
Numa
incansável cruzada por arrecadação, o autointitulado apóstolo Agenor Duque, da
Igreja Plenitude do Trono de Deus, pede à plateia que raspe a carteira e que
doe até o décimo terceiro salário. Já anda de Porsche e voa de jatinho.
Do alto do púlpito, diante
de cerca de 7 mil fiéis com as cabeças cobertas por um pequeno pano
avermelhado, um homem vestindo uma roupa que imita estopa aponta o dedo para um
rapaz da plateia: “Você é homossexual?”, diz ao microfone. Ao ouvir uma
resposta afirmativa, continua: “E você quer sair do homossexualismo?”. O
interlocutor diz que sim, e é convidado a subir no altar.
Enquanto uma canção entorpecente
embala a cena, o líder espiritual cerra os dois punhos, ergue os braços e
grita: “No milaaaagre de Manassés, Deus apaga da memória agora todo o passado
de sofrimento. No milaaaagre de Manassés, Deus faz a pessoa esquecer que um dia
foi homossexual”. Volta a se dirigir ao rapaz.
– Seu nome?
– Junior.
– Você tinha alguma vida
errada no passado?
– Não.
– Pensei que você era
gay... Pensei que você morava com um homem...
– Não, Deus me livre.
Como que num passe de
mágica, Junior diz que nunca gostou de homens. Na semana seguinte, volta ao
mesmo altar para contar o desfecho de sua história. Diz que seu namorado, ao
saber da conversão, caiu no choro. A mãe, surpresa com o esquecimento súbito,
cogitou levar o filho a um hospital. Entre gritos entusiasmados de “aleluia” e
“eu creio”, o público se levanta e aplaude a transformação.
O homem das vestes de saco
– um figurino para demonstrar humildade diante de Jesus Cristo – é o
autoproclamado apóstolo Agenor Duque, um paulistano de 37 anos, filho de pais separados,
crescido numa família pobre da Zona Leste de São Paulo, ex-viciado em drogas.
No concorrido mercado das igrejas neopentecostais, Duque é o pastor emergente
do momento. Com uma forte vocação teatral e adepto da prática de prometer o
impossível, Duque abocanha cada vez mais fiéis e começa a incomodar as igrejas
concorrentes. Além das usuais curas de doenças e vícios, Duque promete apagar o
passado da mente dos fiéis.
Não hesita em abusar de
condutas preconceituosas, como propagar o “milagre” de fazer um homem esquecer
a homossexualidade ou enfrentar num duelo um suposto adepto do candomblé. Prova
de sua destreza para lotar igrejas e influenciar opiniões, o deputado e pastor
Marco Feliciano não sai do altar da Igreja Apostólica Plenitude do Trono de
Deus*. Na campanha eleitoral do ano passado, o tucano Geraldo Alckmin, reeleito
governador de São Paulo, ajoelhou-se no púlpito de Duque.
Num roteiro já conhecido
entre os pastores das neopentecostais, Duque começou na Igreja Universal do
Reino de Deus e migrou para a Mundial – até que teve uma “visão espiritual” e
decidiu criar seu próprio templo. Em setembro de 2006, abria a porta da Igreja
Plenitude do Trono de Deus. Com R$ 25 mil da venda de um Astra, Duque comprou
algumas poucas horas nas madrugadas de rádios e alugou um galpão na Avenida
Celso Garcia – que, pela facilidade de acesso e circulação intensa, concentra
boa parte das igrejas neopentecostais. Há dois anos, Duque tinha cinco modestas
igrejas em São Paulo.
Hoje, são pelo menos 20,
espalhadas por São Paulo, Amazonas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás e
Distrito Federal – sem contar as dezenas de núcleos, galpões abertos pelo
interior que, ainda sem documentação, não são considerados templos. No ano
passado, a Igreja Plenitude do Trono de Deus firmou uma espécie de 'joint
venture evangélica' com a igreja de André Salles, o líder evangélico responsável
pela conversão da ex-senadora Marina Silva, para aportar em Brasília. Em dois
anos, a Igreja Plenitude do Trono de Deus saltou de quatro para 18 horas no
canal de televisão RBI. Só entre outubro e novembro, passou de quatro para mais
de nove na Rede Brasil TV.
