16 fevereiro 2012

O Perigo de querer barganhar com Deus
 Lição 8 - 19/02/2012

Texto Áureo: Sl. 116.12 – Leitura Bíblica: Mt. 4.1-11
 O assunto desta lição diz respeito a algumas distorções promovidas por falsos mestres no que diz respeito ao buscar as bênçãos de DEUS e o SEU poder. Para que haja um correto relacionamento entre DEUS e o Seu povo, se faz necessário que este povo tenha a correta dimensão de quem ELE é; deve conhecê-LO “Assim diz o Senhor: ‘Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o Senhor” (Jr 9:23, 24a).
Conhecer a DEUS é uma questão pessoal, como acontece com qualquer relacionamento humano. Conhecê-LO é mais que obter conhecimento sobre ELE; é relacionar-se com ELE enquanto se revela a você; é ser dirigido por ELE à medida que toma conhecimento de você. Conhecê-LO é uma precondição para confiar NELE. É uma questão de envolvimento pessoal que abrange a mente, vontade e os sentimentos. Caso contrário, não seria um relacionamento completo de fato. Conhecer a DEUS também é uma questão de graça. Trata-se de um relacionamento cuja iniciativa pertence completamente a DEUS — como deve ser mesmo, pelo fato dELE estar tão acima de nós e de termos perdido totalmente qualquer direito a SEU favor por causa de nossos pecados. Nós não fazemos amizade com DEUS; ELE se torna nosso amigo levando-nos a conhecê-LO e tornando SEU amor conhecido por nós. Conhecê-LO evita que você utilize formas espúrias ao buscá-LO, pois a razão de toda a existência é reconhecer a SUA glória e glorificá-LO. “Todas as tuas obras te louvarão, ó SENHOR, e os teus santos te bendirão. Falarão da glória do teu reino, e relatarão o teu poder” (Sl 145:10-11)
No breve catecismo de Westminster, a pergunta “O que DEUS é?” tem a seguinte resposta: “DEUS é Espírito, infinito, eterno e imutável em seu SER, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade”. ELE é o SER SUPREMO, único, criador e sustentador do universo. É espírito pessoal e subsiste em três pessoas ou distinções: Pai, Filho e Espírito Santo. É santo, justo, amoroso e perdoador dos que se arrependem. Daí vem à razão da existência humana: A glória de Deus! Por que o homem está sobre a terra? Por que DEUS se preocupou em redimi-lo? Qual o propósito da vida? Como é que toda a Criação — hoje tão corrompida e deformada — vai terminar, afinal? Para a glória de Deus. Rm 11:36: “Porque dele, por meio dele, e para ele são todas as cousas. A glória pois, a ele eternamente. Amém” devemos glorificar a DEUS porque ELE fez todas as coisas para render-LHE glória. Pv 16:4 diz: “O Senhor fez tudo para um fim”. Fez todas as coisas para que falem de SUA glória, para que irradiem SUA glória — tudo. A Criação demonstra os SEUS atributos, SEU poder, SEU amor, SUA misericórdia, SUA sabedoria, SUA graça. E toda a Criação rende glória a ELE. As estrelas - “Os céus declaram a glória de Deus…” (Sl 19:1). Os animais - “Os animais do campo me honrarão…” (Is 43:20). Os anjos - por ocasião do nascimento de CRISTO os anjos cantaram “Glória a Deus nas alturas…” (Lc 2:14).
