TEXTO ÁUREO:
“Quando pois, virdes que a abominação da
desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo (quem lê, que
entenda)”(Mt 24.15).
VERDADE PRÁTICA:
Daniel é um exemplo de perseverança na
fidelidade a Deus e de integridade moral, estimulando-nos a confiar no projeto
divino.
LEITURA BIBLICA:
Daniel 1: 1,2; 7: 1; 12:4
Introdução
O livro de Daniel é conhecido como "O Apocalipse do
Antigo Testamento". A palavra apocalipse significa um desvendamento, uma
manifestação de coisas ocultas, uma revelação de mistérios divinos.
O livro de Daniel e o livro de Apocalipse têm muito em
comum, embora em certos aspectos importantes eles sejam diferentes. As crises
dramáticas, o choque de forças em uma escala cósmica e a ênfase acerca do fim
dos tempos aparecem nos dois livros. Muitas das imagens simbólicas de Daniel
estão refletidas no livro de Apocalipse. Os animais com chifres em Daniel,
representando poderes terrenos, encontram seu correlativo nos animais do
Apocalipse. Nos dois livros encontramos uma visão do Glorioso cuja presença
impressiona o espectador. Em ambos os livros lemos a respeito de tronos e do
trono em que está assentado o ancião de dias. Ambos retratam o clímax da
história, quando os reinos dos homens se submetem ao reino triunfante e eterno
de Deus.
Daniel e Apocalipse não são os únicos a tratar de aspectos
apocalípticos. Uma série de outros livros, tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, contém seções conhecidas como apocalípticas. Isaías 24-27 tem sido chamado
de "Apocalipse de Isaías". Zacarias contém elementos apocalípticos
distintos, como as visões dos símbolos místicos de cavalos e carruagens, de
castiçais e de pergaminhos que voam. A prefiguração do Messias, como Sacerdote
e Rei, é deduzida dos dois "ungidos", Josué e Zorobabel. E o
julgamento final das nações descrito em Zacarias 14 é mais claramente
apocalíptico.
No Novo Testamento, cada um dos três Evangelhos Sinóticos
contém seções apocalípticas. Essas são encontradas em Mateus 24.1-25.46, Marcos
13.1-37 e Lucas 21.5-36. A seção em Marcos tem sido chamada "O Pequeno
Apocalipse". Um apocalipse paulino é encontrado em 2 Tessalonicenses
1.7-2.12. Cada uma dessas seções claramente reflete elementos encontrados no
livro de Daniel.
A literatura apocalíptica tem uma série de características
distintas, ilustradas no livro de Daniel. Em primeiro lugar, existe o elemento
de mistério manifestado por meio de visões e símbolos singulares. Também há o
elemento da revelação. O aspecto apocalíptico está relacionado primariamente
com o futuro e com a consumação do plano de Deus. Diferentemente da função da
profecia, que proclama a palavra de Deus mais imediata dentro do contexto
histórico, o apocalipse ultrapassa a história. Ele descreve acontecimentos do
fim dos tempos por meio de cataclismos e julgamentos. O apocalipse revela o
propósito final de Deus que se cumpre por meio de uma manifestação divina que
rompe a ordem histórica. Mais importante de tudo, o elemento messiânico aparece
claramente no apocalipse.
O livro de Daniel tornou-se durante o período
intertestamentário, e por mais de um século na era cristã, um modelo e estímulo
para um impressionante número de escritos apocalípticos. Nenhum desses escritos
foi aceito no cânon das Escrituras, porque deixam de apresentar as marcas
essenciais de inspiração que Daniel possui. Mas esses escritos revelam o anelo
e a esperança do povo de Deus em tempos de intensa provação.
Lugar no Cânon
O lugar de Daniel nas Escrituras do Antigo Testamento nunca
foi seriamente contestado. Entre os judeus, bem como entre os cristãos ao longo
dos séculos, esse livro tem lido altamente estimado. Ele contém as marcas da
inspiração divina e as qualidades superiores requeridas dos escritos
reconhecidos como Escrituras. Esse livro traz a mensagem de Deus e claramente
apresenta a revelação de Deus sobre a vida e a história. Ele traz inculcada a
qualidade do eterno e do imutável.
Na Bíblia Hebraica, Daniel não aparece entre os Profetas
(Nebhiim), mas entre os Escritos (Kethubhiim). Alguns têm se queixado de que
isso foi feito para diminuir a autoridade de Daniel devido ao testemunho claro
que o livro dá acerca do Messias. Mas esse motivo não parece plausível em vista
do lugar de autoridade que o livro recebe no cânon sagrado. Se, de fato, havia
o intento sério de diminuir a autoridade de Daniel, ele teria ficado fora do
cânon. Pusey explica que Daniel, na verdade, não era técnica nem
profissionalmente um profeta, mas um estadista. Ele não possuía o ofício
profético. Por isso ele não constava entre os profetas nas Escrituras
hebraicas. Mas Daniel cumpriu a função
profética. Por isso, seu livro está no cânon das Escrituras Sagradas e sua
mensagem é reconhecida nas próprias Escrituras como profecia. Young segue uma
linha de raciocínio parecida, respeitando a posição de Daniel nas Escrituras
hebraicas.
Autoria
Ao longo dos séculos, tanto entre os judeus quanto entre os
cristãos, o livro tem sido tradicionalmente atribuído a Daniel. Em diversas
seções importantes o texto é atribuído diretamente a Daniel. A primeira pessoa
do singular: "Eu, Daniel", é usada repetidas vezes. O capítulo 7
começa da seguinte forma: "teve Daniel, na sua cama, um sonho e visões da
sua cabeça; escreveu logo o sonho e relatou a suma das coisas" (Dn 7.1).
Mas nos últimos cento e cinqüenta anos a autoria do livro de
Daniel tem se tornado um grande campo de batalha. Tornou-se um hábito atribuir
o livro a um autor desconhecido que viveu na época de Antíoco Epifânio, 175-169
a.C. De acordo com essa posição supõe-se que o livro de Daniel é uma alegoria
escrita parcialmente em códigos para encorajar e inspirar os judeus que estavam
sofrendo debaixo da tirania e perseguições de Antíoco. As histórias do livro,
portanto, não deveriam ser entendidas de forma literal, mas simbolicamente.
O livro, portanto, deveria figurar na categoria de
pseudepígrafes (escritos posteriores que adotavam nomes de grandes homens do
passado), devido a algumas semelhanças com essa categoria.
Para aqueles que entendem existir uma inspiração divina e,
portanto, sobrenatural, não há motivo justificável para rejeitar a fé cristã
tradicional acerca da integridade do livro de Daniel. Procurar possíveis
motivos para uma outra autoria do livro que leva o seu nome é injustificável.
