O teólogo Walter Elwell resume o debate sobre a extensão da
expiação desta forma: “Embora haja variações quanto aos modos básicos em que
este assunto pode ser abordado, as escolhas resumem em duas: ou a morte de
Cristo foi pretendida para assegurar a salvação para um número limitado ou a
morte de Jesus foi pretendida para prover salvação para todos. A primeira
concepção é algumas vezes chamada ‘expiação limitada’ pois Deus limitou o
efeito da morte de Cristo a um número específico de pessoas eleitas, ou
‘redenção particular’ pois a redenção foi para um grupo particular de pessoas.
A segunda concepção é algumas vezes referida como ‘expiação ilimitada’ ou
‘redenção geral’ pois Deus não limitou a morte redendora aos eleitos, mas
permitiu que ela fosse para a humanidade em geral.”
EXPIAÇÃO LIMITADA
Definição da Expiação Limitada: “Uma referência à concepção
que a morte expiatória de Cristo foi apenas para os eleitos.”
Louis Berkhof diz: “A posição reformada é que Cristo morreu
com o propósito de real e seguramente salvar os eleitos, e somente os eleitos.
Isto equivale a dizer que Ele morreu com o propósito de salvar somente aqueles
a quem Ele de fato aplica os benefícios da Sua obra redentora.”
Passagens Típicas Oferecidas em Apoio à Expiação Limitada
Mt 1.21: “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS;
porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.”
Mt 20.28: “…o Filho do homem não veio para ser servido, mas
para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.”
Mt 26.28: “Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo
testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados.”
Jo 10.15: “…e dou a minha vida pelas ovelhas.”
At 20.28: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre
que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de
Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.”
Ef 5.25: “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também
Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela.”
Hb 9.28: “Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para
tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o
esperam para salvação.”
Jo 15.13: “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém
a sua vida pelos seus amigos.”
Argumentos Levantados em Favor da Expiação Limitada
A Bíblia fala de uma extensão limitada da expiação.
A Bíblia diz que Cristo morreu por um grupo específico de
pessoas – “a igreja,” “Seu povo,” “Suas ovelhas.”
Louis Berkhof diz: “A Escritura qualifica repetidamente
aqueles pelos quais Cristo entregou Sua vida de tal maneira que indica uma
limitação muito definida. Aqueles por quem Ele sofreu e morreu são variadamente
chamados Suas ‘ovelhas’, ‘minhas ovelhas’, Jo 10.11, 15, 26; Sua ‘igreja’, At
20.28; Ef 5.25-27; ‘o seu povo’, Mt 1.21; e ‘os eleitos’, Rm 8.32-35.”
Visto que os eleitos foram escolhidos antes da fundação do
mundo, como pode ser dito honestamente que Cristo morreu por todos os homens?
Em outras palavras, como poderia Cristo tencionar aquilo que em virtude de Sua
onisciência Ele sabia que nunca viria a acontecer?
O estudioso reformado Charles Hodge explica o problema desta
forma: “Se Deus desde a eternidade determinou salvar uma parte da raça humana e
não outra, parece ser uma contradição dizer que o plano de salvação teve igual
referência a ambas as partes; que o Pai enviou seu Filho para morrer por
aqueles que Ele tinha predeterminado não salvar, verdadeiramente , e no mesmo
sentido que Ele O entregou para aqueles que Ele tinha escolhido para fazer os
herdeiros da salvação.”
O argumento parece ser que “teria sido um desperdício e uma
falta de previsão da parte de Deus enviar Cristo para morrer por aqueles que
Ele não tinha escolhido para salvação.”
É argumentado que a natureza da redenção é tal que, “quando
paga e aceita, ela automaticamente liberta as pessoas por quem ela foi
pretendida. Nenhuma obrigação adicional pode ser exigida deles. Agora, se a
morte de Cristo foi um resgate para todos igualmente, e não somente para os
eleitos, então deve ser o caso que todos são libertos pela obra do Espírito
Santo.”
Alguns defensores da expiação limitada dizem que Cristo
seria derrotado se Ele morreu por todos os homens e todos os homens não se
salvam.
Se Cristo morreu por todas as pessoas, como os defensores da
expiação ilimitada dizem, então Deus seria injusto se enviasse pessoas ao
inferno por causa de seus próprios pecados.
É argumentado que “nenhum tribunal permite que o pagamento
seja exigido duas vezes pelo mesmo crime, e Deus não faria isto também.”
Cristo pagou pelos pecados dos eleitos; os perdidos pagam
por seus próprios pecados.
Visto que Cristo não orou por todos em Sua Oração Sacerdotal
em João 17, mas somente pelos Seus, Cristo não deve ter morrido por todos.
É argumentando que visto que a intercessão é limitada na
extensão, a expiação também deve ser.
Como Louis Berkhof coloca, “Por que limitaria Ele a Sua
oração intercessória, se de fato pagou o preço por todos?”
Na Idada Média, estudiosos como Próspero de Aquitaine,
Thomas Bradwardine, e John Staupitz ensinaram a expiação limitada. É alegado
que, ainda que João Calvino não ensinou explicitamente a doutrina, ela aparece
implícita em alguns de seus escritos. Os sucessores de Calvino então fizeram a
expiação limitada explícita e a incluíram nas confissões de fé reformadas como
os Cânones de Dort e a Confissão de Fé de Westminster.
Embora termos como “todos,” “mundo,” e “todo aquele que” são
usados na Escritura em referência àqueles por quem Cristo morreu (por exemplo,
Jo 3.16), os termos devem ser entendidos como fazendo referência aos eleitos.
Em outras palavras:
“Todos” refere-se a “todos os eleitos” ou “todas as classes
de homens (judeus e gentios).”
