
Eugenio Maria La Barbera,
67 anos, desliza a ponta dos dedos da mão direita de um lado ao outro da gola
da batina enquanto pergunta a uma das assistentes que lhe acompanham durante
sua missa: “Como se fala isso em português?”. Os mais de 30 anos morando no
Brasil não foram suficientes para que o italiano dominasse o vernáculo.
“Gola!”, ele exclama, para em seguida se dirigir novamente aos fiéis. “Eu quero
que venha até aqui a pessoa que está com uma foto de um menino usando uma
camiseta branca de gola azul com um desenho de um ‘piu-piu’, um pintinho metade
amarelo, metade azul.”
Várias pessoas levam fotos
até o altar, onde o padre espera, apreensivo. Pelo menos três vezes, repete:
“Não é essa”. A imagem, diz ele, foi enviada por Jesus. No meio do corredor
apinhado de gente, uma moça surge chorando enquanto estica a mão até que o
religioso veja a foto que ela segura. “É essa”, afirma, apontando com o dedo.
“Venha até aqui.” A mulher é Paula Rodrigues Santos, 28 anos. Acompanhada do
pai, Quirino Rodrigues Pereira, 61 anos, ela saiu de São José dos Campos,
interior de São Paulo, para rezar pelo sobrinho autista de 7 anos que não fala
e sofre crises de ansiedade.
Como Paula e Quirino,
milhares de pessoas se reúnem para a missa dos enfermos, celebrada todo
primeiro domingo do mês (exceto em janeiro e julho), às 14h30, na Fraternidade
Monástica dos Discípulos de Jesus, no Jardim Mirna, em São Paulo. O local
existe desde 1997 e se tornou um ponto de peregrinação, atraindo fiéis em busca
de cura para si ou para alguém próximo. Em 5 de junho, antes do meio-dia, sete
ônibus de turismo ocupavam o estacionamento, ao lado de uma van e de um
micro-ônibus. Chovia.

ESPERANÇA: Fiéis levam
fotos de parentes para pedir que sejam curados: quando orar é a única saída
Como os assentos da igreja
não seriam suficientes para todos, um espaço coberto foi montado do lado de
fora com cadeiras e um telão para que os fiéis pudessem acompanhar a
celebração. O lugar lembra um monastério europeu. Ocupa uma área ampla e
arborizada de 53 mil m2 e foi construído com um investimento de U$ 3 milhões
tirados da herança de La Barbera, filho de um empresário têxtil do norte da
Itália. A missa segue estritamente a liturgia convencional, com folheto e orações
comuns ao ritual da Igreja Católica.
A diferença é o momento
que o padre chama de bênçãos de cura. É quando se nota desespero nos olhares.
Há joelhos dobrados e mãos unidas, apertadas uma contra a outra com força.
Outras estão erguidas para cima. Fiéis sobem nas cadeiras para ver La Barbera. Do
altar, ele proclama frases para que todos as repitam. Desce e atende um por um
os que estão sentados na primeira fileira: pessoas em cadeiras de rodas ou com
doenças graves que antes da missa são selecionados por membros da equipe para
ficarem próximos ao sacerdote.
“Você está curada"
Sentada de frente para o
altar, Antônia de Matos Barbosa, 72 anos, tem feridas no rosto, nas pernas, nos
pés e nas axilas. Portadora de pênfigo, uma doença de pele fatal, rara e
autoimune, sofre de dores constantes há cerca de três anos. O padre a levanta,
caminha de costas, de frente para Antônia, de mãos dadas com ela. “Você está
curada”, diz, no momento em que ela olha pra cima. De volta ao altar, ele
inicia as curas coletivas. “Pessoas que não enxergam, que tem dificuldade para
ver. Fechem os olhos. Agora abram.
