
TEXTO ÁUREO
"O mesmo Espírito testifica com o
nosso espírito que somos filhos de Deus." (Rm 8.16)
VERDADE PRÁTICA
Viver segundo o Espírito Santo significa
estar sob o seu domínio e seguir suas orientações
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Romanos 8.1-17
INTRODUÇÃO
Paulo inicia o capítulo oito, dizendo 'que nenhuma
condenação há para os que são de Cristo Jesus', ou seja, aqueles que receberam
ao Senhor Jesus, como único e suficiente salvador, e se arrependeram de seus
pecados, estão justificados com Cristo, por isso estão livre da condenação do
juízo final (Rm 5.1,2). O capítulo 8 nos fala de libertação do pecado e da
morte (8.1-11), estamos livres, diz o apóstolo Paulo. A lei do Espírito da vida
passou a atuar em nós, uma lei mais forte do que a lei do pecado e da morte,
que denunciava nossa impotência. A lei do Espírito e da vida fala do poder que
agora atua em nós como resultado do sacrifício de Jesus Cristo. Esse sacrifício
não só nos livrou da condenação, porque pagou os nossos débitos, que a lei
denunciava na vida de cada um de nós, mas, mais do que isso, tirou-nos da lei
do pecado e da morte, ou seja, livrou-nos daquilo que nos mantinha
constantemente sob débito. Agora uma nova força atua em nós, a força do
Espírito de Deus. Agora, aquilo que a lei exigia, que era a justiça e santidade
se tornou possível, por causa do Espírito que habita nessas pessoas.
No
capítulo 7, a força do pecado em nós era o que nos causava impotência absoluta;
no capítulo seis, a marca daqueles que foram afetados pela Graça é buscar cada
vez mais crescer na Graça, ou na linguagem do capítulo oito, inclinar-se para
as coisas do Espírito. Neste capítulo, é destacada a diferença entre aquele que
ainda vive preso a uma vida de pecado, com aquele que pela fé creu no Senhor
Jesus e teve seus pecados justificados. Aquele que se mantém rebelde contra
Deus e vive no pecado, ele também esta obedecendo a sua carne, se inclina para
os desejos dela e vive para satisfazê-la, mas aquele que ouviu a vontade de
Deus, crendo que ele mandou seu Filho para que através de sua morte e
ressurreição fosse salvo (Jo 3.16), este recebeu o Espírito de Deus e por isso
é inclinado a obedecer ao que o Espírito lhe conduz a fazer. E isso não é algo
que o Espírito nos obriga a fazer, muito pelo contrário, ele age mansamente, nos
convencendo de que aquilo é o melhor para nossa vida e gera em nós um desejo de
agradar a Deus, por isso obedecemos, porque o amamos.
O capítulo 8 da Epístola aos Romanos é um dos mais
apreciados da Bíblia. Trata da vida no Espírito, em contraste com aquilo que
nós lemos no capítulo 7: a experiência de agonia, fracasso e derrota do homem
carnal. No final do capítulo 7, Paulo garante aos crentes que todos têm o poder
de vencer o pecado e a certeza da libertação final deste mundo de iniquidade.
Mas ele inclui um aviso de que haverá durante toda a vida uma constante tensão
por causa da nossa natureza pecaminosa; há um grande conflito entre a velha
natureza e a nova natureza. O ser humano almeja, quer, mas não consegue
obedecer ao que Deus determina, criando, então, aquele grito no final do
capítulo 7: “desventurado homem que sou, quem me livrará do corpo desta
morte?”. É neste contexto, então, que Paulo introduz a Pessoa e a Obra
de Cristo escrevendo as operações e as atividades do Espírito Santo naquele que
está em Cristo Jesus, que é o assunto do capítulo 8. Neste capítulo, Paulo nos
diz que a vitória sobre o pecado e a comunhão com Deus nos vêm pela união com
Cristo, mediante o Espírito Santo que em nós habita. Ao recebermos o Espírito
Santo e sermos por Ele dirigidos, somos libertos do poder do pecado e
prosseguimos adiante para a glorificação final em Cristo. O que era impossível
na antiga aliança, regida pela lei, agora se tornou possível graças a uma nova
lei – a lei do Espirito de vida em Cristo Jesus. Assim, a vida cristã
constitui-se essencialmente em vida no Espírito, quer dizer, uma vida que é
animada, sustentada, orientada e enriquecida pelo Espírito Santo. O Espírito
Santo que habita em nós concede-nos recursos para vivermos neste mundo de
maneira santa e justa. Sem o Espírito Santo não poderemos viver de modo a
agradar ao Pai. Que possamos nos entregar totalmente a Deus, permitindo que o
seu Espirito nos guie. Sem Ele perderemos a bênção da esperança de morarmos ao
lado do Senhor no Céu.
