
No dia 15 de setembro de 2009 li uma
matéria do “The New York Times” referindo-se ao avanço numérico da igreja
evangélica no Brasil. O título da matéria era “Noites de luta e reggae enchem
igrejas evangélicas no Brasil”. Gostaria de ter ficado surpreso com esse tipo
de notícia, entretanto, ela serviu para confirmar aquilo que venho falando
sobre a decadência da igreja e seu processo pragmático de crescimento. Num dos
trechos da matéria, o ambiente “evangélico” daquela igreja é descrito da
seguinte forma:
“Na noite do Extreme Fight, dezenas de jovens
pairavam em volta da igreja. Na sala da frente, barracas vendiam
cachorro-quente e pizza e jovens se alinhavam em um canto para fazer tatuagens
com temas religiosos, como ‘Eu pertenço a Jesus’. Na sala principal, havia
videogames, um DJ tocando uma mistura de hip-hop e funk, e uma tela de projeção
mostrando um DVD do Harlem Globetrotters”.
Certamente muitos pastores lerão essa
matéria e concordarão com ela, argumentando que se trata de “uma grande
ferramenta para expandir o reino de Deus” ou que “Deus usa diversas formas para
uma pessoa se converter”. Causa-me tristeza pensar que a igreja tem usado de
meios reprováveis para atingir um fim tão nobre como a proclamação do
evangelho.
Precisamos ressaltar alguns pontos no
que diz respeito a essa atitude O primeiro deles é que a
igreja brasileira tem tentado se mostrar uma “igreja legal e divertida”. Parece
que um dos grandes propósitos da igreja é provar as pessoas que somos felizes
e, para isso, é necessário que se façam muitos shows, eventos, lutas, etc. Os
evangélicos pragmáticos têm se esforçado para comunicar que, se você “tomar uma
decisão”, não precisará mudar muita coisa em sua vida. Antes, o incrédulo
frequentava a balada, agora ele vai a igreja dançar na “cristoteca”. O barzinho
é trocado pela “lanchonete gospel”, onde você pode continuar fazendo suas
piadinhas e buscando alguém para ficar. Isso e muito mais é feito, pois os
líderes dessas igrejas precisam provar aos incrédulos que a igreja é um lugar
“gostoso”.
Outro ponto que deve ser frisado é que
essas igrejas precisam colher resultados rápidos e, para isso, cometem todos os
tipos de abominações. Os líderes dessas igrejas acreditam que um bando de
“brutamontes” entortanto barras de ferro ou um grupo de skatistas fazendo
manobras radicais “alcançarão os jovens para Cristo”. Isso porque no final das
suas performances, eles dão um testemunho de como era suas vidas e como se
encontram agora. Eventualmente citam um versículo bíblico, sendo motivo de
grande crédito por parte das igrejas, visto que parece ser relevante à igreja
fazer esse tipo de programa.
John MacArthur cita um pequeno trecho de certo
artigo publicado na “Los Angeles Times Magazine” retratando uma grande igreja
dos Estados Unidos no domingo pela manhã: “Os membros ouvem os sermões cujos
temas incluem ‘A Pick-up Ford do Pastor e Sexo Cristão’ (classificado com R que
significa ‘relevância, respeito e relacionamento’, disse o pastor, ‘e mais
engraçado do que parece’). Após o culto, os membros dançam com músicas de uma
banda chamada ‘Os Anjos do Cabaré’ (e o que mais poderia ser?). A freqüência à
igreja está aumentando rapidamente...”
Essas situações ilustram muito bem o
ditado antibíblico que “os fins justificam os meios”. Para essas igrejas, o
resultado é o que mais importa. Portanto, se fazer Vale Tudo na igreja ou
torná-la uma pista de dança atrai um grande número de pessoas, é isso que será
feito. Minha pergunta é: até onde podemos chegar com uma filosofia tão mundana
e irreverente? Parece difícil prever o que acontecerá nos próximos anos, visto
que muitas dessas práticas eram inimagináveis a algumas décadas e, com essa
filosofia de “vale tudo pelo evangelho”, temo que presenciaremos situações
ainda mais tenebrosas.
A igreja foi edificada por Cristo e seu
papel não é buscar popularidade, mas pregar a Palavra de Deus. A igreja do
Senhor não é um barzinho adaptado ou um clube que está fazendo campanha para
conquistar novos sócios. O povo de Deus pertence a “igreja do Deus vivo, coluna
e baluarte da verdade” (1Tm 3.15).
A igreja que Cristo “amou” e “comprou com o Seu
próprio sangue”(Ef 5.25; At 20.28), está no mundo como um povo diferente
daquele que “jaz no maligno” (1Jo 5.19). Como disse Charles Spurgeon: “prover
entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de
seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? Vós sois o
sal, não o docinho, algo que o mundo desprezará”.