Louis Berkhof diz “a palavra ‘todos’ algumas vezes tem um
sentido restrito na Escritura, denotando todos de uma classe particular, 1Co
15.22; Ef 1.23, ou todas as espécies de classes, Tt 2.11.”
O que a Bíblia quer dizer quando ela diz que Cristo é o
“Salvador de todos os homens”? Charles Hodge responde: “O que quer dizer é que
Ele é nosso Salvador, o Salvador dos homens antes que dos anjos, não dos judeus
exclusivamente nem dos gentios apenas, não dos ricos ou dos pobres apenas, não
dos justos apenas, mas também dos publicanos e pecadores….”
“Mundo” refere-se ao “mundo dos eleitos” ou a “pessoas sem
distinção (judeus e gentios).”
Louis Berkhof diz que a posição da expiação ilimitada é
baseada “no infundado pressuposto de que a palavra ‘mundo’… significa ‘todos os
indivíduos que constituem a raça humana.’…Quando é empregado com referência aos
homens, nem sempre inclui todos os homens, Jo 7.4; 12.19; 14.22; 18.20; Rm
11.12, 15.”
Berkhof também diz: “Há passagens que ensinam que Cristo
morreu pelo mundo… Nas passagens referidas ela pode simplesmente servir para
indicar que Cristo morreu, não meramente pelos judeus, mas pelas pessoas de
todas as nações do mundo.”
Similarmente, a palavra “todo aquele que” é interpretado
como “todo aquele dos eleitos.”
Tais termos universais simplesmente mostram que Jesus morreu
por todos os homens sem distinção (isto é, todas as espécies de pessoas, e
pessoas de entre judeus e gentios), não que Jesus morreu por todos os homens
sem exceção (isto é, todo pecador perdido).
EXPIAÇÃO ILIMITADA
Definição de Expiação Ilimitada: “Uma referência à doutrina
que a morte redendora de Cristo foi para todas as pessoas.”
Passagens Típicas Oferecidas em Apoio à Expiação
Ilimitada
(Nota: Para que possam entender minha posição sobre estes
poucos versos, eu acrescentei algum texto e citações expositivas de vários
estudiosos bíblicos.)
Lc 19.10: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o
que se havia perdido.”
(O “perdido” parece referir-se ao mundo inteiro da
humanidade perdida, não apenas aos eleitos perdidos.)
Jo 1.29: “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para
ele, e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.’”
O que é o “mundo” aqui? O exegeta B. F. Westcott diz: “A
idéia fundamental de kosmos [mundo] em São João é a da soma dos seres criados
que pertence à esfera da vida humana como um todo ordenado, considerado à parte
de Deus… o mundo vem representar a humanidade em seu estado caído, alienado de
seu Criador.”
João Calvino diz deste verso: “Ele usa a palavra \’pecado\’
no singular para qualquer espécie de iniqüidade; como se ele tivesse dito que
toda espécie de injustiça que aliena os homens de Deus é retirada por Cristo. E
quando ele diz o pecado do mundo, ele estende este favor indiscriminadamente à
toda raça humana.”
Ryle similarmente afirma: “Cristo é… um Salvador para toda a
humanidade… Ele não sofreu por algumas pessoas apenas, mas por toda a
humanidade… O que Cristo retirou, e carregou na cruz, não foi o pecado de
certas pessoas apenas, mas a massa acumulada de todos os pecados de todos os
filhos de Adão… Eu defendo tão veementemente quanto qualquer um que a morte de
Cristo é proveitosa a ninguém a não ser os eleitos que crêem em Seu nome. Mas
eu não ouso limitar e reduzir tais expressões como esta que estamos lidando… Eu
não ouso confinar a intenção da redenção aos santos apenas. Cristo é para todo
homem… A expiação foi feita para todo o mundo, embora seja aplicada e
desfrutada por ninguém senão os crentes.”
Jo 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o
seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna.”
Os léxicos gregos são unânimes que “mundo” aqui denota a
humanidade, não o “mundo dos eleitos.”
Jo 3.16 não
pode ser separado dos versos 14-15, nos quais Cristo faz referência a Números
21 com sua discussão de Moisés levantando a serpente de metal no acampamento de
Israel, para que se “qualquer um” olhasse para ela, ele experimentaria
livramento físico. No verso 15 Cristo aplica a história espiritualmente quando
diz que “todo aquele que” crê no Filho do Homem levantado
experimente livramento espiritual.
João Calvino diz: “Ele empregou o termo
universal ‘todo aquele que,’ tanto para convidar todos indiscriminadamente para
participar da vida, quanto para eliminar qualquer desculpa dos incrédulos. Tal
é também a significação do termo ‘mundo’ que Ele anteriormente usou [Deus amou
o mundo de tal maneira]; pois embora nada seja encontrado no mundo que seja
digno do favor de Deus, todavia Ele se manifesta para ser reconciliado com o
mundo todo, quando Ele convida todos os homens sem exceção [não meramente ‘sem
distinção’] à fé de Cristo, que não é nada mais que uma entrada para a vida.”
Jo 4.42: “E diziam à mulher: ‘Já não é pelo
teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é
verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.’”
É certo que quando os samaritanos chamaram
Jesus “o Salvador do mundo,” eles não estavam pensando no mundo dos eleitos.
Da mesma forma, quando Jesus disse, “Eu sou a
luz do mundo” (Jo 8.12), Ele não estava pensando em Si mesmo, como a Luz do
mundo dos eleitos. “O sol no céu brilha sobre todos os homens, embora alguns,
em sua insensatez, pode escolher se recolher em cavernas escuras para fugir de
seus raios iluminadores.”