Romanos 8 trata das seguintes operações do Espirito
Santo:
- Aplicação da Obra de Cristo no coração do crente
(vv.1-4).
- Como o Espírito nos inclina agradar a Deus (vv.
5-8).
- Que Ele abita em todo verdadeiro cristão (vv.
9-11).
- Que Ele nos dá o poder para mortificar a carne,
a tendência pecaminosa (vv. 12,13).
- Que Ele nos guia como filhos de Deus (vv.14,15).
- Que Ele testifica da nossa salvação e da nossa
herança (vv.16,17).
- Que Ele nos conforta em meio aos sofrimentos do
mundo presente (vv.18-25).
- Que Ele intercede por nós nas nossas orações
(vv.26-27).
O capítulo termina com uma exposição de Paulo diante da
obra do Espírito Santo, argumentando que somos mais que vencedores por meio de
Cristo Jesus nosso Senhor e Salvador; são os versos 31-39, onde Paulo pergunta:
“à vista disso tudo [o plano da salvação que foi exposto em Romanos capítulos
1-8] quem nos poderá separar do amor de Deus? Somos mais que vencedores por
meio de Cristo Jesus, nosso salvador”.
I. A VIDA NO ESPÍRITO PRESSUPÕE OPOSIÇÃO À
LEI DO PECADO (Rm 8:1-4)
É interessante ressaltar que Paulo usa o termo ‘carne’
em pelo menos, três sentidos: em um sentido mais geral, refere-se ao que é
humano. Em um outro sentido, refere-se ao corpo físico. Em um sentido mais
específico, principalmente quando aparece em oposição a ‘espírito’, refere-se à
natureza Adâmica, que envolve também mente e alma. No caso de Gl 5.17, se os
gálatas abandonam a Cristo e põem sua confiança na lei, estarão voltando à
confiança na carne. Há uma guerra sendo travada na psique humana, isto é, a
carne, as vontades pessoais, a razão humana lutam incansavelmente contra o
Espírito. São duas vontades lutando em uma só mente. Por isso, o apóstolo Paulo
escreveu: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem
nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não
faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7.18-19). Paulo
afirma: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço”
– isto é a guerra entre a natureza pecaminosa e a natureza Santa do Espírito. É
guerra da vontade própria e contra a vontade de Deus. Na verdade, existe uma
resistência involuntária da parte humana, e é esta resistência que cria este
atrito espiritual, ou seja, é a nossa carne resistindo à vontade de Deus. Para
vencer esta batalha contra a velha inclinação, o crente deve viver no Espírito.
Mas o que é viver no Espírito? Paulo responde: “logo, já não sou eu quem vive,
mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no
Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).
Ao falar da ação do Espírito Santo naquele que foi
justificado pela fé, que está unido a Cristo, Paulo faz um contraste entre a
vida na carne - que é a mesma coisa da vida debaixo da lei, que é a vida no
mundo não regenerado – e a vida no Espírito - que é a vida do justificado,
aquele que foi aceito por Deus e que foi perdoado. Paulo, também, mostra o
resultado de cada um desses modos de vida. A vida na carne leva à morte, a vida
no Espírito traz vida. Paulo agrupa a humanidade nestas duas categorias. Ou
vivemos na carne, debaixo da lei, prisioneiro no pecado, condenados, destinados
à morte, ou vivemos no Espirito, na liberdade que ele nos dá na vitória sobre o
pecado, e frutificando para Deus e, finalmente, obtendo a vida eterna.
