
TEXTO ÁUREO
“Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.
Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne,
à lei do pecado” (Rm 7.25)
VERDADE
PRÁTICA
A luta
entre a carne e o espírito é uma realidade na vida de todo crente, mas a
dependência da graça de Deus fará com que tenhamos uma vida vitoriosa.
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE
Romanos
7.1-15
INTRODUÇÃO
Nesta Aula, estudaremos o capítulo 7 da Epístola aos
Romanos. Este capítulo é um dos mais complexos e difíceis desta Epístola,
talvez um dos mais densos de todo o Novo Testamento. Há uma gama enorme de
opiniões dos estudiosos acerca da sua real interpretação. Este capítulo trata a
respeito da libertação da Lei. Ora, se já fomos libertados da Lei, e estamos
debaixo da graça de Deus, por que muitos dos que cristãos dizem ser passam por
conflitos espirituais internos? Na realidade, qual é o lugar da Lei na vida do
cristão? Ela é a causa do pecado? É a causa da morte? Eu diria que a Lei não é
a causadora da morte, mas sim o pecado; assim como o problema de um criminoso
não é a lei, mas sua transgressão.
Ao longo dos séculos o capítulo sete da carta aos Romanos
tem desafiado inúmeros teólogos e estudiosos quanto à sua real interpretação.
Uma correta interpretação deste capítulo é essencial à compreensão de toda
carta, e, para interpretá-lo, precisaremos de todos os elementos que foram
realçados através das análises feitas nos capítulos anteriores. Assim, não vai
ser com esta concisa lição que elucidaremos o capítulo sete. Paulo expande
agora o tema da relação entre o crente e a lei. Embora a lei seja santa, justa
e boa (v. 12), a sujeição do pecador à lei resultou somente em condenação,
visto que a lei, em sua justiça, desvendava toda a transgressão e fracasso.
Nesta seção, a relação entre o pecador e a lei é comparada a um casamento. O
ponto da comparação é que a morte leva essas relações ao fim, e o cônjuge viúvo
fica livre para entrar em nova relação de casamento, Visto que o ‘casamento’
com a lei foi quebrado por meio da morte, o crente não é um adúltero e nem pode
ser condenado pela lei. O crente morre ao ficar unido com Cristo em sua morte,
quebrando a cadeia de desobediência e morte que prendia o pecador a Adão e ao
seu destino (5.12-21). O outro lado da ilustração é que a união com Cristo, em
sua ressurreição, confere ao crente uma nova relação, segundo a qual uma verdadeira
– embora ainda não perfeita – obediência é prestada a Deus, em amor e gratidão.
No novo relacionamento com Cristo, a força do Espírito Santo assegura que
haverá vida e frutificação (7.4) – uma metáfora que aponta para um resultado ou
conseqüência natural.
John Stott menciona três grupos que lidam com a Lei de
formas diferentes: Em primeiro lugar, os legalistas. Eles procuravam observar
os preceitos da Lei com o propósito de ser salvos (Lv 18:5). Uma vez que não
conseguiam cumprir as exigências da Lei, os legalistas acabavam ostentando uma
religiosidade apenas de aparência. Viviam debaixo de um jugo pesado e queriam
colocar essa mesma canga sobre os demais. O legalista torna-se um fariseu,
cujas ações exteriores são aceitáveis, mas cujas atitudes interiores são
desprezíveis. Em segundo lugar, os libertinos. De forma diametralmente oposta,
estes olhavam para a lei como a causadora de todos os seus problemas. Queriam
sacudir o seu jugo para viver sem freios e sem limites. Assim, a graça de Deus
é transformada em libertinagem. Esse ainda é o modo de agir da chamada
"nova moralidade". Seus seguidores sacudiram de sobre si o jugo
divino e anularam a lei moral de Deus. Contudo, certamente esse não é o
significado que Paulo quis dar quando disse que não estamos mais debaixo da lei
e sim da graça (Rm 6:14). É importante destacar que, quanto à justificação, não
estamos mais debaixo da lei, e sim da graça; e, para sermos santificados, não
dependemos da lei, mas somos guiados pelo Espírito Santo. Em terceiro lugar, os
cristãos. Estes se regozijam tanto em sua libertação da Lei como em sua
liberdade para cumpri-la. Deleitam-se na Lei por ser a revelação da vontade de
Deus (Rm 7:22), mas reconhecem que a força para cumpri-la não provém da Lei,
mas do Espírito de Deus. Em síntese, o legalista teme a Lei e está debaixo de
sua servidão; o libertino detesta a Lei e a lança fora; o cristão respeita a
Lei, à qual ama e obedece.