O traje de saco nos cultos
é uma espécie de abadá para uma encenação de pobreza. Há tempos Duque deixou a
dureza para trás. Como os adeptos do funk ostentação, fora do palco ele se
enfeita com cordões, anéis e relógios dourados, bonés e tênis de marcas como
Nike e Hugo Boss e adora exibir-se no Instagram. Dirige um Porsche e um BMW. Já
se exibiu em um vídeo com uma Ferrari – após críticas de internautas, recuou e
disse que o carro era de um “amigo”, o pastor Arthur Willian Van Helfteren, da
Igreja Universal do Reino de Deus.
Sempre que viaja, Duque
evita apertar o corpanzil nas poltronas da aviação comercial; prefere o
conforto de um bimotor Cessna Citation. De acordo com os registros da Agência
Nacional de Aviação Civil, a aeronave pertence à Cimeeli Comércio e Indústria,
uma empresa sem rastro. O telefone atribuído à Cimeeli é residencial e seus
sócios não foram localizados.
Em um universo em que não
faltam exageros, os cultos de Duque são espetáculos ainda mais histriônicos.
Ele atua em parceria com a mulher, a autointitulada bispa Ingrid Duque, e mais
recentemente com o filho adotivo, o pastor Allan. Em suas performances, Agenor
Duque intercala suas falas com expressões incompreensíveis que diz virem da
língua do Espírito Santo – “Traz o óleo, quibalamacia balabaliã”, diz, em meio
ao culto, enquanto checa mensagens no telefone. Suas orações quase sempre
terminam com um “hallelujah”, num esforçado sotaque americano.
“A religiosidade brasileira sempre foi muito
sincrética. O brasileiro valoriza tudo o que o ajuda a se relacionar
diretamente com o sagrado”, afirma Rodrigo Franklin de Sousa, professor de
pós-graduação em ciências da religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
“O teatro cai como uma luva.” Os cultos da Plenitude do Trono de Deus reúnem
dramas humanos de todos os tipos. Há mulheres traídas pelo marido, fiéis com
pendências com a Justiça, mães desesperadas para tirar o filho da prisão, pais
de família desempregados, viciados que tentam resgatar a dignidade.
Converter os dramas em espetáculo
e gerar lucro requer organização. Nos cultos de domingo, mais lotados, a igreja
é dividida em quadras imaginárias, cada qual vigiada por um pelotão de
obreiros. Numa cerimônia, um homem se exaltou e foi contido por seguranças.
Curiosa, parte da plateia foi repreendida pelos obreiros: “Deus está no altar
lá na frente. Parem de olhar para o lado”.

Culto do Bispo Agenor
Duque da igreja evangélica Plenitude do
Trono de Deus.
O apóstolo Agenor Duque, o
pastor André Salles e a bispa Ingrid Duque. Numa espécie de joint venture
evangélica, suas igrejas se uniram no ano passado para arrebanhar mais fiéis
(Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA)
Em um dos episódios mais
plásticos, no ano passado, Duque estava no altar quando um dos obreiros avisou
sobre um homem que, sem abrir a boca, se apresentava como pai de santo e o
desafiava. Rodando uma jaqueta ao redor do corpo, o homem subiu ao palco e foi
ao encontro de Duque. Como se estivesse num MMA espiritual, Duque encostou a
cabeça no adversário, deu dois gritos e – shazam! – o sujeito desmilinguiu-se.
A plateia foi ao delírio. “O público gosta”, diz Paulo Romeiro, doutor em
ciências da religião. “A igreja neopentecostal brasileira é cega,
infantilizada, cheia de picaretas e cambalacheiros.”
Tanto cultos quanto
programas no rádio e na TV da Igreja Plenitude do Trono de Deus têm um roteiro
simples, que converge para a arrecadação. A pregação da Bíblia é quase
inexistente. Invariavelmente, o pastor apresenta um “milagre” e, na sequência,
pede dinheiro ostensivamente. Numa tarde de terça-feira, em outubro, uma
pastora da Plenitude do Trono de Deus pediu aos fiéis que abrissem suas Bíblias
em 1 Reis 17. A passagem conta a história de uma viúva miserável que, diante de
uma onda de fome, doou tudo o que tinha – um punhado de farinha na panela e um
pouco de azeite numa botija – a um profeta desconhecido, antes mesmo de
alimentar o filho.