Quando Jesus chamou Seus discípulos de “a luz
do mundo” (Mt 5.14), Ele não queria dizer que eles eram a “luz dos eleitos.”
Da mesma forma, o “Salvador do mundo” em Jo
4.42 não pode ser limitado aos eleitos.
At 2.21: “E acontecerá que todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo.”
Rm 5.6: “Porque Cristo, estando nós ainda
fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.”
2Co 5.14-15: “Porque o amor de Cristo nos
constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos
morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si,
mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”
1Tm 2.3-4: “Porque isto é bom e agradável
diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham
ao conhecimento da verdade.”
1Tm 2.5-6: “Porque há um só Deus, e um só
Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo
em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.”
1Tm 4.10: “Porque para isto trabalhamos e
lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens,
principalmente dos fiéis.”
Tt 2.11: “Porque a graça de Deus se há
manifestado, trazendo salvação a todos os homens.”
Hb 2.9: “Vemos, porém, coroado de glória e de
honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da
paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.”
A palavra “todos” é melhor traduzida por
“cada.”
Henry Alford comenta: “Se for perguntado, por
que pantos (cada) antes que panton (todos), podemos seguramente dizer que o singular
exibe, muito mais fortemente do que a palavra plural, a aplicabilidade da morte
de Cristo a cada homem individual.”
2Pe 3.9: “O Senhor não retarda a sua
promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não
querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.”
1Jo 2.2: “E ele é a propiciação pelos nossos
pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.”
(Note a distinção entre “nossos” e “todo o
mundo.”)
1Jo 4.14: “E vimos, e testificamos que o Pai
enviou seu Filho para Salvador do mundo.”
Argumentos Levantados em Favor da Expiação
Ilimitada
Há certas passagens da Escritura que parecem
muito difícil encaixar dentro da estrutura da expiação limitada. Por exemplo:
Rm 5.6 diz: “Porque Cristo, estando nós ainda
fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios.”
Não faz muito sentido ler este verso como se
dissesse que Cristo morreu pelos ímpios dos eleitos.
Rm 5.18 diz: “Pois assim como por uma só
ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um
só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de
vida.”
Sobre este verso, João Calvino diz: “Ele faz
este favor comum a todos, pois é proposto a todos, e não porque na realidade
estendeu a todos [isto é, em sua experiência]; pois embora Cristo sofreu pelos
pecados de todo o mundo, e é oferecido pela benignidade de Deus
indiscriminadamente a todos, todavia todos não O recebem.”
Sobre as duas ocorrências da frase “todos os
homens,” E. H. Gifford comenta: “As palavras todos os homens [no v. 18] devem
ter a mesma extensão em ambas as frases.”
1Jo 2.2 diz: “E ele é a propiciação pelos
nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.”
Uma leitura natural deste verso, sem impor
pressuposições teológicas nele, parece apoiar a expiação ilimitada.
Is 53.6 diz: “Todos nós andávamos desgarrados
como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre
ele a iniqüidade de nós todos.”
Este verso não faz sentido a menos que seja
lido que o “todos” que andaram desgarrados é o “todos” por quem o Senhor
morreu.
“Na primeira destas afirmações, a apostasia
geral dos homens é declarada; na segunda, o desvio particular de cada um; na
terceira, o sofrimento expiatório do Messias, que é dito ser em favor de todos.
Como o primeiro ‘todos’ é verdadeiro de todos os homens (e não apenas dos
eleitos), julgamos que o último ‘todos’ tem relação com o mesmo grupo.”
O teólogo Millard Erickson comenta: “Esta
passagem é especialmente poderosa de um ponto de vista lógico. É claro que a
extensão do pecado é universal; é especificado que todos nós pecamos… É difícil
ler esta passagem e não concluir que, como todos pecam, por todos também é
feito expiação.”
1Tm 4.10 diz: “…esperamos no Deus vivo, que é
o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis.”
Há uma clara distinção aqui entre “todos os
homens” e “os fiéis.”
Erickson nota que “aparentemente o Salvador
fez algo por todas as pessoas, embora seja menos em grau do que ele tem feito
pelos que crêem.”
Em 2Pe 2.1, parece que Cristo ate pagou o
preço de redenção por falsos mestres que O negam: “E também houve entre o povo
falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão
encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou,
trazendo sobre si mesmos repentina perdição.” Millard Erickson nota que “2Pe
2.1 parece apontar mais claramente que pessoas por quem Cristo morreu podem se
perder… há uma distinção entre aqueles por quem Cristo morreu e aqueles que são
finalmente salvos.”
Jo 3.17 diz: “Porque Deus enviou o seu Filho
ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por
ele.”
Sobre este verso João Calvino diz: “Deus não
deseja que sejamos oprimidos com destruição eterna, pois Ele ordenou que Seu
Filho fosse a salvação do mundo.”
Calvino também afirmou: “A palavra ‘mundo’ é
novamente repetida, para que ninguém possa pensar de si mesmo como totalmente
excluído, se ele somente mantém a estrada da fé.”
Muitas passagens indicam que o Evangelho deve
ser universalmente proclamado, e isto apóia a expiação ilimitada.
Mt 24.14: “E este evangelho do reino será
pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.”
Mt 28.19: “Portanto ide, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.”
At 1.8: “Mas recebereis a virtude do Espírito
Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém
como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.”
At 17.30: “Mas Deus, não tendo em conta os
tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que
se arrependam.”
Tt 2.11: “Porque a graça de Deus se há
manifestado, trazendo salvação a todos os homens.”