Se as coisas abaixo do homem na ordem da Criação glorificam a DEUS, poderemos fazer menos do que dar a glória devida ao SEU nome?
A primeira forma de se glorificar a DEUS é receber JESUS como SALVADOR. Em seguida é viver para glorificá-LO, colocando como alvo este propósito supremo. Você jamais glorificará a DEUS na sua vida até que se proponha a isto. ICo 10:31 abrange um território bem lato: “Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus”. Até coisas materiais corriqueiras, como comer e beber, devem ser feitas para a glória de DEUS. Nosso SENHOR disse: “Eu não busco a minha própria glória (mas a glória daquele que me enviou)”(Jo 8:50). Noutras palavras: “Vivo para trazer-Lhe glória, para irradiar Seus atributos. Vivo para adornar a doutrina de Deus. Vivo para exaltar a Deus aos olhos do mundo. É o propósito de minha vida”. O primeiro princípio para se ter como alvo a glória de DEUS é o sacrificar o eu e a própria glória.
Os ensinos hipócritas dos “mestres da prosperidade” tentam roubar a glória de Deus. “Quero um pouquinho da glória para mim mesmo”, pensam eles. Ensinam a barganhar com DEUS para obter vantagens duvidosas e glórias humanas, utilizando-se da fé “para ter” em detrimento da fé “para viver”. Utilizam-se da Palavra de DEUS de forma descontextualizada para, como se pudessem, chantagear a DEUS. A soberania de Deus é a Doutrina que afirma que DEUS é supremo, tanto em governo quanto em autoridade sobre todas as coisas. Nos círculos dos “ensinos da fé”, ela não é levada muito a sério. Verbos como exigir, decretar, determinar, reivindicar freqüentemente substituem os verbos pedir, rogar, suplicar etc.
-Não ore mais por dinheiro… exija tudo o que precisar (Kenneth Hagin citando Jesus, How God Taught Me about Prosperity, p. 17).
-Deus quer que seus filhos usem a melhor roupa. Ele quer que eles dirijam os melhores carros e quer que eles tenham o melhor de tudo… simplesmente exija o que você precisa (Kenneth Hagin, New Thresholds of Faith, 1985, p. 55).
Esses falsos profetas têm levado muitos crentes incautos a um relacionamento irreverente com DEUS. Cria, nas igrejas, uma linha de pensamento que reduz a imagem e a glória de DEUS à imagem de mero homem corruptível.
O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão sobre nosso relacionamento com DEUS e o perigo de se tentar barganhar com ELE. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.