Às vezes olhando de fora não sabemos quem está na carne
ou no Espírito, porque pecadores não regenerados ainda tem uma semente de
religião: eles oram, eles cantam, eles contribuem, eles vão a igreja, mas nunca
foram regenerados. E às vezes alguém que de fato foi regenerado, que já saiu
dessa vida debaixo da lei e do domino do pecado, tem uma recaída, pois ninguém
é perfeito, pode ser que alguém tropece. Assim, olhando numa primeira vista,
numa primeira análise, não dá para dizer de cara quem é quem. Mas como disse o
senhor Jesus: pelos frutos os conhecereis (Mt 7:16,20). O tempo acaba revelando
a verdade da vida de cada um. Os frutos se mostram com clareza. É apenas uma
questão de tempo.
Em Rm 7:24 Paulo expressa o seu lamento: “Desventurado
homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”. Dá a impressão que
Paulo carrega em suas costas um corpo em decomposição. Esse corpo é,
certamente, a velha natureza com toda a sua corrupção. Em sua aflição, o
apóstolo reconhece a incapacidade de se livrar dessa escravidão repulsiva. Ele
precisa de ajuda externa. Mas, do vale do desespero e da derrota, o apóstolo se
eleva com um grito de triunfo: “Agora, pois, já nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). Não há nenhuma condenação
divina no tocante aos nossos pecados, pois estamos em Cristo. Enquanto
estávamos em Adão, nosso primeiro representante, havia condenação. Agora
estamos em Cristo e, portanto, livres da condenação.
Romanos 8:2 explica o porquê de não haver mais nenhuma
condenação: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus” nos “livrou
da lei do pecado e da morte”. Vemos aqui duas leis ou princípios opostos. O
princípio característico do Espírito Santo é dar poder aos cristãos para a vida
de santidade. O princípio característico do pecado é arrastar a pessoa para a
morte. É como a lei da gravidade. Quando lançamos uma bola para o alto, ela
volta, pois é mais pesada que o ar que desloca. Um pássaro também é mais pesado
que o ar, mas pode voar. A lei da vida no pássaro supera a lei da gravidade.
Assim também o Espírito Santo provê a vida ressurreta do Senhor Jesus e liberta
o cristão da lei do pecado e da morte. A lei nunca foi capaz de fazer as
pessoas cumprirem suas exigências santas, mas onde a lei falhou, a graça foi
bem-sucedida.
Compreendendo melhor:
A Lei não podia produzir uma vida de santidade porque
estava enferma pela carne. O problema não era a Lei, mas a natureza humana
decaída. A Lei foi dada a homens que já eram pecadores e não tinham forças para
obedecer. Mas, Deus interveio enviando o seu próprio Filho em semelhança de
carne pecaminosa (cf Rm 8:3). É importante observar que o Senhor Jesus não veio
em carne pecaminosa, mas em “semelhança de carne pecaminosa”. Ele não pecou
(1Pd 2:22), não conheceu o pecado (2Co 5:21) e nele não existia pecado (1João
3:5). Porém, quando veio ao mundo em forma humana assemelhou-se à natureza
humana pecaminosa. No sacrifício de Cristo, “condenou Deus, na carne, o pecado”
(Rm 8:3). Cristo morreu não apenas pelos pecados que cometemos (1Pd 3:18), mas
também por nossa natureza pecaminosa. Em outras palavras, além de morrer por
aquilo que fizemos, Ele também morreu por aquilo que somos e, desse modo,
“condenou [...], na carne, o pecado” (Rm 8:3). Não é dito em momento algum que
nossa natureza pecaminosa foi perdoada; pelo contrário, ela foi condenada. O
perdão é aplicado aos pecados que cometemos.
Agora, o preceito da Lei se cumpriu em nós, que não
andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8:4). Ao entregarmos o
controle de nossa vida ao Espírito Santo, Ele nos capacita a amar a Deus e ao
nosso próximo, o que constitui, afinal, o preceito da Lei (Mt 22:38-40).