Em virtude de tais passagens, é legítimo
perguntar: “Se Cristo morreu somente pelos eleitos, como pode a oferta de
salvação ser feita a todas as pessoas sem que alguma espécie de insinceridade,
artificialidade, ou desonestidade esteja envolvida? Não é impróprio oferecer
salvação a todos se de fato Cristo não morreu para salvar todos?”
“Como Deus pode autorizar Seus servos a
oferecer perdão aos não-eleitos se Cristo não o comprou para eles? Este é um
problema que não incomoda aqueles que crêem na Redenção Geral [Ilimitada], pois
é mais razoável proclamar o Evangelho a todos se Cristo morreu por todos.”
Aqueles que negam a expiação ilimitada não
podem dizer a qualquer pecador, “Cristo morreu por você.” (Afinal de contas,
ele pode ser um dos não-eleitos.)
O conselheiro reformado Jay Adams comenta:
“Como um cristão reformado, o escritor crê que conselheiros não devem
aconselhar uma pessoa não salva que Cristo morreu por ele, pois eles não podem
dizer isso. Ninguém sabe exceto o próprio Cristo quem são seus eleitos por quem
ele morreu.”
Louis Berkhoff, um defensor da expiação
limitada, admite: “Não precisa ser negado que há uma real dificuldade neste
ponto.”
O teólogo Robert Lightner comenta: “A crença
na expiação limitada significa que as boas novas da graça salvadora de Deus em
Cristo não pode ser personalizada. Aqueles que crêem em tal posição não podem
dizer a alguém a quem eles estão dando testemunho que Cristo morreu por ele
pois este alguém pode, de fato, não ser um daqueles por quem Cristo morreu.”
Tais cristãos crêem que o evangelho deve ser
apresentado em termos muito gerais, tais como: “Deus ama pecadores e Cristo
morreu por pecadores.”
“Crer que alguns são eleitos e alguns
não-eleitos não cria nenhum problema para o evangelista visto que ele é livre
em suas convicções para declarar que Cristo morreu por cada um daqueles a quem
ele fala. Ele sabe que os não-eleitos não aceitarão a messagem. Ele sabe também
que até uma pessoa eleita pode resisti-la até perto do dia de sua morte. Mas se
o pregador crê que alguma parte de seu público é destituída de qualquer base de
salvação, não tendo nenhuma parte nos valores da morte de Cristo, não é mais
uma questão em sua mente de se eles aceitarão ou rejeitarão; antes, torna uma
questão de autenticidade na declaração da mensagem.”
2Pe 3.9 diz: “O Senhor não retarda a sua
promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não
querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.”
Como pode ser se Cristo morreu apenas e
exclusivamente pelos eleitos?
Romanos 5 indica que pelo ato de
desobediência de Adão a raça humana inteira se tornou os receptores do pecado.
E por um ato de obediência o último Adão fez provisão para o dom gracioso da
justiça pela raça humana inteira. A desobediência de um foi co-extensiva com a
obediência do outro.
A Escritura diz que Cristo morreu por
“pecadores” (1Tm 1.15; Rm 5.6-8). A palavra “pecador” em nenhum lugar é
limitado aos eleitos ou à igreja. É usado exclusivamente na Bíblia para a
humanidade perdida. A Escritura nos conta que Cristo morreu por pecadores, não
pecadores impenitentes, e pelos ímpios, não por apenas alguns deles.
Aparentemente referências restritivas podem
ser logicamente encaixadas dentro de um cenário ilimitado mais facilmente do
que referências universais poderiam num cenário da expiação limitada.
“O problema que ambos os grupos encaram é a
necessidade de harmonizar passagens que referem à redenção limitada com
passagens que referem à redenção ilimitada. Aos que crêem na redenção ilimitada
as passagens da redenção limitada não apresentam nenhuma dificuldade real. Ele
crê que elas meramente enfatizam um aspecto de uma verdade maior. Cristo morreu
pelos eleitos, mas Ele também morreu pelos pecados de todo o mundo. Entretanto,
os que crêem na redenção limitada não é capaz de lidar com as passagens da
redenção ilimitada tão facilmente.”
As duas séries de passagens anotadas
anteriormente – uma série aparentemente apoiando a expiação limitada, a outra
apoiando a expiação ilimitada – não são irreconciliáveis. Como Elwell coloca,
“É verdade que os benefícios da morte de Cristo são referidos como pertencendo
aos eleitos, suas ovelhas, seu povo, mas teria que ser mostrado que Cristo
morreu somente por eles. Ninguém nega que Cristo morreu por eles. É somente
negado que Cristo morreu exclusivamente por eles.”
Millard Erickson da mesma forma diz que
“afirmações sobre Jesus amando e morrendo por sua igreja ou suas ovelhas não
precisam ser entendidas como confinando seu amor especial e morte salvífica
estritamente a elas… Não segue de uma declaração que Cristo morreu por sua
igreja, ou por suas ovelhas, que ele não morreu por ninguém mais, a não ser, é
claro, que a passagem especificamente afirma que foi somente por elas que ele
morreu… Certamente se Cristo morreu pelo todo, não há nenhum problema em afirmar
que ele morreu por uma parte específica do todo. Insistir que aquelas passagens
que focam em sua morte por seu povo requer o entendimento de que ele morreu
apenas por eles e por ninguém mais contradiz as passagens universais.
Concluímos que a hipótese da expiação universal é capaz de explicar um segmento
maior do testemunho bíblico com menos distorção do que a hipótese da expiação
limitada.”