I. A LEI ILUSTRADA NA ANALOGIA DO CASAMENTO (Rm 7:1-6)
Na Aula anterior, aprendemos que quando Cristo morreu nós
também “morremos” para o pecado. Adquirimos uma nova natureza: a natureza
espiritual. Porém, enquanto estivermos vivos em nosso corpo corruptível, temos
que lidar com nossa natureza carnal e suas tentativas de controlar nossos
pensamentos e ações. Para descrever essa tensão entre a nossa antiga natureza e
a nova, Paulo usou a analogia do casamento para explicar a situação de
escravidão ao pecado e de servir a Deus. A lei é como um marido perfeccionista;
esse marido condena a esposa por sua menor falha. Somente a morte pode
interromper esse casamento. Assim como a morte cancela os votos matrimoniais,
morrer em Cristo na sua morte interrompe o nosso “casamento” com o pecado.
1. A metáfora do casamento (Rm 7:1-3). “Não sabeis vós,
irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem
por todo o tempo que vive? Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto
ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do
marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for doutro
marido; mas, morto o marido, livre está da lei e assim não será adúltera se for
doutro marido”.
Em Rm 7:1, Paulo mostra que a lei tem domínio sobre o homem
durante toda a sua vida. Apenas a morte pode interromper o domínio da lei sobre
nós. Se a morte sobrevém, os relacionamentos estabelecidos e protegidos pela
lei são dados por terminados. Não se espera que um cadáver siga quaisquer leis,
e ele não pode pagar pelos pecados cometidos.
Os cristãos destinatários da Epístola (principalmente
aqueles familiarizados com os princípios da lei) deveriam saber que não estavam
mais debaixo da lei e sim da graça (Rm 6:14), e que ela não se aplica àquele
que está morto em Cristo na Sua morte. Para ilustrar esse fato, Paulo faz uma
ilustração da lei na analogia do casamento. Mostra que somente a morte rompe o
contrato de casamento.
Paulo compara a lei com um marido e os crentes com uma
esposa. Esse casamento é turbulento e conflituoso. A culpa não é do marido (a
lei); ele é perfeito, santo, justo e bom. O problema é que essa esposa (os
crentes) nunca consegue agradá-lo, pois é imperfeita, carnal, rendida ao pecado
e sempre frustra as expectativas do marido. O contrato de casamento perde sua
validade quando um dos cônjuges morre.
Entendendo melhor a metáfora:
Imagine o seguinte casamento: o marido é um perfeccionista;
para ele tudo tem que estar no devido lugar, no lugar certo; a mulher tem que
fazer a comida numa determinada temperatura; os talheres têm que estar
arrumados em determinada forma na mesa; ele quer sua camisa perfeitamente
engomada, com colarinho passado em uma determinada forma, tem que estar dobrado
exatamente do jeito que ele quer no guarda-roupa; os móveis têm que estar todos
limpinhos sem nenhuma poeira na sala; a posição dos móveis tem que estar numa
determinação peculiar. Esse homem tem horário cronometrado: diariamente, ele
acorda regularmente às 6:50h; 15 minutos depois ele está à mesa devidamente
vestido para tomar o café; 10 minutos depois ele está saindo de casa; chega em
casa exatamente às 18:00hs e a comida tem que estar pronta; assiste ao jornal
predileto e vai para cama exatamente às 22:00h. Ele faz isso todo dia! Tudo tem
que ser e estar exatamente do jeito dele!