Ao final da leitura do
capítulo, a pastora gritou ao microfone: “Deus está me dizendo que alguém aqui
tem R$ 50 na carteira, é tudo que essa pessoa tem. Se você sentiu que esse
chamado é para você, faça como a viúva. Ela deu tudo que tinha, e foi
recompensada”. Uma mulher se encaminhou ao altar e retirou a única nota de R$
50 da carteira. Os pedidos aos demais continuaram num crescente. “Prova para
Deus que você acredita. Precisa ser um sacrifício grande, algo que dói! Limpa a
carteira! Raspa a carteira! Ou faz como uma mulher no culto desta manhã, que
doou o próprio carro.”
A adivinhação no púlpito,
diz um ex-obreiro da Igreja Plenitude do Trono de Deus, não passa de uma
trapaça. Na chegada à igreja, os fiéis com um pedido especial preenchem uma
ficha com sua história – depois colocada no altar. Enquanto lê disfarçadamente
o relato, o pastor repete tudo ao microfone como se estivesse tendo uma
epifania. Ao reconhecer sua história, o fiel emocionado se dirige ao altar e
confirma o milagre. “São verdadeiras empresas da fé”, afirma o teólogo João
Flávio Martinez, presidente do Centro Apologético Cristão de Pesquisas. Os
pastores que arrecadam mais são recompensados e ascendem. “Eles recebem até
bônus”, afirma um ex-obreiro da Plenitude do Trono de Deus. “Eles dizem que
você tem de entrar na mente da pessoa, convencê-la a aceitar o que você diz”,
afirma.
Às quintas-feiras, numa
reunião fechada de presbíteros, os mais experientes recomendam “agressividade”
e “olhar clínico” para identificar potenciais doadores. “Os pastores dessas
igrejas são bem preparados, fazem cursos de marketing, de gestão, de oratória.
A lógica é unicamente de mercado. Não existe uma base de doutrina”, diz Rodrigo
Sousa. Os pastores das maiores agremiações fazem cursos específicos de gestão
financeira de igrejas no exterior. A hierarquia é rígida. Como um presidente de
empresa, Agenor Duque convive com poucos de seus comandados. Usa até mesmo uma
entrada exclusiva na sede. Os insistentes pedidos de entrevista de ÉPOCA –
todos negados – percorreram três instâncias antes de chegar a ele.
Em sua incansável cruzada
por arrecadação, a Igreja Plenitude do Trono de Deus promove campanhas
temáticas com objetivos específicos. Uma do 'Vale de Elah', traz um boneco
recente, gigante que procura reproduzir a figura do rei David, vestido como um
guerreiro, com escudo e espada no altar da igreja.
Uma loja vende diversos
badulaques inspirados longinquamente em temas bíblicos. A gama de produtos
inclui a marca própria de roupas e acessórios femininos da bispa Ingrid, na
loja 'Amor Oficial'.
Os looks – saias
estampadas, calças boca de sino, bolerinhos e vestidos longos com estampas em
três dimensões – usados por Ingrid na TV e nas redes sociais são reproduzidos
por boa parte das fiéis nos cultos. “Quem usa é escolhida por Deus”, diz Ingrid
no Instagram da marca. Como a inflação não respeita nem o sagrado e não está
fácil nem para milagreiros, na 'Amor Oficial' também tem liquidação – só muda o
nome: a Black Friday, o dia internacional do desconto, chama-se 'White Friday'.
O ritmo de inovação da
Plenitude do Trono de Deus é incessante. Recentemente, Duque passou a pedir o
13º salário dos fiéis – e até o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Para os próximos meses, planeja a construção de um novo templo, para o qual
criou uma campanha específica, cuja contribuição começa em R$ 1.000. Em
fevereiro, pretende lotar o Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, com capacidade
para 13 mil pessoas, e o estádio do Canindé, em São Paulo, que acomoda 21 mil
pessoas, com uma atração internacional: o controverso pastor Benny Hinn, que
percorre o mundo com seus megacultos milagrosos. “Com a crise financeira, as
igrejas neopentecostais estão tendo de se reinventar para entregar resultados”,
afirma Rodrigo Sousa. No que depender da criatividade de Duque, a Igreja
Apostólica Plenitude do Trono de Deus pode superar limites.
*Nota da redação: A Igreja
Internacional Plenitude de Deus não tem vínculos com a Igreja Apostólica
Plenitude do Trono de Deus.

www.epoca.globo.com/vida/noticia/2015/12/
ALINE RIBEIRO, COM HARUMI VISCONTI
28/12/2015
COMENTÁRIO DE WÁLDSON:
Estes miseráveis, indignos de pronunciar o nome de
DEUS, aproveitam-se da vulnerabilidade e do sofrimento humano para simplesmente
extorquir os incautos. Além de exploradores da ignorância e do sofrimento
alheio, são traidores de Lutero que combateu tudo isso! Por isso não
confundam PENTECOSTAL com
NEOPENTECOSTAL.
Sabem, o que eu acho mais inacreditável nisso tudo? É que
'os crentes', simplesmente acreditam em qualquer um que se diz 'ungido' ou que
'recebeu um chamado'. As pessoas desconfiam de outras que possam ser golpistas
ou fraudadores e então, tomam certas precauções, mas quando se trata de religião
parece que tudo isso é deixado de lado. Qualquer um que sobe ao púlpito e se
diz 'homem de Deus' parece ser automaticamente confiável. Ninguém questiona,
ninguém pergunta, ninguém fala nada.
Muita gente que está na igreja evangélica, diz que a bíblia é seu livro-guia e que nela encontram todas as suas respostas e também é
dela que encontram os conselhos dos profetas e do próprio Jesus, para se
cuidarem dos falsos mestres. Então, procuro
entender: as pessoas dizem ler a Bíblia,
mas seguem piamente o que muitos picaretas dizem. Não há uma análise crítica em
relação ao que é pregado/ensinado. Se é assim, pra que ler a bíblia, então?
Já passou da hora da PF deflagrar um operação
de grande porte para desbaratar esses 'cartéis travestidos de igrejas', que Jesus
os chama de "covil de salteadores".
O que vemos hoje é, na verdade, um conflito de quem é
mais forte e de quem arrebanha mais seguidores para encher seus templos. Não é
um poder vindo do verdadeiro Evangelho bíblico, mas um poder dado pelo deus
Mamom(dinheiro-Mt. 6:24), aos quais esses homens tanto servem explícita e descaradamente.
Esses 'lobos devoradores', estão agindo com toda a liberdade em nosso meio, como se estivessem a serviço de Jesus e dos seus fiéis. Mas, além de ficarem mais ricos com sua continua petição de dinheiro, não fazem absolutamente nada para o povo que cada vez, fica mais pobre nessas pseudo-igrejas.
Quanto á tal "unção do esquecimento", isso não é novo. Na cidade de Belo Horizonte, há uma grande igreja(empresa), que faz uso desse truque(nada a ver com Duque), já a uns cinco anos. O pastor dessa igreja(?), usa esse método sempre e ainda isso é veiculado pela Rádio da igreja, que tem muita audiência na Capital e na Região Metropolitana.
Assim, o espertalhão continua fazendo suas mentiras, enganando milhares, se enriquecendo e muitos que não concordam com o que ele faz, não dizem nada, porque, temem perder seus altos salários.
Pobre das ovelhas... Elas são vítimas de homens que nem um pouco está preocupado com a sua vida presente e muito menos com sua eternidade. Eles só querem o dinheiro e nada, absolutamente, nada mais.
Um dia, prestarão contas a Deus e serão lançados no Lago de Fogo.
Viva vencendo os 'comerciantes da fé alheia'!!!
Abraços.
Seu irmão menor.
Muito bom todo o comentário Pastor! Como está escrito na Palavra, julgando não segundo a aparência, mas conforme a reta justiça!
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