Robert Lightner similarmente argumenta: “A
tarefa de harmonizar aquelas várias Escrituras apresenta um problema muito
maior para aqueles que crêem em uma expiação limitada do que para aqueles que
crêem numa posição ilimitada. Aqueles que defendem uma expiação ilimitada
reconhecem que algumas Escrituras enfatizam o fato que Cristo morreu pelos
eleitos, pela igreja, e por crentes individuais. Entretanto, eles apontam que
quando esses versos distinguem um grupo específico, eles não o fazem excluindo
qualquer um que esteja fora desse grupo visto que dezenas de outras passagens
os incluem. As passagens ‘limitadas’ estão apenas enfatizando um aspecto de uma
verdade maior. Em contraste, aqueles que defendem uma expiação limitada
enfrentam grandes dificuldades para explicar as passagens ‘ilimitadas.’”
O fato é, as Escrituras não incluem sempre
todos os aspectos de uma verdade em qualquer passagem. “Se estes textos são
usados isoladamente para ‘provar’ que Cristo morreu somente pelos eleitos,
então poderia ser argumentado com igual lógica de outras passagens isoladas que
Cristo morreu apenas por Israel (cf. Jo 11.51; Is 53.8), ou que Ele morreu
apenas pelo apóstolo Paulo (pois Paulo declara de Cristo, ‘O qual me amou, e se
entregou a si mesmo por mim,’ Gl 2.20). Como também alguém pode afirmar que
Cristo restringiu Suas orações a Pedro por causa do fato que Ele disse a Pedro,
‘Mas eu roguei por ti’ (Lc 22.32).”
Vamos examinar em maiores detalhes algumas
passagens que falam de Cristo sendo o Salvador dos Israelitas.
At 13.23 diz: “Da descendência deste,
conforme a promessa, levantou Deus a Jesus para Salvador de Israel.”
Este verso indica que Jesus foi o Salvador
oferecido a Israel, não que todo israelita depositou fé em Cristo e foi salvo
pelo Salvador.
“Que base temos nós para pensar que todas
essas pessoas receberam a salvação? Nenhuma. Todavia, claramente, ela foi
colocada ao alcance deles.”
Em Mt 1.21 somos informados que Jesus
“salvará o seu povo dos seus pecados.”
Por todo o Velho Testamento Deus fala dos
israelitas como “Meu povo.”
Sete vezes Deus diz a Faraó, “Deixa ir o meu
povo” (Êx 5.1; 7.16; 8.1, 20; 9.1, 13; 10.13).
(Solicito ao leitor checar uma concordância
para ver por si mesmo que Deus muitas vezes refere aos israelitas como “Meu
povo” por todo o Velho Testamento.)
A última ocorrência é Zc 13.9: “Ela invocará
o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo; e ela dirá: O SENHOR é o meu
Deus.”
Agora, em Lc 1.68 Zacarias disse: “Bendito o
Senhor Deus de Israel, Porque visitou e remiu o seu povo.” Zacarias está usando
a frase “seu povo” no sentido padrão do Velho Testamento.
Em Mt 1.21, quando um anjo disse a José, “E
dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo
dos seus pecados,” as palavras “seu povo” parece estar fazendo referência
especificamente ao povo de Israel, não ao completo grupo dos eleitos de Deus
(que inclui não-israelitas ou gentios). Todavia, como Norman Douty pergunta,
“Quem crê que o povo judeu tem o monopólio da graça salvadora de Cristo? Todos
defendem que vai além de seus limites, até o mundo gentio também.”
Da mesma forma lemos em Jo 11.50: “Nem
considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda
a nação [isto é, Israel].”
Em nenhuma destas passagens os defensores da
expiação limitada insistem que o povo judeu é exclusivamente o objeto da graça
salvadora de Deus. Similarmente, quando se diz que Cristo resgatou a igreja com
Seu sangue (At 20.28), não podemos limitar a obra expiatória de Cristo à igreja
somente.
Gl 2.20 declara que Cristo amou Paulo e se
entregou por ele (“A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de
Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”). Mas isto não
significa que Cristo se entregou somente por Paulo. Acrescentando, Cristo não
se entregou somente por Paulo, ou somente por Israel, ou somente pela igreja,
mas por todos os homens.
Termos universais como “mundo” não devem ser
restritos nos contextos que falam da expiação.
É verdade que palavras como “todos” e “mundo”
são algumas vezes usadas na Bíblia com um sentido restrito. Mas o contexto é
sempre determinante. Robert Lightner comenta: “Aqueles que sempre limitam o
significado desses termos em contextos que lidam com a salvação o fazem
baseando-se em pressuposições teológicas, não baseando-se nos próprios textos.”
Um estudo da palavra “mundo” –
particularmente nos escritos do apóstolo João, onde é usado 78 vezes – indica
que mundo é o mundo que odeia Deus, que rejeita Cristo, e que é dominado por
Satanás. Todavia este é o mundo pelo qual Cristo morreu. Particularmente nos
escritos de João, interpretar “mundo” como “mundo dos eleitos” parece uma
grande distorção da Escritura.
Entre os léxicos, enciclopédias, e
dicionários mais confiáveis que não conhecem o significado “mundo dos eleitos”
para a palavra bíblica “mundo” (kosmos) estão:
Kittel’s Theological
Dictionary of the New Testament.
Vine’s Expository
Dictionary of New Testament Words.
Vincent\’s Word
Studies in the New Testament.
Thayer’s
Greek-English Lexicon of the New Testament.
Souter’s Pocket
Lexicon of the New Testament.
The New Schaff-Herzog
Encyclopedia of Religious Knowledge.
Hastings’ Dictionary
of the Bible.
The International
Standard Bible Encyclopedia.
The New Bible
Dictionary.
Baker’s Dictionary of
Theology.
Arndt and Gingrich’s
A Greek-English Lexicon of the New Testament.