Portanto, no capítulo 5:12-21, Paulo discorre sobre
Adão e Cristo como nossos representantes; em Rm 8:1, ele mostra como a
condenação que herdamos de nossa identificação com Adão é removida com nossa
identificação com Cristo. Nos capítulos 6 e 7, o apóstolo Paulo tratou do
problema atroz da natureza humana pecaminosa; em Romanos 8:1-4, ele anuncia,
triunfantemente, que a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus nos liberta da
lei do pecado e da morte. O capítulo 7, trata da Lei; no capítulo 8,
descobrimos que a vida controlada pelo Espírito Santo cumpre as exigências da
Lei.
II. A VIDA NO ESPÍRITO PRESSUPÕE OPOSIÇÃO À
NATUREZA ADÂMICA (Rm 8:5-17)
Duas forças antagônicas operam no homem: a natureza
carnal e o Espírito Santo. Esta tensão entre “carne” e Espírito nos faz lembrar
Gálatas 5:16-26, onde os dois se encontram em conflito irreconciliável um com o
outro. Em Romanos 8:5-17, o apóstolo Paulo mostra o contraste entre o Espírito
Santo e a natureza adâmica (a carne). A velha natureza perversa e corrompida só
nos causou dissabores. Nunca trouxe nada de bom. Se Cristo não tivesse nos
resgatados, a natureza adâmica teria nos arrastado para os lugares mais
profundos, escuros e quentes do inferno. Os que vivem segundo a velha natureza
(a carne) caminham, necessariamente, para a morte, não apenas física, mas
também eterna. Como Rm 8:4,5 deixa claro, viver segundo a carne significa não
ter salvação.
1. A velha inclinação (Rm 8:5-8). “Porque
os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne” (Rm
8:5a). Paulo diz que aqueles que se inclinam para a carne, ou seja, os
inconversos, se preocupam com as coisas da carne e obedecem aos impulsos da
carne; vivem para realizar os desejos da natureza corrompida; cuidam apenas das
coisas do corpo que, em pouco tempo, voltará ao pó. É bom deixar claro que,
quando Paulo fala em “carne”, não está se referindo ao tecido muscular mole e
macio que cobre o nosso esqueleto, nem aos instintos e apetites do nosso corpo,
mas sim ao todo que compõe a nossa natureza humana, vista como corrupta e
irredimida, nossa natureza humana caída e egocêntrica, ou o ego dominado pelo
pecado (John Stott).
“A inclinação da carne é morte” (Rm 8:6). Ou
seja, a inclinação de quem é dominado pela carne já é voltada para a morte
espiritual e conduz inevitavelmente à morte eterna, pois ela aliena tais
pessoas de Deus, impossibilitando a comunhão com Ele, seja neste mundo, seja no
próximo. Segundo William Macdonald, o pendor da carne dá para a morte porque é
inimizade contra Deus (Rm 8:7). O pecador vive em estado de rebeldia e
hostilidade ativa contra Ele; a crucificação do Senhor Jesus Cristo foi prova
clara dessa realidade. “O pendor da carne [...] não está sujeito à lei de
Deus”. Deseja fazer a própria vontade, e não a vontade de Deus. Deseja
ser seu senhor, e não se curvar à soberania divina.
Além da inclinação, falta também o poder
para obedecer. Portanto, não surpreende que os que
estão na carne não podem agradar a Deus. Não há nada que uma pessoa não-salva
possa fazer para agradar a Deus: nem boas obras, nem devoção religiosa,
tampouco serviço sacrificial. Antes de tudo, essa pessoa precisa reconhecer sua
condição de pecador e receber Cristo por um ato decisivo de fé. Somente então
poderá receber a aprovação de Deus.
Paulo diz mais: “porque, se viverdes segundo a carne,
morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” (Rm
8:13). O “viver segundo a carne” se revela através do corpo. Portanto, devemos
nos afastar da carne (natureza pecaminosa) e das suas iníquas atitudes, das
suas práticas e suas habituais respostas. Este é um ato que deve ser realizado
e uma atitude que deve ser tomada; devemos todos os dias nos afastar dos
desejos que nos levam para longe de Deus.
2. A nova inclinação (Rm 8:5b,9). “Mas
os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito” (Rm 8:5b); “Vós,
porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita
em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm
8:9).