Quem consegue ver
perfeitamente o santíssimo sacramento?”, pergunta o padre, segurando a imagem e
estendendo-a para o alto. “Levantem as mãos”, pede, para em seguida contar 23
fiéis curados. A sessão segue, no mesmo modelo, com curas para sinusite, dores
nos pés e no céu da boca. Muitas mãos se levantam ao final para entrarem na
contagem. “Esse é um dom que Deus me deu para fazer o bem para os outros”,
afirma La Barbera em seu escritório, horas antes de começar a missa. Italiano,
veio ao Brasil logo depois de se tornar padre, em 1978. Tinha 28 anos quando decidiu
mudar de vida.
Diz ter acumulado vários
pecados na juventude e ri ao relembrar que foi hare krishna, participou de
encontros de nudistas e chegou a ir à Índia atrás do guru dos Beatles,
Maharishi Mahesh Yogi. A primeira missa a que assistiu foi já adulto, quando
desconfiou da noiva que frequentava demais a Igreja. Ao participar da liturgia,
decidiu que era aquele o futuro que queria. Rompeu o noivado e abdicou da boa
vida que o dinheiro da família permitia. Já no Brasil, diz ter feito seu
primeiro milagre no início da década de 1980, durante a Páscoa. Duas
adolescentes lhe procuraram pedindo para que abençoasse a mãe com feridas nas
pernas.
“Fiz o sinal da cruz
apressado. De repente, as chagas tinham se fechado. Me assustei”, diz. Na hora,
deu um grito: “Saiam daqui, na minha igreja não existe milagre.” Foi uma
vidente de Medjugorje, na Bósnia-Herzegovina, conhecida por ter visto uma
aparição de Nossa Senhora, que anos depois o convenceu de que ele estava no
mundo para curar as pessoas e fazê-las rezar. “Voltei ao Brasil e criei a
Fraternidade.” A Igreja Católica é extremamente rígida quanto à atribuição de
milagres. Há um caminho longo e burocrático a ser percorrido para a
comprovação, que deve ser feita por equipes de cientistas e testemunhas.

MILAGREIRO: Eugenio La
Barbera na fraternidade que criou em São Paulo: “A cura é um dom que Deus me
deu” (Crédito:Andre Lessa / Agencia IstoÉ)
“Por isso leva muito tempo
para o milagre ser atestado, o que costuma acontecer somente depois da morte da
pessoa”, afirma o sociólogo da religião Francisco Borba, coordenador do Núcleo
Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Segundo
Borba, há milagres que acontecem sem o reconhecimento institucional da Igreja,
e nem por isso deixam de ter seu valor. “Muitas doenças psicológicas são
somatizações. O poder da missa de cura não estaria numa intervenção
extraordinária de Deus, mas na capacidade do padre de fazer com que forças
psicológicas aparentemente adormecidas na pessoa sejam mobilizadas para
resolver o problema”, afirma.
Exorcismo
Para quem critica sua
atuação, o religioso italiano tem uma só resposta: “Que venham assistir a uma
missa de cura. Eu não tenho sobre o que me explicar, eu faço”, diz. Turrão,
afirma que suas celebrações lotam porque as pessoas precisam de fé. “Ficar com
muita cantoria, sem seguir a celebração tradicional, não dá”, afirma, em clara
alusão a celebridades católicas como o padre Marcelo Rossi. Prestes a encerrar
o domingo e se dirigir ao quarto, padre Eugenio La Barbera pega um livro com
orações em latim e o exibe à reportagem. “Esse eu uso para as sessões de
exorcismo.”
Naquele mesmo escritório
em que trabalha e concede entrevistas, uma vez por mês recebe alguém que ele
julga estar possuído por um espírito do mal. Chama colegas para ajudá-lo nos
casos em que a pessoa se debate com muita agressividade. Se não, trabalha
sozinho. Descreve a função com a normalidade de quem a pratica cotidianamente.
Aparecida Olívia Narciso, 67 anos, de São Paulo, diz ter sido curada pelo
padre. No começo dos anos 2000, descobriu um nódulo grande no seio esquerdo.
