adão, quase de graça e fui aprender o ofício de alfaiate.
Cheguei a fazer roupas para os bandidos de Lampião. Eles iam em minha
casa, mas nos respeitavam muito.
Àqueles que iam fazer roupas conosco
pregávamos o Evangelho. Especialmente o Raimundo, pois eu era mais novo
na fé, mas Raimundo não deixava de falar de Jesus. É possível que algum
dos cangaceiros tenha até se convertido.
Raimundo tinha um irmão, chamado José
Vieira Alencar, que mudado para o Rio, no bairro Irajá. Ele gostava de
escrever poesias. Ele aconselhou-me:
– Olha Elyseu, você já sabe tudo de alfaiate. Agora já pode mudar para São Paulo e fazer sua vida.
Atendi ao conselho do amigo, vendi
minha casa também ao meu irmão Adão e mudei para Marília (SP).
Encontrei-me com parentes de Raimundo. Permaneci a realizar cultos em
minha casa, dirigidos pelo pastor Alfredo Rudzit, um lituano que morava
na colônia de Varpa, município de Tupã (SP). A partir daí nasceu o
trabalho em Marília. Nesta mesma cidade comecei a minha vida espiritual.
Início ministerial
Comecei fazendo cultos em minha casa.
Como o trabalho cresceu tivemos de alugar um salão. Depois surgiu o
templo, com pastor Joaquim Marcelino da Silva. Ele mudou-se para Marília
sob o consentimento do pastor Cícero (Canuto de Lima). Depois seis
meses em Catanduva (SP) com João Alves Corrêa. Com sua esposa Eunice
Cavalcante realizava evangelismo e visitas a irmãos, sob intenso frio,
que na época, congelava os ossos.
Depois em Votuporanga (SP), em 1950,
quando realizou um trabalho exaustivo, durante os 11 anos de pastorado,
às vezes a pé outras vezes a cavalo. Durante o dia eu cortava o tecido e
à noite fazia da máquina de costurar um púlpito, para a pregação do
Evangelho em minha casa. Na época, pregava para meia dúzia de crentes,
mas dava início ali a uma igreja. Em seguida, no ano de 1961, no mês de
março, assumiu a igreja em Jundiaí.
Já em Maceió, sua terra natal,
trabalhava como diácono com pastor João Nunes. Em Marília fui consagrado
ao presbitério e depois ao ministério pelo pastor Alfredo Rudzit. Nesse
tempo, o irmão Cícero Canuto de Lima já morava em São Paulo e esteve
presente em minha consagração. Fui consagrado pelo pastor Cícero, em
maio de 1950. Fui diácono, presbítero, dirigente e fundador da banda, em
Marília.
Proteção divina
Quando trabalhava em Álvaro de
Carvalho (na região de Marília) e estava ainda para ir para Votuporanga,
realizava cultos em minha casa. Eu tocava clarinete e minha esposa
bandolim.
Nesse tempo, às vezes fazia o
percurso de 21 quilômetros, entre Álvaro de Carvalho e Garça, a pé e vê
outra corria para pegar o trem.
Havia um português chamado Antônio
Cavalaria e alugamos um salão para a realização de cultos, próximo à sua
casa. Então vieram os vadios e durante o trabalho começaram a fazer
barulho para atrapalhar o culto. Tudo isso estava sendo feito em
combinação com o próprio delegado de Álvaro Carvalho, de nome Ladislau.
Telefonei ao doutor Benedito de Carvalho, delegado muito bom da cidade
de Garça, a 21 quilômetros de Álvaro de Carvalho. Havia muita gente, mas
o trabalho estava tumultuado. O delegado Benedito chegou, passou um
sabão no delegado da cidade e mandou continuar o culto com liberdade.
Outro fato diz respeito a um homem de
nome Geraldo, que zombava dos crentes. Dizia que iria comer nossa
carne, mas acabou ficando louco.
Articulista do Mensageiro da Paz
Numa época de dificuldades pastor Elyseu se esmerou e tornou-se autodidata. “Era
tudo muito difícil. As Bíblias não tinham concordância, não tinha nada…
Hoje temos muita facilidade”. Chegou a ser articulista do Mensageiro da
Paz, na mesma época de outros homens reconhecidos no meio literário das
ADs, como Alcebíades Vasconcellos, João Pereira de Andrade e Silva e
Emílio Conde. Naquela época, os escritores eram João de Oliveira,
Alcebíades Vasconcellos, Emílio Conde e eu. Também escreveu vários
livros e ministrou aulas de Teologia”.
Irmão Cícero (como os pastores eram chamados e não propriamente de pastor e jamais de chefe), pedia-me para escrever no Mensageiro da Paz contra a Teologia.
Um dia falei-lhe:
– Irmão Cícero, não é assim… O senhor é um teólogo. Teologia é estudo das coisas de Deus. O senhor é o maior teólogo do Brasil.
Ele ficou todo entusiasmado.
E disse-lhe mais:
– Eu não posso escrever contra, por que Teologia é o estudo acerca de Deus.
Um de seus livros mais conhecidos e muito esclarecedor é Israel por Dentro.
