
O dia 29 de junho comemora-se não só o dia de São
Pedro, mas também o dia do papa, já que o apóstolo Pedro tornou-se o
primeiro líder da fé católica depois da morte de Jesus,
tornando-se assim o primeiro papa da história. Desde Pedro, mais de
265 papas vieram.
O que muitos não sabem, porém, é que uma mulher pode
estar entre os que ocuparam o posto que hoje é de Francisco. Trata-se de Joana,
uma camponesa que teria se passado por homem e sucedido o Papa Sérgio II, no
século IX. A história, contudo, é considerada fantasiosa pela Igreja Católica e
pela maioria dos teólogos.
A escritora inglesa Donna Woolfolk Cross passou sete
anos pesquisando e reunindo todos os fatos conhecidos da vida de Joana,
extraídos de documentos raros em inglês, espanhol, francês, italiano e latim. O
trabalho culminou no livro Papisa Joana (Geração Editorial, 2009), que inspirou
o filme de mesmo nome, dirigido por Sonke Wortmann.
Na versão cinematográfica, Joana nasceu em 814, na
aldeia de Ingelheim, onde hoje seria a Alemanha. Nesse período, conhecido como
Idade das Trevas, ainda não existiam os países europeus modernos nem seus
idiomas e a língua culta era o latim. As mulheres eram proibidas de
estudar, pois isso era visto como antinatural.
Porém, segundo a apuração, curiosa, Joana aprendia com
facilidade. O irmão mais velho a ensinou a ler, escondido do pai, extremamente
religioso e rígido. Joana surpreendeu os pais e o mestre de um
seminário ao mostrar que sabia ler e interpretar textos. Então, o mestre passou
a lecionar latim e grego à menina.
A vontade de aprender fez com que Joana fugisse de casa
para estudar em um seminário, que somente aceitou ter uma menina em sua turma
sob autorização de um bispo. Para que ela não dormisse junto dos rapazes,
um conde chamado Gerald aceitou-a em sua casa, onde ela viveu por anos.
Já adolescente, sobreviveu a um ataque viking e, a
partir de então, adotou uma identidade masculina, usando o nome de um dos
irmãos, João Ânglico. Como homem, foi aceita em um mosteiro beneditino, onde se
destacou como médica. Em pouco tempo, sua fama de curandeira se propagou em
Roma, e ela foi chamada para atender o Papa Sérgio II. Assim, acabou se
tornando sua médica e porta-voz.
Em 847, após a morte do papa, Joana, como João Ânglico,
foi indicada e escolhida por votação popular para ocupar o trono papal. Mesmo
pega de surpresa, aceitou. Ela não esperava, porém, se reencontrar com o
conde Gerald, o único que sabia a verdade. Os dois, então, se apaixonaram.
Durante o ano de 847, “João Ânglico” teria promovido
inúmeras obras sociais e mudanças na Igreja. Quando descobriu que estava
grávida de Gerald, Joana decidiu continuar como papa até a Páscoa de 848.
Durante a procissão, começou a sentir as dores do parto, que lhe levou à morte.
O episódio teria causado grande discussão e revolta entre os fiéis.
A história da papisa Joana foi lembrada no século XIII
pelo escritor Esteban de Borbón, mas sem provas concretas. Em 1886, a trama
voltou a ser contada pelo grego Emmanuel Royidios e foi traduzida para o inglês
por Lawrence Durrell, em 1939. As versões variam em alguns detalhes, como quem
era o seu amante, a forma como morreu e qual papa ela sucedeu - em uma delas,
teria sido Leão IV, em 855.
Existência improvável
Segundo Eduardo Moesch, professor de história da igreja
da Faculdade de Teologia da PUC-RS, a narrativa tende a ser tratada como lenda
pela Igreja Católica. Segundo ele, a existência da papisa Joana é improvável e
fantasiosa porque, por mais que uma mulher pudesse ter se passado por homem,
seria difícil esconder uma gravidez.
Para o docente, uma das provas mais concretas de que o
episódio é irreal é a existência de documentos de 847 assinados tanto pelo Papa
Sérgio II quanto pelo Papa Leão IV, seu sucessor. Assim, não haveria espaço
suficiente entre os mandatos para que Joana pudesse ter ocupado o trono papal.
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