JOVENS SEM IDENTIDADE
Há uma preocupação natural
entre os pais de adolescentes, mais precisamente os pais daqueles que já
deixaram a adolescência e estão num período transitório. Isto porque
nesta fase, os jovens já adquiram uma emancipação inegável e, portanto,
não desejam mais ir à igreja, seja na escola bíblica ou no culto do
domingo à noite. Muitos se sentem donos dos seus próprios narizes.
A
vontade de estar nos átrios do Senhor vai se desvanecendo e os filhos
vão para o campo de trabalho, obtendo sucesso na vida profissional e
parecem caminhar para o curso deste mundo.
Mas,
é preciso perscrutar as causas deste afastamento, deste súbito
interesse de se desligar da igreja, a fim de entendermos os verdadeiros
motivos que levam a juventude a se distanciar do convívio religioso.
Sem
responsabilizar a liderança eclesiástica e tampouco abreviar o
compromisso dos pais que têm o dever de ensinar os filhos desde a mais
tenra idade no Caminho, é possível destacar alguns pontos:
1. Falta homogeneidade:
as classes de escola bíblica normalmente são divididas por faixa etária e
não por afinidade. As crianças e os jovens, às vezes, vão para as salas
e não encontram parceiros de estudo, alguém para compartilhar as mesmas
dificuldades e alegrias do seu cotidiano. Isto sem contar que é comum
ter as atividades expostas por pessoas despreparadas tanto teologica
quando pedagogicamente. Em sala de aula não são oferecidas dinâmicas que
promovam o envolvimento mútuo e os relacionamentos que tragam
homogeneidade ao grupo. Se os recursos pedagógicos forem escassos e a
aula for pautada no monólogo (professor fala e aluno ouve), o jovem
certamente se sentirá só, desamparado e se for do tipo tímido ou calado
procurará sanar as suas dúvidas em casa com os pais, se estes por sua
vez forem convertidos e se houver um ambiente propício. É preciso
desmantelar as panelas!
2. Falta fraternidade:
acho que para o nosso tempo devemos considerar a palavra coleguismo. A
palavra fraternidade significa amor ao próximo. É o mesmo que tratar os
outros como se deseja ser tratado. Os jovens sentem as mesmas
necessidades relacionais que os adultos. É preciso trocar informações,
encontrar-se fora dos limites da igreja, participar de eventos,
confidenciar peculiaridades, chorar e rir juntos. Quando a igreja não
tem força para promover coesão entre os jovens, eles se dispersam e não
se sentem mais motivados a freqüentar um grupo que não os aceita, que
não se incomoda em agregá-los. Eles se sentem fora do ninho e acabam
sendo influenciados por outras manifestações que lhes dêem prazer, que
falam a sua linguagem, que tenham os seus costumes, que não os rejeita.
Razão de alguns filhos de crentes se enveredarem pelos caminhos das
drogas, incluindo os bulímicos e anoréxicos, que atentam para padrões do
mundo e a ditadura da moda.
3. Falta discurso teológico:
há um generalizado desprezo para com a Hermenêutica Bíblica nos últimos
tempos. Os que tem manuseado a Palavra da Verdade nem sempre estão
capacitados para trazer ao público juvenil a historicidade dos textos
Sagrados. Assim, a contextualização fica manca e alguns jovens
reproduzem discursos distorcidos e sem bases bíblicas. Sem conhecimento
suficiente alguns líderes manipulam grupos induzindo o rebanho à
marginalização, ao distanciamento da fonte da água da vida e à perdição.
Os jovens acabam cometendo erros por não conhecerem as Escrituras e nem
o poder de Deus. Alguns tem zelo sem conhecimento, buscam leituras
extra-bíblicas sem qualquer orientação e assim produzem maus frutos e
dão mau testemunho aos que estão de fora.
4. Falta espírito urbano:
durante muito tempo meus filhos e eu praticamos missões urbanas,
visitando favelas, levando suprimento aos excluídos da sociedade na
capital de São Paulo. Levávamos tanto o adulto como o jovem aos pés da
Cruz, intempestivamente. Descobrimos que igreja deve ser um lugar de
portas abertas ao longo do dia, um local de refúgio, de confissão de
pecados, de socorro, de perdão, de misericórdia. Quando pensamos em
igreja, logo pensamos num ajuntamento de pessoas santas, cordiais,
amáveis, hospitaleiras, de braços abertos e prontas para acolher aqueles
que a procuram. Raramente vemos um jovem se convertendo e buscando a
Deus desprovido de companhia. No mínimo ele foi amparado por alguém que
impactou o seu coração com o Amor do Senhor Jesus. Mas, para que
continue a sua caminhada religiosa é preciso que alguém o leve. Este
“discipulador” deve procurá-lo constantemente, estabelecer sólidos
contatos para que o jovem neófito não “escape”. O risco dos nossos
tempos é que tem faltado espírito urbano e os líderes da juventude ou
discipuladores não visitam mais suas ovelhinhas, não ligam, não
lembram-nas do compromisso do final de semana, não as incentivam a
permanecer no caminho da graça, as menosprezam. Falta urbanismo, é
preciso oferecer carona, é preciso ligar, é preciso orar juntos, chorar
juntos. É preciso haver aliança.
