Texto Áureo:
“E roguei aos teus discípulos que o
expulsassem, e não puderam.” (Lc 9.40)
Verdade Prática:
Ao longo de seu ministério, Jesus foi seguido por homens simples, imperfeitos e
limitados, mas jamais os descartou por isso.
LEITURA
BÍBLICA: Lucas 9.38-42,46-50
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos das limitações que os
discípulos de Jesus apresentavam. Conquanto privilegiados eram em ter o maior
Mestre da história da humanidade ao lado deles de forma tão intima e imediata,
eles não eram perfeitos. Percebemos isso quando lemos as quatro narrativas do
Evangelho de Jesus Cristo, o qual mostra que eles eram homens rodeados de
imperfeições e limitações. Aprenderam, sim, com o Mestre dos mestres e nunca
mais foram as mesmas pessoas, mas não deixaram de ser humanos com todas as suas
limitações.
Às vezes se imagina que a fé cristã para ser
genuinamente bíblica deve anular todas as fragilidades humanas, eliminar todos
as suas limitações. Mas não é assim que a coisa acontece, nem tampouco é isso o
que ensinam as Escrituras Sagradas. É verdade que Deus trabalha com homens, porém,
homens imperfeitos, limitados e que constantemente estão dependendo dEle. Em
nossa caminhada espiritual não dá para fingirmos superioridades espirituais ou
coisas semelhantes. Somos humanos, isto é, somos limitados em nossas ações. Por
isso, a partir da realidade da vida de alguns discípulos e da maneira como
Jesus tratou com eles, algumas lições podem ser aprendidas por nós.
I. LIDANDO COM A DÚVIDA
1. A oração e a fé. No
dia seguinte (Lc 9:37) à experiência gloriosa do cume do monte da
transfiguração, Jesus se deparou com uma situação característica daqueles que
querem fazer a obra de Deus de qualquer maneira: improficuidade. Lucas 9:37-43
mostra a incapacidade angustiante dos discípulos de tratar de um caso de
possessão demoníaca. O contraste é marcante. De um lado, temos aqueles que se
regozijavam na luz de Deus no cume da montanha, e, do outro lado, aqueles que
estavam sendo derrotados pelos poderes das trevas na planície. Aqueles
discípulos que há pouco tempo tinham recebido poder sobre os demônios (Lc 9:1),
agora estão derrotados diante deles (Lc 9:40). Será que houve algum fracasso na
vida espiritual deles?
O certo é que agora os discípulos de Jesus
estavam no vale cara a cara com o diabo, sem capacidade espiritual, colhendo um
grande fracasso. Diante da incapacidade espiritual dos discípulos, o pai do
menino possesso, clamou a Jesus em alta voz, explicando sua necessidade. Aquele
menino, filho único, de tempos em tempos era possesso por um demônio. E agora o
pai completa o seu sofrimento dizendo que rogara aos discípulos que lidassem
com o demônio, mas que, infelizmente, eles não puderam. Há algumas lições
importantes que podemos extrair desse episódio: (1)
a) no vale há gente sofrendo o cativeiro do
diabo sem encontrar na igreja solução para o seu problema (Lc 9:39).
Aqui está um pai desesperado (Mt 17:15,16).
O diabo invadiu a sua casa e está arrebentando com a sua família. Está
destruindo seu único filho. Aquele jovem estava possuído por uma casta de
demônios, que tornavam a sua vida um verdadeiro inferno. No auge do seu desespero
o pai do jovem correu para os discípulos de Jesus em busca de ajuda, mas eles
estavam sem poder.
A Igreja tem oferecido resposta para uma
sociedade desesperançada e aflita? Temos confrontado o poder do mal? A Igreja hoje está cheia de conhecimento, mas
conhecimento apenas não basta, é preciso revestimento de poder. O reino de Deus
não consiste de palavras, mas de poder.
b) no vale há gente desesperada
precisando de ajuda, mas os discípulos estão perdendo tempo, envolvidos numa
discussão infrutífera (Mc 9:14-18).
Os discípulos estavam envolvidos numa
interminável discussão com os escribas, enquanto o diabo estava agindo
livremente sem ser confrontado. Eles estavam perdendo tempo com os inimigos da
obra de Deus em vez de fazer a obra.
A discussão, muitas vezes é saudável e
necessária. Contudo, passar o tempo todo discutindo é uma estratégia do diabo
para nos manter fora da linha de combate. Há crentes que passam a vida inteira
participando de retiros e congressos, mas nunca entram em campo para agir. Sabem
muito e fazem pouco. Discutem muito e trabalham pouco.
Os discípulos estavam discutindo com os
opositores da obra de Deus (Mc 9:14). Discussão sem ação é paralisia
espiritual. O inferno vibra quando a igreja se fecha dentro de quatro paredes,
em torno dos seus empolgantes assuntos. O mundo perece enquanto a igreja está
discutindo. Há muita discussão, mas pouco poder. Há multidões sedentas, mas
pouca ação da igreja.
c) no vale os discípulos estão sem
poder para confrontar os poderes das trevas (Lc 9:40; Mc 9:18;
Mt 17:16). Por que os discípulos estão
sem poder?
-
Os discípulos não oraram (Mc 9:28,29). Não há poder espiritual
sem oração. O poder não vem de dentro, mas do alto. Pouca oração, pouco poder.
Nenhuma oração, nenhum poder.
-
Os discípulos não jejuaram (Mc 9:28,29). O jejum nos esvazia de
nós mesmos e nos reveste com o poder do alto. Quando jejuamos, estamos dizendo
que dependemos totalmente dos recursos de Deus.
-
Os discípulos tinham uma fé tímida (Mt 17:19,20). A fé não
olha para a adversidade, mas para as infinitas possibilidades de Deus. Jesus
disse para o pai do jovem: "Se tu
podes crer; Tudo é possível ao que crê" (Mc 9:23). O poder de Jesus
opera, muitas vezes, mediante a nossa fé.