Quanto à mulher desse marido: ela é uma folgada; é
desastrada, coitada! Ela ama o marido, ela quer agradar o marido, mas ela é
esquecida: não se lembra dos horários; esquece como o marido quer as coisas;
queima a comida; mancha a camisa dele... E ele não ajuda. Ele fica dizendo:
você não presta para nada; não sei por que casei com você; nada que você faz dá
certo; nada, você não presta para nada! E aquela mulher vive num estado de
desespero porque não consegue agradar o marido. E aí ela começa a pensar em
outro homem, que é tão exigente quanto ao marido, tão certinho quanto o marido,
mas compreende, ajuda, dá uma força, entende, apresenta seu suporte... Ela
começa a pensar como ela pode se casar com outro homem. Humanamente falando, a
solução para isso seria matar o marido. Só que ele não morre! Ele malha na
academia e ele tem hábitos alimentares perfeitos. Desse jeito, o cara vai viver
mais de 100 anos! E isto é um desespero para essa mulher! Como, então,
encontrar uma solução?
2. A metáfora da mulher viúva: Dando continuidade a analogia
do casamento, Paulo afirma que se uma mulher se unir com outro homem, enquanto
o marido estiver vivo, cometerá adultério. Porém, se a mulher é viúva, ela
estará livre para se casar novamente, sem ser culpada de qualquer delito.
Somente a morte divorcia um matrimônio. Isto é, a única possibilidade de a
mulher ficar livre do marido para unir-se a outro marido é a morte dele. A
ideia central é que essa morte não apenas encerra um relacionamento, mas abre
caminho legal para que a mulher inicie outra união. Isso porque, ainda que o
casamento seja para toda a vida, não se estende para além da vida. Paulo,
portanto, queria que os cristãos destinatários de sua Epístola se lembrassem de
que, sob circunstâncias normais, qualquer quebra dos votos matrimoniais seria
considerada adultério, “porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto
ele viver, está-lhe ligada pela lei” (Rm 7:2).
Entendendo melhor a metáfora:
A Mulher somos nós e o Marido é a lei. É este casamento que
não dá certo! A Lei exige, pede e é toda certinha, mas o problema é que nós,
como aquela Mulher, não conseguimos obedecer às demandas da Lei. E não temos
como fazer porque estamos ligados à Lei a vida toda. A mulher casada está
ligada pela lei ao marido enquanto ele vive. Porém, se o Marido morrer ela
estar desobrigada da lei conjugal, e assim ela pode se casar novamente. É o que
Romanos 7:3 diz: “De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o
marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará livre da lei
e não será adúltera se contrair novas núpcias”.
Esta era a nossa situação: estávamos casados com a Lei. E
nós não conseguíamos agradar a Lei. Não conseguíamos fazer o que a Lei mandava.
E aí começamos a pensar no outro. Quem é o outro? Jesus. Ele é tão exigente
quanto à Lei, ou até mais; só que sabemos que Ele nos ama, e que aquilo que nos
pede Ele nos dá força e graça para fazer. Mas eu não posso pertencer a Jesus
porque eu estou casado com a Lei de Deus desde que nasci. Então o que eu faço
para sair deste casamento? Veja a solução no item seguinte.
3. Mortos para a lei (Rm 7:4). Sabe qual foi a solução de
Deus para este impasse? Não foi matar o Marido (a lei). Foi matar a Esposa
(nós). Perceba isto em Romanos 7:4. Até agora só se falava: “se o marido
morrer”, “se morrer o marido”. Todavia, quem realmente morre é a Mulher (nós).
É o que Paulo narra: ”Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à
lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele
que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus”.
Com a morte da Mulher (os crentes) o problema foi
solucionado; o vínculo conjugal com o primeiro Marido acabou. Ela está morta em
relação a esse Marido. Uma vez que ela ressuscitou (Cl 3:1), está livre para
pertencer a outro Marido, espiritualmente falando! Foi este o caminho de Deus!
O caminho de Deus não foi tirar a Lei, mas nos tirar debaixo dela. E como isso
aconteceu? Da mesma forma que nos tirou do pecado. Como é que nós morremos para
o pecado? Pela nossa união com Cristo. E como nós somos livres do casamento com
a Lei para podermos pertencer a Cristo? Romanos 7:4 explica: “Assim, meus
irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de
Cristo...”.