Depois de nascer de novo, a pessoa não está mais na
carne, mas no Espírito. Ela passa a viver em um novo âmbito. Assim como o peixe
vive na água e o homem vive na superfície terrestre, o cristão vive no
Espírito. Não apenas ele vive no Espírito, como também o Espirito vive nele. Na
verdade, se o Espírito de Cristo não habita dentro dele, ele não pertence a
Cristo. Portanto, os que se inclinam para o Espírito, ou seja, os verdadeiros
cristãos, transcendem a carne e o sangue e vivem para as coisas eternas. O
Espírito inclina nossa mente para desejá-lo. Essa inclinação é um pendor, um
desejo forte que nos impulsiona e nos arrasta. Os que são dominados pela carne
buscam agradar a carne e praticar suas obras (Gl 5:19-21), mas os que se
inclinam para o Espírito, cogitam das coisas do Espirito; ocupam-se da Palavra
de Deus, da oração, da adoração e do serviço cristão.
3. A nova filiação (Rm 8:14-17). “Porque
todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.
Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em
temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba,
Pai”.
Os judeus se consideravam filhos de Deus por causa da
sua herança, mas Paulo explica que agora esse termo tem um novo significado. Os
verdadeiros filhos de Deus são aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus
como ficou provado no seu estilo de vida. Os crentes não têm apenas o Espirito
(Rm 8:9), eles também são guiados por Ele. Este privilégio, que tornou possível
ao crente ser orientado ou guiado pelo Espirito aconteceu porque Deus nos deu a
adoção de filhos – “... recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo
qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8:15). “Aba” é a palavra aramaica
usada pelos judeus (e até hoje pelas famílias que falam o hebraico) como o
termo familiar com o qual os filhos se dirigem ao seu pai. Pertencemos agora à
família de Deus. Temos intimidade com Deus.
O Espírito Santo é testemunha da nossa
filiação - “O mesmo Espírito testifica com o nosso
espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8:16). Portanto, não basta saber que
somos filhos de Deus por adoção, precisamos estar conscientes desse auspicioso
privilégio. O Espírito Santo testifica com nosso espirito que somos filhos de
Deus. Então, não precisamos viver cabisbaixos, derrotados e envergonhados.
Somos agora filhos do Altíssimo, membros da família de Deus. Isso não é
sugestão humana, mas testemunho fiel do Espírito Santo que habita em nós.
Glórias sejam dadas a Deus!
Os membros da família de Deus desfrutam
privilégios extraordinários. Todos os filhos de Deus são
herdeiros de Deus. Mais cedo ou mais tarde, o herdeiro recebe os bens de seu
pai. O apostolo Paulo confirma isso dizendo: “E, se nós somos filhos, somos,
logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm
8:17). Portanto, tudo que o Pai possui é nosso. Ainda não estamos
desfrutando tudo isso, mas certamente o faremos no futuro bem próximo. E somos
coerdeiros com Cristo; em seu Reino, teremos parte com Ele em todas as riquezas
do Pai.
Todavia, Paulo nos faz lembrar de que a vida vitoriosa
no Espírito Santo não é nenhum caminho fácil – “se é certo que com ele
padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (Rm 8:17b). Jesus
sofreu, e nós que o seguimos sofreremos também. Esse sofrimento é considerado
um sofrimento em conjunto com Ele (cf. 2Co 1:5; Fp 3:10; Cl 1:24; 2Tm 2:11,12)
e advém do nosso relacionamento com Deus como seus filhos, da nossa
identificação com Cristo, do nosso testemunho dele e da nossa recusa de nos
conformar com o mundo (cf. Rm 12:1,2).