Walter Martin, fundador do Christian Research
Institute, observa: “O apóstolo João nos conta que Cristo entregou Sua vida
como uma propiciação pelos nossos pecados (isto é, os eleitos), embora não
pelos nossos apenas mas pelos pecados do mundo todo (1Jo 2.2)… [As pessoas] não
podem se esquivar do uso de João de ‘todo’ (grego: holos). No mesmo contexto o
apóstolo concludentemente aponta que ‘o mundo todo (holos) está no maligno’ ou,
mais propriamente, ‘no colo do maligno’ (1Jo 5.19, tradução literal). Se
assumirmos que ‘todo’ aplica somente aos escolhidos ou eleitos de Deus, então o
‘mundo todo não está no colo do maligno. Isto, é claro, todos rejeitam.”
Devemos também perguntar, Como pode o
Espírito Santo ter um ministério para o mundo todo de mostrar aos homens a
necessidade de Jesus Cristo (Jo 14-16) se a morte de Cristo não faz provisão
para o mundo todo?
Jo 16.7-11 diz: “Todavia digo-vos a verdade,
que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós;
mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado,
e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; Da justiça, porque
vou para meu Pai, e não me vereis mais; E do juízo, porque já o príncipe deste
mundo está julgado.”
Note nesta passagem que “o mundo” é
claramente distinto de “vós” e “vos.”
Ainda mais, é dito que o Espírito Santo
convence o mundo. E uma das coisas que o Espírito convence “o mundo” é do
pecado de não crer em Cristo (v. 9).
Não devemos concluir que “o mundo” que é
convencido da incredulidade seja o mundo dos eleitos, devemos? (Se for, então
Satanás, o “príncipe deste mundo” [v. 11, mesmo contexto], deve ser o “príncipe
dos eleitos.”)
Calvino diz desta passagem que “sob o termo
mundo estão, creio, incluídos não apenas aqueles que seriam verdadeiramente
convertidos a Cristo, mas os hipócritas e os reprovados.”
Embora Deus seja completamente soberano sobre
todas as coisas, isto não significa que Ele traz à existência tudo que Ele
“deseja.”
Norman Douty oferece esta reflexão:
“Considere o começo da história humana. Deus disse aos nossos primeiros pais
para não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Ele queria que eles
comessem, ou não queria? Claramente, Ele não queria que eles comessem. Todavia
eles comeram dela. Ele ficou frustrado? É claro que não. Ele não ficou frustrado
porque, por Sua graça eficiente, Ele poderia ter induzido-os a não comer.
Todavia Ele escolheu reter essa graça e permitir a queda. No entanto, a
completa responsabilidade por esse pecado pertenceu a Adão e Eva, que tinham
graça suficiente para refrear, mas não a usaram.”
Considere Mt 23.37: “Jerusalém, Jerusalém,
que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis
eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das
asas, e tu não quiseste!”
O que Cristo desejou não foi o que aconteceu.
Douty conclui: “Como Deus poderia ter
induzido nossos primeiros pais a não comer da árvore, ele também poderia ter
induzido… os judeus resistentes do tempo de Cristo a terem recebido Seu
gracioso ministério de salvação. Mas Ele não escolheu efetuar estes fins
desejáveis. Todavia de nenhuma forma Ele queria que o mal sobreviesse a
qualquer um. Ele meramente permitiu a violação de Seus desejos a fim de
executar um propósito secreto que Ele tinha em mente.”
Mais um exemplo diz respeito a Jesus, que
disse a alguns judeus em Jo 5.34: “Digo isto, para que vos salveis.” Mas
“salvos” eles não eram. Por quê? Porque Cristo acrescentou no verso 40, “Não
quereis vir a mim para terdes vida.” Aqui está um claro caso de “mas não o quiseste,”
apesar da clara oferta de salvação.
“Há razões que são baseadas nas Escrituras
por que nosso soberano Deus pode prover uma redenção por todos quando Ele
meramente propôs por decreto salvar alguns. Ele é justificado por colocar o
mundo todo em uma particular relação consigo mesmo para que o evangelho possa
ser pregado com toda sinceridade a todos os homens, e para que, do lado humano,
os homens possam ser inescusáveis, sendo julgados, como são, por sua rejeição
do que é oferecido a eles.”
Alguém que rejeita a expiação limitada de
forma alguma significa que ele deprecia ou diminui a clara doutrina bíblica da
soberania de Deus. Qualquer um que faz esta alegação está simplesmente
desinformado.
“Sem a menor inconsistência os defensores da
expiação ilimitada podem crer numa eleição de acordo com a graça soberana, que
ninguém senão os eleitos serão salvos, que todos os eleitos serão salvos, e que
os eleitos são por capacitação divina unicamente chamados do estado de morte
espiritual da qual eles estão impotentes para sequer dar um passo em direção a
sua própria salvação. O texto, ‘Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou
o não trouxer’ (Jo 6.44), é tanto uma parte de um sistema de doutrina quanto é
do outro.”
Mt 26.28 diz, “Porque isto é o meu sangue, o
sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos
pecados.”
A referência a “muitos” nas palavras de
Cristo não apóiam a expiação limitada mas antes a expiação ilimitada.
Alguém deve ter em mente que anteriormente em
Mateus Jesus tinha dito que poucos encontram a vida eterna (Mt 7.14) e poucos
são escolhidos (22.14). Mas Cristo não disse que Seu sangue seria derramado por
poucos, mas por muitos.
João Calvino assim declara deste verso: “Pela
palavra muitos Ele não quer dizer uma parte do mundo apenas, mas toda a raça
humana.”
Este é o mesmo significado em Rm 5.15: “Mas
não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram
muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem,
Jesus Cristo, abundou sobre muitos.”