Quando Cristo morreu na cruz, nós não somente morremos para
o pecado, mas nós também morremos para aquilo que dar força ao pecado, que é a
Lei. Agora mortos para o pecado, com quem estávamos casados desde o nascimento,
nós podemos pertencer ao outro sem cometer adultério. Quem é este outro? Está
no final do versículo 4: “...aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de
que frutifiquemos para Deus”.
Agora posso frutificar para Deus. Enquanto eu estava debaixo
da Lei não tinha como frutificar para Deus, porque frutificar para Deus seria
dar o bom fruto, obedecer à Lei, fazer a vontade de Deus, mas eu não podia, eu
não conseguia! Mas agora eu saí de debaixo da Lei e estou unido a Cristo, que
ressuscitou dentre os mortos e pela força dele, pela força da Sua ressurreição,
agora dou fruto para Deus.
Cada crente pertence inteiramente a Cristo; isto acontece
por causa da morte de Cristo na cruz, e pelo fato do crente estar unido a Ele
em sua morte e ressurreição. Somente pertencendo a Cristo é que podemos
produzir bons frutos, isto é, realizar boas obras e viver uma vida que agrada a
Deus.
Enquanto a Lei nos governava, não haveria a menor
possibilidade de sermos libertados da escravidão do pecado. A única alternativa
seria a nossa desobrigação da Lei. Isso já ocorre com a nossa união com Cristo,
em sua morte, pois toda a virtude da morte de Cristo, ao satisfazer as
reivindicações da Lei, nos tornou livres da escravidão e do poder do pecado a
que estávamos consignados pela Lei.
Portanto, assim como a morte rompe o relacionamento
conjugal, também a morte do cristão com Cristo (neste caso, a morte da antiga
personalidade) rompe o poder da Lei sobre ele. O antigo arranjo contratual
tinha que ser completamente rompido antes que o novo se iniciasse. Isto tinha
que ser tão definitivo quanto a morte. Os crentes judeus não podiam viver uma
dupla devoção. Eles não podiam viver sob o domínio de Cristo e sob o domínio da
Lei. O tal compromisso com Deus não pode coexistir com o compromisso total com
a Lei; isto seria adultério espiritual.
Convém observar que Paulo não diz que a Lei está morta.
Somos nós que morremos relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, uma
referência à entrega do seu corpo à morte. Uma vez que Ele morreu como nosso
representante, nós morremos com Ele. Em Sua morte, Ele pagou a pena atroz e,
desse modo, cumpriu todas as exigências da Lei. Assim, estamos livres da Lei
(Rm 7:6) e de sua maldição inevitável. Estamos livres para servir em novidade
de espírito e não na caducidade da letra (Rm 7:6). Nosso serviço é motivado por
amor, e não por medo; é um serviço prestado em liberdade, e não sob o jugo da
escravidão; não é mais um apego servil aos mínimos detalhes de rituais e
cerimônias, mas um transbordamento jubiloso de nosso próprio ser para a glória
de Deus e a bênção de outros.
II. ADÃO ILUSTRADO NA ANALOGIA DA SOLIDARIEDADE DA RAÇA (Rm
7:7-13)
7. Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu
não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu
conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás.
8. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou
em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado.
9. Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito,
reviveu o pecado, e eu morri.
10. E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que
este mesmo se me tornou para morte.
11. Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo
mesmo mandamento, me enganou e me matou.
12. Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e
justo, e bom.
13. Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo
contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa,
causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira
maligno.
Estes versículos referem-se à luta terrível do crente contra
a natureza humana caída. Aqui, Paulo descreve o papel importante desempenhado
pela lei em sua vida antes de ele ser salvo. Enfatiza que a lei em si não é
pecaminosa, mas que revela o pecado ao homem. Foi a lei que o convenceu da
depravação terrível do seu coração. Enquanto se comparava com outras pessoas,
sentia-se razoavelmente respeitável; porém, ao ser confrontado com as
exigências da lei de Deus, viu-se mudo e condenado.
-“Que diremos, pois? É a lei pecado?”. Aqui, Paulo convoca
os cristãos ao raciocínio: “Que diremos, pois?”. Qual a conclusão que os
cristãos deveriam abraçar? A resposta é clara: “De modo nenhum!”. A lei não é
pecado! Paulo apregoou a necessidade dos cristãos livrarem-se da lei, porém,
nunca disse que a lei é pecado.