III. A VIDA NO ESPÍRITO PRESSUPÕE OPOSIÇÃO
ENTRE A NOVA ORDEM E A ANTIGA (Rm 8:18-39)
Já que falamos em sofrimento, é bom lembrar que a
vitória do cristão não é não sofrer. A vitória do cristão é não
ser derrotado pelo sofrimento. Nesse período, que ainda temos aqui,
enquanto aguardamos a volta de Jesus Cristo, vamos sofrer sim, principalmente
porque vamos nos levantar contra tudo que se opõe a Deus, portanto vamos estar
em confronto direto com as forças das trevas, vamos estar em confronto direto
com a rebelião humana, vamos entrar em confronto direto com a injustiça, vamos
estar em confronto direto com a maldade, vamos entrar em contato direto com a
miséria, e é óbvio que vamos sofrer. É impossível enfrentar batalhas dessa
monta, sem experimentar algo de sofrimento ainda que pequeno. Vamos sofrer pelo
simples fato de sermos diferentes. Não tem como escapar disso, mas é preciso
lembrar que o sofrimento que vamos enfrentar enquanto pregamos o Reino de Deus,
e por pregarmos o Reino de Deus, enquanto lutamos pela implantação do Reino de
Deus, pela evidenciação dos sinais do Reino, esse sofrimento não se pode comparar
com a glória que há de ser revelada a nós, ou seja, não se pode comparar com
aquilo que Deus vai fazer no final do processo, dando-nos plenamente aquilo que
nos prometeu em Cristo Jesus, dando-nos uma glória que só será
inferior ao do próprio Cristo. Essa glória não é apenas particular, nossa, de
cada um de nós, mas é a glória da Igreja, e é também a glória do Planeta,
porque com a nossa glorificação, haverá a restauração de todas as coisas, e o
Apóstolo Paulo diz que a própria natureza está esperando esse dia, em que a
nossa glorificação representará a restauração da própria natureza. Então
não somos só nós que estamos sofrendo, todos os seres vivos estão sofrendo de
alguma maneira aguardando o dia da redenção. Aguardando quando o projeto de
Deus se cumprir em nós. Então nos deixemos amedrontar, não desfaleçamos diante
do sofrimento, da angústia porque são inevitáveis, pelo contrário, nutramo-nos
de esperança na certeza de que esse sofrimento, fruto natural da postura que
tomamos na vida em relação a Deus, há de ser consolado e vai gerar, em nós,
eterno peso de glória e, portanto, não pode ser comparado ao que nos aguarda em
Cristo Jesus.
O final do versículo 17, do capítulo em epígrafe,
termina com uma conexão entre o sofrimento e a glória. Isto nos ensina que a
participação na glória de Cristo somente será alcançada depois de uma
participação no seu sofrimento (Rm 8:17). Mas, Paulo completa esse pensamento e
conclui que nossos atuais sofrimentos “não são para comparar com a glória que
em nós há de ser revelada” (Rm 8:18). O sofrimento atual é temporário, enquanto
a glória futura é eterna. Paulo escreveu aos Coríntios: “Porque a nossa leve
e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente”
(2Co 4:17).
O sofrimento é parte do processo de partilhar da morte de Cristo e
irá culminar na participação da Sua glória. Essa participação da glória de Deus
tem proporções cósmicas, pois o glorioso destino dos crentes irá assimilar um
novo Dia para toda criação. Aqui ainda há dor e lágrimas; há fraqueza e morte;
porém, não caminhamos para um túmulo gelado e frio, mas para a gloriosa
ressurreição. Não caminhamos para um destino desconhecido nem para um lugar de
tormento, mas para a bem-aventurança eterna. O sofrimento presente não pode ser
comparado às glórias futuras. Diante do fulgor da glória que nos espera, os
sofrimentos do presente mundo são leves e momentâneos. Aleluia!
1. A manifestação dos filhos de Deus –
“A ardente expectativa da criação aguarda a manifestação dos filhos de Deus”
(Rm 8:19). Paulo informa enfaticamente que “toda criação geme e suporta
angústias até agora” (Rm 8:22). A criação que Paulo se refere é a criação
irracional, animada ou inanimada. A queda não atingiu apenas o homem, mas
também a natureza.
Vivemos em um mundo que suspira, soluça e sofre. Toda a
criação geme e padece dores como as de parto. A criação não se contorce com os
gemidos da morte, mas geme como uma mulher prestes a dar à luz (Rm 8:22). Seus
gemidos não são de desespero, mas de gloriosa expectativa. Ela não geme por
causa de um passado inglório, mas por um futuro glorioso. John Stott diz que
“os gemidos da criação são dores inevitáveis no vislumbre de uma Nova Ordem”. A
escravidão da decadência dará lugar à liberdade da glória (Rm 8:21). Às dores
de parto seguirão as alegrias do nascimento (Rm 8:22). A criação se recorda das
condições ideais no Éden e depois vê a destruição causada pela entrada do
pecado no mundo. Sempre houve a esperança da volta ao estado bucólico,
isto é, de beleza natural, campestre, primaveril, terno e maravilhoso, no
qual a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção e poderá
desfrutar a liberdade da era dourada na qual os filhos de Deus serão
manifestados em glória.