Meios de comunicação e caprichos humanos
Em outra crítica, falou de pastores
daquele tempo e resistentes à utilização dos meios de comunicação para a
pregação do Evangelho. Muitos proíbem até a televisão. Aqui em casa
tenho tudo isso e ainda fazemos uso da internet. A Assembleia de Deus é
uma igreja desenvolvida. Não podemos levar a igreja para 1910, embora no
sentido espiritual a obra não mude: Vemos batismos no Espírito Santo e
curas divinas.
Quanto ao pecado de adultério e
divisões sempre existiram, como no caso da Assembleia de Deus em
Madureira (RJ). Li certa vez, em um artigo do Mensageiro da Paz em que
um obreiro falava da saudade de sua igrejinha. A este eu digo: Se o
problema é querer uma igrejinha e só ir para o interior. Hoje em dia as
igrejinhas estão do mesmo jeito; os líderes é que mudaram.
São pensamentos retrógrados como este
que emperram o crescimento da Igreja, como as barreiras criadas por
pastores que falam que se a mulher cortar a ponta do cabelo não entra no
Céu. Onde ele achou isso na Bíblia? O Velho Testamento não trata de
cabelo de mulher e se fosse falar em barba aí sim tinha muito. A Bíblia
fala que a mulher deve trajar-se modestamente. Para o homem ter o cabelo
crescido é desonra; para a mulher é honra. É questão de honra e não de
mandamento. É claro que a mulher não deve cortar cabelo como homem.
Portanto os novos obreiros devem se prender às coisas espirituais e deixar os costumes que prejudicam de lado.
Igreja em Jundiaí
Um ano após a igreja se estabelecer na
capital paulista, em 1928 o pioneiro Daniel Berg deu início à obra em
Jundiaí, embora de forte domínio católico romano, figura como a primeira
cidade do interior a receber a AD, após São Paulo. A história nessa
cidade começou com Adolfo Godoy. Embora fosse membro da Congregação
Cristã no Brasil, morava nos fundos da congregação da AD e trabalhava
como zelador do templo, em São Paulo.
Após a experiência de cura divina Adolfo
passou a frequentar a AD e ainda convidou o missionário Berg para
visitar seu irmão, Gabriel Godoy Moreira na cidade de Jundiaí. Este
homem era católico devoto e curandeiro espírita, embora fosse membro da
Confraria de São Benedito. Tanto que durante as procissões percorria a
cidade a carregar seus santos pendurados ao pescoço. Por consertar
instrumentos musicais, era conhecido como Violeiro e também respeitado
por vizinhos e amigos.
Em 1923, antes de o missionário chegar,
ele já havia recebido uma Bíblia. Isso acabou levando-o a uma Igreja
Batista, quando se entregou a Jesus e logo foi batizado. Depois, em
busca da ação mais efetiva do Espírito, passou para a Igreja Congregação
no Brasil e, então, foi batizado novamente, conforme procedimento
padrão dessa denominação cristã.
Porém, no ano de 1928, ao receber seu
irmão, missionário Daniel Berg e conhecer toda a história da novel
igreja, bem como os testemunhos da ação do Espírito Santo, se interessou
e, desde então, deu-se início às Assembleias de Deus em Jundiaí.
Depois de décadas, a igreja precisou de
alteração de seus rumos, o que ocorrera após pastor Cícero Canuto de
Lima assumir a AD em São Paulo, em 1946. Fora designado para Jundiaí,
pastor Juvenal Roque de Andrade. Este paraense pastoreou a AD em Porto
Velho de 1939 a 1943 e, no ano seguinte, plantou a obra em Cáceres (MT) e
Campo Grande (MS).
As buscas por autonomia criou ambientes
de hostilidades na igreja e isso vez com que pastor Cícero enviasse à
cidade, para acabar com a divisão e integrar a todos a um só grupo,
pastor Carlos Assumpção. O pastor seguinte, a partir de 1952 e
proveniente de Pompéia, região de Marília (SP), foi Antônio Simões.
Com a necessidade de pastor Antônio
Simões afastar-se, a igreja passou por novo período de luta. Foi então
que em 1954, pastor Cícero enviou para a cidade o pastor de Campo Grande
(MS), Alfredo Rudzit.
Homem atualizado e desprendido
Elyseu Queiroz nasceu em Água Branca
(atual Delmiro Gouveia) em Alagoas. Casou-se com Eunice Cavalcante de
Souza Queiroz, já falecida, com quem teve cinco filhos: Sérgio, Joel,
Jaziel, Elizabete e Rubens.
Mesmo quando estava com quase 90 anos e
jubilado, praticava exercícios com caminhadas de até cinco quilômetros,
duas ou três vezes por semana.
Dirigiu a igreja em Jundiaí durante 35
anos e depois fez algo que causou admiração em todo o Estado de São
Paulo, pois há pastores que estando como estou não entregam o trabalho.
Só depois de morrer. Depois é aquela dor de cabeça, pois cada um quer
tomar a igreja. Eu fiz diferente. Vi que pastor Esequias Soares da Silva
era um moço inteligente e o preparei. Depois fui ao pastor José
Wellington e falei da minha vontade de passar a igreja ao pastor
Esequias. Eu quero continuar cooperando e orientando. Hoje eu fico
contente porque o trabalho tem florescido.
O corpo do pastor foi velado no templo-central da AD em Jundiaí e
enterrado na manhã desta terça-feira no cemitério Parque dos Ipês.
cpadnews
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