Se levarmos em conta todos os questionamentos que foram levantados contra a sua
autoria, concluímos que é necessário mais do que credulidade. É necessário fé.
Essa fé busca aquietar-se e ouvir o que Deus tem a nos dizer em nossos dias
acerca do firme propósito que Ele estabeleceu para o presente e nas eras
futuras.
Daniel não está sozinho e indefeso na Bíblia. Sem dúvida, a
referência mais impressionante e de maior autoridade é sobre Daniel 9.27. Jesus
faz referência a esse texto na sua mensagem apocalíptica: "Quando, pois,
virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel..."
(Mt 24.15; também cf. Mc 13.14). Jesus parece claramente dar o seu endosso para
a legitimidade de Daniel como profeta e para a veracidade da sua mensagem.
Referências relacionadas por dedução à profecia de Daniel
são também bastante numerosas nos ensinamentos de Jesus, particularmente em seu
uso da expressão "Filho do homem". Em Mateus 24.30, lemos:
"verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande
glória".
Essas palavras parecem ecoar o que lemos em Daniel 7.13-14:
"Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens
do céu um como o filho do homem [...] E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o
reino" (cf. Mt 16.27-28).
Quando Paulo escreve sobre o "homem do pecado, o filho
da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou se
adora" (2 Ts 2.3-4), ele está se referindo claramente a Daniel11.36:
"e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus; e contra o Deus dos
deuses falará coisas incríveis".
Referências de Daniel refletidas no livro de Apocalipse são
suficientemente numerosas para justificar a inferência de que a autoridade
desse livro do Novo Testamento sustenta a integridade do seu correlato do
Antigo Testamento.
É interessante notar que os integrantes da comunidade de
Qumrã, que produziram os manuscritos bíblicos mais antigos conhecidos
atualmente, tinham um interesse especial pelo livro de Daniel. Com base nos
fragmentos recuperados das suas cavernas fica claro que possuíam inúmeras
cópias desse livro. Devido aos tempos turbulentos em que viviam logo após o
reinado de Antíoco até a destruição de Jerusalém em 71 d.C., eles tinham um
profundo interesse na esperança apocalíptica.
O Ambiente Histórico
O próprio livro de Daniel descreve de maneira precisa o
ambiente histórico e a época quando foi escrito. O cerco e a invasão que levou
Daniel e seus companheiros príncipes ao exílio ocorreu no terceiro ano de
Joaquim. Isso aconteceu nos primeiros dias da ascensão do império babilônico.
Nabopolassar tinha se livrado do jugo da Assíria e, junto com seu filho,
Nabucodonosor, estava subjugando todos os países do Oriente Próximo, além do
Egito. Judá também caiu debaixo do poder da Babilônia. Desde 606 a.C., o ano do
exílio de Daniel, até 536 a.C., o ano da queda da Babilônia diante de Ciro, da
Pérsia, o reino babilônico ascendeu e entrou em decadência. Grande parte desse
período foi ocupada pelo reinado do poderoso Nabucodonosor (606 até 561 a.C.).
Nesse período, e no início do período persa, Daniel viveu e serviu. É provável
que ele tenha ultrapassado a idade de noventa anos.
O período da vida e de serviço de Daniel coincidiu com uma
época de muita turbulência internacional. A Assíria, que havia assolado as
terras do Oriente Médio durante séculos, foi banida para sempre pelas forças
conjuntas dos seus antigos súditos, os babilônios, os medos e os citas. O
Egito, que por mil anos havia procurado controlar não somente a África, mas as
terras do Mediterrâneo oriental foi reduzido à sujeição.
A Babilônia ascendeu de forma meteórica. Sob o comando de
Nabucodonosor, um líder militar, organizador político e construtor cívico, a
terra dos caldeus assumiu uma posição de poder, prosperidade e liderança
mundial muito além do que se tinha conhecido até então.
Mas, enquanto os antigos impérios estavam desaparecendo e um
novo império escrevia sua breve, mas brilhante história, o próprio povo de
Daniel, o povo da promessa, estava passando por uma noite escura de provação.
Exilados e longe da terra da promessa, servos em uma terra pagã, eles
penduravam suas harpas nos salgueiros e aguardavam pelo romper do dia.
Embora o livro de Daniel apresente uma perspectiva mundial
em suas implicações e que alcança o fim dos tempos, seu foco principal está nas
terras do Oriente Médio e do Mediterrâneo. O livro não menciona os reinos e
civilizações que precederam a época de Daniel. Ele não tem nada a dizer acerca
de civilizações e da ascensão e queda de dinastias do Extremo Oriente, da China
e da Índia. Seu foco principal é a terra onde o drama da redenção deveria ser
representado com seu evento-alvo, a vinda do Messias e a consumação do seu
Reino.
Mensagem do Livro
O livro de Daniel é o desvendar de um mistério. E, se por um
lado desvenda o mistério, por outro, o envolve em surpresa e admiração,
deixando grande parte do mistério da revelação em aberto.
Daniel era um homem de extraordinária sabedoria e percepção.
Vivendo no meio de grandes e repentinas mudanças mundiais, ele foi capaz de
manter seu equilíbrio e sanidade, observando o que estava acontecendo com um
olhar atento. Ele serviu a reis. Ele foi um valoroso conselheiro de
governantes. Porém, mais importante de tudo, ele tinha um relacionamento íntimo
com o Deus dos céus. Ele estava com os seus pés firmemente plantados na terra,
entre os acontecimentos terrenos. Mas, a sua cabeça ficava numa atmosfera mais
clara; ele vivia diante da realidade de coisas eternas.
Algumas verdades tornam-se claras na mensagem de Daniel,
revelando o plano de Deus para a Terra e seus habitantes. Em primeiro lugar,
poderes terrenos e circunstâncias são temporários. As tiranias mais poderosas
ficam no poder durante um curto período. Em segundo lugar, Deus faz com que a
ira do homem acabe se transformando em louvor a Ele e faz com que todo o resto
seja impedido. Tanto Nabucodonosor, o déspota enfurecido, quanto Ciro, o soberano
sábio e cordial, testificaram dessa verdade. Em terceiro lugar. Deus mantém as
suas promessas para o seu povo; Ele não esquece.
Em quarto lugar, Deus tem seu próprio tempo para realizar a
sua obra. Ele nunca se adianta nem se atrasa. Em quinto lugar, os reinos desse
mundo são designados para dar lugar ao reino do nosso Senhor e do seu Cristo.