Com medo, foi até a missa. Voltou ao médico e o tumor havia sumido. “Quando o
padre falou comigo, vi um coração enorme, o Senhor proclamou que aquele caroço
ia sumir”. Aparecida deu seu testemunho ao final da missa acompanhada pela
reportagem, em frente aos fieis.
Acolhimento e perdão
A dona de casa Marisa
Rebouças, 47 anos, conta que um milagre aconteceu em sua vida há 15 anos,
quando a filha nasceu. “Era um bebê lindo, mas com problemas no coração e no
esôfago. Um dia, fizeram raio-x por contraste, mas a substância não saía do
corpo dela e não era possível fazer a cirurgia por isso. Tínhamos pouco tempo,
fiquei desesperada e chamei o padre para que fosse até o hospital dar uma
bênção nela”, diz Marisa, que ainda chora com a história a ponto de ter que
fazer uma pausa na fala. “No mesmo dia da visita, o contraste saiu, ela foi
operada e sobreviveu.” Hoje, ela é voluntária na Fraternidade.
Para o sociólogo da
religião Francisco Borba, o sucesso das missas de cura é explicado, em parte,
porque as pessoas se afastaram da Igreja e não vivenciam mais manifestações
religiosas cotidianas e, com isso, procuram celebrações na qual possam
presenciar a religiosidade e o misticismo vindo à tona de maneira intensa. “Mas
há outro dado que explica o fenômeno: todos nós queremos nos sentir amados,
acolhidos e perdoados. Mesmo que não sejamos o doente curado, ao presenciar
essa graça, de alguma maneira entendemos que Deus também me ama e me acolhe. É
isso que as pessoas procuram.”
Fé e angústia

Andre Lessa / Agencia
IstoÉ
“Me tira dessa cadeira”,
pede a mineira Áurea Augusta Miranda de Abreu, 18 anos, no momento em que o
padre Eugenio La Barbera lhe dava a benção. Paraplégica há três anos por causa
de um erro médico durante uma cirurgia, passou a missa segurando um terço nas
mãos e chorando de maneira intermitente. Agarrava a camiseta com a imagem de
Nossa Senhora em um gesto de angústia. “A fé é minha alternativa”
Dor lancinante

Andre Lessa / Agencia
IstoÉ
Jefferson Fagundes, 24
anos, sofreu um acidente de moto há um ano, fraturou a coluna e passou a se
locomover em cadeira de rodas. Fala baixo, de maneira consternada e de cabeça
baixa. Paulistano, trabalha como ajustador mecânico. Sofre com dores lancinantes
na região lombar mesmo após várias cirurgias e sob uso de medicações. “Minha
avó frequenta a missa há muitos anos e sugeriu que eu viesse pedir a bênção ao
padre”, diz.
Adeus às muletas

Andre Lessa / Agencia
IstoÉ
O aposentado João Martins,
74 anos, da cidade de Castanhal, no Pará, acompanha a missa de La Barbera na
primeira fileira. Tem uma deficiência na cartilagem e câncer no fígado em
estágio avançado. Quando o padre se aproxima, pede que Martins abra os braços,
junte as mãos na frente do corpo e se levante. Ele dá alguns passos em frente
ao altar sem as muletas que até então usava para caminhar. As pessoas ao redor
aplaudem
Uma vida de pecado e fé
Como Eugênio Maria
Labarbera deixou a juventude regada a excessos para se tornar padre
A transformação
Ao acompanhar a noiva em
uma missa, Eugenio Maria Labarbera decide se tornar padre. Termina o
relacionamento e deixa para trás uma vida de excessos. Entre suas aventuras, já
participou de um evento de nudistas, foi à Índia para encontrar o guru dos
Beatles e fez parte de uma comunidade Hare Krishna. Aos 28 anos, em 1978, é
ordenado padre e enviado ao Brasil
O encontro com a Renovação
Carismática
Em 1982, padre Eugenio se
torna um dos sacerdotes da Renovação Carismática Católica e celebra missas na
Catedral da Sé, no centro de São Paulo
Primeiro milagre