A criação aguarda ansiosamente a manifestação
dos filhos de Deus (Rm 8:19,21). A criação vive como
que na ponta dos pés, esticando o pescoço, olhando para esse futuro que virá
trazendo em suas asas a restauração de todas as coisas. As palavras “ardente
expectativa” (Rm 8:19), no grego, significam esperar de cabeça erguida
e com os olhos fixos naquele ponto do horizonte de onde virá o objeto esperado:
“a manifestação dos filhos de Deus”. Paulo personifica toda criação aguardando
com “ardente expectativa” o tempo em que seremos revelados filhos de Deus
diante de um mundo maravilhado. Isso ocorrerá quando o Senhor vier para reinar
e nós voltarmos com Ele. Já somos filhos de Deus, mas o mundo não reconhece nem
aprecia nossa condição. E, no entanto, o mundo espera por um dia melhor, um dia
que virá somente quando o Rei voltar para reinar com todos os seus santos.
2. Provas do grande amor de Deus. “Aquele
que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o entregou por todos nós, como
nos não dará também com ele todas as coisas?” (Rm 8:32). Fechando a
questão do sofrimento, o apóstolo Paulo diz: “olha, não tenha medo de viver,
não tenha medo do aparente sofrimento, porque nada pode nos derrotar. Deus é por nós; quem pode ser contra nós? Quem pode nos derrotar? Ninguém!
Quem pode nos separar do amor de Cristo? Nada!” O que quer dizer que
não importa o que aconteça, Cristo nos ama. E, aliás, esta é a certeza que nós temos de ter diante de qualquer sofrimento, diante de qualquer tribulação. Estarmos passando por
tribulação, estarmos passando por dificuldades, estarmos passando por lutas
não significa que Jesus Cristo deixou de nos amar, não
significa que Deus está chateado conosco e por isso estamos sendo punidos; nada
disso! Paulo está dizendo: “olha, por amor de Cristo nós somos mesmo entregues
à morte todo dia”, ou seja, ser cristão é tomar uma posição contra as trevas,
contra a morte, contra a injustiça, contra o desespero humano.
A maior prova do grande amor de Deus foi a entrega do
seu único Filho para morrer, vicária e substitutivamente, em nosso lugar - “nem
mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o entregou por todos nós”.
Aqui, a palavra “poupou” é a mesma para “negar”, usada em Gn
22:12, quando Deus disse a Abraão: “não me negaste o teu filho, o teu
único filho”.
Quando a humanidade perdida precisou ser salva por um
substituto sem pecado, o Deus do universo não reteve o tesouro mais precioso do
seu coração; antes, entregou-o a uma morte vergonhosa em nosso lugar -“o
entregou por todos nós...” (Rm 8:32). Cristo é o Dom inefável de Deus,
e a cruz é o gesto mais profundo do seu amor. Cristo não morreu como um mártir;
foi entregue, e Ele mesmo se entregou por toda a humanidade. Quem entregou
Jesus à morte não foi Judas, por dinheiro; não foi Pilatos, por medo; não foram
os judeus, por inveja; mas o Pai, por amor.
Diante deste inefável amor, o apóstolo Paulo descreve
uma lógica irresistível: “... como nos não dará também com ele todas as
coisas?” (Rm 8:32). Se Deus já nos deu a maior de todas as dádivas,
acaso reterá alguma dádiva de menor valor? Se Ele já pagou o mais alto preço,
acaso hesitará em pagar algum preço menor? Se Ele não mediu esforços para obter
nossa salvação, acaso nos abandonará? Porventura, “não nos dará
também com Ele todas as coisas?”.
3. Deus é conosco. “Que
diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm
8:31).