PRESSUPOSTOS DA “TEOLOGIA DA BARGANHA”
Segundo a falsa doutrina do direito legal, todas as bênçãos, materiais e espirituais pertencem a nós por direito eterno de filiação, alcançados por meio da salvação em CRISTO JESUS. Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo. Pedir favor ao Pai estaria errado; deveríamos reivindicar nossos direitos.
Tudo o que nas Escrituras entendemos por graça e dom de Deus para com os homens, eles entendem como registros de direitos. As leis espirituais devem ser compreendidas para serem requeridas, dizem eles. A fé é o instrumento de controle das referidas leis, que estão à disposição do homem para ser usada, obrigando DEUS a fazer a sua vontade, baseado na idéia de que a fé é um poder que se pode utilizar a fim de influenciar DEUS. O ser humano não recebe favor divino, mas as bênçãos vêm por direito legal.
-“Precisamos compreender que há leis que regem cada coisa que existe. Nada se dá por acidente. Há leis do mundo espiritual e leis do mundo natural… Precisamos compreender que o mundo espiritual com suas leis são mais poderosos do que o mundo físico com suas leis. Leis espirituais geram leis físicas. O mundo e as forças físicas que o regem foram criados pelo poder da fé; uma força espiritual… é esta força da fé que ativa as leis do mundo espiritual… A mesma regra aplica-se à prosperidade da Palavra de Deus. A fé faz com que elas atuem” (Kenneth Copeland em “Laws of Prosperity, 1985, páginas 18/20)
Segundo Kenneth Copeland, as leis do mundo físico não foram criadas por Deus nem são por ele gerenciadas, mas mediante poder impessoal chamado “lei espiritual”. Interpretando Copeland, é esta força da fé que ativa as leis do mundo espiritual, logo a criação não veio pelo poder da Palavra de Deus, mas da fé! Criam-se as seguintes dúvidas: Fé do Criador? Deus tem fé em quê e em quem? Que tipo de fé “ativa” as leis espirituais? Nada mais confuso e mais absurdo que isso. A idéia de que, pelo recurso da fé, todos tenham direito à saúde, prosperidade e à felicidade estão resumidas nas frases triunfalistas e reivindicatórias proferidas nos cultos, orações, pregações e ensinos: TOMA POSSE DA BÊNÇÃO! EU EXIJO! EU NÃO ACEITO! EU QUERO!
Estes falsos mestres acreditam que existam forças, leis e influências autônomas no universo aos quais todos devem se submeter, inclusive DEUS. O que muitos no mundo exotérico chamam de poder mental, os mestres da prosperidade chamam de fé. Na Teologia da Prosperidade fé não é depender totalmente do caráter de DEUS, mas “chamar realidade a existência”. A fé não é depositada em DEUS, mas em um poder dirigido a DEUS que O força a fazer o que se deseja que ELE faça. Acreditam, os defensores deste pensamento, que DEUS está preso às SUAS promessas e que ELE não tem escolhas, senão fazer o que prometeu. Já soube de orações proferidas, diante de toda a congregação, nos seguintes termos: - “…DEUS, ninguém mandou prometer, se prometeu agora tem que cumprir!”
Diante desta situação herética, o homem é deificado, DEUS humanizado e aprende-se que, ao estalar dos dedos, ELE corre para nos atender. Estas práticas, comuns em algumas igrejas evangélicas, estão fermentadas de feitiçaria, pois tudo que tenta controlar DEUS ou manipulá-lo é de cunho idolátrico. Frases, sentenças ou ordens não tem poder de realização sem a aprovação soberana de DEUS. Sem a SUA aprovação o homem pode ordenar, decretar ou amarrar que o esforço será inútil, nenhuma realidade será alterada.
A verdadeira fé pode ser definida como uma confiança inabalável no caráter de DEUS, que vem de um relacionamento dinâmico com ELE. Fé tem muito a ver com nossa confiança na misericórdia de DEUS, que não nos dá o que merecemos (infelicidade, morte e inferno) e dependência da graça que nos presenteia com o que não somos dignos.
“Ensina-nos, bom SENHOR, a servir-te como tu mereces, a dar sem contar os custos, a lutar e não ver as feridas, a trabalhar sem buscar descanso, a esforçar-nos e não querer prêmio a não ser o de fazermos tua vontade” Inácio de Loyola.