2.
A Palavra de Deus e a fé. “Se a falta de oração traz
incredulidade, por outro lado, a falta de conhecimento da Palavra de Deus
produz efeito semelhante. É isso o que mostra a história dos discípulos de
Emaús” (Lc 24:13-35). Um desses discípulos chamava-se Cléopas, mas o outro
ninguém sabe o seu nome. O Senhor Jesus, no mesmo dia que ressuscitou apareceu
a esses dois discípulos quando se dirigiam para a aldeia de Emaús. Depois de
dialogar com eles, Jesus percebeu o quanto eram incrédulos. Jesus passa a
indicar que a raiz do problema é que eles não tinham absorvido aquilo que se
ensina nas profecias bíblicas. Os profetas tinham falado com clareza
suficiente, mas as mentes de Cléopas e do seu companheiro não tinham sido
suficientemente alertas para captar aquilo que queriam dizer. Jesus reprovou a
incredulidade dos dois discípulos e os chamou de néscios, isto é, desprovidos
de conhecimento ou discernimento (Lc 24:25).
Jesus, então, dá a aqueles dois discípulos
um estudo bíblico sistemático. Moisés e todos os profetas formaram o ponto de
partida, mas Ele também passou para as coisas que se referiam a Ele em todas as
Escrituras. Lucas não dá indicação alguma de quais passagens o Senhor escolheu,
mas torna claro que a totalidade do Antigo Testamento era envolvida. Aqueles
dois discípulos tinham ideias erradas daquilo que o Antigo Testamento ensinava,
e, portanto, tinham ideias erradas acerca da cruz.
As ideias erradas daquilo que o Antigo
Testamento ensinava, também, estavam impregnadas na mente dos onze apóstolos. A
dúvida é um mal terrível que impregna a mente das pessoas, causando-lhes
incredulidade, quando lhes falta o conhecimento da Palavra de Deus. Os
apóstolos fugiram quando Jesus foi preso no Getsêmani (Mc 14:50); estiveram
ausentes no Calvário (exceto João); não compareceram diante de Pilatos para
reivindicar o seu corpo para o sepultamento; estiveram ausentes no seu
sepultamento; não acreditaram na mensagem da sua ressurreição (Mc 16:11-14).
Marcos nos informa que eles não deram credito ao testemunho de Maria Madalena
(Mc 16:9-11) e não creram no testemunho dos dois discípulos que estavam de
caminho para o campo (Mc 16:12,13). Jesus, então, aparece a eles quando estavam
à mesa e censura-lhes a incredulidade e dureza de coração (Mc 16:14).
Muitos hoje estão como esses discípulos, não
acreditam na ressurreição; não acreditam que Jesus virá outra vez; muitos, não
acreditam mais em Deus, não acreditam que as Escrituras é a Palavra de Deus.
Infelizmente, muitos têm se apostatado da fé. Isso é lamentável!
II. LIDANDO COM A PRIMAZIA E O EXCLUSIVISMO
1. Evitando a Primazia. Certa
feita, enquanto Jesus se preparava para enfrentar o calvário, os discípulos
estavam preocupados em saber quem era o maior (Lc 9:46-48). Isso revelava a ideia
errada que eles tinham de Jesus. Para eles Jesus era um Messias-Rei dominador,
um libertador de Israel, e eles, de algum modo, iriam participar de um poder
dominante. E, na luta pelo poder, veio a competição pela supremacia. Quem manda
mais? Certamente os discípulos foram tentados pelo orgulho espiritual.
Certamente eles foram tentados a usufruir o poder que Jesus tinha lhes dado.
Diante disso, Jesus entendeu que eles precisavam de um tratamento de choque.
Jesus lhes apresentou uma parábola viva. E
usou para essa lição um elemento inesperado para eles. Jesus tomou uma criança
e, certamente, a colocou no colo e lhes ensinou: “Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me
recebe; e qualquer que a mim me recebe não recebe a mim, mas ao que me enviou;
porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo é grande” (Lc 9:48).
A criança, além de ser o símbolo da despretensão, da fraqueza e da dependência,
era o símbolo da pureza de fé, da humildade e principalmente da falta de
hipocrisia, isto é, da sinceridade e da transparência. Naqueles dias, a criança
não tinha qualquer valor na sociedade, assim como os escravos. E a lição
ensinada acabava com qualquer pretensão: o menor é o maior. Quem acolhe os
pequenos, humildes e sinceros acolhe Jesus e a Deus Pai que o enviou!
A ambição humana não vê outro sinal de
grandeza senão coroas, status, riquezas e elevada posição na sociedade. Porém,
o Filho de Deus declara que o caminho para a grandeza e o reconhecimento divino
é devotar-se ao cuidado dos mais tenros e fracos da família de Deus.
2.
Evitando o exclusivismo. Novamente Jesus corrige os seus
discípulos, agora acerca da intolerância e do exclusivismo estreito (Lc
9:49,50; Mc 9:38-41). João proíbe um homem que expulsava demônios em nome de
Cristo, pelo simples fato de não fazer parte do grupo apostólico, de não estar
lutando alinhado com eles. Na teologia de João, somente o grupo deles estava
com a verdade; os outros eram excluídos e desprezados. João pensava que apenas
os discípulos tinham o monopólio do poder de Jesus. O homem estava fazendo uma
coisa boa, expulsando demônios; da maneira certa, em nome de Jesus; com
resultado positivo, socorrendo uma pessoa necessitada. Contudo, mesmo assim,
João o proíbe.
De igual modo, hoje, muitos segmentos
religiosos tem a pretensão de serem os únicos que servem a Deus. Pensam e
chegam ao disparate de pregarem com altivez como se fossem os únicos seguidores
fiéis de Jesus e batem no peito com arrogância, como se fossem os únicos
salvos. Muitos, tolamente, creem que Deus é um patrimônio exclusivo da sua
denominação. Agem com soberba e desprezam todos quantos não aderem à sua
corrente sectária. Muitos chegam até mesmo a perseguir uns aos outros, e se
engalfinham em vergonhosas brigas e contendas, como acontecia na igreja em
Corintos (1Co 6:7). Esse espírito intolerante e exclusivista está em desacordo
com o ensino de Jesus, o Senhor da Igreja. Na verdade, muitas pessoas que não
faziam parte dos doze demonstraram, algumas vezes, uma fé mais robusta em Jesus
do que eles (cf. Mc 7:28,29; 15:42-46; Mt 8:10).
Jesus, então, repreende os discípulos e
acentua que quem não é contra Ele, é por Ele (Lc 9:50). A lição que Jesus
ensina é clara: não podemos ter a pretensão de julgar os outros nem de
considerar-nos os únicos seguidores de Cristo, pelo fato de essas pessoas não
estarem em nossa companhia, em nossa denominação.
Obviamente, Jesus não está dizendo que os
hereges, os heterodoxos e aqueles que acrescentam ou retiram parte das
Escrituras devam ser considerados os seus legítimos seguidores. Jesus não está
ensinando aqui o inclusivismo religioso nem dando um voto de aprovação a todas
as religiões. Jesus não comunga com o erro doutrinário; antes, o reprovou
severamente. Jesus não aprova o universalismo nem o ecumenismo. Não há unidade
espiritual fora da verdade. Contudo, Jesus não aceita a intolerância religiosa.
Não podemos proibir nem rejeitar os outros pelo simples fato de eles não
pertencerem ao nosso grupo.
Certa vez, no Antigo Testamento, Josué pediu
a Moisés para proibir Eldade e Medade que estavam profetizando no campo. Ele
exclama: “Moisés, meu senhor, proíbe-lhos”.
Mas Moisés lhe responde: ”Tens tu ciúmes
por mim? Tomara todo o povo do Senhor
fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito” (Nm 11:26-29).
Moisés ensina aqui que devemos evitar o exclusivismo.
III. LIDANDO COM A AVAREZA (Lc
12:13-21)
Segundo o dicionário Aurélio, avareza é o “excessivo e sórdido apego ao dinheiro;
esganação”. A avareza é um pecado perigoso, pois facilmente conduz a outros
pecados, como a mentira e a desonestidade. Jesus disse: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não
consiste na abundância do que possui” (Lc 12:15). O valor de uma pessoa não
consiste no valor de seus bens. Esse ensinamento pode ser ridicularizado por
alguns que amam o dinheiro. E infelizmente essa foi a reação de alguns líderes
religiosos diante das Palavras de Jesus (Lc 16:14). Curiosamente, hoje, os
“pregadores da riqueza” fazem o mesmo. Igualmente zombam dos verdadeiros servos
de Deus, que combatem a exagerada “teologia da prosperidade” e pregam a verdade
revelada na Palavra de Deus.
Certa feita, Jesus ainda estava no meio da
multidão, ensinando o povo a ter cuidado com os religiosos, quando alguém
levantou uma questão: alguém pediu que Jesus fosse o juiz num caso de divisão
de herança - “Mestre, dize a meu irmão
que reparta comigo a herança” (Lc 12:13). Essa solicitação estava na
contramão dos ensinos de Cristo e por isso recebeu a censura dEle: “Homem, quem me pôs a mim por juiz ou
repartidor entre vós?” (Lc 12:14). Enquanto Jesus ensinava a se evitar uma
atitude legalista e materialista, esse homem age de forma diametralmente oposta
àquilo que fora ensinado. Ele estava preocupado com a herança. Segundo a Bíblia de Estudo Nova Versão
Internacional, esse pedido feito a Jesus não era algo estranho:
“A lei, em Dt 21:17 promulgou a regra
genérica de que um filho mais velho receberia o dobro da porção de um filho mais
jovem. As disputas sobre tais questões eram em geral dirimidas pelos rabinos.
Esse pedido que o homem fez a Jesus era egoísta e materialista…Jesus então lhe
responde com uma Parábola a respeito das consequências da ganância”.
Como bem sabemos, a divisão de uma herança é
sempre um problema, pois nesse momento aparecem a usura e a avareza. Com
certeza, muita gente pensa: “Ah! Tudo estaria resolvido se aparecesse agora
alguma herança”. Será que esse não é o desejo de alguns de nós nesse momento?
Mas aí é que está o engano. É um erro pensar assim, pois a partir desse momento
é que começam os conflitos e as dificuldades entre os herdeiros. Jesus foi
muito claro quando disse: “Acautelai-vos
e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância
do que possui” (Lc 12:15).
Jesus, então, contou a seguinte parábola: “a herdade de um homem rico tinha produzido
com abundância. E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde
recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: derribarei os meus celeiros, e
edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus
bens; e direi à minha alma: alma, tens em depósito muitos bens, para muitos
anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te
pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será? ” (Lc 12:16-20).
Irmãos, a vida não nos pertence! Os bens não
nos pertencem! Nem a vida nem os bens são nossas propriedades; são apenas um
empréstimo! Desta feita, de que adiantam os bens acumulados? As riquezas não
podem atender as maiores necessidades da vida e nem mesmo nos libertar da
ansiedade. Elas não são garantia de vida, porque a vida é um presente de Deus,
do qual temos que prestar conta a qualquer momento.
Observe que Jesus chama o homem da parábola
de louco. Ele foi chamado de louco não porque estivesse cometendo algum crime,
escândalo, roubo ou adultério, mas porque era avarento, voltado somente para
sua riqueza. Ele pensava que a alma se alimenta de cereal. Ele foi considerado
um pecador tão perigoso quanto aquele que mata, rouba e adultera. Em outras
palavras, esse homem era materialista ou ateu, como tantos que existem hoje em
nossa sociedade, vivendo como se Deus não existisse.
Portanto, devemos entender que o dinheiro ou
os bens não oferecem qualquer segurança, porque de um momento para o outro seu
possuidor pode ser surpreendido com o chamado de Deus. Onde você tem depositado
sua confiança? Nas suas posses? Nos seus bens? Desejo que sua segurança esteja
totalmente depositada em Jesus Cristo!
Ao aceitarmos Jesus, podemos não nos tornar
milionários, mas aqueles que aceitam tomar a cruz e segui-lo, certamente
encontrarão a verdadeira riqueza, a riqueza espiritual, as quais Deus nos dará
na eternidade: “As coisas que o olho não
viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus
preparou para os que o amam” (1Co 2.9).
IV. LIDANDO COM O RESSENTIMETNO (Lc
17:3,4)
“Olhai
por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; e, se ele se
arrepender, perdoa-lhe; e, se pecar contra ti sete vezes no dia e sete vezes no
dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me, perdoa-lhe”.
1.
A necessidade de perdão. Na vida cristã não há somente o
perigo de ofender outros. Há também o perigo de nutrir rancores, de se recusar
a perdoar quando alguém que nos ofendeu pede perdão. É isso que o Senhor trata
aqui em Lucas 17:3,4.
O
perdão é uma necessidade vital para nossa alma,
para nosso bem-estar. Mas o perdão não é fácil. É fácil pregar um sermão sobre
o perdão até se deparar com alguém para perdoar. Mas Jesus Cristo nos informa e
nos ensina que se eu não perdoar não posso orar; se eu não perdoar não posso
adorar; se eu não perdoar não posso ofertar; se eu não posso perdoar eu não
posso ser perdoado; se eu não perdoar, eu adoeço fisicamente, emocionalmente,
espiritualmente; se eu não perdoar a minha alma, a minha vida será entregue aos
verdugos da consciência e eu ficarei cativo e prisioneiro sem paz.
O
perdão é uma terapia para a alma, um tônico para o coração, uma
condição indispensável para a saúde emocional e física. Muitas enfermidades
deixariam de existir se aprendêssemos a terapia do perdão. Quem não perdoa
adoece física, emocional e espiritualmente. O perdão é o remédio necessário que
tonifica o coração para caminharmos pela vida sem amargura. Sem perdão a vida
torna-se um fardo insuportável e a alma fica prisioneira do ódio e da vingança.
Sem perdão somos destruídos pelos nossos sentimentos.
Aliás,
o perdão não é simplesmente uma questão de ação, mas de reação.
Jesus ilustra isso no sermão do monte (Mt 5:39-41). Ele diz que quando uma
pessoa nos ferir a face direita, devemos voltar-lhe a outra face. Quando a
pessoa nos forçar a andar uma milha, devemos ir com ela duas milhas. Quando uma
pessoa procurar nos tirar a capa, devemos dar-lhe também a túnica. O que, na
verdade, Jesus estava ensinando? Ele não estava falando de ação, mas de reação.
O que representa essas três figuras
alistadas por Jesus? Primeiro, quando uma pessoa nos fere no
rosto, ela agride a nossa honra. Segundo,
quando uma pessoa nos força a fazer o que não desejamos, ela agride a nossa
vontade. Terceiro, quando uma pessoa
nos toma as vestes pessoais, ela agride o nosso bem mais íntimo e sagrado.
Jesus, então, realça que mesmo que os pontos mais vitais da vida sejam
atingidos - como a honra, a vontade e os bens inalienáveis -, devemos reagir
transcendentalmente, ou seja, com perdão.
O perdão é a transcendência do amor, é vencer
o mal com o bem. Perdoar é tratar o outro não como ele merece, mas segundo a
misericórdia exige. O perdão não é a execução da justiça, mas o braço estendido
da misericórdia. Perdoar é abrir mão dos seus direitos. Perdoar é colocar o
outro na frente do eu. Perdoar é não se ressentir do mal, mas vencer o mal com
o bem, abençoando o próprio malfeitor.
2.
Perdão, uma vida de mão dupla. “... Perdoai e sereis perdoados” (Lc 6:37). Aqui, Jesus mostra que
o perdão é uma via de mão dupla.
Você já percebeu que na palavra perdoar tem
a palavra doar? Quem perdoa está doando alguma coisa. De certa forma
misteriosa, o perdão de Deus depende de nosso perdão. O que Jesus ensinou na
oração do Pai Nosso? Duas vezes ele fala sobre o perdão. Em Mateus 6:12 Ele diz
assim: “perdoa as nossas dividas, assim
como nós perdoamos”. Depois no versículo 15 ele diz: “se, porém, não perdoardes aos homens vosso pai celestial também não vos
perdoará”. Portanto, se eu não perdoar, eu também não recebo perdão de
Deus. É uma via de não dupla.
Quer consubstanciar este texto? Então leia
Mateus 18:23-35, que fala sobre “a
parábola do credor incompassivo”. Sabe qual é a conclusão desta parábola? Se vós não perdoardes as ofensas dos vossos
irmãos, vosso pai celestial também não vos perdoará - “Assim vos fará também meu pai celestial, se do coração não perdoardes,
cada um a seu irmão, as suas ofensas” (Mt 18:35). Então, de certa forma o
perdão de Deus depende do nosso perdão. Se você quer perdão de Deus, aprenda a
liberar perdão para aquele que tem apedrejado você.
Quanto eu perdoo eu me pareço com Deus. Em Mateus
capitulo 5, a partir do versículo 44, você vai entender. Jesus disse: “eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos,
bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos
maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do pai que está nos céus...”.
Aqui eu tenho a real compreensão que quando eu perdoo eu me pareço com Deus. Todo
filho recebe uma herança genética do pai. Você não se parece com Deus quando
você ora. Mas, quando você perdoa você se parece com Deus. Portanto, para que
você seja filho do vosso Pai que está no Céu, tem que saber perdoar.
CONCLUSÃO
“Ao estudarmos as limitações dos discípulos,
alguns fatos ficam em evidência. Observamos que a incapacidade para enfrentar
Satanás em Lucas 9:40 é justificada em Mateus 17:20 pela falta de fé; a
incredulidade dos discípulos no caminho de Emaús (Lc 24:13-35) é justificada
pela falta de conhecimento das Escrituras (Lc 24:25-27); o desejo por grandeza
e primazia (Lc 9:46-48) é uma consequência de terem se amoldado à cultura do
mundo, e; a falta de perdão existe por não se reconhecer a natureza perdoadora
do Pai celestial” (LBM. CPAD. p. 69).
SUBSÍDIO PARA O PROFESSOR
Tropa de Elite
Por
ocasião da morte de Osama Bin Laden em 2011, o mais temido terrorista do mundo
islâmico, a revista Época trouxe urna extensa matéria sobre o assunto. Foi dado
amplo destaque ao comando militar norte-americano denominado de SEALs como
sendo o responsável por essa proeza. De acordo com o jornal inglês The
Telegraph, a eliminação do terrorista número “foi uma intervenção cirúrgica,
levada a cabo por um pequeno grupo treinado para evitar efeitos colaterais”.
O
grupo, denominado de SEAL TEAM 6 da Marinha americana, é formado a partir de
uma rigorosa seleção e é considerado como o mais bem treinado do mundo. Os seus
componentes buscam a perfeição em seus treinamentos a fim de evitar cometerem
erros quando são enviados em alguma missão.
De
acordo com a revista Epoca:
Os
SEALs são super-soldados, treinados por dois anos além do normal para
fuzileiros navais e mantidos pelo governo com um orçamento de US$ 1 bilhão por
ano. No treinamento, disparam 3 mil tiros por semana, mais do que os colegas de
Forças Armadas disparam em um ano inteiro. O nome é uma corruptela dos
atributos especiais da tropa: São capazes de realizar operações no mar (“sea”,
em inglês), no ar (“air”) e na terra (“land”). Estima-se que existam hoje 2,5
mil soldados SEAL em atividade.
O
SEAL Team 6 é um grupo dentro dos SEALs escolhido pela Marinha para realizar as
missões mais difíceis, normalmente em parceria com a CIA, a agência de
inteligência do governo americano. Oficialmente, o grupo sequer existe, Um dos
antigos membros do Team 6, o atirador de elite Howard Wasdin, escreveu um livro
sobre seus tempos de combatente, a ser lançado na semana que vem.
A
primeira frase do livro explica em poucas palavras a importância da tropa:
“Quando a Marinha americana precisa de seus melhores homens, envia os SEALs.
Quando os SEALs precisam de seus melhores homens, enviam o SEAL Team 6”,
escreveu Wasdin.
HELL
WEEK - nos últimos cinco dias de treinamento, conhecidos como “Semana Infernal”,
os postulantes a SEAL passam por uma simulação de guerra, com exercícios
físicos extenuantes, tiros e explosões. O treinamento dessa equipe é semelhante
à formação das principais tropas de elite no mundo. O exemplo brasileiro mais
próximo é o do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio, o
Bope, consagrado no filme Tropa de Elite.
A
diferença é que o regime imposto aos soldados SEAL é muito mais longo e
extenuante, Segundo o site da revista americana Newsweek, os últimos cinco dias
de treinamento são conhecidos como “Hell Week” (“Semana Infernal”, em tradução
livre), com simulação de um ambiente de guerra.
Os
soldados são submetidos a rigorosos testes físicos em meio a tiros e explosões.
Assim como acontece no treinamento do Bope, no Rio, quem não resiste à provação
pode tocar uma sineta e desistir. Ainda segundo a Newsweek, dois em cada três soldados
“pedem para sair”.
Quando
o presidente Barak Obama anunciou a morte de Bin Laden, a mídia imediatamente
posicionou suas lentes rumo a esse super comando. Seus soldados foram
ovacionados como heróis nacionais, tornaram-se motivo de orgulho da nação e
admiração no mundo inteiro. Que exército não gostaria de ter em suas fileiras
homens desse nível?
A Lógica do Reino de Deus
É
bastante conhecida a filosofia que afirma que somente os mais aptos sobrevivem;
que o mercado é seletivo, escolhendo os melhores e excluindo os piores. Essa é
a lógica! Como seres racionais estamos habituados com os princípios governados
pela lógica formal. Todavia, no reino de Deus as coisas nem sempre são assim.
Muitas vezes essa “lógica” do reino
se apresenta totalmente invertida. Por exemplo, quem não
está disposto a perder também não ganha (Fp 3.7-8); quem não dá também não
recebe (At 20.35); quem não perdoa também não é perdoado (Mt 6.13); quem não se
humilha também não é exaltado (Lc 14.1); quem busca primeiramente as coisas
secundárias não receberá as primárias (Mt 6.33); quem quiser ser o maior então
deverá se tornar pequeno (Lc 22.26).
Isso
pode ser visto com toda clareza no processo de “seleção” feito por Deus. Quem
Ele escolhe?
“Porque os judeus pedem sinal, e os
gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo
para os judeus e loucura para os gregos. Mas, para os que são
chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e
sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a
fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque vede, irmãos, a vossa
vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos,
nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste
mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo
para confundir as fortes.
E Deus escolheu as coisas vis deste
mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são; para que
nenhuma carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em
Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e
santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria,
glorie-se no Senhor (1 Co 1.22-31).
Aqui
aparece uma lógica que parece não ter lógica alguma! Paulo fala que Deus
escolheu não os melhores, mas escolheu as coisas loucas, fracas, humildes,
desprezíveis e que não são! Deus foi até ao lixão da humanidade e dali escolheu
as suas escórias. (Por outro lado, a sabedoria de Deus transforma em tolo
aquele que parecia sábio (vv.19-22); transforma em fraco quem achava que era
forte (vv. 22-25) e deu realeza a quem não possuía nenhuma vv. 26-29).
O
expositor bíblico William Barclay destacou esse fato. Tanto os gregos, conhecidos
pela sua cultura, como os judeus piedosos, tinham em conta os cristãos como
néscios. Paulo faz uma citação livre do Profeta Isaias (Is 29.14 e 33.18) para
mostrar que a sabedoria humana havia fracassado. isso porque o mundo com toda a
sua sabedoria não havia chegado ao conhecimento de Deus e continua buscando e
tentando a1 cancã-la. Essa busca, sem sucesso, foi permitida por Deus para
mostrar sua própria incapacidade e preparar o caminho para Jesus, a verdadeira
sabedoria.
A mensagem pregada pelos primitivos
cristãos (At 2.14-39; 3.12-26; 4.8-12 e 10.36-43), que
provocou escândalo entre os judeus e tornou-se loucura para os gregos, pode ser
resumida como segue:
1.
Consistia no anúncio da chegada do reino de Deus;
2.
Era fundamentada no anúncio da morte e ressurreição de Jesus;
3.
Demonstrava que o que eles pregavam era cumprimento das profecias;
4.
Era de natureza escatológica, isto é, mostra que Jesus voltará outra vez;
5.
Chamava as pessoas ao arrependimento, mostrando que dessa forma era recebido o
dom do Espírito Santo.
Barclay
observa que os judeus se escandalizaram com essa mensagem por várias razões,
Primeiramente os judeus não podiam aceitar que alguém que fora morto em uma
cruz, instrumento de maldição para eles (Dt 21.23), fosse escolhido por Deus
para ser o Messias. Ao contrário de tudo isso, os judeus estavam na expectativa
de um Messias político, guerreiro que enfrentaria o Império Romano com a força
das armas.
Os gregos, por outro lado, não viam
qualquer sentido na mensagem dos apóstolos por outras razões,
Os gregos achavam uma falta de bom senso a ideia de um Deus que se fez homem,
tornando-se vulnerável como os mortais, sentindo fome e dores. Deus, na
concepção deles, era incapaz de possuir os sentimentos tão comuns aos mortais.
Era o que eles denominavam de aphateia. Para um dos seus principais filósofos,
Plutarco, era um insulto a Deus envolvê-lo em assuntos humanos, Portanto, a
ideia de Deus se fazendo homem, conhecida na teologia cristã como encarnação,
era totalmente repulsiva para os gregos. Não é de admirar que quando o apóstolo
Paulo pregou Jesus e a ressurreição em Atenas, os gregos o ridiculizaram, Eles
achavam que a “ressurreição”, que em grego é uma palavra feminina, seria a
esposa de Jesus (At 17.32),
Homens, não deuses!
Na
cultura contemporânea traços dessa mentalidade judaica e grega ainda persistem
e contaminaram setores do cristianismo institucional. Mas não são esses os
princípios que apreendemos do cristianismo primitivo. Na escolha dos discípulos
de Jesus não vemos o mérito sendo usado como critério de seleção. Pelo
contrário, vemos a graça de Deus lidando com as imperfeições. Esses homens até
mesmo falharam quando esperávamos que acertassem.
Por
serem discípulos de Jesus, começamos a imaginar que esses homens eram os melhores
em suas áreas. Gostaríamos que os discípulos de Jesus fossem uma espécie de
SEAL TEAM 6. E mais, por terem aprendido aos pés do maior Mestre da história da
humanidade, pensamos que os mesmos chegaram à perfeição.
Mas
não é isso que descobrimos quando lemos os Evangelhos. As narrativas bíblicas
em vez de apresentarem heróis, mostram homens rodeados de imperfeições e
limitações. Aprenderam sim com o Mestre e nunca mais foram as mesmas pessoas,
mas não deixaram de ser humanos.
Às
vezes se tem a ideia de que a fé cristã para ser genuinamente bíblica deve
anular todas as fragilidades humanas, eliminar todos as suas limitações. Mas
não é assim que a coisa acontece, nem tampouco é isso o que ensinam os
Evangelhos. Deus trabalha sim com homens, mas homens imperfeitos, limitados e
que constantemente estão dependendo dEle. Esse princípio é valido para todas as
áreas da vida cristã. Estão presente na vida do leigo e também do clérigo. São
esses princípios que nos tornam humanos ou que revelam a nossa humanidade e
consequentemente a nossa carência de Deus.
Decepcionados ao Pé do Monte
Deus
é soberano, age, intervém, mas atua respeitando nossas limitações. E o mesmo
princípio que encontramos na vida dos discípulos de Jesus.
“E aconteceu, no dia seguinte, que,
descendo eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande multidão. E eis que um
homem da multidão clamou, dizendo, Mestre, peço-te que olhes para meu filho,
porque é o único que eu tenho. Eis que um espírito o toma, e de repente clama,
e o despedaça até espumar; e só o larga depois de o ter quebrantado. E roguei
aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam. E Jesus, respondendo,
disse: O geração incrédula e perversa! Até quando estarei ainda convosco e vos
sofrerei? Traze-me cá o teu filho. E, quando vinha chegando, o demônio o
derribou e convulsionou; porém Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o
menino, e o entregou a seu pai” (Lc 9.37-43).
A
meu ver esse é um dos textos mais contundentes sobre as limitações dos
discípulos de Jesus. É um texto que mostra claramente que os discípulos não
eram homens perfeitos nem ilimitados. Eles foram derrotados diante de um
possesso de demônio. Um desesperado pai exclama: “Roguei a teus discípulos que
o expulsassem, e não puderam!” Não é que eles não tentaram! Tentaram, mas não
puderam. E por que não puderam? As razões podem ser muitas. Jesus os censurou
denominando-os de “geração incrédula” (Lc 9.41).
Eles
não apenas faziam parte de uma cultura incrédula, como também assimilaram seus
valores. Foram contaminados pela cultura ao seu redor! Essa “contaminação
cultural” sempre foi um perigo iminente para o povo de Deus.
Na
passagem paralela do Evangelho de Marcos encontramos o texto: “Quando eles se
aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas
discutiam com eles” (Mc 9,14). Em vez de expelir o demônio, entraram em
divagações teológicas com os escribas. Perderam o foco! Quando se perde o foco,
os debates teológicos se tornam mais importantes do que a missão de libertar
vidas.
Por
outro lado, os discípulos aprenderam a viver à sombra do seu Mestre.
Acostumaram apenas a assistir Jesus expulsar os demônios e agora que tinha
chegado o momento deles mesmos fazerem isso, não fizeram. Jesus também os
alertou sobre a necessidade da oração em casos como esse (Mc 9. 29).
Em outras palavras, não basta
recorrer ao uso de técnicas e fórmulas na solução de coisas espirituais.
Antes, é preciso cultivar um relacionamento com Deus, Os discípulos parecem ter
esquecido que o ministério de libertação dependia do Espírito Santo, O
Evangelho de Mateus associa o Espírito Santo com a expulsão de demônios durante
o ministério público de Jesus: “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de
Deus, certamente é chegado o reino de Deu sobre vós” (Mt 12.28). Esse mesmo
texto na teologia carismática de Lucas recebe a seguinte redação: “Se, porém,
eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o reino de Deus
sobre vós” (Lc 11.20).
Não
creio que os discípulos tivessem que passar por esse vexame. Como vimos em
outro lugar desse livro, o Senhor deu-lhes autoridade sobre as forças do mal
(Lc 10.17-19; Cl 2.14,15; Ef 1.20; 2.6).
Essa
autoridade, portanto, não acontece fora do senhorio de Jesus nem tampouco vem
de forma automática. É fruto de um relacionamento com Deus e do poder do
Espírito Santo. Se os princípios do evangelho do reino são seguidos, então não
tem como dar errado.
Lembro
que no final dos anos 80 e início dos anos 90 eu e mais dois companheiros
estávamos fazendo um trabalho evangelístico em um dos bairros da nossa cidade.
Quando chegamos à determinada residência, vimos um aglomerado de pessoas
naquela casa. Após pedirmos permissão, adentramos no recinto e encontramos uma
jovem deitada sobre uma cama, aparentemente sem nenhum sinal de vida.
Foi
nos informado pelo dono da casa que ela era a rainha de um culto
afro-brasileiro e que havia tomado dezessete comprimidos de uma vez na intenção
de cometer suicídio. Após recebermos autorização para fazermos uma oração por
aquela jovem, desloquei-me em sua direção e impondo minhas mãos sobre ela
percebi que forças malignas eram responsáveis por aquela situação.
Ao
confrontar as forças do mal no poderoso nome de Jesus, vi aquela moça
levantar-se com grande fúria e ficar frente a frente comigo. Falando em voz
cavernosa e masculina disse que ia matá-la. Eu retruquei que isso não iria
acontecer mais porque eles iriam ter que sair no nome de Jesus. Dito isso a
jovem caiu no chão para logo em seguida se levantar, Confessou o Senhor Jesus
como Senhor e Salvador e continua servindo a Ele com a sua família até hoje.
Primazia e Exclusivismo
“Levantou-se
entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. Mas Jesus, sabendo o
que se lhes passava no coração, tomou uma criança, colocou-a junto a si e lhes
disse: Quem receber esta criança em meu nome a mim me recebe; e quem receber a
mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que entre vós for o menor de
todos, esse é que é grande” (Lc 9.46-48).
Bispo de Alexandria
O
escritor egípcio Michael Youssef ilustrou como esse desejo por primazia se
torna uma poderosa ferramenta nas mãos do Diabo. Youssef conta que no século V,
um famoso homem santo costumava passar muito tempo orando no deserto, tal como
fez Jesus, Assim como Cristo, esse homem santo sofria tentações.
Tão
santo era ele, que o Diabo enviou um pelotão inteiro de demônios com o intuito
específico de fazê-lo tropeçar e pecar — em suma, fazer o que fosse necessário
para que o homem de Deus caísse. Eles utilizaram todos os métodos usuais. Pensamentos
lascivos para arrastar seu espírito para baixo. Fadiga, para impedi-lo de orar.
Fome, para fazê-lo abandonar seus jejuns. Mas não importava o que eles
tentassem, ou quão arduamente trabalhassem, seus esforços sempre eram inúteis,
No fim, Satanás estava tão irritado com a incompetência de seus lacaios, que os
afastou do projeto e assumiu ele mesmo a operação.
“O
motivo do fracasso”, ensinava ele a seus seguidores, “é que vocês usaram
métodos muitos toscos com aquele homem. Ele não sucumbirá a um ataque direto.
Vocês precisam ser sutis e atacá-lo de surpresa. Agora, observem o mestre em
ação!”
O
Diabo, então, aproximou-se do homem santo de Deus e, muito suavemente,
sussurrou estas palavras em seus ouvidos: “Seu irmão foi ordenado Bispo de
Alexandria”,
Imediatamente,
o maxilar do homem de Deus se enrijeceu. Seus olhos se apertaram. Suas narinas
se dilataram, O Bispo de Alexandria! Seu irmão! Que ultraje!
Continuando,
diz Yosseff, “Bem, isso é urna lenda, não urna história. Mas ela mostra um
ponto importante. Observe que os demônios que tentaram o homem santo não
chegaram a lugar nenhum usando os grandes pecados morais. Ele podia vê-los
chegando a um quilômetro de distância, e conseguia defender-se, Então, o que
fez Satanás? Usou um pecado socialmente aceitável.
Ele
até mesmo o adequou à fraqueza particular daquele homem. Ele sabia que o homem
estava vigilante contra a tentação da carne, e que era inútil tentar emboscá-lo
daquela maneira. Assim, entrou de forma sutil usando a inveja e orgulho
espiritual, e o fez pensar: ‘Ei, eu sou o santo da família. Por que o meu irmão
está sendo ordenado Bispo de Alexandria e não eu?”
Querer
ser o primeiro, o maior, o chefe ainda continua sendo cima poderosa tentação
para muitos cristãos. Quando acontece no meio da liderança então, os seus
efeitos são muito mais catastróficos. Hoje estamos vivenciando uma verdadeira
fragmentação da igreja evangélica no Brasil e a causa principal é a disputa
pela liderança. Ninguém quer mais ser índio, todos querem virar cacique.
Um Alerta contra o Consumismo
“A
seguir, dirigiu-se Jesus a seus discípulos, dizendo: Por isso, eu vos advirto:
não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem pelo
vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Porque a vida é mais do que o
alimento, e o corpo, mais do que as vestes” (Lc 12.22,23).
Na
passagem paralela de Mateus os discípulos são advertidos pelo Senhor a não
assumirem o comportamento dos gentios. Os gentios aqui representam uma
mentalidade mundana e consumista.
“Por
isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de
comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis
de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo, mais do que a
vestimenta? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam
em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta.
Não
tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os
seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário,
porque andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não
trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória,
se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que
hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós,
homens de pequena fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou
que beberemos ou com que nos vestiremos? (Porque todas essas coisas os gentios
procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas
coisas; Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas
coisas vos serão acrescentadas, Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã,
porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mt
6.25.34).
A
preocupação demasiada com as coisas desta vida demonstrou a imaturidade dos
discípulos que ainda não tinham conseguido adquirir uma mentalidade diferente
daquela da cultura à sua volta. Jesus deixou bem claro que os “gentios procuram
todas essas coisas” (Mt 6,32). Que coisas?
1. Os gentios valorizavam mais o
corpo do que a alma, mais a estética do que a ética (Mt 6.25). Os
gentios, especialmente os gregos, não apenas cuidavam do corpo mas o cultuavam.
Havia um verdadeiro culto somático na Grécia antiga. Evidentemente que esse
cuidado tinha reflexos na escala de valores onde o estético se sobrepunha ao
ético. Não é errado cuidar do corpo nem tampouco zelar pela sua aparência, mas
isso não constitui essência da existência humana. Hoje há uma preocupação
demasiada com a imagem, com o que é visto e tocado. Todavia não há esse mesmo
interesse naquilo que parece abstrato, como os valores da alma.
2. Os gentios entesouravam na
terra, mas não possuíam reservas no céu (Mt 6.26). Jesus
incentivou o investimento em valores espirituais e não a simples aquisição de
coisas materiais. Mais importante do que construir grandes impérios terrenos é
a aquisição de tesouros eternos.
3. Os gentios buscavam as coisas
grandes esquecendo-se das pequenas (Mt 6.28-30). A
busca pelas coisas grandes acaba por ofuscar a forma como se vê as pequenas.
Qual o valor de um passarinho ou uma plantinha? Que lições elas podem nos
ensinar? Deus está preocupado com coisas tão pequenas? A ideia que se tem é que
Deus tem coisas mais importante para fazer. Todavia, nos ensinos de Cristo, as
pequenas coisas são revestidas de um grande valor diante de Deus. Ele se
preocupa com elas. Nós, como criaturas feitas pela sua própria mão, somos muito
mais importantes.
4. Os gentios priorizavam a
obrigação, mas esqueciam a devoção (Mt 6.33).
A
lógica prioriza a obrigação, o trabalho, a empresa, os negócios. Não há nada
errado em se trabalhar, cumprir horários e buscar o resultado na produção. Isso
faz parte da vida. Todavia, na vida cristã, a obrigação e a devoção são como os
dois lados da mesma moeda. Na verdade, à luz do Novo Testamento, não existe um
dualismo que separa o trabalho da adoração. O nosso culto deve ser racional e,
portanto, envolve todas as dimensões do nosso ser. Todavia, quando o reino é
sacrificado por conta de uma inversão de valores, colocando-se Deus em segundo
plano, então alguma coisa está errada, O reino deve vir em primeiro lugar.
5. Os gentios preocupavam-se muito
com o futuro, mas esqueciam o presente (Mt 6.35). Como
será o dia de amanhã? Ninguém sabe, senão Deus! Então porque se preocupar tanto
com o amanhã? Os gentios não apenas se preocupam com o dia de amanhã ou fazem
projetos para isso, mas querem controlá-lo. Somente Deus conhece o futuro e tem
o poder de controlá-lo.
Tudo o que escrevi tem a ver com
uma cultura de consumo. O consumismo parece ser uma
prática humana bem antiga, pois Jesus já advertia seus discípulos para não
andarem preocupados com o dia de amanhã. O cuidado com a aparência e o estômago
tem sido uma das principais preocupações da sociedade pós-moderna. Zygmunt
Bauman observou acertadamente que “em uma sociedade de consumidores é muito
difícil ser sujeito (gente) sem primeiro virar mercadoria”. E verdade! O desejo
pelo bem-estar e a busca desenfreada pelo prazer é uma das principais marcas
dessa geração.
Faça desta, uma excelente oportunidade para aprender ensinando.
Viva vencendo as fraquezas, alimentando-se com a Palavra!!!
Seu irmão menor.
Abraços.
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