Note que os “muitos” do verso 15 é claramente
definido no verso 18 como “todos os homens”: “…assim como por uma só ofensa
veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato
de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida.”
Note que neste verso Paulo fala do pecado de
Adão, e da morte resultante vinda sobre todos os seus descendentes. Mas então o
apóstolo continua falando da graça de Deus e de seu dom resultante (da vida),
abundando sobre o mesmo grupo.
Eu digo, “sobre o mesmo grupo,” pois “os
muitos” na segunda frase do verso é de extensão igual ao “os muitos” na
primeira frase.
Resposta a Três Questões Comuns
1. Se Cristo morreu por aqueles que vão ao
inferno, que benefício eles têm de Sua morte?
Resposta: “Podemos da mesma forma perguntar,
Que benefício os israelitas picados obtiveram da serpente de metal para a qual
eles se recusaram a olhar? Nenhum, obviamente, mas Deus obteve a glória de ser
um Deus generoso o suficiente para prover para eles.”
2. Se a satisfação foi feita por todos, como
pode alguém ir para o inferno?
Resposta: “Embora Deus tenha provido expiação
para todos, Ele também estipulou que ninguém obteria o benefício dela, exceto
através do arrependimento e fé. A libertação da sentença não foi contingente na
própria expiação mas na recepção dela. Homens podem morrer de fome na presença
de uma banquete gratuito, se eles se recusarem a participar dele.”
3. Por que Deus enviaria Cristo para morrer
por aqueles que Ele, em Sua onisciência, sabia que nunca receberiam Sua
provisão?
Resposta: “Por que Deus ricamente dotou os
anjos que subseqüentemente pecaram, quando Ele sabia que ele não usariam Seus
dons para seu bem eterno? Por que Ele conferiu valorosos dons aos nossos
primeiros pais, para ser empregados em benefício próprio e também nosso, quando
Ele sabia que eles não os empregariam? Por que Ele enviou Noé para pregar para
as pessoas que Ele sabia que não receberiam Sua mensagem? E por que Ele mandou
os profetas a Israel, quando Ele sabia que eles continuariam em sua apostasia?
Há uma coisa chamada benevolência divina.”
Resposta a Algumas Críticas Feitas pelos
Proponentes da Expiação Limitada
A acusação de que a expiação ilimitada leva
ao universalismo é um caso à parte. “Apenas porque alguém crê que Cristo morreu
por todos não significa que todos são salvos. Alguém deve crer em Cristo para
ser salvo, então o fato que Cristo morreu pelo mundo aparentemente não assegura
a salvação de todos. Aqueles que afirmam isto estão simplesmente equivocados.”
Deus faz a provisão de salvação para todos os
homens, mas é condicionado pela fé. Assim, a salvação se torna atual somente
para os eleitos, embora seja potencial e disponível a todos. “Nossa herança da
vida eterna envolve dois fatores separados: um fator objetivo (a provisão de
salvação de Cristo) e um fator subjetivo (nossa aceitação dessa salvação).”
Os calvinistas moderados distinguem entre os
benefícios provisionais da morte de Cristo e da apropriação desses benefícios
pelos eleitos.
Embora a provisão da expiação seja ilimitada,
todavia a aplicação dela é limitada.
Em seu livro The Death Christ Died, Robert
Lightner explica: “[Calvinistas moderados] acreditam que a cruz não aplica seus
próprios benefícios mas que Deus condicionou Sua completa e gratuita salvação à
fé pessoal a fim de apropriar sua realização ao indivíduo. Esta fé que os
homens devem exercer não é uma obra pela qual o homem contribui sua parte para sua
salvação, nem a fé, na concepção calvinista moderada, melhora de qualquer forma
o sacrifício final e completo do Calvário. É simplesmente o método de aplicar
os benefícios do Calvário que o Deus soberano intentou usar em Seu plano todo
sábio de salvação.”
Deus não é injusto por condenar aqueles que
rejeitam a oferta de salvação. Ele não está exigindo julgamento duas vezes.
“Porque o incrédulo recusa a aceitar a morte de Cristo como sua, os benefícios
da morte de Cristo não são aplicados nele. Ele está perdido, não porque Cristo
não morreu por ele, mas porque ele recusa a oferta de perdão de Deus.”
O propósito eletivo de Deus não é completo
até que os eleitos estejam na glória. Visto que isto é verdadeiro, e visto que
a cruz provê salvação dependente da fé para sua recepção, e visto que a cruz
não assegura a salvação à parte dessa fé, não há nenhuma contradição com a
soberania de Deus.
A expiação ilimitada tem sido defendida pela
maioria de eruditos por toda a história da igreja.
Millard Erickson aponta que a expiação
ilimitada tem sido “defendida pela vasta maioria de teólogos, reformadores,
evangelistas, e pais do início da igreja até o presente dia, incluindo
realmente todos os escritos antes da Reforma, com a possível exceção de
Agostinho. Entre os Reformadores a doutrina é encontra em Lutero, Melanchthon,
Bullinger, Latimer, Cranmer, Coverdale, e até Calvino em alguns de seus
comentários… É provável que a esmagadora maioria de cristãos poderiam ter
interpretado tão mal a direção do Espírito Santo em tal ponto importante?”
Robert Lightner escreve a posição de Calvino
sobre a questão: “Aqueles que apóiam a expiação limitada geralmente argumenta
que essa é a posição aderida por Calvino. Mas é altamente discutível que ele,
de fato, defendeu esta opinião… Ao passo que alguns eruditos têm tentado
mostrar que há harmonia entre Calvino e o Calvinismo ortodoxo, outros têm
argumentado que o Calvinismo contemporâneo tem distanciado significantemente
seu ensino de Calvino, incluindo seu ensino sobre a extensão da expiação.”