Por volta de 1983, recebe
duas adolescentes com a mãe depois de uma missa. Elas pedem a benção para a
mulher, com feridas na perna. Ele a abençoa e na mesma hora as chagas se fecham
Viagem a Medjugorje
Após a morte do pai,
questiona a própria fé e decide passar um tempo afastado do sacerdócio. Viaja
com um amigo para Medjugorje, cidade da Bósnia-Herzegovina conhecida entre os
cristãos por causa das aparições de Nossa Senhora, em 1981
Mensagem de Nossa Senhora
Após uma série de sinais
para que aceite seu dom de cura, recebe uma mensagem de uma mulher dizendo, em
nome de Nossa Senhora, que ele deveria construir uma fraternidade no Brasil
Bênção das autoridades
Fala com bispos,
sacerdotes e inclusive com o papa da época, João Paulo II, pedindo autorização
para sua empreitada
Uma igreja própria
Com a herança que recebeu
do pai, um rico empresário italiano, cria a Fraternidade Monástica dos
Discípulos de Jesus, em 1997. No terreno de 53 mil m² levanta uma igreja, um
hotel e casas para que sacerdotes e ajudantes se hospedem
Missas de cura
IstoÉ - Edição 2433 - 22/07/16
Veja o vídeo do Programa Conexão Repórter - SBT
Parte 1
Parte 2
Parte 3
COMENTÁRIO DE WÁLDSON LIMA
Jesus é poderoso para fazer todo e qualquer milagre e, Ele faz aquilo que, diante da impossibilidade da medicina, a pessoa certamente morreria. Não tem como duvidar do poder do Senhor Jesus.
A grande questão aqui é que, quanto ao padre, temos dificuldades de crer nas curas porque que é usado por Jesus, não pode adorar a outros deuses. E nesse caso, as imagens e a adoração á Maria, estão presentes.
O Poder de Deus foi dado á igreja(servos do Senhor Jesus), e não a um ou outro homem, independente daquilo que ele crê.
Nossa convicção parte da Palavra de Deus que nos mostra em Atos dos Apóstolos que apenas e tão somente o Senhor Jesus era invocado e adorado por aqueles que faziam milagres em Seu nome.
Com o passar dos tempos, surgiu dentro da igreja romana a Renovação Carismática, que alegra ter o poder do Espírito Santo e toda a virtude Dele, para fazer milagres. Na verdade, a RCC(Renovação Carismática Católica), parece-se muito com igrejas evangélicas Pentecostais. Seria uma 'cópia' bem próxima. Não se esquecendo de que, o Vaticano não apoia a RCC. Apenas tolera tal movimento dentro do Catolicismo Romano, para não perder milhares de fiéis para as igrejas evangélicas.
No entanto, é impossível o mesmo Jesus das igrejas evangélicas sérias e comprometidas com a bíblia e com o povo, esteja lá, fazendo os mesmos sinais, já que "Deus não divide Sua glória com ninguém"(Is.42:8). E quando Maria e os santos estão juntos nessa adoração, impossível que Ele, o Filho de Deus, esteja aí, fazendo esses 'milagres'.
Fico com a bíblia. E uso a mesma para advertir, avisar e solicitar ás pessoas que tenham cautela quanto a esses milagres(e não só no Catolicismo Romano, pois existem muitas igrejas neo-pentecostais que não realizam milagres por meio do Senhor Jesus, mas sim, por um outro espírito-maligno, ou, por existirem também situações teatrais, onde tudo é combinado e ensaiado anteriormente, a fim de impressionar os presentes), deixando-lhes, a própria Palavra de Deus.
Leia, por favor: "Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo". 1 João 4:1".
"Porque se levantarão falsos cristos, e falsos profetas, e farão sinais e prodígios, para enganarem, se for possível, até os escolhidos". Marcos 13:22
Viva vencendo as constantes manifestações enganosas desse tempo presente!!!
Abraços.
Seu irmão menor.
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