17 setembro 2007

Um lençol branco na calçada

São 9h da manhã de 10.07.2007 e uma senhora telefona para o serviço social da prefeitura de Fortaleza.

É que existe um mendigo passando mal bem em frente à sua casa.

A senhora está muito, muito aflita e quase grita ao telefone para que venham pegar o homem e levá-lo ao hospital - com urgência.

São 17h e agora existe muita gente em volta do mendigo. Fotógrafos, gente da imprensa e - pior dos mundos: um carro do IML, o famoso e terrível "rabecão".

O mendigo está morto e é coberto com um lençol branco cedido pela dita senhora que estava aflita e clamando por socorro ao pobre do homem.

Eu vinha do banco e, ao passar por perto, me dei conta da multidão e, sobretudo, dos gritos de protesto da gentil senhora que tanta clamara por ajuda ao homem. A mulher berrava e denunciava o descaso das autoridades públicas. Como deixaram isso acontecer? Por que não vieram socorrer o pobre mendigo? Por que tanto descaso com a vida humana. Se fosse alguém importante, deixado numa calçada qualquer, não teria vindo alguém? Várias perguntas e coisas mais dizia a mulher - com razão, total.

Este homem não tem nome, não tem família, não tem parentes, não tem nada - exceto os gritos lacinantes por socorro que vieram de uma desconhecida que mora em frente a ele - o mendigo. Fixei o olhar no homem e senti toda a tristeza do mundo. Mais uma vida que se esvaiu pela total e completa negligência de um outro hu-mano. Irresponsabilidade de um serviço que, de social, nada tem - tampouco terá, nunca!

A prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), adotou um slogan para sua administração "Fortaleza Bela"! Verdade seja dita, esta senhorinha, até agora, nada disse a que veio. Pior: está sendo processada pelo Ministério Público local devido a gastos exorbitantes quando da festa do Reveillon de 2007. Gastou demais e não tem como justificar...

Volto ao mendigo que já não há, pois o rabecão o levou - para sempre. Fico, na calçada, olhando o mundo e sentindo um desgosto por tudo, uma imensa tristeza, um abissal vazio. A vida é breve - curta demais.

Podia ser diferente: tivesse alguém atendido àquele telefonema da gentil senhora, às 9h da manhã, nosso mendigo ainda estaria contando as moedinhas do dia, ao final de mais um dia de vida - às 17h. Porca-miséria de vida. Porca-miséria de uma cidade (Fortaleza) que teima em ser metrópole, quando não passa de uma provinciazinha insignificante e governada por gente da mais alta incompetência e irresponsabilidade.

Um lençol branco ficou caido ao chão; um corpo estará debaixo deste último - amanhã.

Paulo César Sampaio - pastor
Skype: pcesarsampaio



Lamento, que nosso país é assim mesmo e não tenho nenhuma ilusão de achar que um dia ele melhorará...

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