Satanás e todos que estão sob o seu poder são contra
nós, mas Deus promete que, no final, sairemos vitoriosos. Observe que o
apóstolo Paulo não pergunta: "Quem é contra nós?", pois, se assim o
fizesse, o inferno inteiro se levantaria, vociferando seu ódio incontido. A
pergunta é: "Se Deus está do nosso lado, quem poderá deter-nos ou
resistir a nós?". Se o Rei e Senhor do universo está do nosso
lado, se ele nos amou, nos chamou, nos justificou e já decretou a nossa
glorificação, então somos vitoriosos e invencíveis. Ainda que o inferno inteiro
se levante contra nós, certamente triunfaremos.
John Stott corretamente afirma: "O mundo, a carne,
e o diabo podem continuar alistando-se contra nós, porém nunca nos poderão
vencer, se Deus é por nós”.
O Rev. Hernandes Dias Lopes, citando Warren Wiersbe,
diz que Deus é por nós e provou isto dando-nos seu Filho (Rm 8:32). O Filho é
por nós e prova isto intercedendo por nós junto ao Pai (Rm 8:34). O Espírito
Santo é por nós, assistindo-nos em nossa fraqueza e intercedendo por nós com
gemidos inexprimíveis (Rm 8:26). Deus trabalha para que todas as coisas
contribuam para o nosso bem (Rm 8:28). Em sua pessoa e em sua providência, Deus
é por nós. Por vezes, lamentamos como Jacó: "Todas estas coisas me
sobrevêm" (Gn 42:36), quando, na verdade, tudo está trabalhando em
nosso favor. Deus é conosco, sempre!
CONCLUSÃO
Conquanto as provas, as tribulações, as vicissitudes,
sejam brutais e impiedosas, o crente, que tem sua vida segundo o Espírito Santo
de Deus, está seguro em Cristo. Se está seguro em Cristo é porque está em
Cristo. E “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1);
“nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades,
nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma
outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus,
nosso Senhor!” (Rm 8:38,39). “Em todas estas coisas somos mais do que
vencedores, por aquele que nos amou” (Rm 8:37).
Portanto, o fim do nosso caminho não é o sepulcro
coberto de lágrimas, mas o hino triunfal da gloriosa ressurreição. Nossa
jornada não terminará com o corpo surrado pela doença, enrugado pelo peso dos
anos, coberto de pó na sepultura, mas receberemos um corpo de gloria,
semelhante ao de Cristo (Fp 3:21). Nosso corpo resplandecerá como o fulgor do
firmamento e como as estrelas, sempre e eternamente (Dn 12:3). Nosso choro
cessará, nossas lágrimas serão estancadas. Não haverá mais luto, nem pranto,
nem dor (Ap 21:4). Esta é uma promessa inexorável a todos aqueles que têm sua
vinda segundo o Espírito de Deus.
A graça de Deus faz com se seja possível sermos salvos.
A Bíblia diz em Efésios 1.7-8 “Que ele fez abundar para conosco em toda a
sabedoria e prudência, fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade, segundo
o seu beneplácito, que nele propôs.” John Wesley discorrendo sobre ‘A Salvação
pela Fé’, escreve: “Pela graça sois salvos, mediante a fé (Ef 2.8) - Todas as
bênçãos que Deus tem dado ao homem provêm da sua mera graça, generosidade ou
favor; favor totalmente imerecido: o homem não tem nenhum direito à menor
misericórdia divina. Foi a graça livre que formou o homem do pó da terra e lhe
soprou nas suas narinas o fôlego da vida e imprimiu na alma a imagem de Deus e
“pôs tudo sob seus pés”. (Gn 2,7; Sl 8,6). Agora podemos ter plena confiança no
sangue de Cristo, uma confiança nos méritos de sua vida, morte e ressurreição,
um descansar nele como nossa propiciação e nossa vida, como dado por nós e
vivendo em nós. A segura confiança que temos em Deus e que, através dos méritos
de Cristo, nossos pecados estão perdoados, estamos reconciliados ao favor de
Deus e, como conseqüência, próximos e apegados a Ele, como nossa “sabedoria,
justiça, santificação redenção” ou, numa palavra, nossa salvação] “NaquEle
que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de
vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.
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