(O leitor irá recordar que um número de
citações de Calvino neste ensaio mostra que ele foi favorável à expiação
ilimitada.)
Citações dos Primeiros Pais da Igreja
Clemente de Alexandria (150-220): “Cristo
gratuitamente traz… salvação a toda a raça humana.”
Eusébio (260-340): “Era necessário que o
Cordeiro de Deus fosse oferecido pelas outras ovelhas cuja natureza Ele
assumiu, até pela raça humana inteira.”
Atanásio (293-373): “Cristo o Filho de Deus,
tendo assumido um corpo como o nosso, pois fomos todos expostos à morte [que
abrange mais do que os eleitos], se entregou à morte por todos nós como um
sacrifício para Seu Pai.”
Cirilo de Jerusalém (315-386): “Não se pergunte
se o mundo inteiro foi redimido, pois Ele não foi um mero homem, mas o
Unigênito Filho de Deus.”
Gregório de Nazianzen (324-389): “O
sacrifício de Cristo é uma expiação imperecível do mundo todo.”
Basílio (330-379): “Mas algo foi achado que
foi equivalente a todos os homens… o santo e precioso sangue de nosso Senhor
Jesus Cristo, que Ele derramou por todos nós.”
Ambrósio (340-407): “Cristo sofreu por todos,
ressuscitou por todos. Mas se alguém não crê em Cristo, ele se priva deste
benefício geral.” Ele também disse, “Cristo veio para a salvação de todos, e
garantiu a redenção de todos, porquanto Ele trouxe um remédio pelo qual todos
podem se salvar, embora haja muitos que… estão indispostos para ser curados.”
Agostinho (354-430): Embora Agostinho seja muitas
vezes citado apoiando a expiação limitada, há também claras declarações nas
obras de Agostinho que sustentam a expiação ilimitada. Por exemplo: “O Redentor
veio e deu o preço, derramou Seu sangue, e comprou o mundo. O sangue de Cristo
é o preço: o que é de tão grande valor? O que, senão o mundo todo? O que, senão
todas as nações?” Ele também afirmou, “O sangue de Cristo foi derramado para a
remissão de todos os pecados.”
Cirilo de Alexandria (376-444): “A morte de
uma carne é suficiente para a redenção da raça humana inteira, pois pertencia
ao Logos, o Unigênito de Deus Pai.”
Próspero (um amigo e discípulo de Agostinho
que morreu em 463): “No que se refere à magnitude e virtude do preço, e à única
causa da raça humana, o sangue de Cristo é a redenção do mundo todo: mas
aqueles que passam por esta vida sem a fé de Cristo, e o sacramento da
regeneração, não participa da redenção.”
Ele também disse, “O Salvador é mais
justamente dito ter sido crucificado pela redenção do mundo todo.” Ele então
disse, “Embora o sangue de Cristo seja o resgate do mundo todo, todavia eles
são excluídos de seu benefício, quem, estando satisfeito com sua escravidão,
estão indispostos a ser redimido por ele.”
Citações dos Reformadores do Século 16
Martinho Lutero (1483-1546): “Cristo não é um
cruel exator, mas é aquele que perdoa os pecados do mundo todo… Ele se entregou
a Si mesmo por nossos pecados, e com uma oblação retirou os pecados do mundo
todo… Cristo retirou os pecados, não de certos homens apenas, mas também os
seus, sim, do mundo todo… Não somente meus pecados e os seus, mas também os
pecados do mundo todo… Apropriem-se de Cristo.”
Philip Melanchton (1497-1560): “É necessário
saber que o Evangelho é uma promessa universal, isto é, essa reconciliação é
oferecida e prometida a toda a humanidade. É necessário sustentar que esta
promessa é universal, em oposição a quaisquer imaginações sobre a
predestinação, a fim de que não raciocinamos que esta promessa dizem respeito a
poucos outros e nós mesmos. Mas declaramos que a promessa do Evangelho é
universal. E a isto são trazidas essas expressões universais que são usadas
constantemente nas Escrituras.”
Outras pessoas envolvidas a um certo grau na
Reforma que defenderam a expiação ilimitada incluem: Hugh Latimer, Myles
Coverdale, Thomas Cranmer, Wolfgang Musculus, Henry Bullinger, Benedict
Aretius, Thomas Becon, Jerome Zanchius, David Paraeus, e, como notado
anteriormente, João Calvino.
Citações de Outros Eruditos da História da
Igreja Recente
Philip Schaff: “Sua graça salvadora flui e
superabunda a todos e por todos, sob a simples condição de fé… Se, pela graça
de Deus, eu puder converter um único cético a uma fé inocente nele, que viveu e
morreu por mim e por todos, eu sentiria que eu não vivi em vão.”
B. F. Westcott: “Potencialmente, a obra de
Cristo estende para o mundo todo. E o amor de Deus é sem limite de Sua parte,
mas para apropriar a benção do amor, o homem deve cumprir a condição necessária
da fé.”
A. T. Robertson: [A palavra “mundo” em Jo
3.16 – “Porque Deus amou o mundo de tal maneira” – significa] “o completo
cosmos dos homens, incluindo os gentios, toda a raça humana,” e acrescenta que
“este aspecto universal do amor de Deus aparece também em 2Co 5.19; Rm 5.8.”
MINHA CONCLUSÃO
Neste curto resumo, olhamos para os dois lados
do debate a respeito da extensão da expiação. Creio que quando alguém considera
todas as evidências bíblicas coletivamente, a visão correta é a expiação
ilimitada.
Ron Rhodes
Como a ira de Deus pelos incrédulos foi satisfeita se ela permanece nos incrédulos?
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