O PERIGO DE BARGANHAR COM DEUS

O estudo da natureza de DEUS e das suas relações com o universo nos mostra que Ele é imanente e transcendente ao mundo. Isto significa que DEUS está unido ao mundo que criou, mas dele se distingue como realidade independente. Sendo a causa primeira de tudo o que existe, DEUS é imanente pela sua presença contínua e atuante, pois os seres existem e subsistem pela influência constante do SEU poder criador e providencial. Essa imanência não deve ser entendida como identificação com o mundo, o que seria incidir no erro panteísta.
A imanência ou presença divina não exclui a transcendência, isto é, a absoluta independência de DEUS do universo e o seu absoluto domínio sobre todas as coisas. O exame da natureza e atributos divinos nos leva à conclusão de que DEUS, sendo um SER infinito, substancialmente distinto do universo que criou, conserva e dirige, é um SER pessoal, isto é, dotado de uma personalidade autônoma, inteligente e livre, e que, pela SUA misericórdia, nos criou para um relacionamento pessoal com ELE.
A Bíblia registra no livro de I Samuel a conseqüência de um relacionamento utilitário, irreverente e desonroso para com DEUS; a perda de SUA presença. Os filhos de Israel, no tempo em que Eli era sumo-sacerdote, não buscavam ao Senhor para adorá-lo. Quase ninguém mais ia a Siló, onde estava o tabernáculo. As pessoas não estavam interessadas em ir à casa do SENHOR e buscar sua face, nem tampouco em louvá-lo, mas na hora do aperto quiseram fazer da presença de DEUS um amuleto que resolveria seus problemas. Israel saiu à batalha e foi derrotado pelos filisteus (I Sm. 4:1-3).
Com medo de serem novamente derrotados, mandaram buscar a arca de DEUS e a trouxeram ao campo de batalha: Note que até os filisteus ficaram com medo da arca, pois eles, na condição de gentios pagãos, também acreditavam na força dos amuletos. E isto mostra que os filhos de Israel já haviam adotado esta forma mundana de pensar. Para esta geração, DEUS já não era o Criador e Sustentador de todas as coisas; já não era o Salvador de seu povo; já não era aquele que é digno de honra e glória. Seu tabernáculo estava abandonado em Siló; as pessoas já não iam à sua presença para reverenciá-Lo e declararem seu amor, confiança e dependência. DEUS se tornara para aquela geração algo a ser lembrado apenas na hora da necessidade.
Mesmo na hora da necessidade os israelitas não buscaram a presença do Senhor; apenas “mandaram buscar” a arca, pois os que fazem de DEUS um “resolve - tudo” nem sequer se dão ao luxo de buscá-Lo. Querem que ELE venha resolver seus problemas sem que façam o mínimo de esforço! Resultado: clamorosa derrota. Nossa geração precisa aprender a temer e amar ao SENHOR, em vez de querer tratá-LO como empregado. A geração de Eli não buscou ao SENHOR, antes fez D’ELE apenas um “resolvedor de encrencas”, e por isto perderam sua presença: Eles perderam a presença do Senhor! Esta perda foi algo tão terrível, que a nora de Eli sofreu mais com ela do que com a morte do sogro e do marido. Em nossos dias a Igreja vive este perigo. Estamos deixando de adorar ao SENHOR pelo que ele é, e estamos buscando-O, com o agravante da forma, somente pelo que ELE faz.
Isto nos faz parecer com os seguidores de Satanás! O diabo não tem seguidores pelo que ele é, pois ele nada é! As pessoas pactuam com ele e o servem em troca de algo; querem fama, fortuna, etc. e pagam com sua alma por isso, mas não vêem na pessoa do diabo nada atrativo, apenas em sua proposta. E qual é o modelo bíblico daqueles que servem a DEUS? Jó declarou depois que sua mulher lhe pediu que amaldiçoasse seu DEUS e morresse: - “Ainda que Ele me mate, eu o louvarei”! Aleluia! É de gente assim que o reino de DEUS necessita hoje - pessoas que aprendam a honrá-LO e busca-LO pelo que Ele é, e não só pelo que Ele faz. Isto não quer dizer que não podemos buscar o que DEUS faz, e sim que não devemos esquecer o que ELE é e nem jamais perder esta ênfase!