Embora o apóstolo não tenha afirmado no decurso da Epístola
que a lei é pecado, alguns judaizantes poderiam distorcer os argumentos e
afirmar que Paulo anunciou que a lei é pecado. Como Paulo anunciava que os
cristãos eram livres do pecado e da lei, alguém mal-intencionado poderia
anunciar que Paulo estava equiparando a lei com o pecado, distorcendo o que o
apóstolo dos gentios procurou evidenciar. Mas Paulo afirma categoricamente que
a lei não é pecado (Rm 7:7). Também afirmou que os gentios pecaram mesmo sem
lei. Esta afirmação leva-nos a concluir que o pecado surgiu da transgressão à
lei (a lei moral) dada no Éden, e não da transgressão das prescrições de
Moisés. Bem antes da lei de Moisés a morte reinou sobre todos os homens (Rm
5:13). Desde Adão até Moisés a morte reinou sobre os homens o que significa que
todos pecaram (Rm 3:23; 5:14). Daí, vale destacar que o pecado impera à parte
da lei mosaica. Como? Um homem pecou, todos pecaram (Rm 5:18). Ora, se um só
homem pecou e todos pecaram, segue-se que o pecado que subjugou a humanidade
não decorre da desobediência à lei de Moisés, visto que, após a desobediência
de Adão, Deus não instituiu, de imediato, leis, porém, mesmo assim, todos
morreram, o que demonstra que todos estavam em pecado.
Através da ofensa de Adão, o ser humano peca; porque foi
vendido como escravo ao pecado. Jesus é claro ao afirmar isto: “Replicou-lhes
Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do
pecado" (João 8:34). O homem peca porque é escravo do pecado e não porque
transgride a lei de Moisés.
Em Romanos 7:11, Paulo enfatiza que a culpa não é da lei. O
pecado que reside dentro do ser humano o incita a fazer o que a lei proíbe. No
princípio, o pecado o enganou, levando-o a pensar que o fruto proibido não era
tão nocivo, que traria felicidade e que seria possível ficar impune. Sugeriu
que Deus o estava impedindo de desfrutar prazeres que lhe seriam benéficos.
Assim, o pecado trouxe-lhe a morte no sentido de que acabou com suas esperanças
de merecer a salvação ou obtê-la por esforços próprios.
De acordo com as Escrituras, um homem transgrediu e todos
transgrediram. Um homem pecou e todos vêm ao mundo separados de Deus,
destituído da sua glória, porque todos pecaram pelo simples fato de serem
descendentes de Adão.
O maior pecado de Adão e Eva foi a cobiça (2Co 11:3; 1Tm
2:14). Adão e Eva morreram espiritualmente, ao desobedecerem a ordem de Deus. O
mesmo aconteceu com Paulo e com todos os demais seres humanos (Rm 1:18; 3:23).
Digno de nota é o fato de Paulo mencionar o Décimo Mandamento do Decálogo como
aquele que o tornou cônscio do seu pecado e abriu seus olhos para a própria
devassidão: “pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não
cobiçarás” (Rm 7:7). A cobiça ocorre na mente. Ainda que Paulo talvez não
tivesse cometido nenhum dos pecados mais vulgares e repulsivos, ele se deu
conta de que seus pensamentos eram corrompidos. Ele entendeu que pensamentos
perversos são tão pecaminosos quanto atos perversos. Sua vida exterior talvez
fosse relativamente irrepreensível, mas sua vida interior era poluída. Todos os
primeiros nove mandamentos são objetivos, e qualquer tribunal da Terra pode
legislar sobre eles, fiscalizá-los e condená-los. Mas o Décimo Mandamento
("Não cobiçarás") é subjetivo, pertence à jurisdição do foro íntimo,
e nenhum tribunal da Terra tem competência para julgar foro íntimo. A lei de
Deus, porém, penetra como uma câmara de raio-X e faz uma leitura dos propósitos
mais secretos do nosso coração, trazendo à luz seus desejos pervertidos.
Observe a expressão de Paulo em Rm 7:11: “Porque o pecado,
prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou”.
Aqui, o verbo "enganou" é o mesmo usado em 2Coríntios 11:3 - "a
serpente enganou a Eva”; e em 1Timóteo 2:14 - "a mulher, sendo enganada,
caiu em transgressão". Paulo quis dizer que o pecado seduz, engana e mata.
O Rev. Hernandes Dias Lopes, citando William Barclay,
esclarece que o engano do pecado pode ser visto sob os seguintes aspectos:
a) enganamo-nos ao considerar a satisfação que encontraremos
no pecado. O pecado é doce ao paladar, mas amargo no estômago. É um embusteiro,
pois promete alegria e paga com a tristeza; proclama liberdade e escraviza; faz
propaganda da vida, mas seu salário é a morte.
b) enganamo-nos ao considerar a desculpa que podemos dar
pelo pecado. Todo homem pensa que pode ostentar sua defesa por ter praticado
este ou aquele pecado, mas toda escusa do pecado torna-se nula sob o escrutínio
de Deus.
c) enganamo-nos ao considerar a probabilidade de escapar das
consequências do pecado. Ninguém peca sem a esperança de que sairá ileso das
consequências do pecado. A realidade inegável, porém, é que cedo ou tarde o
nosso pecado nos achará.
Quando um criminoso é apanhado no flagrante de seu delito, a
lei exige que ele pague por seu crime. Ele é preso e a lei o condena. Esse
transgressor, porém, não pode culpar a lei de ser responsável pelos seus
problemas. Ele está preso por causa de seu crime e não por causa da lei. A lei
está livre de qualquer culpa. O vilão da história é o pecado. Calvino ressalta
que o pecado reside em nós, e não na lei, uma vez que a perversa concupiscência
de nossa carne é a sua causa. É certo que a lei expõe, provoca e condena o
pecado, mas não é responsável por nossos pecados nem por nossa morte. Assim, a
lei não pode salvar-nos porque não podemos cumpri-la, e não podemos cumpri-la
por causa do pecado que habita em nós.
A ofensa de Adão trouxe juízo sobre todos os homens, mas o
ato de Justiça de Cristo trouxe justificação que dá vida a todos. O ato de
justiça não foi a vida do Salvador ou sua observância da lei, mas sua morte
vicária no Calvário. Ela trouxe justificação que dá vida, ou seja, a
justificação que resulta em vida, e é oferecida a todos os homens.
III. O CRISTÃO ILUSTRADO NA ANALOGIA ENTRE CARNE E ESPÍRITO
(Rm 7:14-25)
14. Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia,
sou carnal, vendido à escravidão do pecado.
15. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir,
pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.
16. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é
boa.
17. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado
que habita em mim.
18. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não
habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
19. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não
quero, esse faço.
20. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o
faz, e sim o pecado que habita em mim.
21. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o
mal reside em mim.
22. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na
lei de Deus;
23. mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando
contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos
meus membros.
24. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo
desta morte?
25. Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira
que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a
carne, da lei do pecado.
1. A santidade da lei. O apóstolo Paulo diz que “a lei é
santa; e cada mandamento, santo, justo e bom” (Rm 7:12). A Lei é santa porque
ela é a voz de Deus; ela reflete o caráter de Deus, sendo a cópia de suas
perfeições; ela traz as impressões de seu autor. Ela foi dada por Deus e,
portanto, é perfeita como expressão da vontade dele para o seu povo. A fraqueza
da lei encontra-se na “matéria prima” com a qual teve de trabalhar: ela foi
dada a indivíduos que já eram pecadores. Precisavam da lei para lhes dar
conhecimento do pecado, mas, além disso, precisavam de um Salvador para
livrá-los do castigo e do poder do pecado. Portanto, não há falha na lei; a
falha está em mim que não consigo obedecer-lhe (Rm 7:18). Sendo santa, a lei
mostra o caráter maligníssimo do meu pecado (Rm 7:13). O pecado é a maior de
todas as tragédias; é pior do que a pobreza, a fome, a doença e a própria
morte, pois esses males, embora graves, não nos podem afastar de Deus. O
pecado, contudo, nos afasta de Deus agora e por toda a eternidade.
2. A malignidade da carne (Rm 7:18,19). “Porque eu sei que
em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está
em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que
não quero, esse faço”. Aqui, “carne”, obviamente, não significa “corpo”;
“carne” descreve nossa situação antes de sermos salvos, refere-se a nossa velha
natureza. Paulo sabe que nenhum bem habita em sua carne, uma vez que não há
nele poder para fazer o bem que deseja (Rm 7:19).
É válido salientar que, quando Paulo diz, em Romanos 7:14,
que é carnal, não está declarando que não é convertido. Essa mesma expressão
foi usada para referir-se aos crentes de Corinto (1Co 3:1-3) e Paulo jamais
insinuou que eles não fossem convertidos. A verdade é que a velha natureza não
é aniquilada na conversão. Ela ainda habita em nós. Embora não tenha poder
legal de nos dominar, muitas vezes ela revela quão fracos somos.
Em nossa jornada espiritual, há um tremendo conflito entre a
carne (velha natureza) e a nossa nova natureza. Foi o que o apóstolo Paulo
disse aos Gálatas: “Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito,
contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que
quereis” (Gl 5:17). Na verdade, existem duas forças antagônicas que nos
arrastam para direções opostas. Na justificação fomos libertados da culpa do
pecado; na santificação estamos sendo libertados do poder do pecado, mas só na
glorificação seremos salvos da presença do pecado. Ainda lidamos contra o
pecado que tenazmente nos assedia.
3. A velha natureza (Rm 7:20-25). “Mas, se eu faço o que não
quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim”. Podemos
parafrasear esse versículo da seguinte maneira: “Se eu (a velha natureza) faço
o que eu (a nova natureza) não quero, já não sou eu (a pessoa) quem o faz, e,
sim, o pecado que habita em mim”. É bom deixar claro que Paulo não está se
desculpando nem se esquivando de sua responsabilidade como cristão salvo. Ele
está apenas afirmando que a velha natureza ainda continua habitando nele e, ao
pecar, não o faz com o desejo do novo homem.
Longe de estar morta, no sentido de inerte, nossa natureza
caída está tão viva e ativa que somos seriamente exortados a não obedecer aos
seus desejos, e o Espírito Santo nos é concedido para que possamos subjugá-los
e controlá-los. A natureza adâmica não é extirpada na conversão, mas recebemos
poder para subjugá-la e dominá-la.
Não há nada de bom na nossa velha natureza. Paulo vê isso
como parte de sermos humanos. Embora pertençamos a Cristo e tenhamos morrido
para o pecado, ainda vivemos em um mundo pecaminoso e temos uma natureza
pecaminosa que é completamente corrupta. Desde a queda do ser humano, há uma
tensão: tentar fazer o bem e não ser capaz de fazê-lo. Sem a ajuda do Espírito
Santo, a pessoa é dominada pelo poder do pecado e continua a fazer o mal,
embora realmente deseje fazer o bem.
Deus podia eliminar a velha natureza dos crentes no momento
da sua conversão, mas não o faz. Por quê? Porque Ele quer nos obrigar a se
lembrar constantemente da nossa fraqueza; quer nos manter sempre em estado de
dependência de Cristo, nosso Sacerdote e Advogado, e levar-nos a louvar
incessantemente Aquele que nos salvou. Em vez de remover a velha natureza, Deus
nos deu seu Espírito para habitar em nós. O Espírito de Deus e nossa carne
estão constantemente em conflito, e isso continuará até o dia em que Deus nos
levar para Si. O que o crente tem de fazer é ceder ao Espírito Santo.
CONCLUSÃO
O velho Adão é muito forte para nós, mas graças a Deus ele
não é suficientemente forte para Cristo. Jesus Cristo, nosso Senhor, nos dará a
vitória, dia-a-dia e durante todos os dias. Por causa de Jesus Cristo um grande
futuro nos está garantido. Um dia nos uniremos a Ele na eternidade com um novo
corpo, incorruptível e glorificado, livre do poder e da presença do pecado.
Abraços.
Viva vencendo a carne!!!
Seu irmão menor
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