5. Falta humanizar as pessoas e deixar que as coisas continuem sendo coisas.
Sacralizando ou humanizando as coisas, valorizaram o inanimado. Mais
uma ditadura, a da auto-suficiência! Fazer compras por telefone ou pela
Internet se tornou uma tarefa fácil, prazerosa e segura, na maioria dos
casos. Aprende-se à distância, amizades são estabelecidas on-line e até
namoros. A telefonia móvel celular deixou de ser apenas um telefone sem
fio. Hoje um celular dispõe de recursos cada vez mais avançados. É
possível fotografar, gravar, filmar, exibir páginas da Internet e de
comunicação com redes sociais em tempo real entre outras facilidades
pessoais e personalizadas. As coisas tomaram um lugar importante na vida
das pessoas e não somente isto, algumas delas tem sido o Baal das
últimas gerações. Numa via de contra mão as pessoas tem sido
coisificadas. Entretanto, a velocidade ou a promessa da facilidade das
coisas não tornaram as pessoas mais ociosas ou disponibilizaram mais
tempo para outras atividades, ao contrário, as coisas tornaram-se
verdadeiras vilãs que roubam o tempo. Os jovens, sucumbidos por esta
avalanche de inovações, não são incentivados a fazerem visitas aos
asilos, aos hospitais, aos descrentes. Todos alegam que não têm tempo.
Não são mais promovidos cultos ao ar livre, para que o transeunte seja
alcançado, é preferível a igreja com ar condicionado. Se a maioria
possui carro cada um vai dirigindo o seu, extingue-se o lema “um por
todos, todos por um”, agora é “cada um no seu quadrado”.
6. Falta oportunidade:
são sempre os mesmos que tocam, que louvam, que dançam, que oram, que
pregam. Se não dão oportunidade aos jovens eles hão de se sentir inúteis
e sem valor. Muitos possuem conhecimento, tem conteúdo e dons, porém,
são “atropelados” por uma liderança cega e tirana que só busca
privilegiar os filhos dos membros eméritos. É preciso dar oportunidade a
todos, assim como o Brasil é um país de todos, a igreja também deve
oferecer um lugar para todos.
7. Falta voluntariado: a
maioria dos serviçais da igreja é voluntariado. Há casos onde até o
pastor não é remunerado por seu trabalho eclesiástico ou possui vínculo
empregatício. O mesmo acontece com os presbíteros, diáconos e outros
líderes e auxiliares, mas em muitos lugares são cargos disputadíssimos.
Buscar um membro da juventude para se voluntariar como recepcionista nos
cultos do domingo à noite, para cuidar da arrumação das cadeiras ou até
mesmo do som, são coisas que eles adorariam fazer para se sentirem
úteis, agregados, valorizados, importantes. Quando um jovem é visto como
um vidro transparente e sua presença passa despercebida, não há razão
para freqüentar a igreja.
É preciso dar IDENTIDADE à nossa juventude cristã. A venda de IPADs nos EUA já totaliza um bilhão de dólares*. O mundo tem dado prazer sem fronteiras à juventude em todo planeta. O que a igreja cristã pode oferecer para eles além de um assento aos domingos?
É
imprescindível que busquemos resgatar para eles aquilo que
verdadeiramente teve valor para nós no passado e que nos deu a chance de
hoje estarmos na Casa do Rei. Se quisermos mudança, devemos promover
estas mudanças!
Quando a nossa
juventude descobrir o real valor das coisas divinas, as terrenas
tornar-se-ão insípidas, infrutíferas, indesejáveis e desgostosas. Assim,
eles sentirão plena satisfação em depender exclusivamente de Deus e
alcançarão uma IDENTIDADE Cristã.
“As
muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda
que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o
desprezariam” – Cantares 8:7.
Elisabete R Pereira é
missionária em Anápolis-GO, bacharel em teologia com especialização em
psicologia pastoral pelo CPPC, Mestre em Teologia pelo ITEPAR e
missionária online da Global Media Outreach. Tem dois filhos, Kaleb e
Jade e é membro da Igreja Presbiteriana Orvalho do Hermom.

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