CONCLUSÃO
 
O perigo de barganhar com DEUS, consequencia inevitável na prática da Teologia da Prosperidade, é que a soberania de DEUS é deixada de lado. A maior parte do ensino é direcionada a “como desenvolver sua fé” a fim de que você possa receber sua herança de DEUS. “Você tem direitos legais como um filho de Deus; reclame esses direitos” dizem seus mestres. Se uma pessoa não tiver “fé” suficiente ela não receberá. Precisamos de fé e confiança em DEUS. Mas o que mais agrada a Deus é quando descansamos nos braços de um PAI amoroso, e não quandoconfessamos as Escrituras com base no “você pode fazer isto acontecer”. Creio que ao se barganhar com DEUS, estamos exaltando mais o homem do que o SENHOR JESUS CRISTO, construindo mais o reino de homens do que o reino de DEUS. Há um espírito de orgulho do “que eu posso fazer em nome de JESUS”.
Quando descansamos em SEUS braços, usufruímos os resultados do maravilhoso amor de Deus na qualidade de seus filhos. É uma alegria imensa sabermos que DEUS é nosso PAI. Não é apenas o grande DEUS, lá nas distantes alturas, mas também o DEUS que está perto e nos ama. Podemos nos achegar a ELE como podemos ir ao nosso pai humano e saber que se nós lhe pedirmos (e não ordenarmos) pão, Ele não nos dará uma pedra, porque ELE nos ama.
Somos SEUS filhos. Ele prometeu que somos co-herdeiros com JESUS CRISTO, SEU FILHO. Tudo que ELE tem preparado para CRISTO, será também compartilhado por nós, com muita humildade e reverência!
Seria muito oportuno citar aqui as palavras de Charles R. Swindoll, pastor da Primeira Igreja Evangélica Livre de Fullerton, Califórnia, EUA: Falando de forma geral, há dois tipos de testes na vida: a adversidade e a prosperidade. Dos dois, o último é o mais difícil. Quando a adversidade chega, as coisas se tornam simples; o alvo é a sobrevivência. E o teste de manter o básico, como comida, roupa e moradia. Mas quando a prosperidade chega, cuidado! As coisas se complicam. Todos os tipos de tentações sutis chegam também, exigindo satisfação. E em tal circunstância que a integridade da pessoa é colocada à prova.
Concluindo, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão difícil tema e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.
Subsídio para o Professor 
INTRODUÇÃO
A Teologia da Ganância está fundamentada na relação de causa e efeito, isto é, na possibilidade do ser humano barganhar com Deus. Na aula de hoje, destacaremos essa impossibilidade, tendo em vista a graça de Deus, que desconstrói essa relação de troca. No início, mostraremos que a Bíblia, como Palavra de Deus, condena a barganha com Deus, em seguida, que esse tipo de ensinamento é perigoso por desconsiderar o favor imerecido de Deus.

1. A BÍBLIA CONDENA A BARGANHA COM DEUS
A Bíblia é susceptível à construção de qualquer doutrina, ela pode ser usada para fundamentar qualquer posicionamento humano. Ao longo da história, ela foi usada para justificar o extermínio de pessoas, o preconceito contra os negros, entre outros descalabros. A Bíblia é a Palavra de Deus, mas precisa ser lida com sinceridade e responsabilidade, sobretudo com disposição para ouvir o que o Senhor tem a dizer (Ap. 2.7,11). O texto bíblico precisa ser considerado em sua inteireza, e contextualizado, dentro de uma revelação específica para determinado tempo, avaliando as possibilidades para a sua aplicação, tendo como crivo o evangelho de Cristo (Lc. 11.52). Tal como os amigos de Jó, muitos defendem, nos dias atuais, que as adversidades pelas quais muitos cristãos passam advêm de pecado, como também acreditavam os discípulos de Jesus (Jo. 9.1). O próprio Diabo acreditava que Jó se distanciaria de Deus se viesse a perder o que possuía (Jó. 1.6-12; 2.1-10), não são poucos que, como Elifaz, Zofar e Bildade querem fazer o mesmo. O Tentador também barganhou com Cristo quanto o Senhor foi tentado no deserto, prometendo-LHE as glórias desta era, caso se prostrasse e o adorasse (Mt. 4.8-10). A barganha é sempre uma doutrina satânica, respaldada pela religiosidade humana, o evangelho de Cristo é escândalo para o mundo e para a religião, pois Cristo morreu justamente pelos que não mereciam (II Co. 10.2). A base desse evangelho é o amor, revelado no agape, na disposição de Deus de entregar Seu Filho para que todos os que nEle creem tenham a vida eterna (Jo. 3.16).