O Senhor Jesus alertou Seus discípulos
afirmando que não veio “trazer paz, mas espada”, trazendo divisões dentro do
próprio lar. Cristo ainda afirma que o amor a Ele deve estar acima de todas as
coisas, incluindo, pai mãe e filhos. Amar outras coisas ou pessoas mais do que
a Cristo mostra que a pessoa não está disposta a servir ao Senhor (Mt
10.33-38). O evangelho pragmático passa longe desse padrão, pois é fato que a
estratégia do pragmatismo é fazer tudo que as pessoas gostem, evitando
confrontá-la para não deixá-la desconfortável. Os convertidos ao evangelho
pragmático dificilmente confrontarão seus familiares com o evangelho. Isso
porque eles farão um convite amigável para ir a igreja assistir algum show
circense ou ouvir uma celebridade do mundo da música.
O evangelho pragmático se rebela contra
o Evangelho de Cristo, pois o Senhor afirmou que o mundo sentiria de ódio por
aqueles que pregam a Palavra de Deus. Em João 15.18-19 Jesus afirma: “Se o
mundo vos odeia, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis
do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo
contrário dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia”. Tentar ser simpático
ao mundo com estratégias humanistas vai contra o que o Senhor Jesus declarou e,
portanto, justificar essas práticas baseando-se nos resultados é omitir o
caráter confrontador e divisor do evangelho.
O crescimento da igreja pragmática(O pragmatismo é uma filosofia que toma “por critério da verdade o valor prático e se opõe ao intelectualismo”, é
baseado na capacidade humana, visto que sua expansão está baseada em técnicas
de abordagem, bem como estudo do perfil dos moradores da região para descobrir
sua escolaridade, situação financeira, preferências musicais, etc. Isso tem
tudo a ver com a teologia arminiana praticada por essas igrejas, pois esta
teologia prega que o fator decisivo para a salvação é a vontade humana e não o
Deus Soberano.
Essas igrejas negligenciam o que Paulo
falou a igreja de Corinto, que convivia em uma sociedade de cultura grega,
arrogante em sua sabedoria filosófica. A palavra “filosofia” significa “amor à
sabedoria” e era exatamente assim que os Coríntios agiam. A sabedoria era
cultuada, inclusive por alguns crentes da igreja, sendo necessário o apóstolo
Paulo escrever uma repreensão aos irmãos. Paulo afirma a sabedoria humana está
fadada à destruição (1Co 1.19), é “louca” (1Co 1.20) e fraca (1Co 1.25).
Além disso, quando o apóstolo Paulo
expõe a maneira como ele anunciava a Palavra de Deus, a sabedoria humana não
estava na sua “lista”. Pelo contrário, ele se despojou de toda sabedoria humana
para anunciar a Palavra de Deus (1Co 2.1). Seu intuito era pregar o Cristo
crucificado, aquele que por Sua morte trouxe vida ao Seu povo (1Co 2.2). Paulo
se despojou de sua sabedoria para pregar aos Coríntios “em fraqueza, temor e
grande tremor” (1Co 2.3). Ele não estava buscando convencê-los com argumentos
humanos, mas estava dependente da atuação poderosa do Espírito Santo de Deus
(1Co 2.4). Seu intuito era que a fé dos coríntios não fosse baseada em
argumentos falaciosos da sabedoria humana, mas “no poder de Deus” (1Co 2.5).
As igrejas pragmáticas estão
convencidas que as estratégias humanas são suficientes para proporcionar
crescimento a igreja. A pressão por crescimento tem se tornado tão forte que
muitas igrejas antes defensoras da suficiência das Escrituras hoje sucumbem a
proposta de crescimento rápido por meio da “mundanização” da igreja. Para
crescer vale tudo, até deixar de pregar a Palavra de Deus para investir em
entretenimento e conforto.
A igreja do Senhor Jesus está sedenta
pelo evangelho e não por uma filosofia mundana que a faz relembrar àquela época
de miséria e desgraça em que os eleitos já viveram (Ef 2.1-3). A filosofia
pragmática é interessante apenas a pessoas mundanas que são religiosas mas
irreverentes para com o Criador. A igreja não precisa divertir bodes ou encher
de joio os seus celeiros, visto que naturalmente eles já se infiltrarão (Mt
7.21-23; 2Co 11.26; Gl 2.4). A igreja necessita de temor ao Senhor, reverência
aos Seus preceitos e a confiança de que o Deus Soberano, e somente Ele é quem
pode proporcionar o verdadeiro crescimento à Sua igreja (At 2.47; 1Co 3.6).
Vale tudo pelo evangelho? Sendo bem
direto, não! Devemos pregar o evangelho “quer seja oportuno, quer não...” (2Tm
4.2), bem como nos despojar da sabedoria humana e depender do poder de Deus que
atua na vida dos que foram chamados (1Co 1.24). Os verdadeiros crentes ao invés
de buscarem estratégias humanas de crescimento devem batalhar “diligentemente
pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3). Soli Deo
Gloria.
Atigo “Noites de luta e reggae enchem igrejas evangélicas no
Brasil”, por Alexei Barrionuevo: The New York Times. Tradução: Marcelle Ribeiro.
Acessado em www.uol.com.br em 15/09/2009.
Retirado do artigo “Como Devemos Cultuar a Deus?” de John
MacArthur. Disponível em www.espacodabiblia.com.
Retirado
do artigo “Alimentando as Ovelhas ou Divertindo os Bodes” de Charles Haddon
Spurgeon.
Adriano Ribeiro dos Santos
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