Em sexto lugar, embora Deus tenha uma visão eterna e cósmica, Ele tem um
interesse amoroso em relação aos afazeres mais insignificantes de um indivíduo.
O livro de Daniel foi um livro para Daniel e para o
atribulado povo remanescente Deus dos seus dias. Esse também é um livro para
todas as gerações, designado para manter a história em perspectiva. O livro
continua sendo relevante para os nossos dias. Certamente, estamos mais próximos
do tempo da consumação do Reino de Deus do que qualquer povo que viveu antes de
nós. Em dias de profunda escuridão e conflitos cruciais vamos extrair esperança
e coragem da mensagem transmitida a Daniel.
A HISTÓRIA POR TRÁS DO LIVRO DE DANIEL
O livro de Daniel é introduzido por um ambiente histórico
claramente focado.
Interessantemente, essa breve seção está na língua hebraica,
enquanto que a parte seguinte do livro (2.4-7.28) encontra-se na língua
aramaica ou na língua dos caldeus Depois, a seção final do livro volta a ser em
hebraico. Intérpretes têm diferido em relação aos motivos desse aspecto
incomum. A explicação mais plausível para isso é que essa seção e a parte final
do livro foram escritas na língua dos judeus, referindo-se especial mente ao
povo de Deus no exílio. A parte escrita na língua dos caldeus refere-se às
nações gentias, tendo a Babilônio como alvo imediato. As duas línguas eram
comuns nos tempos de Daniel e ambas eram
entendidas pelo povo do exílio e dos séculos subseqüentes. O uso dessas duas
línguas semelhantes ajudava a manter em relação estreita o ambiente histórico
do livro e sua relevância ao povo a quem foi escrito.
O livro de Daniel registra: No ano terceiro do reinado de
Joaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém e a
sitiou (1; veja Quadro A). Isso seria menos do que três anos após Neco ter
indicado Joaquim como rei. Os destinos políticos estavam mudando rapidamente.
Enquanto Nabopolassar era, na verdade, o monarca do novo
reino da Babilônia seu vigoroso filho, Nabucodonosor, era seu herdeiro
reconhecido e co-regente com ele Nabucodonosor acabara de ajuntar seu despojo e
os reféns quando uma chamada emergencial veio da Babilônia. Seu pai havia
falecido e ele precisava se apressar para ocupar o trono. Dessa forma, Daniel e seus três companheiros,
com outros jovens príncipes da corte de Judá, foram levados para uma terra
estranha a 800 quilômetros de casa. E junto com eles vieram alguns tesouros
sagrados da Casa de Deus (2) em Jerusalém para adornar o Templo de Bel na
Babilônia. Sinar era a principal planície da Babilônia.
Ambiente para Estudar o Livro
Daniel, o homem em si
1. O nome "Daniel" significa "Deus é meu
juiz".
2. Daniel era um homem de fé profunda e persistente. Quando
jovem, "resolveu..., firmemente, não contaminar-se" (1:8), mesmo
quando nesse tempo ele estivesse desobedecendo uma ordem do rei sob o qual ele
estava cativo. O princípio de obedecer a Deus acima do homem guiou-o através de
toda a sua vida e foi exemplificado novamente quando era um velho, talvez perto
dos noventa anos, quando ele foi lançado na cova dos leões por recusar uma
ordem do rei (Daniel 6).
3. Daniel foi abençoado por Deus por causa desta fé. Ele
serviu como estadista, conselheiro e profeta de Deus, aos reis da Babilônia e
mais tarde aos reis dos medos e dos persas. Ele anunciou destemidamente aos
reis ateus que Deus impera nos reinos dos homens.
4. Daniel era um contemporâneo tanto de Jeremias como de
Ezequiel, ainda que nenhuma referência indique que estes homens tenham passado
tempo juntos ou conferenciado um com o outro. Jeremias tinha provavelmente
vinte anos a mais do que Ezequiel e Daniel, que tinham aproximadamente a mesma
idade.
Os três profetas fizeram sua obra em lugares diferentes:
a. Jeremias permaneceu em Jerusalém (626-586 a.C.)
b. Daniel viveu na cidade capital da Babilônia (605-534
a.C.)
c. Ezequiel estava na Babilônia com os exilados judeus
(592-570 a.C.).
5. Nada sabemos sobre a vida pessoal de Daniel além do que é
revelado no próprio livro. Em tempos anteriores, o termo "eunuco" era
usado para se referir àqueles da nobreza em vez de ter nosso uso comum,
portanto, se Daniel era casado ou não, é incerto.
A data da sua obra (605-534 a.C.)
1. Daniel estava entre os primeiros cativos levados de
Jerusalém para a Babilônia em 605 a.C. e continuou lá durante o período de
setenta anos durante os quais os israelitas estiveram em cativeiro (veja Daniel
1:1,21;10:1; Jeremias 25:11;29:10).
2. Datas importantes a lembrar:
a. 612 a.C. - Queda de Nínive, capital do império assírio.
A Assíria tinha dominado o mundo desde os dias de
Tiglate-Pileser em 845 a.C. Nabopalasar subiu ao trono da Babilônia e se
rebelou com sucesso contra os assírios em 625 a.C. Nabucodonosor, seu filho,
foi o general que conduziu o exército babilônio contra Nínive, derrotando-o em
612 a.C.
b. 605 a.C. - A batalha de Carquêmis provou a supremacia
babilônia.
Depois que a Assíria foi vencida, os egípcios se levantaram
e o faraó Neco veio com seu exército lutar contra os babilônios em Carquêmis.
De novo, Nabucodonosor provou sua astúcia vencendo duramente os egípcios e
então perseguiu-os no caminho para o sul, através de Judá. Em Jerusalém,
contudo, ele soube da morte de seu pai Nabopalasar. Retomou imediatamente à
Babilônia para assumir o trono de seu pai, mas levou consigo alguns reféns dos
judeus. Daniel e seus três amigos estavam entre os primeiros cativos levados.
Não nos é dito quantos outros foram levados.
c. 597 a.C. - Uma segunda leva foi encaminhada para
Babilônia, incluindo Ezequiel.
Joaquim (Jeconias, Conias) tinha sucedido ao reino de seu
pai, Jeoaquim. Contudo, durou somente três meses antes que Nabucodonosor viesse
para remover seu rei rebelado e 10.000 judeus, entre os quais estava Ezequiel
(2 Reis 24:8-16; Ezequiel 1:1-3).
d. 586 a.C. - Jerusalém caiu e o templo foi destruído.
Zedequias tinha sido instalado como governador em Jerusalém,
mas foi fraco e vacilante. Finalmente, onze anos depois, o exército babilônio
devastou totalmente Jerusalém (2 Reis 25: 1-7). A maioria dos judeus que não
foram mortos foram levados cativos para a Babilônia. Jeremias preferiu
permanecer atrás com alguns poucos sobreviventes (Jeremias 40-44).
e. 536 a.C. - Babilônia cai, e a primeira leva retoma a
Jerusalém.
Ciro, o rei persa, envia de volta a primeira leva para
Jerusalém, guiada por Zorobabel (leia os livros de Esdras e Neemias). A
fundação do templo foi lançada em 520 a.C. e completada em 516 a.C. (leia Ageu
e Zacarias).
f. 457 a.C. - Uma segunda leva retoma com Esdras.
A nação é reorganizada e a palavra de Deus é lida.
g. 444 a.C. - uma terceira leva retoma com Neemias.
O muro é reconstruído em volta de Jerusalém.
Tema do Livro de Daniel: "O Altíssimo tem domínio sobre
o reino dos homens" ( DanieI 2:21; 4: 17,25,32,34-35; 5:21).
O livro trata do conflito entre o reino de Deus e os reinos
do mundo. Naturalmente, por trás disto está o conflito entre Deus e as
divindades pagãs. Deus prometeu estabelecer seu próprio reino e defender a
causa de seus santos que o serviam naquele reino (Daniel 2:44;7:27). A verdade
desta profecia é comprovada pelo fato que Deus é ainda conhecido em todo o
mundo, mas todas as divindades pagãs dos dias de Daniel foram esquecidas.
Há Respostas para os Ataques contra sua Autenticidade?
As predições proféticas
1. Objeção: Os teólogos liberais alegam que o livro teria
que ser escrito cerca de 165 a.C. porque, dizem eles, era impossível terem sido
compostas tão minuciosas predições a respeito dos eventos vindouros. Daniel
revelou a Nabucodonosor a história política envolvendo três impérios mundiais
que sucederam ao império babilônio.
2. Resposta: A prova da inspiração gira em torno deste
argumento central. Se Daniel escrevesse como um historiador ele não seria
inspirado, mas a profecia cumprida é uma das provas mais fortes que os homens
simplesmente não especularam; em vez disso, Deus revelou coisas antes que elas
acontecessem ( Isaías 42:9; 44:7).
a. Daniel foi inspirado (2 Timóteo 3: 16; 2 Pedro 1 :21).
b. Ezequiel, um contemporâneo, referiu-se a ele três vezes (Ezequiel
14: 14,20; 28:3).
c. Jesus confirmou a veracidade de Daniel quando ele o
declarou ser um profeta (Mateus 24:15).
Os milagres
1. Objeção: Os teólogos liberais alegam que os milagres da
fornalha ardente e da cova dos leões estão ao nível dos contos de fadas
infantis.
2. Resposta: Teríamos que jogar fora toda a Bíblia se cada
narrativa de milagre tiver que ser rejeitada. Os milagres são atos
sobrenaturais (João 3:2).
Se eles tivessem que ser explicados pela lógica humana, nada
sobre eles faria com que se honre e reverencie o Pai celestial (veja Juízes
7:2).
A linguagem
1. Objeção: Os teólogos liberais alegam que o uso de três
palavras gregas em Daniel 3:5 ("harpa", "saltério" e
"cítara") prova que foi escrito num tempo posterior, no período grego.
Resposta: Estas palavras são nomes de instrumentos musicais
e, como as palavras italianas "piano" e "viola", estes
instrumentos levaram seus nomes originais para onde quer que fossem
transportados.
2. Objeção: Os teólogos liberais alegam que o uso de quinze
antigas palavras persas tais como "príncipes" (1:3) e "manjar do
rei" (1:5) indicam uma data posterior.
Resposta: O uso destas palavras somente demonstra que a vida
de Daniel tocou não somente a corte babilônia como também a persa.
3. Objeção: Os teólogos liberais alegam que dois autores
escreveram o livro, baseados no fato que Daniel 2:4 - 7:28 está escrito em
aramaico, enquanto o resto está em hebraico. (Eles afirmavam que era
"aramaico tardio" até que os rolos do Mar Morto foram descobertos que
continham partes de Daniel escritas em aramaico do 2° século que não era nada
semelhante ao aramaico de Daniel, provando que era uma composição do 6°
século).
Resposta: O aramaico era a língua oficial do império
babilônio e se tornou língua internacional, como o inglês é hoje. As línguas
semitas hebraica e aramaica têm qualidades semelhantes às das línguas românicas
do francês e do italiano. Mas, assim como os franceses não entendem os
italianos, os hebreus não entendiam o aramaico dos funcionários assírios e,
mais tarde, dos babilônios. Durante o exílio, ocorreu uma mudança nos hábitos
do falar dos judeus. Eles começaram a falar o aramaico, que finalmente afastou
o hebraico e se tornou a língua falada e escrita da Palestina.
a. O fato que o livro de Daniel usa ambas as línguas não
prova que é obra de dois autores diferentes, mas que o único autor usou dois
estilos distintos (capítulos 1-6 e capítulos 7 -12). Se estas duas partes
também tivessem sido separadas pelas duas línguas existiria um caso mais forte. Contudo, O tanto o
aramaico como o hebraico são encontrados em cada parte e, f) o aramaico se
sobrepõe em ambas as partes, ligando-as. Portanto, estes fatos servem como uma
forte confirmação de que um só autor seguiu um modelo consistente.
b. Não sabemos por que a língua muda nestes lugares a não
ser que ambas as línguas fossem entendidas comum ente pelos judeus nos dias de
Daniel.
Afirmações históricas
1. Objeção: Teólogos liberais têm contestado muitas
afirmações como sendo historicamente inexatas.
2. Resposta: A maioria dos argumentos que são apresentados
atualmente será discutida quando estudarmos o texto. Contudo, esteja certo de
que o arqueólogo fez o máximo para silenciar esta objeção. Vezes e mais vezes
os arqueólogos têm verificado a exatidão das afirmações de Daniel.
Conclusão
O exemplo de Daniel, um homem fiel da juventude à velhice,
desafia e motiva cada um de nós na nossa busca da vida eterna na presença de
Deus. Nossas circunstâncias são diferentes, mas a mesma base de fé em Deus que
guiou o profeta na Babilônia 2.600 anos atrás nos levará à comunhão eterna com
Deus.
O LIVRO DE DANIEL E SEU AUTOR
Neste trimestre, estudaremos Daniel, livro maravilhoso,
cheio de revelações sobre “as coisas que estão por vir”. Nesta primeira lição,
veremos como ele está estruturado, e aprenderemos a respeito da pessoa de seu
autor.
O LIVRO DE DANIEL
1. Estrutura do livro. Este livro contém 12 capítulos e 357
versículos. Ele pode ser dividido em duas partes:
a. Parte histórica, que compreende os capítulos 1 a 6,
registra acontecimentos presenciados por Daniel na Babilônia, inicialmente, sob
o reinado de Nabucodonosor (cap. 1 a 4), depois, no governo de Belsazar
(cap.5), e, finalmente, seu milagroso livramento nos dias de Dano, o medo
(cap.6).
b. Parte profética, que compreende os capítulos 7 a 12,
registra as visões que Daniel recebeu de Deus acerca da elevação e queda dos
governos humanos, sobre o destino do povo de Israel, em relação à dominação das
nações gentílicas, e o futuro dos judeus no plano de Deus. “O Altíssimo tem
domínio sobre os remos dos homens, e os dá a quem quer” (Dn 4.32b). O livro de
Daniel é chamado de o “Apocalipse do Antigo Testamento”.
Esta divisão é meramente didática, uma vez que, na chamada
parte histórica, estão registrados episódios nos quais Daniel interpreta sonhos
e visões de conteúdo eminentemente profético.
2. Autoria do livro. O autor do livro é o profeta Daniel. A
moderna crítica teológica rejeita unanimemente esta autoria, apesar da
informação contida no próprio texto (Dn 7.1; 8.2; 9.2), e da informação de
Jesus, sem dúvida, o maior teólogo de todos os tempos. Ele citou em seu sermão
escatológico o profeta Daniel (Mt 24.15).
Esta “moderna” teologia, que não acredita na existência da
revelação profética pelo Espírito Santo, atribui a autoria do livro a um autor
desconhecido que teria vivido por volta de 163 a.C. O espaço desta revista não
nos permite analisar detalhadamente todos os argumentos que estes teólogos
apresentam, e ficamos com o testemunho do próprio livro e com a sanção do
Senhor Jesus, de que o profeta Daniel é o autor deste livro.
O livro foi escrito na Babilônia, durante o período da
vigência do cativeiro babilônico.
DANIEL, O AUTOR DO LIVRO
1. Quem foi Daniel? Sobre o autor do livro, o profeta
Daniel, sabe- se apenas aquilo que está relatado no livro por ele escrito. A
Bíblia não registra o nome de seus pais, mas diz que pertencia à nobreza, era
da linhagem real (Dn 1.3). Ele e seus três amigos, Hananias, Misael e Azarias,
eram jovens de boa aparência, instruídos, bem educados (Dn 1.4), mas,
sobretudo, servos de Deus, com profundas convicções (Dn 1.8). Daniel foi
contemporâneo dos profetas Jeremias e Ezequiel.
2. O cativeiro babilônico. No ano de 605 a.C., no terceiro
ano do reinado de Jeoiaquim sobre Judá, Nabucodonosor, rei da Babilônia, fez o
seu primeiro ataque a Jerusalém. Sitiou a cidade e levou para a Babilônia vasos
sagrados da casa do Senhor (Dn 1.1,2; 2 Cr 36.4-7).
Nessa ocasião, levou alguns judeus cativos, entre os quais,
Daniel e seus três amigos (Do 1.3). Estes foram, por ordem do soberano,
escolhidos, para viverem no palácio, a fim de que fossem ensinados nas letras e
na língua dos caldeus, para que, posteriormente. pudessem estar diante do rei,
a seu serviço (Dn 1.4,5). Posteriormente, Nabucodonosor atacou Judá mais duas
vezes.
3. A cidade de Babilônia. Foi propósito do rei Nabucodonosor
fazer da cidade um monumento de beleza. Ficaram famosos os seus jardins
suspensos. Ao Admirar o esplendor de sua cidade, um dia, Nabucodonosor
exclamou: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com
a força do meu poder, e para glória da minha magnificência?” (Dn 4.30). E, por
causa de sua soberba, foi castigado por Deus.
Babilônia era um grande centro de idolatria. Havia na cidade
mais de 2.000 deuses. O principal era Merodaque, contra o qual profetizou
Jeremias (Jr 50.2). Havia na cidade 55 templos dedicados a este deus.
Neste ambiente idolátrico, longe de sua pátria, os judeus,
chorando de saudade de Sião, penduraram nos salgueiros as suas harpas (SI 137.
1,2). Veremos, a seguir como Daniel conseguiu manter-se fiel a Deus.
DANIEL, EXEMPLO PARA OS CRISTÃOS
1. Deus nos ensina, através do exemplo de seus servos. Deus
ensina aos homens de muitas formas. Uma delas é através da maneira de quem vive
uma vida de acordo com a sua vontade, O maior de todos os exemplos é o de
Jesus, a expressa imagem da pessoa de Deus (Hb 1.3), que viveu entre nós uma
vida modelo, cujo modelo devemos seguir. Ele mesmo disse: “Porque eu vos dei o
exemplo, para que como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15). Ver, ainda, 1
Pedro 2.21; 1 João 2.6. Paulo escreveu: “Sede meus imitadores, como também eu
de Cristo” (1 Co 11.1). Ao escrever a Timóteo, ele diz que aquilo o qual lhe
havia sucedido, tinha acontecido para exemplo dos que haviam de crer em Jesus,
para o vida eterna (1 Tm 1.16). Também Daniel viveu uma vida exemplar, digna de
ser imitada. Veremos isso em três diferentes contextos.
2. Daniel, um exemplo para os jovens. A Bíblia nada informa
sobre quando e como se deu a conversão de Daniel. Mas quando, muito jovem, foi
levado cativo para a Babilônia, era já um crente maduro.
a) Daniel é um exemplo, por ter buscado a Deus muito cedo na
vida. “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade” (Ec 12.1). Quem se
entrega a Jesus na sua juventude, ganha a salvação, mas também o privilégio de
viver toda a sua vida para Cristo! Jovem, faça de Daniel o seu ideal! Entregue
a sua vida a Jesus cedo! Outros exemplos de pessoas que começaram cedo a servir
a Deus são Samuel (1 Sm 3.1-11), José (Gn 39.2), Davi (1 Sm 16.12), e Timóteo,
o cooperador de Paulo (2 Tm 3.15).
b) Daniel é um exemplo, por ter cultivado uma vida de
oração. Isto deu-lhe condições de conservar a sua identidade de servo de Deus,
mesmo em uma sociedade pagã. O segredo da vitória de Daniel era o hábito de
orar todos os dias três vezes (Dn 6.10), e, assim, quando influências e costumes
idolátricos queriam AGIR, para envolvê-lo, tinha poder para REAGIR e manter-se
vitorioso. Jovem, faça o mesmo! O segredo da vitória para todos nós é
permanecermos aos pés daquele que nos amou! (Rm 8.37).
c) Daniel é um exemplo, por ter mantido firme o propósito de
em tudo obedecer à Palavra de Deus. Quando entrou na escola palaciana, e viu
que o cardápio, determinado para ele, entrava em colisão com os preceitos da
Lei de Deus, “Daniel assentou em seu coração não se contaminar com a porção do
manjar do rei” (Dn 1.8). Com a ajuda de Deus, conseguiu alimentar-se de acordo
com a sua consciência. E Jeová o recompensou por sua fidelidade, ao dar-lhe
conhecimento e inteligência, em todas as letras; e sabedoria e entendimento, em
toda visão e sonhos (Dn 1.17). E, por causa da diferenciada capacidade que Deus
lhe deu, Daniel permaneceu diante do rei, para servi-lo (Dn 1.19).
3. Daniel, um exemplo para todos os obreiros. Daniel ocupou
um elevado cargo, tanto no reino da Babilônia (Dn 2.49; 5.29) como no império
persa (Dn 6.1-3). Meu caro irmão, que ocupa uma função de responsabilidade na
sociedade, seja em um cargo público, ou em uma empresa privada, tome Daniel
como exemplo pessoal.
O que caracterizou Daniel enquanto era alto funcionário?
a) Daniel era FIEL (Dn 6.4). A fidelidade é um adorno que
dignifica qualquer servidor, seja em que posição for. O crente deve ser fiel a
seus superiores, estejam eles presentes ou ausentes. O cristão precisa ser
sincero a seus colegas, e também a seus subordinados. Necessita cumprir os
deveres assumidos, e ter firmeza em suas palavras, que devem ser sim, sim, e
não, não (Mt 5.37).
b) Daniel não tinha VÍCIO (Dn 6.4). O vício mais comum é a
prática da mentira. O crente não pode mentir (Is. 63.8; Ef 4.25). A Bíblia diz
que os mentirosos não serão salvos (Ap 21.27). Outro vício é a desonestidade. O
crente deve ser honesto a toda prova (Rm 12.17; 1 Ts 4.12). Neemias foi
governador em Jerusalém algum tempo. Ele disse que os seus antecessores
haviam-se beneficiado a si mesmos, mas ele podia dizer: “eu assim não fiz, por
causa do temor de Deus” (Ne 5.15).
4. Daniel, um exemplo
para os idosos. Mesmo em idade avançada, Daniel deu bom exemplo. Tinha mais de
80 anos, quando foi convocado para interpretar a escrita na parede cio palácio,
e estava em condições espirituais de fazê-lo (Dn 5.13). Pouco tempo depois, no
reinado de Dano, orava três vezes ao dia (Dn 6.10).
CONCLUSÃO
A maior bênção na velhice é se poder receber a mensagem que
Daniel obteve no final de seus dias: “Vai até o fim, porque repousarás, e
estarás na tua sorte no fim dos dias” (Dn 12.13). No envelhecimento, estaremos
mais perto de alcançar o alvo de todo crente: ESTAR PARA SEMPRE COM O SENHOR (1
Ts 4.17). E isto é uma consolação (1 Ts 4.18).
Subsídio para O Professor
INFORMAÇÕES BÁSICAS SOBRE DANIEL
Conteúdo: uma série de histórias sobre como Deus traz
honra a si próprio por meio de Daniel e seus três amigos na Babilônia, seguida
de quatro visões apocalípticas que tratam de reinos futuros e do reino final de
Deus.
Profeta: Daniel, um dos primeiros exilados à Babilônia,
escolhido para servir como administrador de província primeiro na corte
babilónica, depois na persa.
Data da composição: desconhecida; presumivelmente perto do
fim do século sexto a.C. (c. 520 a.C.), embora muitos tenham suge¬rido que o
livro date da primeira metade do século segundo a.C. (c.165 a.C.).
Ênfases: a soberania de Deus sobre todas as nações e seus
governantes; o cuidado de Deus pelos judeus no Exílio, com promessas de uma
restauração final; o presente triunfo e a vitória final de Deus sobre a maldade
humana.
VISÃO GERAL DE DANIEL
O livro de Daniel se divide nitidamente em duas partes
(caps. 1-6 e 7-12). A primeira contém histórias da corte, principalmente sobre
Daniel e três amigos seus, que se mantêm absolutamente leais a Javé, mesmo
quando ascendem a posições de importância no Império Babilônico. Há quatro
ênfases aqui: (1) na lealdade dos quatro hebreus a Deus, (2) no livramento
milagroso deles por parte de Deus, (3) no reconhecimento da grandeza do Deus de
Israel por parte dos reis gentios, e (4) em Daniel como intérprete de sonhos
por intermédio de dom divino - todas elas realçando a soberania de Deus sobre
todas as coisas, incluindo o rei que conquistou e destruiu Jerusalém.A segunda
parte consiste numa série de visões apocalípticas sobre a ascensão e queda de
sucessivos impérios, todos os casos envolvendo um governante tirânico vindouro
(7.8,24,25; 8.23-25; 11.36-45) - mais frequentemente interpretado como sendo
Antíoco IV (Epifânio), dos governantes selêucidas da Palestina (175-164 a.C.),
que, devido à desolação que afligiu a Jerusalém e ao fato de ter profanado o
Templo, viria a ser o primeiro de uma série de figuras do Anticristo nas
literaturas judaica e cristã. Mas, em todos os casos, o foco final é no juízo
de Deus sobre o inimigo e no glorioso reino futuro que a guarda o seu povo.
ORIENTAÇÕES PARA A LEITURA DE DANIEL
Em primeiro lugar, é importante observar que na Bíblia
hebraica o livro de Daniel integra os Escritos, e não os Profetas. Em parte
isso se deve ao gênero do livro - histórias sobre um “profeta” e visões
apocalípticas, em vez de oráculos proféticos. De fato, não há nada na
literatura judaica ou cristã que se assemelhe a Daniel, um livro que combina
histórias da corte e visões apocalípticas. Além disso, o propósito do livro é
inspirar e encorajar o povo de Deus que está vivendo sob domínio estrangeiro,
não chama-lo ao arrependimento à luz de juízos vindouros. Daniel, portanto, não
é em momento algum chamado de profeta, mas visto, antes, como um homem a quem
Deus revela mistérios.Será proveitoso, portanto, dar uma lida na breve
descrição do gênero apocalíptico em Entendes o que Lês? (p. 301-303), já que os
sonhos e visões nos capítulos 2 e 7-11 apresentam a maior parte das
características que definem este gênero - o livro foi gerado numa época de
opressão; trata-se, do começo ao fim, de uma obra literária; ele vem por
intermédio de visões e sonhos concedidos por anjos; contém imagens de fantasia
que simbolizam a realidade; e Daniel recebe a ordem de selar as visões para os
últimos dias (8.26; 9.24; 12.4).Um fato interessante é que os capítulos 1 e
8-12 são escritos em hebraico, enquanto os capítulos 2-7 estão em aramaico, a
língua franca no oriente Próximo no século sexto a.C. até o tempo de Cristo.
Quanto a isso, há duas coisas a observar. Em primeiro lugar, a parte em
aramaico consiste nas histórias e na primeira visão, sugerindo que estas podem
ser lidas por todos; já a introdução e as visões interpretadas estão em
hebraico, talvez implicando que se destinem apenas ao povo de Deus. Em segundo
lugar, a parte do livro escrita em aramaico ordena-se segundo um padrão
quiástico:
Os capítulos 2 e 7
contém visões semelhantes de reinos futuros, concluindo o reino final e eterno
de Deus.
Os capítulos 3 e 6
são histórias de livramento milagroso, em que se fez oposição a Deus.
Os capítulos 4 e 5
são histórias sobre o fim de dois reis babilônicos, que ambos reconhecem a
grandeza do Deus de Israel.
Assim, estas histórias nos contam que Deus está no controle
final de toda a história humana (caps. 2 e 7), o que se ilustra com histórias
tanto de libertação milagrosa (caps. 3 e 6) quanto da “derrubada” dos dois reis
babilônicos (caps. 4 e 5). Todas essas histórias são primorosamente narradas.
Para aproveitá-las totalmente, não é má ideia tentar lê-las em voz alta; é
assim que se pretendia, originalmente, que o texto fosse lido.Também é
importante, na leitura de Daniel, ter consciência de duas situações históricas;
(1) a do próprio profeta e (2) a prevista por ele em suas visões. Assim, os
capítulos 1-6 descrevem questões na corte babilônica, do tempo de Nabucodonosor
até o primeiro dos governantes persas da Babilônia (c. 605-530 a.C.) - do tempo
antes da queda de Jerusalém, quando os primeiros cativos de Judá foram levados
à Babilônia, até o tempo logo depois da queda do Império babilônico em 539.As
visões (caps. 7-12) retomam esse período. A Babilônia foi seguida do longevo
Império Persa (539 a c. 330 a.C.). então veio o breve Império Grego de
Alexandre (333-323 a.C.) que, quando este morreu, foi dividido entre quatro
generais (v. 8.19-22). Especialmente interessante para se entender a história
judaica intertestamentária é a longa disputa pela Palestina entre os selêucidas
(da Antioquia [o norte]) e os ptolomeus (do Egito [o sul]), a que se alude na visão
de Daniel 11 (v., p. ex., as notas de estudo na Bíblia de Estudo NVI e da
BÍBLIA PENTECOSTAL). A ascensão de Antíoco IV, crucial para Daniel, é descrita
em 11.21-32; Antíoco IV buscou eliminar tudo que fosse judaico em Jerusalém,
forçando os israelitas a adotar a política de helenização que ele impôs às suas
terras. Assim, ele proibiu que se guardasse a Lei, e mostrava favor especial
pelos helenizantes (v. 11.28). Seu plano de tomar o Egito acabou sendo
frustrado por Roma; ao voltar para casa ele passou por Jerusalém, derramando
sua fúria sobre os judeus - que lhe resistiram -, profanando finalmente o Lugar
Santo ao erigir nele uma estátua de Zeus, em 167 a.C. (11.30,31). Esse evento,
que acabou levanto à revolta dos macabeus registrada nos livros apócrifos de 1
e 2 Macabeus, é vislumbrado em Daniel 7-11. Dá para imaginar como teria sido
ler o livro de Daniel durante esse período - tanto as histórias nos capítulos
1-6 (Deus honra a lealdade e humilhará os reis arrogantes!) quanto as próprias
visões (Deus predisse todas essas coisas).Finalmente, é importante observar que
a vinda do reino messiânico é retratada como ocorrendo depois da derrota de
Antíoco, o que de fato ocorreu um século e meio depois - o único reino digno de
menção após o de Antíoco não sendo o de Roma, mas o de Cristo.Em consonância
com toda a tradição profética hebraica, esses eventos históricos vindouros eram
vistos contra o pano de fundo do grande futuro escatológico final de Deus (v.
Introdução aos Profetas, p. 205).
UMA CAMINHADA POR DANIEL
1.1-21 Narrativa introdutória: Daniel e seus amigos na corte
de Nabucodonosor
Observe como essa narrativa inicial não só apresenta as
histórias que se seguem, mas fornece informações valiosas para uma boa leitura
do livro de Daniel. Os versículos 1 e 2 dão o contexto histórico, mas também
prenunciam 5.1,2. Daniel e seus companheiros sobressaem a todos os outros
oficiais de província forçados ao serviço do rei - e isso precisamente porque
mantêm a lealdade à aliança quanto às leis alimentares (1.6-20); mas observe
também a pequena inserção no versículo 17, que prenuncia a história seguinte. E
finalmente, observe que Deus é visto como dirigindo essas questões (v. 9,17).
2.1-49 O sonho de Nabucodonosor é interpretado por Daniel.
Essa narrativa serve a três propósitos: exaltar a Deus acima
de Nabucodonosor (v. 27,28,36-38,44,45,47), incluindo a exaltação de Daniel aos
olhos do rei por parte de Deus (v. 46,48,49); apresentar Daniel como o agente
de Deus para interpretar sonhos (v. 14-45); e prenunciar as visões posteriores
(v. 31-45). Observe como os dois últimos itens são ressaltados na oração de
Daniel (v. 20-23); observe, além disso, que embora o sonho seja interpretado,
não há interesse adicional nele a essa altura, meramente intrigando o leitor
quanto às visões que hão de vir. Observe finalmente como o versículo 49
prenuncia a história seguinte, em que Daniel não figura.
3.1-30 Salvos da fornalha ardente de Nabucodonosor
is que o rei, que o profeta designa como “a cabeça de ouro”
(2.38), erige ele próprio uma monstruosa estátua de ouro, e ordena que todos
oficiais da província a adorem. Mas assim como Deus zelou por eles no capitulo
1, os três hebreus são livrados (dessa vez milagrosamente) em virtude de sua
absoluta rejeição da idolatria (3.16-18). O vigor dessa narrativa deve-se em
parte a suas frequentes repetições. Mas sua maior força está na moral que ela
contém: o maior rei da terra não é páreo para o Deus eterno; Deus não só
liberta em grande estilo os três hebreus da arrogância e ira de Nabucodonosor,
mas o rei ainda os promove (v. 30), e ele próprio reconhece a grandeza do Deus
deles (v. 28,29), o que por sua vez prenuncia a história a seguir.
4.1-37 A demência de Nabucodonosor
Essa expressão absoluta da soberania de Deus sobre os reis
da terra é narrada de forma magnífica, realçada em parte pelo fato de que toda
a narrativa é um relato do rei para as nações (v. 1). Ela começa com o
reconhecimento da parte do rei de que apenas o reino de Deus é para sempre (v.
2,3; cf. 2.44), prenunciando mais uma vez as visões posteriores (7.14,18,27), e
conclui na mesma nota (4.34,35) - depois de o rei arrogante ser rebaixado por
Deus à condição de um animal. Observe que Daniel também volta à cena como o
intérprete de sonhos (v. 8-27).
5.1-31 O banquete de Belsázar e a ruinada Babilonia
Enquanto lê a historia, visualize o drama; atente também, no
entanto para as formas como a história funciona - para lembrá-lo de que o
Império Babilónico veio ao fim porque o seu rei não honrou o verdadeiro Deus
(v. 23) e para relatar isso num contexto em que o rei está desafiando a Deus ao
usar os utensílios sagrados do templo de Jerusalém (v. 2; cf. 1.2) com
propósitos idólatras. Mais uma vez, Daniel é a figura central, interpretando
agora os escritos na parede.
6.1 -28 Daniel na cova dos leões
Esse terceiro ataque à fé judaica (v. caps. 1 e 3) tem
novamente Daniel como protagonista, mas agora com a Babilônia sob domínio
persa. Observe o quanto ele corresponde ao capítulo 3: Daniel conhece o
decreto, bem como seu propósito e consequências - ser lançado à morte imediata
-, mas se recusa a deixar de orar ao seu Deus, é di¬vinamente livrado, e o rei
presta homagem ao “Deus vivo” (v. 26). Observe também como Dario ecoa o
reconhecimento de Nabucodo¬nosor, afirmando a eternidade de Deus (v. 26,27; cf.
4.34,35).
7.1-28 A visão dos animais do mar
As quatro visões desses capítulos são precedidas da data em
que ocor¬reram, Daniel já sendo um homem relativamente idoso. A primeira ecoa
itens de 2.36-45, e ao mesmo tempo prepara o leitor para as se¬guintes. Observe
que, neste caso, o interesse se concentra no pequeno chifre e no reino
messiânico vindouro. Esses elementos são sublinha¬dos: (1) pela forma como a
narrativa é construída (o pequeno chifre é apresentado [v. 8], a que se seguem,
respectivamente, a cena na corte divina [v. 9,10] e então a sua ruína final [v.
11], e o reino eterno do Altíssimo e e seus “santos” [v. 18]); (2) pela falta de interesse
presente nos outros reinos (v. cap. 8); e (3) pelo interesse singular de Daniel
no quarto animal e no pequeno chifre (v. 19,20). Observe também que a parte
final da própria visão, a opressão dos santos por parte do pequeno chifre, só é
mencionada nos versículos 21,22, para que a interpretação possa se concentrar
nesse aspecto, na derrota final do pequeno chifre e no reino eterno de Deus (v.
25-27).8.1-27 A visão do carneiro e do bode
O segundo e terceiro reinos do capítulo 7 são agora
concebidos como um carneiro e um bode, e interpretados como os medos e os
persas, seguidos da Grécia. A vitória de Alexandre, o Grande, sobre a Pérsia é
retratada (v. 6-8,21), bem como a subsequente divisão do império entre seus
quatro generais (v. 8b,22), de onde acabaria vindo o peque¬no chifre (v.
9-13,23-25). Observe mais uma vez o foco da visão - os fatos de que ele ataca
os santos e sua adoração, e de que ele próprio será destruído, mas não por meio
de poder humano.
9.1-27 Interpretação da profecia de Jeremias
A oração de Daniel (v. 4-19) constitui a parte central do
livro, refletindo o merecido Exílio de Israel por sua infidelidade à aliança,
mas exprimindo esperança no perdão e na misericórdia de Javé (o único lugar em
Daniel em que aparece o nome “Javé”). A oração é enquadrada pela necessidade de
uma nova aplicação dos setenta anos de Jeremias (v.1-3,à luz da devastação a
ser causada pelo pequeno chifre). A resposta (v.20-27) consiste num uso de
números típico do gênero apocalíptico, o número original sendo multiplicado por
sete (= ao cabo da devastação causada pelo pequeno chifre), o que, mais uma vez
de maneira típica é retratado contra o pano de fundo do fim de todas as coisas.
10.1-12.4 O anjo entrega a revelação do futuro
Todas as visões até aqui apontam para essa visão final.
Observe os intricados preparativos para ela no encontro de Daniel com o anjo em
10.1-21. O que se segue, após uma introdução (11.2-4) que retoma parte da visão
em 8.19-22, é uma previsão do conflito entre os selêucidas e os ptolomeus pela
“Terra gloriosa” (11.5-20; cf. Jr 3.19). Mas, como antes, tudo isso leva à
ascensão e queda de Antíoco IV (Dn 11.21-45), o foco estando especialmente na
sua devastação de Jerusalém, mas também predizendo, mais uma vez, o fim dele.
E, assim como antes, seu fim é retratado contra o pano de fundo do fim de todas
as coisas (12.1-4), cujos aspectos centrais serão a ressurreição dos mortos e a
recompensa eterna dos justos.
12.5-13
Conclusão
Observe que as perguntas finais de Daniel, “Quanto tempo
haverá até o fim destas maravilhas?”, E “Qual será o fim destas coisas?”, são
novamente enunciadas por meio de esquemas numéricos crípticos, enquanto o
próprio Daniel descansará até o dia da ressurreição.
O livro de Daniel, embora se concentre num período em
particular da história de Israel, antevê o grande reinado eterno de Deus
inaugurado por Jesus Cristo; ele teve, dessa forma, grande influência sobre as
imagens usadas por João no Apocalipse.
Extraído de Como Ler a Bíblia Livro por Livro - Um guia de
estudo panorâmico da Bíblia, de Gordon Fee e Douglas Stuart, Edições Vida Nova,
2013, páginas 241-248.
Obs.: Aproveite o domingo para fazer valer seu direito e dever de cidadão de escolher o novo presidente do Brasil.
Para os leitores do Blog, faço um pedido, por favor: vote em qualquer candidato, menos na reeleição do PT.
Você estará fazendo um bem ao Brasil
Abraços.
Viva vencendo!!!
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