2. OS ARTIFÍCIOS PERIGOSOS DA BARGANHA COM DEUS
A doutrina da barganha com Deus é perigosa porque condiciona a operação de Deus às atitudes humanas. O ser humano é posto diante de leis e decretos que são considerados infalíveis. A famosa expressão “toda ação resulta em uma reação” é amplamente usada pelos adeptos da barganha. Essa lei se aplica aos valores seculares, mundo, às trocas empresariais, mas nada tem a ver com o relacionamento do homem com Deus, não deve ser imitada pela igreja do Deus Vivo. Cristo é a verdade que liberta (Jo. 8.32-36), e, por causa dEle, nenhum ritual religioso pode restringir a graça (Cl. 2.16-23). A barganha perdeu toda e qualquer razão de ser, pois, na cruz, a cédula foi rasgada, não existe mais débito (Cl. 2.14,15). Nos primórdios da igreja cristã a doutrina da barganha adentrou as igrejas da Galácia. Paulo reconheceu o perigo daquele ensinamento, por isso escreveu urgentemente àquelas igrejas (Gl. 1.1-13). A circuncisão, naquelas comunidades, é o exemplo de lei que se impõe como entrave à manifestação da graça de Deus. Paradoxalmente, em Cristo não existe mais lei, senão a do amor, o fruto que em nos opera para a vida, não para a morte (Gl. 5.21,22). Aqueles que se fiam na lei não agem com amor, apenas conseguem impor sobre os outros as suas interpretações, suas neuroses, concretizada em perseguições, tal como fez Paulo, quando adepto do farisaísmo (Fp. 3.4,6; I Tm. 1.13).

3. BARGANHA É O ESTELIONATO DA GRAÇA DE DEUS
A barganha com Deus é um estelionato contra a graça de Deus, ela nega o princípio maior da ética do evangelho. A religiosidade fundamentada na competitividade leva às pessoas a quererem ser sempre uma melhores do que as outras. Tal como Caim, somos levados a medir constantemente as atitudes dos outros pelas nossas, inclusive no que tange à espiritualidade, impossibilitando a operação do amor de Deus (I Jo. 3.11-13). As pessoas que se fiam na barganha com Deus vivem sempre amedrontadas, não conseguem desfrutar da plena liberdade que há em Cristo (Gl. 5.13-16). É bem verdade que o homem ceifará o que semear, mas isso somente na dimensão da lei, pois, na graça, a ética é respaldada pelo amor. É o amor de Deus que nos constrange a fazer o bem (Gl. 6.9-10), como expressava Agostinho, “amemos a Deus e podemos fazer o que quisermos”. Os dividendos dessa condição existencial será para a eternidade, reconhecimento divino do nosso desprendimento (II Co. 9.7-11). As atitudes cristãs, inclusive a contribuição, é uma extensão da atuação graciosa de Deus. Os adeptos da Teologia da Ganância, no entanto, transformam essa ética em práticas legalistas. O objetivo central desses é o acúmulo de bens, a fim de viverem regaladamente, enquanto os pobres da igreja padecem necessidade. Mas o julgamento de Deus sobrevirá sobre eles, pois, conforme já antecipou Pedro, esses “farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita." (II Pe. 2.3)

CONCLUSÃO
O Jesus pregado pelos Teólogos da Ganância nada tem a ver com Aquele revelado nas Escrituras. Mais que isso, conforme revela Paulo aos coríntios, se trata de outro espírito e de outro evangelho (II Co. 11.1-4). A doutrina da barganha defendida por tais pregoeiros é perigosa porque põe em questão a manifestação escandalosa da graça de Deus através da cruz de Cristo (I Co. 2.14; 3.19). O relacionamento do crente com Deus, e com o próximo, se fundamenta não na misericórdia e na graça, mas na troca de favores, que nada tem a ver com o genuíno evangelho (I Co. 13).

BIBLIOGRAFIA
FABIO, C. Sem barganhas com Deus. São Paulo: Fonte Editorial, 2005.
GONÇALVES, J. A prosperidade à luz da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário