12 setembro 2015

O SUMIÇO DA IDENTIDADE CRISTÃ


Recentemente, muitas denominações históricas têm trabalhado com comissões para resgate de identidade denominacional. A perda da identidade de muitas denominações cristãs acabou por inspirar alguns escritores a cunharem o termo “pós-denominacional”. Para estes, vivemos no chamado período “pós- denominacional”, quando a preocupação e o envolvimento com denominações históricas não são tão buscados quanto em tempos anteriores.

A perda de identidade sempre se dá quando se esquece os fundamentos mais básicos de nossa história. Os cristãos, por exemplo, possuem sua raiz (ou alicerce — termo muito usado por Paulo nesta epístola) sobre Cristo e o seu Evangelho, sua Boa Nova. Quando este fundamento é substituído por qualquer outra coisa, o edifício e todos os que estão nele correm o risco de se perderem.
Outro risco é o abalo a cada tempestade que soprar. Assim como uma casa edificada sobre a areia, é a vida de alguém que não tem como base de sua vida Cristo. Uma denominação cristã que substituiu a simplicidade do Evangelho e de Cristo por centenas de outras coisas, também precisa de um retorno à simplicidade a fim de se reencontrar com sua identidade outrora perdida.
Antes de tudo, Paulo irá colocar neste trecho de sua epístola que cada efésio era uma pedra viva, muito bem escolhida, separada (santificada) e preparada para ser colocada no edifício que o Senhor está construindo para sua habitação. Estas pedras não brigam, não se ofendem, mas se completam, cooperando para o fim à que são destinadas. Elas glorificam a Deus, e e não a si mesmos. 

Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, 20 edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.

Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, 

No texto imediatamente anterior, o apóstolo Paulo abordou o significado do fim de toda separação entre pessoas que agora fazem parte de um só corpo. Nos comentários que fiz deste texto imediatamente anterior a este em estudo aqui, Paulo  exorta os efésios de que toda separação ou inimizade no corpo de Cristo é um completo absurdo, uma impossibilidade lógica. Um corpo dividido é um corpo morto. Como o corpo de Cristo nunca estará morto, alguém em brigas e inimizades dentro do corpo de Cristo só pode ser alguém completamente doente espiritualmente, ou alguém que, de fato, não pertence ao corpo.
Tendo entendido a isso, Paulo passa a afirmar que tais pessoas são “Concidadãos”, ou seja, pessoas que moram junto, que habitam na mesma casa. Mas, que casa? Com quem? Paulo continua afirmando que eles são “concidadãos dos santos”. Tais pessoas são vistas por Deus como quem mora no lugar pertencente aos santos.
Os santos não são uma categoria especial dentro do povo de Deus. Os santos são o próprio povo de Deus. Logo, alguém que não é santo, não é parte do povo de Deus. Sem santidade, ninguém, jamais, verá ao Senhor (Hb 12.14). Os cidadãos que habitam juntos (concidadãos), por serem santos, são membros da família de Deus. E, como membros de um só corpo, lutam juntos contra qualquer invasão para destruição do mesmo. Pecados são combatidos em grupo, e nunca individualmente apenas. Todos sofrem quando um sofre, e todos vencem e se alegram quando um vence e se alegra.

Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, 

O apóstolo Paulo continua sua argumentação relacionada à igreja demonstrando que todos os santos estão alicerçados sobre um único fundamento. Assim como uma casa é construída sobre um alicerce bem feito com ferros, pedras, concreto, amarrações, etc., a “casa de Deus” também precisa de um alicerce seguro sobre o qual possa ser construída sem perigo de desmoronar. E o nome deste alicerce é Cristo.
Todos na família de Deus estão alicerçados sobre Jesus Cristo. Se alguém presente na comunhão cristã não está alicerçado em Cristo, tal pessoa correi o risco de trazer instabilidade ao corpo. Sabemos que o corpo, o edifício, jamais será destruído. Todavia, pode ser abalado por conta de indivíduos que constroem suas vidas sobre o pecado, a ganância, a mentira, o adultério, etc. Tais pessoas, quando constroem suas vidas sobre o pecado, podem até permanecer bem por um tempo. Todavia, na primeira tempestade, suas vidas ruirão. 
Ou construímos nossas vidas sobre Cristo ou sobre o pecado que reina em nosso coração. Ou sobre a Rocha, ou sobre a areia. Só a tempestade prova sobre o que estamos alicerçados.
Para Paulo, “edificados” está relacionado a esta segurança que o cristão tem na vida, mesmo diante de uma tempestade. Tudo o que fazemos na vida possui uma base. Não tomamos nenhuma decisão sem que nos apoiemos em algo ou alguém. Só Cristo é alicerce seguro. Só Cristo nos mantém em pé diante das piores tempestades.
Após mencionar a edificação, o apóstolo fala do “fundamento”, isto é, a base lançada por apóstolos e profetas (a Bíblia Sagrada). Não há outro fundamento se não o Verbo Revelado e o Verbo Encarnado. É sobre o Verbo que todos estamos. Foi o Verbo que criou todas as coisas. É nEle que tudo subsiste. 
Apóstolos e profetas aqui se referem à Sagrada Escritura, escrita, quase toda ela, por apóstolos e profetas. Foram estes que Deus usou para se revelar aos homens, dando-lhes o fundamento sobre o qual construírem suas vidas. É sobre este mesmo fundamento que a igreja está alicerçada.

Sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; 

Jesus é o único alicerce sobre o qual nossas vidas devem estar edificadas. Alguém que constrói sua vida sobre outro fundamento correi o risco de ver sua vida destruída, sua casa desabada. 
A “pedra angular” sobre a qual Paulo fala era usada em construções antigas para sustentar todo o prédio. Ainda hoje, mesmo no Brasil, podemos encontrar algumas casas construídas sobre tais pedras angulares, ou pedras de esquina. No centro histórico da cidade de Paraty-RJ, algumas casas possuem esta pedra conhecida na antiguidade como o alicerce sobre o qual casas eram construídas.
Há diversas formas de pedras angulares. Há as que são postas na base de antigas casas. Há as que são postas sobre o arco de uma ponte, sustentando não apenas o arco todo, mas toda a estrutura sobre a ponte. Seja qual for a forma de uma pedra angular, sua função será sempre a mesma — dar segurança àquilo ou àqueles que estiverem sobre ela.

No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, 

Todo edifício  aqui significa você e um monte de gente. Ou seja, todos aqueles que fazem parte desse corpo ou família de santos que compõe a família de Deus. Em outro lugar da Escritura, Pedro fala que somos “pedras vivas” (1Pe 2.1-10, principalmente o verso 5).

   1Pe 2.1–10: Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso. Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, a pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos. Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.

Cristo, portanto, é a pedra angular, a pedra viva. E todos os cristãos são, igualmente, pedras vivas que compõe este grande edifício que está em contrição há milênios. Um dia a construção chegará à conclusão. Todavia, este dia depende do completar do número dos eleitos:

Ap 6.11: Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram.

O ajuste deste prédio chamado aqui de “santuário dedicado ao Senhor” é impecável quando posto sobre o alicerce. Bem ajustada traz a ideia de que todos possuem o mesmo fundamento na vida (Cristo), vivendo todos vidas santas, amando todos a Deus mais do que a tudo, e exercendo todos seus dons para a edificação do corpo. Assim, todos permanecem devidamente ajustados às suas funções dentro do corpo, cooperando através de seus dons.
Uma vez que tudo transcorre dessa maneira, a conseqüência natural é o crescimento deste edifício. Assim, a igreja só não cresce se os seus membros não vivem como exposto até aqui. O crescimento não se dá pelas habilidades pastorais, musicais, etc., mas pelo próprio movimento do corpo segundo seus dons e sua comunhão com Deus.

No qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.

O capítulo dois termina com a certeza do apóstolo de que todos eles estavam dentro deste edifício que ainda está em construção. A “Casa do Senhor” ainda está em processo de edificação. As pedras que compõe este edifício estão sendo “ganhas” a cada dia, mundo afora. E o edifício continuará a ser levantado até que se complete o número dos chamados. Até lá, cabe à igreja duas coisas: pregar o evangelho e alicerçar-se em tudo o que faz sobre o único alicerce que a mantêm de pé, Cristo. 
Assim, a igreja crescerá sobre Cristo, a rocha verdadeira e única, o alicerce sobre o qual todos sempre estaremos bem seguros. Não há segurança fora de Cristo. Todos que constroem suas vidas fora de Cristo, constroem sobre a areia, sobre o pecado, sobre o que é passageiro e inseguro. A areia pode sustentar por um breve período toda contrição erguida sobre ela, mas não pode sustentar por todo tempo. À primeira tempestade, o edifício cairá. Assim também a vida dos que constroem suas histórias sobre o pecado — em qualquer tempestade ou aflição, suas vidas ruirão caindo sobre uma depressão e vazio que ninguém poderá curar.
Cristo, no entanto, constrói sua igreja. Pedras vivas a compõe. Estas são santas, são chamadas “família de Deus”. Compõe o santuário que o próprio Senhor está construindo para fazer dela a “habitação de Deus no Espírito”, como Paulo encerra.

Wilson P. Jr.
            

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